Lorenna
Agradecia ao Carlos pela ajuda, por ter me emprestado o dinheiro que eu não tinha noção de como pagaria e por ser um ombro amigo no momento que precisei.
Juliana brigou comigo, pedindo que eu parasse de me desculpar pelos erros da minha irmã. A pirralha, nem mesmo agradeceu ao homem, quando desceu do carro. Estava me sentindo envergonhada, uma caloteira, devendo vinte mil reais para um homem que conheci em uma noite. Eu parecia mesmo era uma dessas mocinhas de livros de romance, que se ferra e logo consegue encontrar a solução dos problemas.
— Amiga é o seguinte, por mim você arrastava a cara daquele projeto de gente no asfalto. Porém, a tia Carmem te mataria e de quebra me mataria também. Então faz o seguinte? Não deixe que as ofensas que aquela palhaça vai fazer hoje a noite, ignore qualquer gracinha e tome um banho, tira a sujeira daquela delegacia do seu corpo, deite-se na sua cama e dorme o sono dos justos.
Juliana me diz e começo a rir da forma que ela me fala.
— Lorenna, te conheci hoje e concordo com a Juliana. Sobre o empréstimo, depois a gente resolve, tudo bem? Não se sinta mal por eu pagar a fiança da sua irmã. Imagina que fui um gênio da lâmpada, que apareceu essa noite e te concedeu um desejo. O dinheiro você me paga quando puder, em sei lá quantas mil parcelas. O que importa é que sua irmã tá fora da cadeia e a sua mãe não vai passar mal e nem você terá problemas ou tristeza na noite da sua formatura.
Carlos, realmente era um cara legal e amigo. Sorte da minha amiga que estava se relacionando com um homão da porra como esse.
— Obrigada por tudo vocês dois. Sem a Juliana você teria tido a pior noite da minha vida.
Respondo, me sentindo baixo astral, por ter minha noite de alegria arruinada pela mimada da minha irmã.
— Carlos se despede, desejando boa noite e avisa que vai esperar por Juliana no carro.
Fico sozinha com minha amiga, que aproveita para reforçar o que o seu ficante havia acabado de me dizer.
— O Carlos tem dinheiro, amiga. Vinte mil para ele não é nada. Confia no que eu estou te dizendo.
— Juli, mas você me disse que ele trabalhava na secretaria de saúde. Até onde sei, funcionário público ganha bem, mas tipo não tão bem para ter no banco vinte mil do nada.
Questiono e vejo um brilho diferente no olhar da minha amiga.
— Provavelmente porque ele não vive apenas do que ganha como funcionário público, sua tonta. Agora preste atenção no que vou falar. Consigo um trabalho para você no mesmo lugar que conheci o Carlos. Te garanto que vai conseguir juntar o dinheiro em pouco tempo e não se preocupa com a opinião de nada nem ninguém, tudo bem?
Só pela forma que Juliana dizia, já entendia o tipo de lugar que ela desejava me levar.
— Amiga, não sou puritana nem nada do tipo. O problema é que não tenho vocação para ser mulher da vida e você sabe disso — respondo tentando ser engraçada, porém, falho ao dizer que não queria ser uma prostituta.
— Lô, presta atenção que vou dizer para você pela última vez. O lugar que vou te levar não é um lugar de prostituição como tá pensando. Lá vamos nos divertir, você vai entreter alguns homens que podem no final da noite te dar muito mais do que poderia sonhar. Basta você ser sortuda e encontrar um bem generoso, como eu fui e encontrei o Carlos.
Me responde, como se estivesse falando algo banal.
— Amiga, eu estudei para ter um emprego decente, não formei para acabar trabalhando numa boate, bordel, ou seja, lá o nome que você dá para esse lugar.
— Olha só. Pensa com carinho, você vai comigo de convidada, sem se misturar ou trabalhar como as outras garotas. Se eu disse, se algum homem se interessar por você e fizer uma boa proposta, você vai e aceita, sua boba. Ouve sua amiga que tem experiência de vida, ao contrário de você que espera um homem caindo do céu que não existe e nunca vai existir.
Juliana se despede, avisando que viria até minha casa depois do almoço, que eu estivesse pronta, que me levaria para fazer compras no shopping e dar um jeito no meu cabelo. Não respondi nada, porque de verdade me sentia exausta, sem forças para responder. Minha amiga entrou no carro e assim que o veículo virou a esquina, entrei na minha casa. O silêncio indicava que mamãe dormia. Com cuidado, andando na ponta do pé para não incomodar, fui direto para o banheiro e para minha sorte meu roupão estava lá dentro. Despi o meu vestido, a noite quente me fez decidir lavar os cabelos na água fria. Aproveitaria para remover a maquiagem do rosto. Me sentia cansada demais para qualquer outra coisa que não fosse a minha cama. De banho tomado, saio do banheiro vestindo o roupão, entro no quarto e encontro Laisa mexendo no celular, ainda com a roupa da rua. Controlo a raiva, pegando a toalha no guarda-roupa, começo a me secar e depois tiro meu pijama para dormir e visto.
