Lúcia pegou o secador de cabelo, fechou a gaveta e o encaixou na tomada.De repente, Sílvio levantou os olhos, fechou o livro e, com o rosto impassível, movia os lábios enquanto falava com ela. No entanto, devido ao barulho do secador, Lúcia mal conseguia ouvir suas palavras.Ela pensou que talvez ele estivesse irritado por ter sido interrompido na leitura, então desligou o secador de cabelo prontamente.— Eu vou sair para secar o cabelo. — Disse Lúcia, apertando os lábios.Sílvio fez uma expressão ainda mais severa, levantou-se da cama e foi até ela, pegando o secador das suas mãos. Olhando para a beirada da cama, ordenou:— Sente-se.— Não é necessário que você me seque. — Lúcia percebeu que ele estava pedindo o secador para ele mesmo e não para que ela saísse.Mas ela não queria uma proximidade tão íntima. Afinal, ela estava à beira da morte e deveria se acostumar com a solidão, ou acabaria se apegando ainda mais.Sílvio franziu a testa, com um tom de descontentamento:— Se é necess
Sílvio demonstrou um vislumbre de surpresa e espanto. Se não estava enganado, essa era a primeira vez, desde o início do congelamento das relações, que Lúcia se colocava de forma tão vulnerável e carinhosa, pedindo ajuda.Ele sentiu como se a antiga Lúcia estivesse de volta. Aquela Lúcia que adorava falar com ele em um tom suave e infantil.Ele se inclinou para olhar seu rosto pálido e, com seus longos dedos, acariciou seus cabelos negros. Não pôde evitar, e com ternura, tocou as pontas de seus cabelos.Os cabelos de Lúcia exalavam um delicado perfume de shampoo, um aroma suave e refrescante que se infiltrava lentamente em suas narinas. Os lábios dela, de um tom rosado, eram o único lugar no rosto que tinha cor.Antes que Lúcia pudesse reagir, ele a beijou. Já a havia beijado muitas vezes, mas sempre com um caráter punitivo e de desabafo.Desta vez, no entanto, era diferente. Ele estava tão cauteloso, tão gentil, como se ela fosse um objeto frágil que ele temia quebrar.Lúcia manteve o
Lúcia segurava firmemente o canto do cobertor com os dedos.“Maldito Sílvio! Não posso deixar que você me toque porque estou com uma doença terminal. Você sabe disso muito bem e ainda se faz de desentendido. É divertido para você?”Ela piscou os olhos secos e rapidamente percebeu que Sílvio estava agindo assim apenas para torturá-la. Ele a seguia de perto e não poderia não saber sobre sua condição.Esse homem realmente tinha uma obsessão peculiar, gostava de fazer sexo com pessoas à beira da morte.Com o coração apertado, Lúcia mordeu o lábio e engoliu em seco: — Sílvio, se eu dormir com você, você pode fazer com que meu pai acorde mais cedo?— Isso depende de como você se comporta, Sra. Sílvio. — Ele enfatizou o título, como se estivesse lembrando-a de sua posição.Lúcia ponderou os prós e contras e decidiu arriscar. Talvez, se tivesse sorte, seu pai acordasse antes do previsto. Os médicos disseram para fazer o que quisesse, para não deixar arrependimentos. Se tivesse um desejo a se
Lúcia ficou assustada com a entrada repentina dele. Seu rosto estava pálido, os olhos arregalados e os lábios meio entreabertos.Ela não esperava que ele entraria nu! Mesmo depois de terem feito algo tão íntimo, era difícil para ela aceitar essa exposição total e honesta.A primeira reação de Lúcia foi pedir para ele sair, pois não queria estar ali com ele. Mas antes que pudesse dizer algo, ela escorregou e caiu em direção ao chão duro.Sua cintura foi rapidamente agarrada por um braço forte, e ela foi puxada para os braços de Sílvio.Seu rosto colidiu com o peito dele, enquanto a água do chuveiro escorria ao longo do corpo dele. A água molhava seu rosto, seu corpo e até seus cílios.A proximidade inesperada fez o coração de Lúcia bater descompassado, e suas orelhas ficaram instantaneamente vermelhas.Ela estava prestes a empurrá-lo, quando Sílvio a pressionou contra a parede. A parede estava fria e dava uma sensação de frio, mesmo com a temperatura quente do banheiro e a humidade no a
