Lorenna
O dia ao lado da Juliana foi de diversão. Mesmo tentando convencer minha melhor amiga de que não conseguiria fazer o trabalho que ela me propôs, acabei aproveitando as compras, o salão e a conversa. Agora me arrumava no apartamento da amiga da Juliana que se chamava Jaqueline. Era um apartamento de dois quartos, sendo uma suíte, sala, cozinha e banheiro social. A garota era massagista e aos finais de semana trabalhava no mesmo lugar que Juliana.
Tentava arrumar o comprimento do vestido que Juliana escolheu para mim, praticamente desistindo e deixando do jeito que estava mesmo.
— Lô, estou pronta e você vai arrasar os corações na boate hoje — Juliana aparece na sala, usando uma minissaia de dourada, com um top preto, que deixava a barriga à mostra, o decote praticamente todo aparecendo.
— Sua amiga não vai achar ruim, nós duas termos usado a casa dela para nos vestir e fazer toda essa bagunça?
Aponto para as roupas espalhadas juntamente com as sacolas.
— Jaque está bem preocupada com o que estamos fazendo no apartamento dela. Vamos agora, porque a Rebeca me mandou mensagem querendo saber da gente. Disse que espera por você e sente que essa noite será inesquecível.
— Tudo bem, senhorita, tudo sabe. Deixa só eu conferir essa maquiagem novamente. Juro que esse batom que você me fez comprar é bom mesmo. Nem gosto muito do vermelho, mas esse aqui deixou meu rosto até diferente.
Digo com sinceridade. A maquiagem pesada que fiz, me deixava mais velha do que meus 20 anos. Rezava tanto para que nada de ruim acontecesse e eu voltasse para casa sã e salva.
— Juliana e como ficou você e o Carlos? Ele vai até a boate hoje à noite? Te falar que ele é um bom partido, você bem que poderia aquietar um pouco e aproveitar a companhia dele.
Respondo, saindo do quarto, pegando minha bolsa no sofá e nós duas deixamos o apartamento caminhando em direção ao elevador.
— Carlos é realmente um bom partido. Mas é de um mundo fora da minha realidade, mesmo o sexo perfeito, não tem como ir para frente.
Me responde apertando o botão do elevador.
— Por que não daria certo? Eu já percebi que ele é mais velho, trabalha num bom emprego, ganha bem e é bonito.
— Não daria certo, pelo motivo de que eu não quero que dê certo.
**
Descemos do Uber, em frente a boate que eu só conhecia por fotos. StarClub era um nome bem comum, mas pelo que sabia era frequentado apenas por gente de muito dinheiro e poder social. Uma casa de sexo, disfarçada de boate de luxo. No caminho, Juliana me explicou que Rebeca, a dona do lugar, junto do marido, gerenciava o paraíso do sexo. Homens de todos os tipos, casais e até mulheres frequentavam o lugar. As garotas que trabalhavam para ela, circulavam pelo espaço como se fossem clientes. Atendia aqueles que iam sozinhos ou que os parceiros não tinham coragem de fazer algo na frente das pessoas. No segundo andar, Juliana me contou que ficavam os quartos VIP, que eram usados para os encontros. Todos os clientes acertavam os programas com os donos, após serem atendidos pelas garotas.
— Olha só, tem um cara que vem aqui só para conversar. Eu falo a verdade, não estou mentindo. Teve uma vez que atendi um juiz aposentado, que veio se distrair porque era aniversário de morte da esposa. Viúvo, conversou comigo até amanhecer, não fizemos nada além de beber e jogar conversa fora. Ele foi embora, acertou com a Rebeca um valor alto e disse que o extra foi por ser uma boa conselheira e ouvinte. Dois meses depois, apareceu aqui junto da nova namorada que se encantou pelo lugar.
Ouvia com atenção tudo que minha amiga falava, sem acreditar muito que tudo era tão fácil assim, da forma que ela colocava.
Entramos na boate. Fiquei de boca aberta com a decoração, luzes e a música alta. Logo de cara, se via o bar do lado esquerdo, um palco montado com luzes vermelhas, cadeira e a pole dance.
— Juliana, esse tanto de gente vem sempre aqui?
Pergunto surpresa com tantos casais, homens e mulheres espalhados pelo lugar. Era tudo rico demais e eu me sentia deslocada naquele meio de tanta gente.
— Hoje tem até pouco cliente. No sábado é o dia do encontro, funciona de quinta a domingo e todo dia tem um show diferente. Você vai curtir e garanto que consegue uma grana boa para dar ao menos uma parte do empréstimo para o Carlos.
Me diz, ao me puxar pela mão até onde uma mulher em torno de 30 anos, conversava com um homem da mesma idade, com barba e tatuagem nos dois braços.
— Becca, aqui a minha amiga Lorenna — Juliana nos apresenta e a mulher beija meu rosto com um sorriso e o homem faz o mesmo. Os dois se apresentaram: ela se chamava Rebeca e ele Jardel.
— Juliana, falou tão bem de você que agora te conhecendo pessoalmente, garanto que vamos nos dar bem aqui— Rebeca responde e apenas balançou a cabeça.
— Amor, vou recepcionar os executivos que vieram hoje como convidados Vips.
Jardel pede licença deixando-nos sozinhas.
— Lorenna, como a Juliana já explicou o principal. Me contou também sua situação. Posso fazer uma experiência de três meses com você. Aqui não é uma boate de prostituição, apesar de que assumo que muitos homens sobem com as garotas para o segundo andar, assim como levam os rapazes e até mulheres com outras mulheres. Porém, o nosso foco, objetivo é diversão, privacidade que todos os clientes possam relaxar pelas horas que ficam aqui. Se você não se sentir bem no salão, posso conseguir para você uma vaga na recepção, ajudando os clientes, conferindo as coisas
Rebecca me explica, e consigo compreender melhor o que rolava nesse lugar. Eu estava numa posição de não negar nada, então aceitaria o que ela estava me propondo e tentaria fazer um bom trabalho.
— Agora, vocês podem começar a circular por aí como clientes. Juliana te ajuda no que for preciso. Eu preciso atender algumas ligações, já que viajo na próxima semana.
A mulher se despede, entrando num corredor escuro. Olho ao redor, parando num canto da boate, onde um cliente solitário bebia sozinho, observando as pessoas dançando.
— Hum, olha que seus olhos foram em direção a um gato como aquele hein.
Juliana diz, com razão. Mesmo de longe o homem era bonito demais. Provavelmente bem mais velho do que eu, mas os meus olhos foram diretos na aliança na mão esquerda, grossa e brilhante.
— Melhor ficar aqui mesmo. Espia a roda no dedo dele.
Respondo e Juliana balança a cabeça brigando comigo.
— Dane- se aliança. Você vai até lá, senta-se ao lado dele e puxa conversa sobre qualquer coisa. Inteligente do jeito que é, garanto que vai render altos papos a madrugada inteira.
Não estava muito longe, e o sofá que o estranho estava sentado era bem embaixo da claridade, então eu conseguia enxergar bem o rosto dele. Cabelos negros, cortado social, usando uma camisa social preta, bebendo sozinho e olhando para as pessoas com um olhar totalmente perdido.
— Será que realmente estava sozinho ou esperava por alguém?
Pensei sozinha, enquanto caminhava até ele.