— Tem como você tomar banho antes de dormir? Não sou obrigada a dormir sentindo cheiro da rua que vem de você — falo para vê se ela se tocava que me incomodava usando a mesma roupa.
— Olha só como a formanda agora tá se achando. Só porque um homem rico pagou para você me tirar da cadeira, tá achando que pode mandar em mim, sua sonsa?
Laisa questiona, se levantando da cama, indo pegar sua toalha que ficava pregada num suporte na parede.
— Eu não me acho em nada. Quero apenas dormir tranquilamente. Se você não se cansou nem se importa com as pessoas, o problema não é meu. Agora eu quero dormir, sem ninguém incomodando.
Respondo, indo pentear o cabelo, que ainda estava molhado.
— Tá assim, porque a puta da Juliana, vai te encontrar um trabalho, num bordel qualquer da cidade? Cuidado, que do jeito que você é uma idiota capaz de encontrar um velho barrigudo e fedido para te bancar.
Respondo, tirando sarro da minha cara. Eu desejava pegar aquela cretina pelos cabelos, encher o rosto de t***s, porém, não podia fazer nada disso. Minha mãe não merecia uma ingrata como essa de filha, nem eu precisava de uma irmã tão ridícula como a minha.
LorennaTive uma noite péssima no pior sentido. Com Laisa ouvindo música. Fui dormir com o sol nascendo, após ter ficado a madrugada inteira ouvindo barulho de música. Mesmo usando fone de ouvido, conseguia o som irritante. Tudo isso era para me incomodar, conhecia bem a tática da minha irmã caçula e como Laisa sabia ser insuportável. Levantei-me da cama, peguei o meu celular conferindo a hora. Um pouco depois das dez da manhã. Mamãe, deveria estar preparando o almoço. Saí da cama com cuidado, sem fazer barulho para acordar a princesa. Mesmo não nos dando bem, não conseguia tratar Laisa da mesma forma que ela me tratava. No final de tudo, ela era minha única irmã. Peguei minha roupa de sair, minha bolsa e sandália. Assim não precisava entrar no quarto novamente. Fui para o banheiro, ouvindo do corredor o barulho das panelas. Tomei um banho demorado, frio que me animasse um pouco. Logo Juliana chegaria para sair comigo. Sem conseguir dormir, fiquei matutando na proposta maluca da minha
LorennaO dia ao lado da Juliana foi de diversão. Mesmo tentando convencer minha melhor amiga de que não conseguiria fazer o trabalho que ela me propôs, acabei aproveitando as compras, o salão e a conversa. Agora me arrumava no apartamento da amiga da Juliana que se chamava Jaqueline. Era um apartamento de dois quartos, sendo uma suíte, sala, cozinha e banheiro social. A garota era massagista e aos finais de semana trabalhava no mesmo lugar que Juliana.Tentava arrumar o comprimento do vestido que Juliana escolheu para mim, praticamente desistindo e deixando do jeito que estava mesmo.— Lô, estou pronta e você vai arrasar os corações na boate hoje — Juliana aparece na sala, usando uma minissaia de dourada, com um top preto, que deixava a barriga à mostra, o decote praticamente todo aparecendo.— Sua amiga não vai achar ruim, nós duas termos usado a casa dela para nos vestir e fazer toda essa bagunça?Aponto para as roupas espalhadas juntamente com as sacolas.— Jaque está bem preocupa
Lorenna— Olá, boa noite!Falo assim que me sento ao lado do estranho, sem dar tempo dele responder se estava ou não acompanhado.— Boa noite!Me respondeu com sua voz grossa e de perto ele era mais bonito ainda. Os cabelos com alguns fios grisalhos e os olhos de um azul-escuro. A luz iluminou bem seu rosto e um sorriso se formou de canto ao responder meu cumprimento.— Espero não atrapalhar você. Se estiver aguardando alguém, é só me avisar que levanto na mesma hora e te deixo sozinho novamente.— Não espero ninguém. Quer dizer, eu estaria esperando se a minha companhia não tivesse avisado que não poderia comparecer e eu estivesse aqui aguardando a chegada dela.O estranho responde, bebendo num único gole o uísque.— Se não for ruim para você e quiser, posso te fazer companhia. Claro se você for ficar aqui. Acabei de chegar na boate, é meu primeiro dia vindo aqui, então estou um pouco perdida no meio de tantas pessoas.Falo tentando soar o mais natural possível. Até o tremor na voz,
