Lorenna
Me encontro dentro do carro da paquera da minha amiga com meu coração quase saindo pela boca. A minha vontade é de pegar aquela pirralha pelos cabelos e passar um sermão para o resto da sua vida. Tive que inventar uma mentira para mamãe não desconfiar de nada. Carlos, o amigo da Juliana, me olhava pelo espelho com uma expressão triste. Ele não pensou duas vezes em me ajudar, e contou que trabalhava na secretaria de saúde do estado, porém conhecia algumas pessoas da Secretaria de Justiça e consequentemente alguns delegados e policiais. Sei que não era momento para prestar atenção nele, mas era realmente um homem muito charmoso. Claro que mais velho que a Juli que assim como eu não se envolvia com rapazes da nossa idade.
Volto a me concentrar na situação em que Laisa se enfiou, pensando no que dizer quando voltasse para casa sem a pirralha. Minha mãe provavelmente surtaria, e temia pela saúde dela. Carlos parou o carro no estacionamento da DP e mal esperei ele desligar o veículo, eu desci apressada indo em direção a recepção. Juliana vinha atrás de mim gritando pelo meu nome. Na recepção passei o nome da irmã e a policial de plantão me disse que Laisa se encontrava numa cela separada do namorado. Me pediu para aguardar que avisaria ao delegado de plantão que os responsáveis pela menor já estavam na delegacia.
— Lorenna, fica tranquila que vou ajudar no que eu puder — Carlos diz tentando me animar. Dou um sorriso sem graça para o homem, com a esperança de que tudo de verdade se resolvesse essa noite.
— Lô, fica tranquila amiga. O Carlos vai ajudar a gente e sua mãe nem vai saber da palhaçada que aquela moleca aprontou.
Concordo com minha amiga na esperança de que ela tivesse razão. A policial que nos atendeu retorna, pedindo que entre na sala do delegado. Pergunto se Juliana e Carlos podem me acompanhar e a moça concorda. Nós três seguimos até o escritório do delegado. Encontrei um senhor em torno de 50/60 anos, cabelos grisalhos, usando óculos e uma cara de poucos amigos. Ao lado dele, dois policiais civis e sentada na cadeira de frente a mesa dele a minha irmã caçula.
Sem me importar com o lugar que estou, avanço em cima daquela filha de uma mãe, que é mais rápida do que eu se desviando dos t***s em seu rosto.
— Inconsequente e sem noção da vida. O que você aprontou sua idiota?
Me exalto, sem perceber o lugar que estou.
— Lô amiga, se controla pelo amor de Deus — Juliana me segura pelo braço, me impedindo de cometer um crime.
— Lorenna a Juliana tem razão. Se acalma que vamos resolver o seu problema hoje mesmo.
Carlos me diz e agradeço a preocupação dele. Sentado na cadeira, o delegado, me olha com cara de reprovação e faz sinal para que eu me sente. Laisa, esperta, foi para perto de um dos policiais. Assim não correria o risco de me ver voando para cima dela.
— Senhorita...? O delegado diz e respondo meu nome.
— Lorenna Vieira, senhor. Me perdoe pelo escândalo, mas a minha vontade é fazer picadinho daquela criatura ali — aponto para Laisa que me olha com um sorriso debochado.
— E quem são vocês dois? O delegado aponta para Carlos e Juliana.
— Eu sou amiga dela e esse senhor aqui é o meu amigo — Juliana responde e o delegado pede para os dois policiais nos deixarem sozinhos. Os homens saem da sala. De pé ao meu lado na cadeira, Juliana toca no meu ombro me dando forças, enquanto Carlos se escora na parede com os braços cruzados.
— Senhorita, um dos policiais já informou o motivo da sua irmã caçula presa em minha delegacia.
— Doutor, por favor perdoe a minha irmã. Ela com certeza deve estar com o juízo fora do normal. Temos uma mãe doente e se ela descobrir sobre o que essa idiota fez.
— Hey sua metida, quem você pensa que é para me chamar de idiota? Só porque agora tem um diploma de merda tá se achando melhor do que os outros?
Laisa diz com raiva na voz e o delegado a manda calar a boca. Minha irmã se encolhe com o que o homem fala e olho para ela, mas chateada do que já estou.
— Senhorita, infelizmente não vou deixar sua irmã ser solta essa noite. O outro garoto que a acompanhava, conseguiu pagar a fiança assim que chegou. Mas essa mocinha aqui, merece passar uma noite dormindo no banco de cimento da cela, para quem sabe assim colocar um pouco de juízo nessa cabeça.
— Seu delegado, o senhor não tem noção, eu não posso deixar a minha irmã dormir aqui, porque minha mãe vai desconfiar que aconteceu algo.
Digo, na verdade, eu meio que imploro para que o homem libere aquela garota.
