Os dedos de Lúcia apertavam com força a borda de seu casaco sobre o colo, amassando o tecido.— Você está completamente fora de si! Srta. Lúcia, você é a paciente mais teimosa que já vi! Eu já te disse inúmeras vezes que sua condição é grave. Pacientes com câncer não podem engravidar! A gravidez só piora a propagação da doença. Por que você nunca me escuta? Na primeira vez que engravidou, você adiou o aborto, e depois que perdeu o bebê, seu corpo ficou ainda mais fraco. Agora está grávida de novo. Por que não me consultou antes de tentar engravidar? Eu realmente não sei mais o que dizer. Você está brincando com a própria vida? — O médico falou, indignado, pegando seu copo na mesa e tomando um gole de água para tentar se acalmar.Lúcia não se importou com o tom ríspido. Na verdade, ela sabia que ele estava certo.— Doutor, não adianta me convencer a interromper a gravidez. Vou deixar as coisas seguirem seu curso. — Disse ela suavemente, depois de um longo silêncio.O médico soltou uma r
Ela não tinha levado guarda-chuva, e a chuva fina e constante caía sobre seu rosto, cabelo e roupas. Sem chamar um táxi, Lúcia decidiu voltar para casa a pé.No poste de luz, um pardal solitário resistia ao vento e à chuva, sendo impiedosamente açoitado pelo clima. Lúcia soltou uma risada amarga. Ela se sentia como aquele pardal: parada, impotente, esperando que o destino lhe alcançasse.Suspirou, sem ter outra escolha.Lúcia lembrou-se de sua pergunta ao médico: “Doutor, eu consigo aguentar até o Natal?” O médico respondeu com um tom grave: “Srta. Lúcia, com o seu estado atual, sua vida pode acabar a qualquer momento. Tem algum desejo que ainda não realizou?”Lúcia refletiu. Seus desejos inacabados pareciam incontáveis.Por exemplo, envelhecer ao lado de Sílvio, tornando-se um casal feliz, daqueles que fazem inveja aos contos de amor eterno.Ou ter um filho adorável, um menino que fosse parecido com Sílvio, ou uma menina, com sua pele clara e beleza. O nome oficial, ela escolheria; o
— Você vai me ajudar com o transplante de fígado? — Lúcia olhou para ele com surpresa.Ele sorriu e respondeu: — Por que não poderia?— Mas nós nos conhecemos há pouco tempo. Isso não é apropriado. — Lúcia deixou os braços caídos ao longo do corpo e observou suas mãos pálidas, que se juntaram um pouco.Sílvio olhou em seus olhos e disse com seriedade: — Mesmo que tenhamos nos conhecido há um dia, se você precisa de ajuda, eu vou ajudar. Srta. Lúcia, servir às pessoas foi a primeira lição que aprendi quando entrei para a polícia. Mesmo que não esteja mais nesse cargo, não mudei.Lúcia sabia que Basílio era um policial muito respeitado, sempre à frente nas situações críticas, salvando aqueles que precisavam de ajuda.Ele foi quem veio ao socorro de Olga quando ela estava à beira da morte. Foi também ele quem resgatou Lúcia quando estava ajoelhada na tempestade de neve, sendo exposta e ridicularizada pela mídia sensacionalista.Mais tarde, quando ela denunciou Giovana por enviar fotos í
Ela pensou que seria cada vez mais raro se encontrar com ele, e achou que não haveria mal em lhe contar.Lúcia suspirou e forçou um sorriso: — Sr. Basílio, neste mundo não há amor absoluto, nem ódio absoluto. E Sílvio é assim também.— O que você quer dizer com isso? — Perguntou Basílio, sem entender.Lúcia sorriu e questionou: — Se seus pais morressem indiretamente por causa do seu sogro, você culparia sua esposa?Basílio não respondeu, nem dizendo que sim, nem que não.— A aversão de Sílvio por mim vem justamente disso. Portanto, eu não o culpo, eu é quem lhe devo. — Explicou Lúcia— Você já considerou a possibilidade de que o acidente com o Sr. Abelardo tenha sido causado por ele? — Perguntou Basílio novamente.Lúcia vacilou por um momento. Sílvio queria colocar seu pai na prisão, mas, sem provas, ele não fez nada. Apenas mandou o motorista do pai, Paulo, para a cadeia.Mas Paulo realmente havia cometido um crime, e por isso foi preso.Com a influência de Sílvio hoje em dia, seria
