Lúcia não entendia muito bem como Sílvio havia aparecido ali.Será que ele veio prestar as últimas homenagens ao pai dela?Impossível! Foi ele quem causou a morte do seu pai. Eles eram inimigos, então por que Sílvio estaria ali com boas intenções?A verdade é que ele devia ter vindo apenas para debochar, para assistir à tragédia de camarote.Lúcia apertou o peso da urna em seus braços. Hoje era o dia do enterro do pai, e ela não queria causar problemas com Sílvio.Ela só queria que o momento fosse calmo, uma despedida digna e silenciosa, sem desentendimentos que pudessem perturbar a alma de seu pai.Com esse pensamento, Lúcia desviou o olhar e, segurando firmemente a urna pesada, começou a caminhar na direção de Sílvio.Sílvio sentiu o coração disparar no peito.Mas Lúcia passou por ele leve como o vento, como se ele não estivesse ali, como se fosse invisível.Na noite anterior, Sílvio havia passado horas no carro, fumando compulsivamente, observando a neve que caía pesada lá fora.Ela
O braço de Sílvio foi bruscamente solto, e a mão que pendia ao lado do corpo foi imediatamente cerrada em um punho.Essa sogra, sempre metendo lenha na fogueira. Tempos atrás, vivia tentando convencer Lúcia a se divorciar dele, e agora estava provocando mais confusão.Sílvio não queria deixar a situação acabar assim. Com o poder e a posição que ele tinha agora, quem realmente poderia fazer algo contra ele?Mas, quando olhou para Lúcia, ela estava tão magra e abatida que mal parecia a mesma pessoa.Além disso, ela ainda carregava seu filho no ventre.Então, Sílvio engoliu a raiva, reprimindo o impulso de confrontar Sandra.Leopoldo, ao perceber que elas haviam entendido mal as intenções de seu chefe, não conseguiu se conter:— Sra. Lúcia, Sra. Sandra, na verdade o Presidente Sílvio...Leopoldo queria explicar que Sílvio sempre esteve preocupado com elas, e que ele havia mandado ajuda para organizar tudo.Mas antes que pudesse terminar a frase, Sílvio o cortou com um olhar frio:— Certif
Meia hora depois, chegaram à cidade natal do pai.Era um vilarejo remoto e defasado, com ruas tortuosas e estreitas. As árvores de pinho, como grandes guarda-chuvas, se curvavam em direção ao caminho.Aquela estrada havia sido reformada com o dinheiro do pai.Lúcia tinha vindo aqui uma vez quando era pequena, acompanhando o pai para visitar os avós no cemitério.A neve na montanha caía em abundância, cobrindo tudo com um manto branco que ofuscava a vista. Os flocos gelados pousavam no rosto magro de Lúcia e nos ombros de sua roupa preta.Ela segurava a urna funerária com força; o peso parecia insuportável. Era difícil imaginar que um homem que pesava mais de cem quilos agora estava confinado em uma caixa quadrada e selada.Sandra caminhava ao lado de Lúcia, segurando uma foto do marido.Embora já fosse início da primavera, não havia nada de calor no ar. O vento parecia mais cortante, penetrando até os ossos.Sílvio observava a cena de longe, sentindo uma mistura de emoções ao ver a fig
Para se casar com Sílvio, Lúcia discutiu com a mãe, fez jejum e até se afastou de casa.Mas bastou que ela pulasse uma refeição para que o pai, preocupado, não conseguisse mais aguentar a dor. Lúcia pediu que ele ajudasse a convencer a mãe. Abelardo concordou na hora e cumpriu a promessa, até conseguiu trazer Sílvio para o Grupo Baptista.Naquela época, o pai lhe disse: “Eu ajudo Sílvio porque um dia eu e sua mãe vamos deixar este mundo e você vai precisar de alguém para cuidar de você, para te proteger. Por mais forte que você seja, no fundo ainda é uma menina. Espero que Sílvio realmente cuide de você para sempre. Desejo que você não tenha se enganado quanto a ele.”Triste era que ela se enganou. O lobo que ela mesma criou a traiu, levando seu pai a essa situação e tirando-lhe a vida.Lúcia lembrava do passado, o coração doendo a ponto de dificultar a respiração, mas não conseguia chorar; as lágrimas pareciam ter secado.— Pai, eu não consigo me despedir de você. — Sussurrou Lúcia.N
