Ao contrário, quando Sílvio morava ali, ele sempre se lembrava de que estava suportando tudo em silêncio, esperando o momento certo para dar o troco. Ele sabia que estava em perigo, jogando um jogo perigoso e se aproveitando do amor de Lúcia para manipular a situação.Lúcia soltou uma risada cínica ao ver a reação de Sílvio:— Não precisamos mais fingir. Vai logo tomar banho, Sílvio. No armário do banheiro tem toalhas novas, escova e pasta de dente. Vai lá pegar. Eu não quero me levantar agora. Sílvio achou que Lúcia estava tentando convencê-lo a ficar, pensando que ela finalmente havia aprendido a importância de mantê-lo por perto. Ele não respondeu, apenas destrancou a porta do quarto e saiu, com passos largos, sem olhar para trás.Lúcia esperou por Sílvio por muito tempo. Quando ele não voltou, ela pensou que ele tinha ido embora. Talvez estivesse exausta demais depois de tudo o que tinha acontecido naquele dia. Sentindo o peso da fadiga no corpo, ela se enfiou debaixo das cobertas
Após ouvir o que ele disse, Lúcia, na escuridão da noite, mordeu o lábio e instantaneamente se lembrou da cena que presenciara mais cedo naquele dia.Giovana, no quarto do hospital, havia perguntado a ele:— Sílvio, se eu quisesse que você cumprisse sua promessa e se casasse comigo? Se eu pedisse para você se casar comigo, você aceitaria?As lembranças vinham à tona, e Lúcia podia ver de novo o momento em que Giovana tomou a iniciativa e beijou Sílvio.Ambas, mulheres tomando a iniciativa. Quando foi Giovana, por que ele não a afastou? Por que ele não disse que estava cansado?Lúcia abaixou os olhos, lançando um olhar cheio de sentimentos conflitantes para Sílvio. Ela queria perguntar: "Sílvio, você aceitou a declaração de Giovana? Quando você pretende se casar com ela? A data já está marcada?"As palavras estavam entaladas em sua garganta, agitadas, prestes a explodir.Ela queria confrontá-lo: "Sílvio, o que você pensa que eu sou? Você pediu ao Leopoldo para me contatar, para que eu v
— Sílvio. — Lúcia tentou falar novamente.Mas ele a interrompeu, porque não queria mais ouvir seu falatório. Cada palavra a mais dela poderia piorar ainda mais a relação entre os dois. Ele não queria mais se aborrecer.Ela disse que estava cansada hoje. Ele quase morreu e, claro, também estava exausto.Quando recebeu a ligação de Leopoldo, dizendo que um carro estava prestes a colidir com a família de Lúcia, Sílvio imediatamente pegou o endereço e desligou o telefone.Ninguém sabia, mas ele acelerou como um louco até o local do acidente. Tinha medo de chegar um minuto atrasado e algo acontecer com ela.Quando viu o carro desgovernado avançando em direção ao carro de Leopoldo, ele acelerou ainda mais e se colocou no caminho.Ele não era tolo, sabia muito bem o risco que corria. Tinha plena consciência de que estava apostando a própria vida.O carro de Sílvio virou uma pilha de ferro retorcido, e ele rezava incansavelmente, implorando aos pais, que estavam no céu, para que não o deixasse
Sílvio estava tão absorto em seus pensamentos que só percebeu quando Lúcia, inquieta em seus braços, começou a resistir:— Sílvio!— Para de falar e dorme. — Respondeu ele, visivelmente irritado.Lúcia, ao notar o tom impaciente dele, não conseguiu evitar o desabafo:— Se você está tão irritado comigo, então é melhor voltar pra sua casa.— Lúcia, minha paciência tem limite! Você não entendeu? Eu mandei você dormir. — Sílvio resmungou, frio.Era assim que ele era, autoritário e sem se preocupar com os sentimentos dela. Estavam na casa da família Baptista, mas qualquer um que visse a forma como ele se comportava acharia que era ele quem mandava ali.Mas, no momento, a família Baptista realmente dependia de Sílvio, e ele tinha o poder de fazer o que quisesse. Melhor não provocá-lo. Se ele quisesse passar a noite ali, que ficasse. Amanhã ela voltaria com ele para o apartamento dele.Lúcia nunca se sentia tranquila com a presença dele naquela casa. Temia que Sílvio fizesse algo contra seu p
