Diante das palavras frias de Lúcia, Sílvio conseguiu conter a raiva que fervia dentro dele. Ele colocou as flores diante do túmulo e acendeu uma vela.A chama da vela soltava uma fumaça escura, e o vento continuava a soprar forte, fazendo a fumaça ir direto aos olhos de Sílvio, que começaram a arder.Com os dedos firmemente segurando a vela, ele encarava o pequeno monte de terra à sua frente. Abelardo havia morrido assim, de forma tão abrupta, bem na sua frente. Era óbvio que o velho tinha feito aquilo de propósito, para incriminá-lo. Agora, como ele provaria sua inocência? Como ele faria Lúcia acreditar nele? Pelo que conhecia dela, Lúcia jamais aceitaria ter um filho com ele de bom grado agora. O casamento deles estava à beira do colapso.Com o período de reflexão do divórcio prestes a terminar, Sílvio sentia uma irritação crescente. Abelardo, aquele velho astuto, havia causado tanto estrago. Na juventude, ele tinha atropelado o pai de Sílvio, e depois ordenado que o motorista Paul
Lúcia notou o rosto de Sílvio se transformar visivelmente, ficando sombrio. Ela o conhecia bem, sabia que ele estava furioso.Se fosse antes, jamais teria dito algo assim. Teria se preocupado com os sentimentos dele. Mas agora...Lúcia soltou um suspiro, desviando o olhar do rosto de Sílvio. Ela precisava ser clara, temia que, se fosse muito sutil, ele não entenderia o recado.— Você já prestou suas condolências, Sílvio. Pode ir embora agora. — A voz de Lúcia era baixa, mas firme.Os punhos de Sílvio se fecharam com força, e seus músculos faciais estavam tensos. Ele se sentia um idiota por ter vindo ali, apenas para ser tratado com tanto desdém por Lúcia e Sandra.— Não precisava nem dizer, eu já ia embora. — Sílvio soltou uma risada amarga e começou a se afastar.Ao passar por Basílio, ele o olhou de lado e disse com sarcasmo:— Basílio, só para te lembrar, Lúcia ainda é uma mulher casada. Se quer flertar, pelo menos pergunte ao seu pai o que ele acha disso.Flertar? Estaria ele se re
Lúcia não sabia ao certo por que, mas diminuiu o ritmo.A respiração de Sandra ficava cada vez mais pesada, como se mãos invisíveis estivessem apertando sua garganta com força. Ela sentia o ar faltar e sua consciência começava a se embaralhar. De repente, teve uma visão de seu marido, e de si mesma, jovem, cheia de vida.Vinte e poucos anos atrás, exatamente naquele dia, ela e Abelardo andavam de mãos dadas pela neve, celebrando sua união, jurando amor eterno.Mas, após alguns instantes, a imagem mudou. A mão que segurava agora não era a de Abelardo, mas a de Lúcia.Com a voz fraca e arrastada, Sandra disse:— Lúcia, escuta bem o que eu vou te falar... Não importa o que aconteça, nunca desista da sua vida. Não faça nenhuma besteira. A vida só acontece uma vez. Se o Sílvio não te fizer feliz, você deve deixá-lo. Agora que seu pai se foi, você está livre desse fardo. E se eu também morrer, você pode finalmente viver sua vida em paz.Lúcia franziu as sobrancelhas ao ouvir aquilo:— Mãe, q
Lúcia se abaixou rapidamente, tentando levantar Sandra, mas ao tocar a mão da mãe, sentiu um frio assustador.— Mãe... Mãe... — Lúcia sussurrava, vendo as pálpebras de Sandra piscarem lentamente. Ela rapidamente verificou a respiração da mãe, que já era muito fraca.Basílio e Leopoldo correram ao mesmo tempo, mas Basílio foi mais rápido e pegou Sandra nos braços, caminhando apressado em direção ao carro.Sandra foi colocada no banco traseiro, deitada. Leopoldo assumiu o volante.Quando Basílio estava prestes a sair do carro, Sandra o olhou diretamente:— Basílio, tenho algumas palavras para você.— Basílio, venha com a gente, por favor. — Lúcia pediu, temendo que o último desejo da mãe não fosse realizado.Basílio assentiu e entrou no carro, fechando a porta enquanto Leopoldo ligava o motor, acelerando pela estrada sinuosa da montanha.— Leopoldo, por favor, vá mais rápido. Leve minha mãe ao hospital mais próximo. — Lúcia pediu, com os lábios trêmulos de preocupação.— Pode deixar, vou
