Lúcia soltou um riso amargo, era mesmo uma ironia. Ela, a filha da renomada família Baptista, agora estava reduzida a uma situação em que nem sequer tinha liberdade.Ela tinha pensado em sair para dar uma volta, afinal, o sol brilhava intensamente hoje, algo raro no inverno de Cidade A, onde geralmente chovia ou nevava bastante, quase nunca havia um dia tão ensolarado.Marina percebeu que ela queria sair e sugeriu acompanhá-la em um passeio pelo jardim do prédio.— Não precisa.Lúcia respondeu, segurando a xícara de água morna, e subiu as escadas.Marina a seguiu de perto.Quando o almoço ficou pronto, Marina o trouxe até ela. Lúcia apenas pediu que deixasse a comida lá. Apesar do prato parecer delicioso, ela não sentia a mínima vontade de comer.O celular tocou repentinamente.Era o médico responsável. Ela atendeu com calma.A voz do médico estava ainda mais ansiosa que da última vez: — Srta. Lúcia, a sua situação não pode mais ser adiada, você precisa vir ao hospital urgentemente pa
Mas ela não teve coragem de se levantar.Lúcia olhou para Leopoldo, que estava ao lado, e perguntou apressada: — Leopoldo, o que está acontecendo? Por que a Marina está ajoelhada aqui?— O Presidente Sílvio disse que, se a comida da Marina não agradar ao seu paladar, ela deve ser punida. Da próxima vez que você não quiser comer, ela terá que ficar de joelhos pedindo para você se alimentar. Quando você decidir comer, ela poderá se levantar. — Leopoldo apertou os lábios ao repetir as palavras de Sílvio.Lúcia ficou atônita: — Eu não como porque estou sem apetite, isso não tem nada a ver com ela!— Sra. Lúcia, está chovendo muito, é melhor a senhora voltar para dentro! Se algo acontecer com o bebê, ninguém aqui se livrará da culpa! — Marina, enxugando as lágrimas, interveio. — Sra. Lúcia, eu sou apenas uma empregada. Fui eu mesma que escolhi ficar de joelhos. O Sr. Sílvio me deu duas opções: ou eu pedia demissão, ou me ajoelhava para pedir seu perdão. Minha situação financeira não é das
As palavras de sua mãe foram como uma mão gigantesca apertando o coração de Lúcia, causando-lhe uma dor tão intensa que ela mal conseguia respirar. Ela perguntou, ansiosa: — Mas o pagamento dos medicamentos foi feito há poucos dias, como é que o dinheiro acabou tão rápido?— Ainda temos dois milhões na conta, o dinheiro está lá, mas aquele desgraçado do Sílvio congelou tudo! Se não pagarmos, vão suspender os medicamentos à força! — A voz aflita de Sandra do outro lado da linha quase se quebrava em prantos. — Lúcia, o Dr. Arthur disse que seu pai estava se recuperando bem, mas parar com a medicação agora é muito perigoso! Lúcia, me diga a verdade, vocês brigaram de novo?Lúcia apertou o celular com força. Ela já sabia o que estava acontecendo. Sílvio estava tentando forçá-la a ter o bebê, usando seu pai como moeda de troca!Eles eram marido e mulher, ela o amava, confiava nele, o protegia, se casou com ele, e ele a enganou, a machucou e agora queria destruí-la!Como é que o amor deles
Marina, ao perceber que Lúcia não tinha a menor intenção de comer, ficou preocupada: — Srta. Lúcia, a senhora precisa comer. Eu ainda preciso gravar um vídeo seu comendo para mandar para o Leopoldo.Lúcia lembrou-se de que na noite anterior não havia comido nada, e que Marina havia ficado de joelhos na chuva por tanto tempo. Ela não podia deixar que suas próprias emoções punissem os outros, especialmente Marina, que não tinha culpa de nada.Reprimindo a sensação de saciedade no estômago, Lúcia forçou-se a comer cada colherada até limpar o prato.Marina, com o celular em mãos, gravou um vídeo dela comendo e logo enviou para Leopoldo.— Marina, você consegue entrar em contato com o Sílvio?Marina ficou um pouco surpresa ao ouvir a pergunta de Lúcia.— Pode tentar falar com ele para que me encontre? Eu preciso conversar com ele pessoalmente. — disse Lúcia, e as lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto. — Marina, meu pai está sem os medicamentos. Por favor, me ajude a falar com ele, p