Sílvio a viu chorando e ficou sem saber o que fazer, sentindo uma irritação crescente.Lúcia, com os olhos vermelhos, forçou-se a conter as lágrimas que ameaçavam transbordar.— Sílvio, quando você vai casar com a Giovana? Já marcaram a data? — Lúcia não conseguiu segurar e acabou tocando no assunto.Sílvio soltou uma risada sarcástica:— Você está tão ansiosa para que eu me case com outra mulher?— Ela não é exatamente uma “outra mulher”, né? Ela desfigurou o próprio rosto por você. Tenho que admitir, estou impressionada com a coragem dela. Antes, achava que ela não tinha vergonha, mas agora a admiro. Ela fez algo que eu não seria capaz de fazer. Ela sacrificou a própria aparência por você. E agora, com o casamento de vocês chegando, isso só mostra que você é um homem que sabe ser grato. Isso é uma coisa boa. — Lúcia, deitada na cama, murmurou enquanto observava o rosto sombrio de Sílvio.Sílvio riu friamente:— Você é bem generosa, hein? Até me incentiva a ficar com outra mulher.— S
Sílvio pensou que havia ouvido errado. Ele se aproximou, inclinando-se até os lábios de Lúcia, ouvindo claramente as palavras urgentes que ela murmurava baixinho:— Pequeno mudo... Corre... Corre...A raiva que ele vinha segurando a noite toda e o ciúme acumulado explodiram de vez.Ela realmente tinha um coração generoso! Além de Basílio, ainda tinha espaço para o pequeno mudo!Até um mudo era capaz de assombrar os sonhos dela? Ele não acreditava que esse rapaz mudo ficava rondando sua mente!Sílvio ergueu a cabeça, observando o rosto pálido de Lúcia, cada vez mais magro. As sobrancelhas dela estavam franzidas, provavelmente presa em um pesadelo terrível.Por causa de um mudo, ela se preocupava tanto a ponto de franzir as sobrancelhas daquele jeito. Ontem, ele quase morreu por ela e pela família deles, mas ela nunca demonstrou tal preocupação por ele!Ele ainda era seu marido, pelo menos no papel. Como ela podia tratá-lo de uma forma tão diferente de como tratava os outros?Lúcia conti
O cheiro do café da manhã se espalhava pelo ar.Abelardo, com os olhos opacos e cansados, ouviu de repente sons de briga vindos do quarto de Lúcia. Preocupado com a filha, ele rapidamente manobrou sua cadeira de rodas e deslizou em direção à porta.Do lado de dentro, Sílvio gritava com Lúcia:— Seus pais não te ensinaram o que é vergonha e dignidade? Não te ensinaram o que é ser fiel? Você tem coragem de chamar o nome de outro homem em um sonho? Tá querendo morrer? E ainda me encara? Vou te ensinar a não me encarar! Aquele seu pai, eu sei muito bem que tipo de sujeito ele é! Não me venha com essa cara de quem não deve nada! Se você quer que aquele velho morra, continua me irritando! Sua família toda me deve!Abelardo ouviu cada palavra, e a raiva tomou conta dele. Pegou a bengala com cabeça de dragão que estava presa à cadeira e começou a bater violentamente na porta, ao mesmo tempo em que soltava gemidos incompreensíveis.Ele sentia no fundo do coração que sua filha preciosa estava se
Mas como Abelardo poderia ter mais força que Sílvio? Ele já estava velho, sem conseguir sequer se levantar das pernas, e suas mãos, sem força, falhavam sob a emoção. A cadeira de rodas balançou para o lado, e ele acabou caindo no chão, enquanto as rodas giravam freneticamente.— Uuuuuh, uuuuuh! — Abelardo gritou, os olhos fixos em Sílvio, completamente tomado pela raiva.Sandra ouviu o barulho e correu para fora. Ao ver a cena, imediatamente pensou que Sílvio havia empurrado seu marido. Furiosa, ela correu até Abelardo para ajudá-lo a se levantar e perguntou:— Abelardo, Abelardo, você está bem?Abelardo balançou a cabeça e murmurou algo incompreensível. Sandra então se levantou, encarou Sílvio e o insultou:— Sílvio, você já arruinou nossa família e ainda tem a coragem de vir aqui?— Por que eu não viria? Ontem à noite foi sua filha quem abriu a porta para mim e me deixou entrar. Se tem algo para reclamar, vá falar com ela. — Respondeu Sílvio, com um sorriso frio.As palavras de Sílvi