Leopoldo olhou com desconfiança para Basílio, vendo-o como um rival de Sílvio. Achou que ele não tinha boas intenções e, por isso, se adiantou:— Sr. Basílio, não precisa se incomodar. — Leopoldo o empurrou levemente para o lado e, ele mesmo, carregou Sandra para fora do carro.O médico examinou rapidamente o estado de Sandra e seu semblante se tornou cada vez mais grave:— Vocês precisam levar a paciente para um hospital na cidade urgentemente. Aqui não temos os equipamentos necessários para salvá-la. Se demorarem, não terá mais o que fazer.As palavras do médico caíram como um golpe devastador.O hospital da Cidade A ficava a pelo menos meia hora de distância, mesmo dirigindo o mais rápido possível. Será que sua mãe aguentaria esse tempo?Sandra foi colocada de volta no carro, e Leopoldo acelerou como nunca, dirigindo em alta velocidade, tentando chegar ao hospital a tempo.Lúcia estava sentada de frente para a mãe, vendo o rosto de Sandra cada vez mais pálido e sentindo sua mão fica
Lúcia implorava sem parar para que sua mãe resistisse só mais um pouco. Logo chegariam ao hospital, e lá poderiam salvá-la.Sandra fez um esforço para acenar com a cabeça.Para evitar que sua mãe adormecesse, Lúcia começou a contar piadas, chorando enquanto falava.As piadas até eram engraçadas, mas Lúcia não conseguia rir. Na verdade, à medida que falava, as lágrimas caíam cada vez mais.Sandra, tentando acompanhar, forçou um sorriso. Mesmo exausta, ela puxou os lábios numa tentativa de mostrar à filha que estava ouvindo.Mas o cansaço tomou conta de Sandra de repente. Seu corpo, já tão frágil, parecia pesado demais para sustentar. Era como se suas pálpebras estivessem carregadas de chumbo, e manter os olhos abertos tornou-se uma tarefa quase impossível.A visão dela começou a embaçar, e Lúcia, que estava bem à sua frente, começou a se multiplicar. Sandra piscava, tentando focar, mas não conseguia encontrar sua filha entre as várias imagens que enxergava.De repente, sua mente a trans
A mão de Sandra já estava completamente fria, sem qualquer vestígio de calor.— Mãe, acorda! Mãe, por favor, acorda! — Lúcia chorava descontroladamente, sacudindo o corpo da mãe. — Não me assusta assim. Não faz isso comigo! Não brinca desse jeito!Mas, por mais que Lúcia chorasse e implorasse, Sandra não reagia mais.— Basílio, por favor, leve minha mãe rápido para dentro do hospital, agora! — Lúcia secou as lágrimas e saiu apressada do carro.Basílio levantou Sandra em seus braços e entrou rapidamente no hospital.O Dr. Arthur, que estava no primeiro andar fazendo suas rondas, viu Basílio carregando Sandra, seguido por Lúcia e Leopoldo, e ficou surpreso.— Dr. Arthur, por favor, salve minha mãe, rápido! — Leopoldo pediu, ansioso.O médico prontamente mandou que Basílio levasse Sandra para a sala de emergência.Após uma breve avaliação, Dr. Arthur soltou um suspiro profundo. Com um olhar triste, ele encarou Lúcia e os outros.— Sra. Lúcia, sinto muito. Sua mãe já faleceu. Nós perdemos
Ao ouvir que era Sílvio ligando, Lúcia franziu a testa, sem conseguir evitar:— Não deixe ele vir.No enterro de seu pai, Sílvio já havia causado um desentendimento entre eles. Agora, Lúcia não queria que ele perturbasse o funeral de sua mãe.Sílvio era a pessoa que sua mãe mais detestava. Se ele aparecesse, Sandra não teria paz nem em sua passagem para o outro lado.As palavras de Lúcia deixaram Leopoldo surpreso. Ele olhou para o celular que ainda piscava em sua mão, hesitou um momento, depois disse:— Sra. Lúcia, vou atender lá fora.Com passos largos, Leopoldo saiu do prédio funerário. A neve lá fora caía com ainda mais intensidade.— Presidente Sílvio. — Leopoldo atendeu a ligação. — Desculpe a demora. Eu estava ocupado e não vi sua chamada. Peço desculpas.Sílvio estava irritado. Leopoldo sempre atendia de imediato, mas desta vez o fez esperar. Como ele não ficaria aborrecido? No entanto, considerando a situação delicada daquele dia, conteve sua irritação e perguntou, com a voz p