Sílvio pegou o isqueiro e, com um clique seco, a chama amarela engoliu o cigarro entre seus lábios finos. Ele deu uma tragada profunda, e a fumaça fez uma viagem lenta por seus pulmões antes de ser exalada pela boca e pelo nariz. Sua expressão, fria e indiferente, ficou parcialmente envolta na fumaça que pairava ao redor de seu rosto esculpido.Com a mão larga e áspera, ele segurava o celular, olhando para a mensagem de Lúcia por um longo tempo. Era a primeira vez que ela admitia tê-lo acusado injustamente.A irritação que o consumia por ter sido acusado desapareceu em um instante, trazendo uma certa tranquilidade. No entanto, ele não respondeu à mensagem de Lúcia. Sabia que ela era do tipo que, quando se via em vantagem, tentava tirar mais proveito. Se ele fosse bom demais com ela, Lúcia não saberia parar.Sílvio apagou a tela do celular, terminou o cigarro e mergulhou de volta no trabalho. Ele era um viciado em trabalho, e sabia que investir tempo e esforço nele sempre traria resulta
— Pai, a mamãe te ama muito, ela não consegue viver sem você, e eu também te amo. Então, por favor, faça todo o possível, supere todas as dificuldades e se esforce para continuar bem. Enquanto houver vida, haverá esperança. Se puder, eu gostaria que você se reconciliasse com o Sílvio. No futuro, vocês ainda vão precisar da ajuda dele.Lúcia sentiu as mãos envelhecidas do pai se fecharem imediatamente em punho. Ela sabia que aquilo significava sua resistência a Sílvio.— Pai, o Sílvio tem sido muito bom comigo. Não acredite nas coisas que a mamãe diz. Eu realmente espero que vocês parem com essas brigas internas. Vocês precisam se unir e se apoiar. Só assim eu posso viajar tranquila, sabendo que está tudo bem aqui. — Lúcia disse, contrariando seu próprio coração, porque sabia que, se os pais não deixassem o rancor de lado, Sílvio jamais os ajudaria na velhice.Por isso, quando ela se fosse, todas as mágoas e ressentimentos desapareceriam. Esse seria o melhor desfecho.Abelardo pegou a c
No dia seguinte, logo após o café da manhã, Abelardo escreveu algumas palavras na mão de Lúcia, e ela entendeu o recado: seu pai queria sair para tomar um pouco de ar fresco.Lúcia percebeu que a neve lá fora havia parado, e o sol dourado começava a brilhar sobre a paisagem ainda coberta de neve, criando um cenário reluzente. Era raro ver um dia tão ensolarado.Ela empurrou a cadeira de rodas de Abelardo e o levou para fora da Mansão do Baptista.Abelardo aproveitava a energia das pessoas andando pelas ruas e observava as árvores ao longo das calçadas começando a brotar. Seu olhar foi capturado por um café familiar, o seu favorito de antigamente. Lúcia, conhecendo bem o pai, entendeu de imediato o que ele queria e o levou para dentro do café.Ela pediu uma xícara de café para ele, mas, de repente, uma dor aguda no fígado a atingiu. Lúcia sabia que estava tendo uma crise.No entanto, não podia demonstrar fraqueza na frente de Abelardo; se seu pai percebesse, ficaria desesperado.— Pai,
Ela tinha o rosto todo queimado, mas Abelardo conseguiu acordar. Giovana já havia tentado várias vezes acabar com ele, mas ele sempre sobrevivia! Que injustiça!Giovana olhou para os lados, traçando um plano rapidamente. Com as duas xícaras de café nas mãos, desfilando em seus saltos altos, ela se aproximou de Abelardo e sentou-se à sua frente, cumprimentando-o com uma voz doce:— Que bom ver você acordado, padrinho! Estou muito feliz por isso.Ao ouvir a voz de Giovana, Abelardo foi imediatamente transportado para aquela noite no hospital. Na sua mente, a imagem vívida de uma mulher vestida de vermelho, segurando uma faca de frutas e tentando encenar seu suicídio, voltou à tona. Como se tivesse levado um choque, Abelardo começou a emitir sons abafados e angustiados.O garçom olhou para eles com estranheza, perguntando: — O que está acontecendo? Está tudo bem?— Está tudo bem, está tudo bem! — Respondeu Giovana com um sorriso forçado. — Ele não pode falar, sabe? É meu padrinho.Ela s