— Sua irmã, foi pega com toda a maconha na bolsa e ainda por cima destratou a policial feminina, bancando a revoltada.
O delegado diz, vejo como Laisa baixa o rosto e meu deus como eu queria pegar aquela menina e ensinar uma bela lição.
— Senhor delegado, eu posso pagar a fiança para liberar essa jovem. Apenas me diga o valor que passo o meu cartão agora mesmo.
Carlos, que até então se mantinha calado, se ofereceu para pagar e Juliana concordou com a ideia maluca.
— Juli, eu vou pagar esse dinheiro com o quê? Ficou doida também. Não deixe eu dar um jeito de tirar essa pirralha daqui.
— O senhor tem a quantia de 10 mil reais para que essa mocinha seja solta hoje mesmo? Porque ela não entende ou finge que o que fez não foi nada. E não se arrepende de ficar vendendo porcaria para jovens da idade dela.
— O senhor não sabe nada da minha vida, para ficar aí bancando o filósofo.
Laisa responde e me levanto da cadeira avançando pela segunda vez para cima dela. Sou impedida agora por Carlos que segura meu braço com força me tirando um gemido de dor.
— Olha aqui, minha gente. Essa delegacia não é casa da mãe Joana não. Ou vocês se comportam, ou então vão fazer companhia para essa mocinha na mesma cela.
A porta da sala abre e o policial que nos atendeu volta com um papel entregando na mão do delegado.
O homem lê com atenção o que está escrito e assina algo, me entregando para que eu possa ler o que tem escrito.
A cada linha que leio, sinto o sangue fugir do meu sistema. Com certeza não seria apenas a minha mãe que morreria de desgosto essa noite. Eu faria o mesmo caminho, mas dessa vez de tanta raiva por ter uma idiota como irmã. Juliana percebe a cor sumir do meu rosto, tirando das minhas mãos o papel. Lendo em voz alta, diz um palavrão e assim como eu, ela deveria estar sentindo o mesmo.
— Lorenna, nem juntando minhas economias eu consigo juntar quase 20 mil em uma noite. O senhor não acha que exagerou não?
Juliana fala algo deixando o delegado sem palavras.
— Juliana calma. Eu já disse que pago e depois resolvemos como sua amiga me devolve esse valor.
Carlos, diz já tirando o cartão da carteira e entregando para a policial feminina. Sem reagir, vejo quando o processo é encerrado e Laisa vem até mim parando ao meu lado, aproveitando que Juliana e Carlos conversam algo com o delegado.
— Viu irmãzinha querida. Como você é uma filha da puta sortuda, que até um homem que eu nem conheço se ofereceu para salvar a pobre mocinha sonsa.
Laisa fala em tom de deboche e naquele momento nem eu mesma saberia responder como pagaria uma dívida tão alta para um desconhecido, apenas para livrar uma malcriada de passar a noite presa e evitar um desgosto ainda maior para minha amada mãe.
LorennaAgradecia ao Carlos pela ajuda, por ter me emprestado o dinheiro que eu não tinha noção de como pagaria e por ser um ombro amigo no momento que precisei.Juliana brigou comigo, pedindo que eu parasse de me desculpar pelos erros da minha irmã. A pirralha, nem mesmo agradeceu ao homem, quando desceu do carro. Estava me sentindo envergonhada, uma caloteira, devendo vinte mil reais para um homem que conheci em uma noite. Eu parecia mesmo era uma dessas mocinhas de livros de romance, que se ferra e logo consegue encontrar a solução dos problemas.— Amiga é o seguinte, por mim você arrastava a cara daquele projeto de gente no asfalto. Porém, a tia Carmem te mataria e de quebra me mataria também. Então faz o seguinte? Não deixe que as ofensas que aquela palhaça vai fazer hoje a noite, ignore qualquer gracinha e tome um banho, tira a sujeira daquela delegacia do seu corpo, deite-se na sua cama e dorme o sono dos justos.Juliana me diz e começo a rir da forma que ela me fala.— Lorenna
LorennaTive uma noite péssima no pior sentido. Com Laisa ouvindo música. Fui dormir com o sol nascendo, após ter ficado a madrugada inteira ouvindo barulho de música. Mesmo usando fone de ouvido, conseguia o som irritante. Tudo isso era para me incomodar, conhecia bem a tática da minha irmã caçula e como Laisa sabia ser insuportável. Levantei-me da cama, peguei o meu celular conferindo a hora. Um pouco depois das dez da manhã. Mamãe, deveria estar preparando o almoço. Saí da cama com cuidado, sem fazer barulho para acordar a princesa. Mesmo não nos dando bem, não conseguia tratar Laisa da mesma forma que ela me tratava. No final de tudo, ela era minha única irmã. Peguei minha roupa de sair, minha bolsa e sandália. Assim não precisava entrar no quarto novamente. Fui para o banheiro, ouvindo do corredor o barulho das panelas. Tomei um banho demorado, frio que me animasse um pouco. Logo Juliana chegaria para sair comigo. Sem conseguir dormir, fiquei matutando na proposta maluca da minha