Os olhares deles se cruzaram, se entrelaçando.O olhar de Sílvio era cortante e frio, como a chuva gélida que caía lá fora, como a neve espessa que cobria o inverno, como o gelo imenso que jamais derretia.Talvez por saber que o câncer havia se espalhado por seu corpo e que sua vida estava por um fio, Lúcia não tinha forças para manter o olhar. Sentia-se como um balão murcho, sem energia, totalmente esvaziada.Depois de um breve instante de contato visual, Lúcia desviou o olhar e passou por ele, como se Sílvio não fosse mais do que um simples espectro em sua vida, alguém que se tornara tão invisível quanto um desconhecido.No entanto, o aroma da sopa de frutos do mar e do bacalhau cremoso invadiu o ambiente. Nesse momento, Marina, com o avental preso, saiu da cozinha com a comida nas mãos. Ao ver Lúcia, ela exclamou com alívio: — Sra. Lúcia, finalmente você voltou! Não sabe o quanto estávamos preocupados com você. É um alívio ver que está bem.Marina era apenas uma empregada, sem laço
Depois de terminar o trabalho, Sílvio pretendia voltar para casa cedo, mas, no caminho, encontrou por acaso Basílio levando-a para casa.Sílvio não tinha intenção de explicar nada, estava furioso: — Está com remorso?Remorso?Lúcia sentia-se dilacerada pelas palavras dele. O que ela havia feito de tão terrível para precisar de remorso? Se ele realmente a seguisse, como não saberia sobre sua condição de saúde? E sobre o que Giovana havia feito?A única explicação possível, a verdade nua e crua, era que Sílvio e Giovana estavam juntos nessa!Lúcia piscou, com os olhos inchados e doloridos, o estômago cheio de comida, desconfortável a ponto de fazê-la chorar. Mas ela não queria chorar na frente de Sílvio, era muito constrangedor.Ele queria exatamente isso: vê-la sofrer. E ela não daria a ele essa satisfação.Com um barulho forte, Lúcia colocou os talheres na mesa com rudeza, o som agudo ecoando pelo ambiente.No entanto, sua voz estava calma: — Estou satisfeita.Ninguém sabia que essa
Lúcia não sabia exatamente por que estava chorando. Achava que suas lágrimas já tinham se esgotado, porque aquele desfecho já era esperado, já estava escrito.Desde o primeiro dia em que Sílvio se aproximou dela, desde o acidente do pai com o pai de Sílvio, desde o incêndio que Paulo provocou na casa de Sílvio, todas as consequências haviam sido seladas.Mas quando o dia realmente chegou, Lúcia percebeu que não era tão forte quanto imaginava. Seu interior não era tão sólido quanto pensava.Ela ainda temia a morte! Ela ainda tinha o instinto de querer viver!Por mais que lutasse, por mais que tentasse resistir ao destino, ela sempre acabava voltando ao ponto inicial. O destino sempre a levava para onde ela deveria estar.Lúcia chorou amargamente por uma hora inteira, o aquecedor de água havia sido completamente utilizado.Sílvio, vendo que ela não saía, preocupado com o que poderia ter acontecido, aproximou-se da porta do banheiro.Ele não conseguia ouvir seu choro, apenas o som da água
Lúcia pegou o secador de cabelo, fechou a gaveta e o encaixou na tomada.De repente, Sílvio levantou os olhos, fechou o livro e, com o rosto impassível, movia os lábios enquanto falava com ela. No entanto, devido ao barulho do secador, Lúcia mal conseguia ouvir suas palavras.Ela pensou que talvez ele estivesse irritado por ter sido interrompido na leitura, então desligou o secador de cabelo prontamente.— Eu vou sair para secar o cabelo. — Disse Lúcia, apertando os lábios.Sílvio fez uma expressão ainda mais severa, levantou-se da cama e foi até ela, pegando o secador das suas mãos. Olhando para a beirada da cama, ordenou:— Sente-se.— Não é necessário que você me seque. — Lúcia percebeu que ele estava pedindo o secador para ele mesmo e não para que ela saísse.Mas ela não queria uma proximidade tão íntima. Afinal, ela estava à beira da morte e deveria se acostumar com a solidão, ou acabaria se apegando ainda mais.Sílvio franziu a testa, com um tom de descontentamento:— Se é necess