— Você é amigo da Lúcia? — Indagou o médico, franzindo a testa.Lúcia parecia não ter muitos amigos, sempre vinha ao hospital sozinha. Quem seria esse homem, afinal?— Por que tanto rodeio? Fale logo o que eu perguntei. — Retrucou Sílvio, visivelmente irritado. — Ou prefere que o diretor do hospital venha pessoalmente perguntar?O médico sentiu um calafrio e entendeu na hora que não poderia desafiar aquele homem.Não podia revelar a situação da paciente sem autorização, então mentiu:— A Srta. Lúcia apenas comeu algo que não fez bem. Não é nada grave.Sílvio soltou uma risada sarcástica.“Então ela só comeu algo estragado.”Essa mulher não dizia uma verdade.A irritação interna de Sílvio diminuiu consideravelmente enquanto ele se virava e saía do consultório.Uma mulher robusta como ela, como poderia estar doente? Como poderia acontecer algo com ela?Nunca mais deveria acreditar nas palavras dela.Leopoldo, sem entender, seguiu Sílvio. Por que o chefe parecia tão carrancudo se Lúcia es
Sílvio ignorou-a e se inclinou para entrar no carro.Lúcia desceu os degraus correndo:— Sílvio, só preciso de dois minutos, por favor.— Presidente Sílvio, o senhor não está com pressa, dê dois minutos para a senhora Lúcia. — Leopoldo não pôde deixar de intervir.O olhar incisivo de Sílvio pousou sobre ele:— Some daqui.Leopoldo, apesar da bronca, conseguiu ganhar dois minutos para Lúcia. Ele se virou, sorrindo, e foi dar uma volta pelo jardim que havia ouvido falar existir ali nas proximidades do hospital, cheio de flores de todas as cores.Lúcia deu um passo em sua direção, tentando encontrar as palavras certas para começar. Mas ele se afastou um pouco, querendo manter distância.Esse pequeno gesto foi como uma agulha fina perfurando seus olhos, causando uma dor que quase a fez chorar.— Fale logo e não me toque. — O sorriso de Sílvio era cheio de desdém.Apesar de já ter ouvido suas palavras frias e cruéis inúmeras vezes, Lúcia ainda sentia dor. Ela não sabia quanto tempo mais lev
Sair para trabalhar, sem surpresas, nenhuma empresa estaria disposta a aceitá-la.No fim, ela ainda teria que pedir ajuda ao Sílvio.O desfecho era inevitável, então por que não maximizar os benefícios?Portanto, obter a promessa dele de proteger seu pai e a família Baptista para sempre era a forma mais segura, muito mais importante do que qualquer quantia em dinheiro.Quando ela esclarecesse que os pais de Sílvio não foram mortos por seu pai, o ódio de Sílvio pela família Baptista diminuiria, certo?Naquela noite, ela não dormiu, mas foi ao mercado comprar os ingredientes mais frescos para preparar o café da manhã que ele sempre adorou: croissant e ovos mexidos.Ela não sabia cozinhar. No início do relacionamento, era ele quem sempre cozinhava para ela.Ele cozinhava tão bem, tão bem que não deixava nada a desejar comparado aos restaurantes.Mas depois que ele começou a trabalhar no Grupo Baptista, seu pai deu-lhe uma atenção especial, e ele ficou cada vez mais ocupado, sem tempo para
Lúcia ficou perplexa, lembrando de como ele adorava a comida que ela fazia. — Lúcia, não me fale do passado, só de lembrar eu fico enjoado. — Zombou ele.— Seus pais morreram por causa de um curto-circuito. Por que você culpa meu pai por isso? — Lúcia gritou. — Você diz que meu pai é um assassino, cadê as provas? Você tem provas?Sílvio estava lendo documentos e, ao ouvir isso, jogou a pasta na mesa com força, levantou-se rapidamente e caminhou até ela, agarrando seu queixo: — Você ainda tem coragem de me pedir provas? Quer me irritar mais? Tá com vontade de morrer mais rápido?— Me diga, o que realmente aconteceu? — Lúcia sentia uma dor excruciante no queixo, seu rosto se contorcendo.Ela viu a raiva nos olhos dele, como um furacão. Ele soltou seu queixo com violência, quase fazendo-a cair. Ela se segurou na mesa e ouviu ele dizer com desprezo. — Idiota, seu cérebro foi comido por um cachorro? Aquele velho era esperto, como ele conseguiu ter uma filha tão estúpida? O que você desco