Após ver o nome no visor do celular, Lúcia sentiu uma pontada de decepção. Não era Sílvio. Mesmo assim, atendeu e levou o aparelho ao ouvido, falando em voz baixa:— Doutor.— Srta. Lúcia, não me leve a mal, mas eu preciso insistir! Como eu disse ontem, você precisa vir ao hospital para interromper a gravidez o quanto antes.A preocupação na voz do médico aqueceu o coração de Lúcia. Um estranho mostrava mais cuidado com sua saúde e segurança do que as pessoas próximas.— Doutor, eu decidi que não vou fazer o aborto.— Srta. Lúcia, você só pode estar brincando! — A voz do médico estava carregada de choque e incredulidade.Lúcia apertou os lábios e respondeu:— Não estou brincando. Eu realmente decidi ter esse filho. Obrigada, doutor. Agradeço de verdade pela sua preocupação.— Mas...— Não tem "mas". Essa é a minha vida, doutor. Se não há mais nada a dizer, eu vou desligar. — Lúcia cortou a ligação antes que ele pudesse responder.Ela sempre quis desafiar o destino. Quando sua mãe tento
— Sílvio, vou te perguntar uma última vez: se um dia eu desaparecer da sua vida para sempre... — Lúcia ainda não desistira, precisava fazer aquela pergunta.Mas antes que ela pudesse terminar a frase, ele a interrompeu, impaciente:— Lúcia, estou muito ocupado para ouvir essas bobagens.Então, sua vida, sua saúde, eram apenas bobagens para ele. A frieza e a indiferença de Sílvio perfuraram seu coração como uma lâmina gelada. Sua alma estava despedaçada, sangrando, mas Sílvio não conseguia ver!E mesmo que visse, Lúcia duvidava que ele se importaria.Antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, viu que ele, impaciente, já se levantava para ir embora:— Quando você tiver pensado bem, então conversamos.Era óbvio que ele estava ali para forçá-la a se submeter.Sílvio achava que, ao aceitar ter o filho, Lúcia já havia cedido. Mas, para sua surpresa, ela tinha mais a dizer.— Eu posso ter esse filho! Mas tenho condições! — Ela falou olhando para as costas dele, com firmeza.Ele parou abru
Lúcia percebeu que Sílvio não estava reagindo e decidiu aumentar a aposta. De repente, agarrou a tesoura e a direcionou com força em direção à própria barriga.Quando a lâmina estava prestes a perfurar sua pele, num piscar de olhos, Sílvio agarrou a lâmina da tesoura com a mão, com precisão e força.A lâmina cortou a palma de sua mão, causando-lhe uma dor intensa que fez com que ele franzisse a testa.O sangue escorreu de sua mão, pingando no chão. Lúcia sabia que tinha vencido a aposta, a tesoura foi arrancada de sua mão e caiu no chão com um estrondo.— Você odeia tanto assim esse filho? Lúcia, você é ainda mais desprezível do que eu imaginava! — Sílvio agarrou sua garganta com a outra mão, seu rosto estava tenso, e as veias em sua testa pulsavam de raiva.Lúcia sentia uma dor tão profunda que já não conseguia chorar; suas lágrimas haviam secado. Ela olhou para ele com um sorriso irônico:— Sílvio, pare de enrolar. Se quer que eu tenha esse filho, então assine os papéis! Caso contrár
Lúcia bloqueou novamente o caminho de Sílvio.— O que você quer agora? Ainda não acabou com essa confusão? — Sílvio perguntou, impaciente.Lúcia deu um leve sorriso:— Sílvio, você ainda me deve uma última coisa!— Você nunca se cansa, né? — Sílvio estreitou os olhos.Lúcia o observou, murmurando:— Você precisa me prometer uma coisa. Não importa o que aconteça no futuro, você deve deixar de lado o ódio e cuidar dos meus pais até o fim de suas vidas! E proteger a família Baptista!— Lúcia, quem te deu coragem pra falar assim comigo? — Sílvio agarrou bruscamente o pescoço dela, empurrando-a contra a parede, com os olhos cheios de fúria.Ele já havia cedido a tantas exigências absurdas, e agora ela ainda queria que ele fizesse um juramento? Ela achava que era quem? Eles eram inimigos jurados, com sangue derramado entre suas famílias!Ela estava se aproveitando do fato de que ele se importava com aquela criança, para fazer mais e mais exigências irracionais!Antes, quando ele ficava irrit