Lorenna— Olá, boa noite!Falo assim que me sento ao lado do estranho, sem dar tempo dele responder se estava ou não acompanhado.— Boa noite!Me respondeu com sua voz grossa e de perto ele era mais bonito ainda. Os cabelos com alguns fios grisalhos e os olhos de um azul-escuro. A luz iluminou bem seu rosto e um sorriso se formou de canto ao responder meu cumprimento.— Espero não atrapalhar você. Se estiver aguardando alguém, é só me avisar que levanto na mesma hora e te deixo sozinho novamente.— Não espero ninguém. Quer dizer, eu estaria esperando se a minha companhia não tivesse avisado que não poderia comparecer e eu estivesse aqui aguardando a chegada dela.O estranho responde, bebendo num único gole o uísque.— Se não for ruim para você e quiser, posso te fazer companhia. Claro se você for ficar aqui. Acabei de chegar na boate, é meu primeiro dia vindo aqui, então estou um pouco perdida no meio de tantas pessoas.Falo tentando soar o mais natural possível. Até o tremor na voz,
LorennaEnquanto aguardava André voltar, me encostei na parede que dava para a escada que levava aos quartos Vips. Eu realmente transaria com um homem por dinheiro? Apenas para pagar uma dívida que não era minha, transando com um homem que nunca mais iria encontrar. Eu deveria estar nervosa, chorando ou até mesmo me descabelando. Porém, não sentia nada disso, pelo contrário, me sentia ansiosa para ficar sozinha com ele. Juliana me avistou do outro lado do salão, fazendo sinal positivo para mim. André me beijou no salão, deixando meu corpo em chamas, ansiando por mais do que um beijo. Eu já fiquei com outros caras, quando saía com Juliana para os bailes, contudo André era muito diferente dos rapazes da comunidade, ele era um homem e isso por si só me excitava. Mexia na minha bolsa de noite, pensando em como me comportar com ele em um quarto. Ouço passos vindos até mim, quando viro meu rosto encontro- o parado ao meu lado.— Vamos! A agitação aqui, ficou demais, então eu prefiro ficar c
Lorenna3 anos depois…— Filha acorda, que é quase hora de você trabalhar.Todo santo dia é isso, por três anos, desde quando me formei. Meu sonho e desejo de estudar para concurso, de estar trabalhando com o que gosto, acabou se resumindo em ser recepcionista na boate que eu jurava que iria apenas uma vez e aulas de reforço três vezes na semana para as crianças da comunidade.Sim! Passaram-se três anos desde a noite que conheci aquele homem e nunca mais obtive notícias. O engraçado é que concordei em trabalhar como atendente na esperança de que uma noite ele voltasse. Porém, nada foi do jeito que imaginei. Mas não dava para reclamar muito. O salário na boate era bom, mantinha as contas em dia e o medicamento da minha mãe. Eu conseguia juntar dinheiro e já não passávamos tanto sufoco assim. Juliana seguia sendo a melhor amiga que eu poderia ter nesse mundo. Mas agora ela não trabalhava na boate e sim no espaço que montou para os atendimentos. A cretina era tão sortuda, que de tanto o
Lorenna— Filha, você vai chegar atrasada na entrevista.Mamãe prepara o almoço, chamando a minha atenção por demorar para terminar o café da manhã.— Mãe, calma que eu tenho tempo até a hora da entrevista — respondi bebendo o restante do suco de laranja.— Desse jeito, você vai acabar chegando na hora que acabar isso sim.Levei o copo sujo para a pia, lavando e deixando no escorredor de louça.— Meu amor te desejo sorte e sei que vai conseguir esse emprego.Depois da ligação da minha amiga, fui para a boate e trabalhei a noite inteira pensando na oferta recebida. Mesmo não compreendendo o motivo de omitir que morava em comunidade, responderia todas as perguntas que a avó da menina me faria, esperando não dar nenhuma bola fora. Luciana havia me contado que eu me formei no mesmo ano que ela, porém não exercia a profissão por cuidar da minha mãe doente.— Mãe, não me espera para o almoço, tudo bem? A entrevista ficou marcada para às nove da manhã. Saindo daqui agora, chamo o Uber e em 5