Abelardo tremia de raiva, completamente fora de si. Com um movimento brusco, pegou a xícara de café que Lúcia havia pedido para ele e jogou no rosto de Giovana.As veias de Abelardo saltavam em sua testa, e ele emitia sons incompreensíveis de tanta fúria.Giovana, que estava com uma maquiagem impecável e se preparava para ir ao Grupo Baptista encontrar Sílvio, foi atingida pelo café quente. Ela soltou um grito estridente de dor:— Seu velho maldito, você tá querendo morrer, é?Antes que ela pudesse reagir, as mãos de Abelardo agarraram seu cabelo recém-ondulado, puxando com força descontrolada.Embora não tivesse tanta força, o puxão fez o couro cabeludo de Giovana arder. A sensação era de que ele arrancaria seu cabelo pela raiz.— Seu desgraçado, eu vou acabar com você! — Giovana gritou, com os dentes cerrados, enquanto agarrava as duas xícaras de café quente que estavam sobre a mesa e as jogava com toda a força no rosto e no corpo de Abelardo.As roupas de Abelardo, assim como seu ro
As lágrimas de Lúcia escorriam incessantemente sobre as costas da mão de Abelardo. Ele levantou os olhos, soluçando, e ergueu a mão para enxugar o rosto da filha, balançando a cabeça, os lábios se movendo em um esforço para consolá-la. Lúcia sabia que seu pai estava dizendo que estava tudo bem, que ela não precisava chorar.Abelardo pegou a palma da mão de Lúcia e, com cuidado, escreveu algumas palavras: “Mantenha segredo.”Nesse momento, as lágrimas dela transbordaram. Como seu pai, que havia passado por tanta humilhação e sofrimento, ainda a pedia para guardar segredo? Ele temia que Sílvio a machucasse? Ou que a mãe ficasse preocupada?Durante mais de vinte anos, seu pai a protegeu de todo tipo de dor. E agora, ela se sentia tão ingrata por ter gostado da pessoa errada, por ter se casado com o homem errado! Tudo isso destruíra a tranquilidade da velhice de seus pais.Lúcia chorava descontroladamente, seu coração pesado de angústia e desamparo. Desculpe era uma palavra que fervilhava
Abelardo segurou a caneta esferográfica e escreveu numa folha: [Quero vê-lo. Você pode ajudar a marcar um encontro?] Lúcia observou os olhos do pai, cheios de desejo. Não sabia o que ele pretendia com Sílvio, mas tinha ciência de que esse era um dos poucos desejos que seu pai mencionara.A culpa por ter arruinado a vida de seus pais e da família Baptista pesava sobre ela. Como poderia recusar o único pedido de Abelardo? Lúcia sentia que não tinha como dizer não, mesmo sabendo que um encontro entre eles não seria adequado.Se ao menos soubesse que o encontro no dia seguinte teria consequências tão devastadoras, ela teria feito de tudo para evitar que Sílvio fosse à sua casa no Natal. Mas, infelizmente, a vida não oferece "se", só uma infinidade de imprevistos e sofrimentos.Lúcia piscou os olhos secos. Abelardo escreveu mais uma vez: [Não se preocupe, não vai acontecer nada. O Natal é para ser celebrado em família.] Ela mordeu os lábios, sufocando a dor que sentia, mas ainda assim
Depois de tantas mágoas e desavenças, Lúcia sabia que a compreensão dela e a de seu pai eram incomparáveis. Ela estava ali para transmitir uma mensagem de seu pai, não para brigar. Assim, os punhos cerrados ao seu lado foram lentamente se desfazendo.Lúcia não queria olhar para ele e seus olhos se fixaram na mesa do escritório: — Amanhã você vem em casa para o jantar. Não se atrase. — Assim que terminou, virou-se para sair. — É só esse o seu jeito de me convidar para jantar? — Sílvio riu friamente atrás dela, ressentido com a indiferença que ela demonstrava.Ele não gostava nada daquela atitude fria e do tom arrogante com que ela falava. Lúcia se virou e o encarou: — Sílvio, você deveria saber a hora de parar. — Se eu sou tão insuportável, por que você me convida para comer na sua casa? Para se torturar? — Sílvio estreitou os olhos.Lúcia soltou um resmungo frio: — Foi meu pai quem quis te ver, não eu. A mensagem foi entregue. Se você tiver um mínimo de consciência, saberá como