No consultório do médico.- Sra. Lúcia, suas células cancerígenas já se espalharam para o fígado. Não há mais o que fazer. Nos dias que lhe restam, coma o que quiser, faça o que desejar, sem arrependimentos.- Quanto tempo eu ainda tenho?- Um mês, no máximo.Lúcia Baptista saiu do hospital. Sem tristeza, sem alegria, pegou o celular e ligou para seu marido, Sílvio. Pensou que, apesar de não estarem mais apaixonados, era necessário contar a ele sobre sua condição terminal.O celular tocou algumas vezes e foi desligado.Ligou novamente, mas já estava na lista de bloqueio.Tentou pelo WhatsApp, mas também estava bloqueada.O amargor em seu coração aumentou. Chegar a esse ponto no casamento era triste e lamentável.Sem desistir, foi à loja e comprou um novo chip, ligando novamente para Sílvio.Desta vez, ele atendeu rapidamente: - Alô, quem fala?- Sou eu. - Lúcia segurava o celular, mordendo os lábios, enquanto o vento cortante batia em seu rosto, como lâminas geladas.A voz do homem no
Lúcia fixava intensamente a foto, com um olhar afiado e sereno, como se quisesse perfurá-la.Ela realmente se arrependia de não ter enxergado a verdadeira natureza das pessoas ao seu redor.Sílvio era seu marido, Giovana era sua melhor amiga, e ambos, que sempre diziam que a retribuiriam, agora a traíam pelas costas, causando-lhe uma dor atroz!A amante se sentia tão no direito de exibir sua conquista na frente da esposa legítima, era uma desfaçatez sem igual!Lúcia era orgulhosa. Mesmo que a família Baptista agora estivesse nas mãos de Sílvio, ela ainda era a única herdeira legítima da família.Giovana não passava de uma aduladora que sempre a seguia, bajulando e tentando agradar.Lúcia bloqueou todas as formas de comunicação com Giovana. Porque ela sabia que Giovana, sozinha, não teria coragem de agir. E Sílvio era a mão que impulsionava as ações de Giovana.Para esperar Sílvio, ela não jantou, apenas tomou o analgésico prescrito pelo médico.O relógio na parede marcava onze horas. L
- Eu vou soltar fogos de artifício por dias e noites no seu funeral para comemorar sua morte! - Disse Sílvio.Ao ouvir isso, o coração de Lúcia, que já estava pendurado por um fio, se despedaçou completamente. Cada pedaço, ensanguentado, parecia impossível de juntar novamente.Era difícil imaginar o quão frio Sílvio poderia ser. Ele desejava sua morte com tanta indiferença, falando com um sorriso sarcástico.- Sílvio, se quer casar com a Giovana, vai ter que esperar eu morrer.O homem que ela havia moldado com suas próprias mãos havia sido seduzido por uma mulher sem escrúpulos. Ela não podia suportar essa humilhação.Se estavam destinados ao inferno, que fossem os três juntos.- Lúcia, ainda vai chegar o dia em que você vai chorar e implorar de joelhos para se divorciar de mim!O olhar penetrante de Sílvio estava frio como gelo. Sem qualquer hesitação, ele bateu a porta ao sair.Aquela noite, ela não conseguiu dormir. Não era por falta de vontade, mas porque simplesmente não conseguia
- Pode ser parcelado? - Lúcia perguntou com a voz trêmula.A funcionária do caixa, com uma expressão fria e acostumada a esse tipo de situação, respondeu: - Somos um hospital particular, não fazemos parcelamento. Ou você transfere seu pai ou providencia o dinheiro.As pessoas na fila atrás dela começaram a revirar os olhos e a reclamar:- Você vai pagar ou não? Se não, sai da frente, estamos esperando.- Exato, está ocupando o lugar à toa.- Se não tem dinheiro, por que veio ao hospital? Vai para casa esperar a morte!Lúcia levantou os olhos levemente e, com um pedido de desculpas, saiu da fila.Ela tinha poucos amigos e pedir dinheiro emprestado era fora de questão.A única pessoa que poderia ajudá-la era Sílvio.Ela ligou, mas ele não atendeu.Mandou uma mensagem: [Assunto urgente, atenda, Presidente Sílvio.]Era a primeira vez que ela o chamava de Presidente Sílvio.Primeira ligação, sem resposta. Segunda, terceira, também não.Ela continuou insistindo, sem desistir, mesmo com o co