LorennaÚltima mala fechada. No total 3 malas, uma caixa com alguns livros e minha mãe na sala chorando porque ficaria sozinha em casa. Quero dizer sozinha não, porque em breve ela se mudaria para Embu das Artes. Moraria com uma prima também viúva e foi difícil convencer dona Carmem a aceitar. A casa onde moramos eu alugaria e enviaria o dinheiro todo mês para mamãe. Juliana não acreditou quando contei tudo do trabalho, muito menos do dinheiro que eu receberia em três anos, multiplicado por 36 meses, daria uma fortuna.Mamãe não gostou de saber que eu moraria com os patrões. Até perguntou se o meu patrão era casado, solteiro ou divorciado. Expliquei que o homem era viúvo, porém não obtive muitas informações além do nome. Comecei a levar minhas coisas para o carro, minha mãe na sala faz de conta que está assistindo à novela. Eu teria que me apresentar aos meus novos patrões as 19:00 horas. Dona Roseli havia me enviado mensagem, me avisando que eu jantaria com toda a família. Luciana me
AndréMeu retorno para São Paulo acabou acontecendo bem antes do previsto. Tudo por conta da nova babá que começaria a trabalhar na mansão a partir de hoje. Minha mãe afirmou que a mulher escolhida era pedagoga e que seria a escolha perfeita para ser mais amiga do que propriamente babá de uma adolescente de 15 anos. Minha relação com Isabella piorou depois que a mãe morreu num acidente de carro 3 anos atrás. Uma morte que revelou segredos que eu nunca quis acreditar. Laura, minha falecida esposa, nos deixou em uma noite que jamais seria esquecida por mim, nem que eu vivesse mil anos. Peguei meu celular de cima da cama, descendo de volta para a sala. Ao julgar o horário, a funcionária deveria ter chegado. No corredor ouço vozes vindo da sala. Desço os degraus assim que cheguei até onde todos estão, vejo uma mulher de costas para mim com os cabelos soltos. Um sorriso familiar me deixou em alerta. Era loucura da minha parte. Com certeza uma coincidência. Por três anos, o rosto daquela ga
AndréTentando manter a calma, me afastei dela, arrumando minha calça que não disfarçava a minha ereção. Rever aquela mulher novamente, me deixou louco e por pouco não cometi uma grande burrice dentro desse escritório. Atacar a garota dessa forma, quando somos patrão e funcionária. — Me desculpa pelo que aconteceu agora — observei a forma que Lorenna também se encontra — tão afetada quanto eu.— Senhor, de verdade não tinha ideia de que eu trabalharia para a sua família. Minha amiga Luciana foi quem me indicou o serviço, como sua mãe foi a pessoa que me entrevistou e no dia nem mesmo uma foto sua eu vi. Se eu soubesse, nunca teria aceitado e se achar melhor, invento qualquer desculpa para não continuar trabalhando aqui.A mulher se depara tão nervosa e abalada quanto eu, porém não deixaria que Lorenna se demitisse. Por três anos, seu rosto não saiu da minha mente, até pensei que nunca mais encontraria aquela mulher. Agora ela trabalha como babá da minha filha adolescente e não, eu nã
LorennaAcordei com o despertador tocando, olhei a hora no celular e passava um pouco das 5:30 da manhã. Cedo demais para mim, mas quase na hora para quem precisa estar a posto as 6:30. Hoje, sim, seria oficialmente meu primeiro dia como babá da Isabella. Peguei no sono tarde, acordei com as galinhas e precisaria colocar meu sorriso feliz e não aparecer na frente da patroa com cara de sono. Levanto-me da cama, indo para o banheiro, ligando o chuveiro na água quente. Meu quarto era enorme para uma simples funcionária. O banheiro era de primeira qualidade e não tinha do que reclamar. Quer dizer, tirando o fato do meu chefe ser o homem que eu desejava, tudo estava indo muito bem e obrigada. Recordo da dona Rose me avisando que André raramente almoçava em casa. Os jantares então aconteciam ocasionalmente. Então eu teria sorte de encontrá-lo poucas vezes nessa enorme mansão. Saio do banho, enrolada na toalha felpuda. O xampu mais sabonete que encontrei era de uma marca famosa. Pensei comig