Capítulo 4

Lorenna

Tive uma noite péssima no pior sentido. Com Laisa ouvindo música. Fui dormir com o sol nascendo, após ter ficado a madrugada inteira ouvindo barulho de música. Mesmo usando fone de ouvido, conseguia o som irritante. Tudo isso era para me incomodar, conhecia bem a tática da minha irmã caçula e como Laisa sabia ser insuportável. Levantei-me da cama, peguei o meu celular conferindo a hora. Um pouco depois das dez da manhã. Mamãe, deveria estar preparando o almoço. Saí da cama com cuidado, sem fazer barulho para acordar a princesa. Mesmo não nos dando bem, não conseguia tratar Laisa da mesma forma que ela me tratava. No final de tudo, ela era minha única irmã. Peguei minha roupa de sair, minha bolsa e sandália. Assim não precisava entrar no quarto novamente. Fui para o banheiro, ouvindo do corredor o barulho das panelas. Tomei um banho demorado, frio que me animasse um pouco. Logo Juliana chegaria para sair comigo. Sem conseguir dormir, fiquei matutando na proposta maluca da minha amiga. Por várias vezes Juliana quis me ensinar a trabalhar com massagens, porém eu recusava dizendo que minha praia era outra. Com o dinheiro que recebia, conseguiu quitar a casa na comunidade, sustentando sua família. Os pais da minha amiga eram bem de idade e não tinha muita noção de onde vinha o dinheiro que bancava as contas de casa. Por ser filha única, não precisava se preocupar com nada além de cuidar dos pais. Lavei meu cabelo, me esfreguei bem para tentar tirar o cansaço. Me enxuguei e me vesti dentro do banheiro mesmo. Poupava tempo, assim que saí dei de cara com minha amiga tomando café e comendo bolo na cozinha.

— Muito bem, que a senhorita já apareceu arrumada. Assim não perco tempo e deixa só eu acabar de comer meu bolo para gente ir pro shopping.

Juliana diz, minha mãe me manda sentar, me servir um copo de suco e uma fatia de bolo. Olhei para Juliana tentando descobrir se ela contou algo, porém percebi que ficou calada sobre a prisão da Laisa.

— Filha, sua irmã voltou para casa, que horas?

Mamãe perguntou, fiquei muda por alguns segundos até que respondi que Laisa havia voltado antes da meia-noite. Uma bela mentira, já que chegamos a casa quase às duas da manhã.

— Vou já acordar essa mocinha. Não é porque hoje é sábado que ela vai ficar dormindo até tarde. Juliana me contou que vocês duas vão passar o dia no shopping e a noite vão comemorar a segunda parte da sua formatura.

Olho para Juliana, que dá de ombros como se dissesse que ficaria tudo bem.

— Mamãe, se a senhora achar melhor, não saio e fico com a senhora em casa.

— Negativo, senhorita Lorenna. Você vai sair, sim, se divertir com a Juliana e pode até chegar de manhã em casa. Você merece meu amor, se dedicou por quatro anos aos estudos. Agora é hora de cuidar de você.

Mamãe me deu um beijo em minha bochecha e pediu para me divertir ao lado da minha amiga. Juliana respondeu que dona Carmem poderia ficar despreocupada que nada iria acontecer. Saiu nos deixando sozinhas, indo para a área de serviço começar a lavar as roupas.

— Já terminou? Vamos almoçar no shopping, de lá a gente se arruma na casa da Jaque. Uma das meninas que trabalha comigo. Viu como consegui convencer sua mãe de boa?

Juliana diz, terminando o café, nem dando tempo para que eu possa tomar meu suco e comer o bolo direito. Saímos de casa, caminhando até a entrada da comunidade. Onde morávamos fazia divisa com outra comunidade chamada Estrela Guia. Mas ao contrário daqui a lá o dono tratava os moradores com dignidade e não deixava entrar drogas. Todos elogiavam Pedro e queríamos tanto que fosse assim aqui em Cristal Azul. Pena que depois da morte do Zezinho o ex-funcionário do Pedro se tornou um dos chefes e junto do escroto do Júlio mandavam em tudo.

— Um dia vou embora desse lugar, pegar meus pais e viver com os dois num bairro longe dos crimes e da maioria dessa gente.

Juliana me diz, assim que paramos na parada de ônibus para esperar a condução. Andar de carro de aplicativo aos finais de semana era muito caro, por esse motivo que iríamos de busão para o shopping.

— Juli, você está me levando para um passeio no shopping, mas até agora não perguntou a minha resposta.

Reclamo para minha melhor amiga, que faz de conta que não ouviu nada, enquanto mexe no celular.

— Como esse governador é lindo né? Bem que eu queria ser a primeira-dama dele. Quando penso na sorte que a mulher do chefe de Estrela Guia tem. Viveu anos com o gato do Pedro, depois o homem foi dado como morto, casou-se com o bonitão aqui e separou e depois se casou com o Pedro de novo.

Tem mulher que nasceu com a bunda virada para a lua mesmo.

— Hey, não muda de assunto que estou te perguntando se você ouviu a minha resposta? Juliana é sério amiga, como vou pagar o dinheiro do Carlos se nem tenho um emprego decente. Fora que o que a mamãe recebe mal conseguimos manter as despesas.

— Seu maior problema é pensar demais, minha amiga. Eu tenho a solução, o Carlos não tá cobrando e se você achar ruim, dou um jeito e a gente empresta dinheiro do banco e dou minha casa como garantia. Eu sei que você é honesta, esforçada e batalhadora. Mas na atual situação que estamos, a proposta que eu te fiz é a melhor. Sei que muitos aí julgam o que faço e na real tô pouco me lixando. Mas entre vender, drogar e vender sexo eu acredito que a segunda opção é bem melhor que a primeira, não é mesmo? Agora coloca seu sorriso no rosto, vamos para o shopping, que passei seu nome para a Rebeca. Minha chefe amou sua foto e disse que com sua beleza angelical, vai conquistar muitos clientes hoje a noite.

Juliana me responde, sem entender a minha situação. Eu nunca julguei quem gostava desse tipo de trabalho. Porém, nunca imaginei que um dia teria que recorrer a isso. Iria até a tal boate, conheceria o sistema e rezava para que não precisasse fazer nada além de distrair os homens ricos com conversas e piadas.

 

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo