Lúcia estava na sala, inquieta.Foi então que o celular tocou. Era o médico que estava acompanhando seu caso, e a voz dele soou ansiosa:— Srta. Lúcia, você não disse que faria a cirurgia para o aborto? Por que ouvi dizer que seu marido a levou embora naquele dia?— Eu... — Lúcia ficou sem palavras, sem saber como explicar a situação.O médico insistiu, com um tom grave:— Não quero ser inconveniente, mas seu estado de saúde não pode mais esperar. Você sabe disso? Venha logo para a cirurgia!Nesse momento, uma risada fria e baixa ecoou pela sala:— Com quem você está falando ao telefone?O corpo de Lúcia estremeceu.Os olhos de Sílvio se estreitaram. Ele era um demônio? Por que ela estava tão assustada com ele?Lúcia levantou o olhar e viu que ele se aproximava com o rosto sombrio. Apavorada, desligou o telefone rapidamente e tentou se explicar:— O médico está insistindo para eu fazer a cirurgia de aborto.— É o médico que está insistindo ou é você que não quer ter esse filho? Você sa
Sílvio pensou nisso e sorriu com ironia: — O caixão e os fogos de artifício já estão prontos pra você, o que acha?Sim, tudo estava preparado, ele só aguardava a sua morte. E ela, ainda esperava o quê?Lúcia, tomada pela raiva, tremia enquanto as lágrimas escorriam pelo rosto. Ela enxugou as lágrimas, pensando no homem que amara por tantos anos. Este era o mesmo homem em que depositara todo o seu amor durante tanto tempo, agora revelando-se um ingrato. — Nem sonhando! Mesmo que eu morra, não vou dar à luz essa criança! — Lúcia, isso é o que você disse, não se arrependa depois. — Sílvio respondeu com frieza, virando-se para descer as escadas, decidido.Ao sair do apartamento, ele deu de cara com Marina, que voltava do mercado com uma cesta de compras. Marina o cumprimentou com respeito, e ele, com o semblante sério, deu ordens: — A Sra. Lúcia precisa de uma alimentação adequada, três refeições por dia, sem falta.— Entendido.— E não permita que ela saia de casa. Ela só pode circul
Lúcia soltou um riso amargo, era mesmo uma ironia. Ela, a filha da renomada família Baptista, agora estava reduzida a uma situação em que nem sequer tinha liberdade.Ela tinha pensado em sair para dar uma volta, afinal, o sol brilhava intensamente hoje, algo raro no inverno de Cidade A, onde geralmente chovia ou nevava bastante, quase nunca havia um dia tão ensolarado.Marina percebeu que ela queria sair e sugeriu acompanhá-la em um passeio pelo jardim do prédio.— Não precisa.Lúcia respondeu, segurando a xícara de água morna, e subiu as escadas.Marina a seguiu de perto.Quando o almoço ficou pronto, Marina o trouxe até ela. Lúcia apenas pediu que deixasse a comida lá. Apesar do prato parecer delicioso, ela não sentia a mínima vontade de comer.O celular tocou repentinamente.Era o médico responsável. Ela atendeu com calma.A voz do médico estava ainda mais ansiosa que da última vez: — Srta. Lúcia, a sua situação não pode mais ser adiada, você precisa vir ao hospital urgentemente pa
Mas ela não teve coragem de se levantar.Lúcia olhou para Leopoldo, que estava ao lado, e perguntou apressada: — Leopoldo, o que está acontecendo? Por que a Marina está ajoelhada aqui?— O Presidente Sílvio disse que, se a comida da Marina não agradar ao seu paladar, ela deve ser punida. Da próxima vez que você não quiser comer, ela terá que ficar de joelhos pedindo para você se alimentar. Quando você decidir comer, ela poderá se levantar. — Leopoldo apertou os lábios ao repetir as palavras de Sílvio.Lúcia ficou atônita: — Eu não como porque estou sem apetite, isso não tem nada a ver com ela!— Sra. Lúcia, está chovendo muito, é melhor a senhora voltar para dentro! Se algo acontecer com o bebê, ninguém aqui se livrará da culpa! — Marina, enxugando as lágrimas, interveio. — Sra. Lúcia, eu sou apenas uma empregada. Fui eu mesma que escolhi ficar de joelhos. O Sr. Sílvio me deu duas opções: ou eu pedia demissão, ou me ajoelhava para pedir seu perdão. Minha situação financeira não é das