LorennaEnquanto aguardava André voltar, me encostei na parede que dava para a escada que levava aos quartos Vips. Eu realmente transaria com um homem por dinheiro? Apenas para pagar uma dívida que não era minha, transando com um homem que nunca mais iria encontrar. Eu deveria estar nervosa, chorando ou até mesmo me descabelando. Porém, não sentia nada disso, pelo contrário, me sentia ansiosa para ficar sozinha com ele. Juliana me avistou do outro lado do salão, fazendo sinal positivo para mim. André me beijou no salão, deixando meu corpo em chamas, ansiando por mais do que um beijo. Eu já fiquei com outros caras, quando saía com Juliana para os bailes, contudo André era muito diferente dos rapazes da comunidade, ele era um homem e isso por si só me excitava. Mexia na minha bolsa de noite, pensando em como me comportar com ele em um quarto. Ouço passos vindos até mim, quando viro meu rosto encontro- o parado ao meu lado.— Vamos! A agitação aqui, ficou demais, então eu prefiro ficar c
Lorenna3 anos depois…— Filha acorda, que é quase hora de você trabalhar.Todo santo dia é isso, por três anos, desde quando me formei. Meu sonho e desejo de estudar para concurso, de estar trabalhando com o que gosto, acabou se resumindo em ser recepcionista na boate que eu jurava que iria apenas uma vez e aulas de reforço três vezes na semana para as crianças da comunidade.Sim! Passaram-se três anos desde a noite que conheci aquele homem e nunca mais obtive notícias. O engraçado é que concordei em trabalhar como atendente na esperança de que uma noite ele voltasse. Porém, nada foi do jeito que imaginei. Mas não dava para reclamar muito. O salário na boate era bom, mantinha as contas em dia e o medicamento da minha mãe. Eu conseguia juntar dinheiro e já não passávamos tanto sufoco assim. Juliana seguia sendo a melhor amiga que eu poderia ter nesse mundo. Mas agora ela não trabalhava na boate e sim no espaço que montou para os atendimentos. A cretina era tão sortuda, que de tanto o
Lorenna— Filha, você vai chegar atrasada na entrevista.Mamãe prepara o almoço, chamando a minha atenção por demorar para terminar o café da manhã.— Mãe, calma que eu tenho tempo até a hora da entrevista — respondi bebendo o restante do suco de laranja.— Desse jeito, você vai acabar chegando na hora que acabar isso sim.Levei o copo sujo para a pia, lavando e deixando no escorredor de louça.— Meu amor te desejo sorte e sei que vai conseguir esse emprego.Depois da ligação da minha amiga, fui para a boate e trabalhei a noite inteira pensando na oferta recebida. Mesmo não compreendendo o motivo de omitir que morava em comunidade, responderia todas as perguntas que a avó da menina me faria, esperando não dar nenhuma bola fora. Luciana havia me contado que eu me formei no mesmo ano que ela, porém não exercia a profissão por cuidar da minha mãe doente.— Mãe, não me espera para o almoço, tudo bem? A entrevista ficou marcada para às nove da manhã. Saindo daqui agora, chamo o Uber e em 5
LorennaÚltima mala fechada. No total 3 malas, uma caixa com alguns livros e minha mãe na sala chorando porque ficaria sozinha em casa. Quero dizer sozinha não, porque em breve ela se mudaria para Embu das Artes. Moraria com uma prima também viúva e foi difícil convencer dona Carmem a aceitar. A casa onde moramos eu alugaria e enviaria o dinheiro todo mês para mamãe. Juliana não acreditou quando contei tudo do trabalho, muito menos do dinheiro que eu receberia em três anos, multiplicado por 36 meses, daria uma fortuna.Mamãe não gostou de saber que eu moraria com os patrões. Até perguntou se o meu patrão era casado, solteiro ou divorciado. Expliquei que o homem era viúvo, porém não obtive muitas informações além do nome. Comecei a levar minhas coisas para o carro, minha mãe na sala faz de conta que está assistindo à novela. Eu teria que me apresentar aos meus novos patrões as 19:00 horas. Dona Roseli havia me enviado mensagem, me avisando que eu jantaria com toda a família. Luciana me
AndréMeu retorno para São Paulo acabou acontecendo bem antes do previsto. Tudo por conta da nova babá que começaria a trabalhar na mansão a partir de hoje. Minha mãe afirmou que a mulher escolhida era pedagoga e que seria a escolha perfeita para ser mais amiga do que propriamente babá de uma adolescente de 15 anos. Minha relação com Isabella piorou depois que a mãe morreu num acidente de carro 3 anos atrás. Uma morte que revelou segredos que eu nunca quis acreditar. Laura, minha falecida esposa, nos deixou em uma noite que jamais seria esquecida por mim, nem que eu vivesse mil anos. Peguei meu celular de cima da cama, descendo de volta para a sala. Ao julgar o horário, a funcionária deveria ter chegado. No corredor ouço vozes vindo da sala. Desço os degraus assim que cheguei até onde todos estão, vejo uma mulher de costas para mim com os cabelos soltos. Um sorriso familiar me deixou em alerta. Era loucura da minha parte. Com certeza uma coincidência. Por três anos, o rosto daquela ga