— Faltam apenas dez dias para o Natal e, logo depois, a primavera chegará. — Disse Basílio, franzindo a testa. Ele não era muito bom em consolar as pessoas. Sabia que Lúcia precisava de conforto, mas, por algum tempo, não conseguiu encontrar as palavras certas.Lúcia deu um sorriso sarcástico. O tempo realmente passava rápido, em dez dias, o ano chegaria ao fim.Depois do Natal, a primavera quente estava quase chegando. Mas mesmo que ela encontrasse um fígado compatível e a cirurgia de transplante fosse bem-sucedida, será que isso significaria que a primavera finalmente chegaria para ela?Provavelmente não. Ela havia abortado o filho de Sílvio, e ele só encontraria novas formas de torturá-la. Viver seria apenas um fardo para sua mente e corpo.Lúcia percebeu, com tristeza, que estava cada vez menos assustada com a morte, até mesmo ansiosa para que esse dia chegasse logo. Ela não queria mais ouvir as maldições de Sílvio, nem suas palavras frias e cortantes, que atingiam seu coração sem
Sandra, desesperada, gritou ao telefone:— Antes, ele parou com os remédios do seu pai porque você tinha sumido. Agora que você voltou e ainda está grávida dele, ele, pelo menos por causa do bebê, não deveria estar agindo assim. Estou furiosa, ele é mesmo um ingrato! Um verdadeiro monstro! Por que ele não pode conversar civilizadamente? Sempre que vocês brigam, ele desconta no seu pai? Isso é simplesmente absurdo! Sandra continuou, agora direcionando a culpa para Lúcia:— Lúcia, você também não está ajudando! Você sabe bem como ele é, por que continua provocando? Eu já te avisei, não avisei? Tente aguentar, apenas por um tempo. Quando seu pai acordar, a gente pensa em como resolver. Por que brigar com ele agora? Vocês discutindo assim, quem sofre é seu pai! Filha, desde que você começou a namorar com ele, eu te disse que ele só estava interessado em você porque você é a única herdeira da família Baptista! Mas você insistiu em não me ouvir, disse que eu tinha preconceito! E agora? Agor
Na verdade, Lúcia ainda não havia se recuperado completamente do aborto espontâneo. Durante sua estadia em Viana, os médicos haviam alertado que, com sua saúde já debilitada e agora com a perda, ela precisava cuidar de si mesma, manter uma boa nutrição e evitar qualquer tristeza ou angústia.Mas agora, com seu pai sem medicação, parecia que sua tristeza e angústia perderam importância. Afinal, ela não podia escapar, estava fadada a morrer cedo ou tarde.O corpo de Lúcia estava tão fraco, e com a possibilidade de células cancerígenas atacarem a qualquer momento, dirigir se tornava uma tarefa extremamente perigosa. Por isso, ela optou por pegar um táxi até o apartamento de Sílvio.Durante o trajeto, ela insistiu para o motorista acelerar ainda mais. O motorista quase fez o carro pegar fogo de tanto acelerar, o percurso que normalmente levaria dez minutos foi feito em apenas dois.Lúcia pagou o dobro do valor da corrida, saiu do táxi e se deparou com um ar gelado que a atingiu instantanea
Ao recusar a oferta do atendente, o rosto deste mudou instantaneamente, exibindo um olhar de desprezo. Lúcia percebeu que provavelmente estava sendo vista como alguém tão pobre que nem mesmo podia trocar de celular. Ela não se importou com isso.Ao retornar à entrada do apartamento, a neve intensa obscureceu sua visão. Seus passos na neve faziam um som característico de "crunch" a cada movimento. O vento frio uivava, fazendo um barulho ensurdecedor.Lúcia usou o novo chip e ligou novamente para Sílvio. Ele não parecia reconhecer o número, então atendeu sem pressa.Quando a ligação foi atendida, antes mesmo de Sílvio falar algo, Lúcia segurou o celular com firmeza, mordeu o lábio e começou a falar:— Sílvio, eu sei que você está no apartamento. Quero vê-lo, desejo conversar com você pessoalmente.— Que direito você acha que tem para conversar comigo? — Sílvio zombou, sua voz desdenhosa penetrando os ouvidos de Lúcia como uma lâmina afiada. — Lúcia, não quero te ver. Vá o mais longe poss