As palavras de sua mãe foram como uma mão gigantesca apertando o coração de Lúcia, causando-lhe uma dor tão intensa que ela mal conseguia respirar. Ela perguntou, ansiosa: — Mas o pagamento dos medicamentos foi feito há poucos dias, como é que o dinheiro acabou tão rápido?— Ainda temos dois milhões na conta, o dinheiro está lá, mas aquele desgraçado do Sílvio congelou tudo! Se não pagarmos, vão suspender os medicamentos à força! — A voz aflita de Sandra do outro lado da linha quase se quebrava em prantos. — Lúcia, o Dr. Arthur disse que seu pai estava se recuperando bem, mas parar com a medicação agora é muito perigoso! Lúcia, me diga a verdade, vocês brigaram de novo?Lúcia apertou o celular com força. Ela já sabia o que estava acontecendo. Sílvio estava tentando forçá-la a ter o bebê, usando seu pai como moeda de troca!Eles eram marido e mulher, ela o amava, confiava nele, o protegia, se casou com ele, e ele a enganou, a machucou e agora queria destruí-la!Como é que o amor deles
Marina, ao perceber que Lúcia não tinha a menor intenção de comer, ficou preocupada: — Srta. Lúcia, a senhora precisa comer. Eu ainda preciso gravar um vídeo seu comendo para mandar para o Leopoldo.Lúcia lembrou-se de que na noite anterior não havia comido nada, e que Marina havia ficado de joelhos na chuva por tanto tempo. Ela não podia deixar que suas próprias emoções punissem os outros, especialmente Marina, que não tinha culpa de nada.Reprimindo a sensação de saciedade no estômago, Lúcia forçou-se a comer cada colherada até limpar o prato.Marina, com o celular em mãos, gravou um vídeo dela comendo e logo enviou para Leopoldo.— Marina, você consegue entrar em contato com o Sílvio?Marina ficou um pouco surpresa ao ouvir a pergunta de Lúcia.— Pode tentar falar com ele para que me encontre? Eu preciso conversar com ele pessoalmente. — disse Lúcia, e as lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto. — Marina, meu pai está sem os medicamentos. Por favor, me ajude a falar com ele, p
Após ver o nome no visor do celular, Lúcia sentiu uma pontada de decepção. Não era Sílvio. Mesmo assim, atendeu e levou o aparelho ao ouvido, falando em voz baixa:— Doutor.— Srta. Lúcia, não me leve a mal, mas eu preciso insistir! Como eu disse ontem, você precisa vir ao hospital para interromper a gravidez o quanto antes.A preocupação na voz do médico aqueceu o coração de Lúcia. Um estranho mostrava mais cuidado com sua saúde e segurança do que as pessoas próximas.— Doutor, eu decidi que não vou fazer o aborto.— Srta. Lúcia, você só pode estar brincando! — A voz do médico estava carregada de choque e incredulidade.Lúcia apertou os lábios e respondeu:— Não estou brincando. Eu realmente decidi ter esse filho. Obrigada, doutor. Agradeço de verdade pela sua preocupação.— Mas...— Não tem "mas". Essa é a minha vida, doutor. Se não há mais nada a dizer, eu vou desligar. — Lúcia cortou a ligação antes que ele pudesse responder.Ela sempre quis desafiar o destino. Quando sua mãe tento
— Sílvio, vou te perguntar uma última vez: se um dia eu desaparecer da sua vida para sempre... — Lúcia ainda não desistira, precisava fazer aquela pergunta.Mas antes que ela pudesse terminar a frase, ele a interrompeu, impaciente:— Lúcia, estou muito ocupado para ouvir essas bobagens.Então, sua vida, sua saúde, eram apenas bobagens para ele. A frieza e a indiferença de Sílvio perfuraram seu coração como uma lâmina gelada. Sua alma estava despedaçada, sangrando, mas Sílvio não conseguia ver!E mesmo que visse, Lúcia duvidava que ele se importaria.Antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, viu que ele, impaciente, já se levantava para ir embora:— Quando você tiver pensado bem, então conversamos.Era óbvio que ele estava ali para forçá-la a se submeter.Sílvio achava que, ao aceitar ter o filho, Lúcia já havia cedido. Mas, para sua surpresa, ela tinha mais a dizer.— Eu posso ter esse filho! Mas tenho condições! — Ela falou olhando para as costas dele, com firmeza.Ele parou abru