Sandra franziu o rosto:— Lúcia, foi o Sílvio que te encheu a cabeça com baboseiras de novo? Você acredita nele e não confia mais no que eu digo?— Não é isso...— Nossa família nunca teve parentes, amigos ou negócios no Bairro das Árvores. Não há motivo para irmos àquele lugar. Seu pai sempre foi um homem bom, um grande filantropo. Caso contrário, ele nunca teria adotado aquele ingrato do Sílvio como filho, e muito menos teria insistido para você se casar com ele, contra a minha vontade. Seu pai agora está em coma, a família Baptista está em ruínas. Você precisa ter a cabeça no lugar para saber em quem acreditar. — Sandra chorava, a voz embargada. — Nossa família não aguenta mais problemas, minha filha.— Mãe, eu acredito em você. E acredito no papai. — Lúcia abraçou a mãe, tentando acalmá-la.Mas por que a mãe mentiria? Ela realmente não sabia ou estava escondendo algo?Dez anos atrás, numa noite chuvosa e tempestuosa, seu pai recebeu um telefonema e desceu apressadamente.Ela tinha
Lavou o rosto com água fria, mas ainda sentia um leve enjoo.Ela se forçou a beber um copo de água morna e começou a se sentir um pouco melhor.Para descobrir mais sobre o motorista de seu pai, Paulo, Lúcia contratou um detetive particular. Ele foi rápido e, naquela mesma noite, trouxe as informações:— Srta. Lúcia, o motorista do seu pai, Paulo, realmente abriu uma pequena empresa em sua cidade natal e estava indo muito bem. Mas agora a empresa faliu.— Se estava indo tão bem, por que faliu? — Lúcia percebeu o problema imediatamente.O detetive explicou pelo telefone:— A empresa de Paulo foi envolvida em um esquema de fraude telefônica, com um prejuízo de cinco milhões. Ele foi condenado a dez anos de prisão. O tribunal confiscou todos os seus bens.— Quando ele foi preso?— De acordo com os registros, Paulo foi preso há um ano. A data exata é...Ao ouvir a data, Lúcia ficou paralisada. Seria coincidência?Paulo foi preso no mesmo dia em que seu pai caiu da escada e entrou em coma.S
Descobriu que ele já a odiava tanto assim, só de ouvir a voz dela, sua expressão mudava instantaneamente.Lúcia não insistiu. Sabia que, fosse sorte ou azar, não tinha como escapar do destino.Meia hora depois, o carro parou em frente a uma prisão masculina.Sílvio, impaciente, mandou que ela descesse do carro e a arrastou para dentro da prisão. Os guardas reconheceram Sílvio e acenaram para ele, cumprimentando-o.Depois de trocar algumas palavras com os guardas, Sílvio entregou Lúcia a eles, que a levaram para dentro.Um grupo de homens usando uniformes de detentos estava brigando. Vários deles espancavam um homem que estava no chão, batendo nele com socos, chutes e até com um banco.O homem no chão apenas se encolhia, protegendo a cabeça com as mãos, sem revidar.O guarda apitou, e os brigões se dispersaram instantaneamente.O guarda disse ao homem no chão: — Alguém quer falar com você, levanta daí.— Quem quer me ver? — O homem levantou a cabeça e viu Lúcia ao lado do guarda, fican
Paulo inicialmente não queria contar a verdade para Lúcia. Só depois de muita insistência, de seus gritos e até de vê-la ajoelhar-se em súplica, ele finalmente cedeu. Tremendo, ele a levantou e, chorando, disse:— Srta. Lúcia, fui eu. Tudo foi obra minha, seu pai, o Sr. Abelardo, não tem nada a ver com isso. O Sr. Sílvio não me processou até agora porque destruí todas as provas. Ele não tem como atingir o Sr. Abelardo. Fique tranquila, eu nunca colocaria você ou seu pai em apuros. Se eu tiver que morrer por isso, assim será. — Srta. Lúcia, sinceramente, eu só desejo que você tenha paz e felicidade. Não se envolva mais nisso.Ao lembrar dessas palavras, Lúcia não conseguia conter as lágrimas. Em seus ouvidos, ressoava a voz rouca e cheia de ódio de Sílvio:— Há mais de dez anos, meu pai tinha um pequeno restaurante. Apesar de ser um negócio modesto, vivíamos bem. Naquela noite, como hoje, começou a nevar de repente. Meu pai saiu para fazer compras e foi atropelado. Quando o encontramo