Os flocos de neve caíam furiosamente sobre o rosto e as roupas de Lúcia. Era como se seus órgãos estivessem sendo brutalmente remexidos por uma vara. Lúcia se abraçou, tentando conter a dor, mas as lágrimas escorriam incontrolavelmente.Ela tinha saído às pressas, esquecendo de levar os analgésicos. Queria ir ao hospital para conseguir mais, mas com a interrupção do remédio do pai, ela não ousava sair dali, não podia ir embora. Temia que, no momento em que se afastasse, Sílvio saísse do apartamento para vê-la!A neve se acumulava em seus cílios longos e enrolados, misturando-se com as lágrimas quentes que brotavam de seus olhos.Sílvio, por sua vez, observava tudo da janela panorâmica do apartamento. Dali, ele podia ver Lúcia encolhida na neve, claramente sofrendo, lutando contra a dor.Vestido com um terno preto, sem demonstrar qualquer emoção, ele tragava um cigarro amargo. Sua testa estava franzida de forma intensa, e seus olhos refletiam um breve lampejo de compaixão. Lúcia ainda e
Lúcia já não conseguia mais se levantar de tanta dor; restava apenas rastejar pelo chão coberto de neve. O frio cortante penetrava seus dedos, percorrendo seus membros com uma intensidade avassaladora. Ela mordeu os lábios, determinada a continuar, deixando um rastro de sangue pelo caminho.Finalmente, chegou à porta do apartamento. Com muito esforço, estendeu a mão para alcançar a campainha, pressionando-a repetidamente. Lágrimas escorriam pelo seu rosto.— Sílvio, por favor, abre a porta! — Murmurou com a voz entrecortada. — Sílvio, estou com muita dor, me leva ao hospital!Ela continuou pressionando a campainha até que seus dedos ficaram dormentes, mas a porta permanecia fechada.Na sua mente, as palavras cruéis de Sílvio ecoavam: "Lúcia, por que você ainda não morreu? Seu funeral será inesquecível! Vou decorar tudo com sua cor favorita: rosa. Até as flores e os fogos de artifício serão rosa! Desejo que você desça ao inferno!"As palavras de Giovana também não paravam de atormentá-l
Ao pensar na vida que outrora fora tão promissora, na juventude que florescia como uma bela flor, Lúcia não conseguia evitar a tristeza ao ver tudo se transformar em um caos absoluto. Ela tinha nas mãos um jogo vencedor, mas o jogou fora de maneira desastrosa.Lembrou-se do juramento que fez com Sílvio, de serem companheiros por toda a vida, mas agora, tudo o que restava era um ressentimento profundo. Uma lágrima deslizou pelo canto do seu olho, caindo na neve branca, onde desapareceu instantaneamente.“Adeus, Sílvio.” Lúcia sussurrou silenciosamente em sua mente.Dentro do apartamento, Sílvio ainda estava debaixo do chuveiro, tomando um banho frio. A água gelada escorria pelo seu corpo musculoso e definido, batendo com força contra sua pele. As gotas caíam pelo rosto, deslizando pelo nariz proeminente, até que ele mal conseguia manter os olhos abertos.Ele ficou ali, sob a água fria, por muito tempo, mas a raiva em seu coração não passava.Sílvio realmente não conseguia entender. A Lú
Ele nunca havia tomado a iniciativa de contatá-la, e ela também não o procurou. Aos olhos dele, Lúcia era orgulhosa demais.Mesmo com a família Baptista em decadência, ela jamais baixou a cabeça. Foi só quando Abelardo sofreu o acidente de carro que ela cedeu pela primeira vez. Na verdade, não se tratava de uma rendição, mas de uma submissão temporária.Depois de abotoar o paletó, ele escolheu um relógio e, ao colocá-lo no pulso, saiu do closet.Sílvio pegou o celular que estava em cima da mesa de centro. Na tela, apareciam várias notificações de chamadas bloqueadas.Ele abriu a lista de detalhes e deu uma rápida olhada. Seu olhar se tornou sombrio.Lúcia havia ligado trinta vezes, mas, por estar no banho, ele não atendeu. Embora, mesmo se não estivesse no banho, ele também não atenderia. Ele não se deixaria mais enganar por suas lágrimas ou ceder às suas manipulações!Sílvio colocou o celular de volta na mesa, pegou um charuto e começou a fumar.Se alguém não valoriza a chance que rec