O lucro máximo era o que realmente importava.Lúcia parecia ter se resignado, com os braços pendentes e a postura obediente, aceitando a situação e permitindo que ele fizesse o que quisesse.Mas ela não sentia nenhum prazer, nenhuma alegria, parecia estar apenas cumprindo um dever, como se estivesse realizando uma tarefa ou um acordo. Afinal, o que existia entre ela e Sílvio senão um simples contrato? E ela mesma havia proposto isso: sofrer suas torturas em troca da segurança da família Baptista e da paz para seus pais.Então, por que ela deveria se sentir triste ou chorar?Lúcia sempre desprezou aqueles que usavam seus corpos para obter vantagens e ainda mais os que, ao enfrentar dificuldades, apenas choravam. O mais irônico era que, agora, ela estava se tornando aquilo que mais odiava, envolvendo-se em ações que antes considerava repugnantes.A depressão, como uma fera selvagem, estava trancada nas profundezas de seu coração. Mas agora, a prisão estava aberta e a fera se soltava, dil
Lúcia arqueou o corpo, a dor aguda causada pelo câncer se manifestando de forma insuportável. Sílvio a beijou por um momento antes de soltá-la.— Se você se comportar, ele pode acordar mais cedo. — Disse Sílvio, percebendo a inquietação dela, com um leve traço de pena nos olhos enquanto acariciava o topo de sua cabeça.Ele a tratava com uma indiferença quase casual, como quem afaga um gato ou um cachorro. Lúcia sorriu amargamente. Aos olhos dele, ela não passava de um bichinho de estimação. Quando estava de bom humor, ele jogava alguns ossos para acalmar sua alma inquieta, esperando que ela abanasse o rabo; quando estava de mau humor, simplesmente ignorava sua dor.Na verdade, talvez ela fosse até menos importante que um animal de estimação. Até com o papagaio que ela comprou ele demonstrava mais compaixão, alimentando-o depois que ela ia embora. Quando Lúcia voltou de Viana, após ter escapado da morte, encontrou o papagaio mais gordo do que antes, o que provava que ele era capaz de
Coisas impossíveis de realizar, por mais que se falasse ou se prometesse, não adiantava. Como, por exemplo, ele desejar que ela morresse.Sílvio encheu um copo de água, pegou uma cartela de remédio para gripe do armário de primeiros socorros e foi até a porta do quarto principal. Tentou girar a maçaneta, mas percebeu que estava trancada.Ela o rejeitava tanto assim? Ele havia saído por apenas alguns minutos e, nesse intervalo, ela já havia trancado a porta?Aquilo o incomodou um pouco, mas ele decidiu não fazer caso. Bateu de leve na porta do quarto.Nenhuma resposta. Nenhum som.— Se a gripe estiver muito forte, eu te levo ao hospital. — Disse Sílvio, sem obter resposta.Ainda em silêncio, ele perguntou de novo:— Você está dormindo?Lúcia devia estar dormindo, ou ela teria respondido.Sílvio, de repente, se sentiu como um palhaço, atuando sozinho em uma peça onde só ele era o protagonista. Ela mudava de atitude tão rapidamente. Pouco tempo atrás, estava nos braços dele, implorando pa
Lúcia estava deitada na cama do quarto principal do apartamento, olhando fixamente para o teto. Ela tinha ouvido cada palavra quando Sílvio bateu na porta e sugeriu levá-la ao hospital, mas estava exausta demais para continuar fingindo.A noite toda passou sem que ela conseguisse dormir. Observou o quarto escuro se iluminar lentamente à medida que o dia nascia.O som de batidas leves ecoou pela porta. Lúcia levantou-se da cama, caminhou até a entrada do quarto e abriu a porta.Marina, com um avental amarrado, sorriu de forma educada:— Sra. Lúcia, sou eu. O café da manhã está pronto, por favor, venha comer.— Não estou com fome. — Disse Lúcia, com sinceridade.Marina, achando que era mais um capricho, demonstrou desconforto:— Mas o Sr. Sílvio pediu para eu garantir que a senhora tome o café. Se não comer, como vou explicar para ele? Além disso, agora que está grávida, o bebê também precisa se alimentar, né?O bebê? Lúcia piscou, pensativa. Marina era uma boa pessoa, dedicada e discre