LorennaO dia ao lado da Juliana foi de diversão. Mesmo tentando convencer minha melhor amiga de que não conseguiria fazer o trabalho que ela me propôs, acabei aproveitando as compras, o salão e a conversa. Agora me arrumava no apartamento da amiga da Juliana que se chamava Jaqueline. Era um apartamento de dois quartos, sendo uma suíte, sala, cozinha e banheiro social. A garota era massagista e aos finais de semana trabalhava no mesmo lugar que Juliana.Tentava arrumar o comprimento do vestido que Juliana escolheu para mim, praticamente desistindo e deixando do jeito que estava mesmo.— Lô, estou pronta e você vai arrasar os corações na boate hoje — Juliana aparece na sala, usando uma minissaia de dourada, com um top preto, que deixava a barriga à mostra, o decote praticamente todo aparecendo.— Sua amiga não vai achar ruim, nós duas termos usado a casa dela para nos vestir e fazer toda essa bagunça?Aponto para as roupas espalhadas juntamente com as sacolas.— Jaque está bem preocupa
Lorenna— Olá, boa noite!Falo assim que me sento ao lado do estranho, sem dar tempo dele responder se estava ou não acompanhado.— Boa noite!Me respondeu com sua voz grossa e de perto ele era mais bonito ainda. Os cabelos com alguns fios grisalhos e os olhos de um azul-escuro. A luz iluminou bem seu rosto e um sorriso se formou de canto ao responder meu cumprimento.— Espero não atrapalhar você. Se estiver aguardando alguém, é só me avisar que levanto na mesma hora e te deixo sozinho novamente.— Não espero ninguém. Quer dizer, eu estaria esperando se a minha companhia não tivesse avisado que não poderia comparecer e eu estivesse aqui aguardando a chegada dela.O estranho responde, bebendo num único gole o uísque.— Se não for ruim para você e quiser, posso te fazer companhia. Claro se você for ficar aqui. Acabei de chegar na boate, é meu primeiro dia vindo aqui, então estou um pouco perdida no meio de tantas pessoas.Falo tentando soar o mais natural possível. Até o tremor na voz,
LorennaEnquanto aguardava André voltar, me encostei na parede que dava para a escada que levava aos quartos Vips. Eu realmente transaria com um homem por dinheiro? Apenas para pagar uma dívida que não era minha, transando com um homem que nunca mais iria encontrar. Eu deveria estar nervosa, chorando ou até mesmo me descabelando. Porém, não sentia nada disso, pelo contrário, me sentia ansiosa para ficar sozinha com ele. Juliana me avistou do outro lado do salão, fazendo sinal positivo para mim. André me beijou no salão, deixando meu corpo em chamas, ansiando por mais do que um beijo. Eu já fiquei com outros caras, quando saía com Juliana para os bailes, contudo André era muito diferente dos rapazes da comunidade, ele era um homem e isso por si só me excitava. Mexia na minha bolsa de noite, pensando em como me comportar com ele em um quarto. Ouço passos vindos até mim, quando viro meu rosto encontro- o parado ao meu lado.— Vamos! A agitação aqui, ficou demais, então eu prefiro ficar c
Lorenna3 anos depois…— Filha acorda, que é quase hora de você trabalhar.Todo santo dia é isso, por três anos, desde quando me formei. Meu sonho e desejo de estudar para concurso, de estar trabalhando com o que gosto, acabou se resumindo em ser recepcionista na boate que eu jurava que iria apenas uma vez e aulas de reforço três vezes na semana para as crianças da comunidade.Sim! Passaram-se três anos desde a noite que conheci aquele homem e nunca mais obtive notícias. O engraçado é que concordei em trabalhar como atendente na esperança de que uma noite ele voltasse. Porém, nada foi do jeito que imaginei. Mas não dava para reclamar muito. O salário na boate era bom, mantinha as contas em dia e o medicamento da minha mãe. Eu conseguia juntar dinheiro e já não passávamos tanto sufoco assim. Juliana seguia sendo a melhor amiga que eu poderia ter nesse mundo. Mas agora ela não trabalhava na boate e sim no espaço que montou para os atendimentos. A cretina era tão sortuda, que de tanto o
Lorenna— Filha, você vai chegar atrasada na entrevista.Mamãe prepara o almoço, chamando a minha atenção por demorar para terminar o café da manhã.— Mãe, calma que eu tenho tempo até a hora da entrevista — respondi bebendo o restante do suco de laranja.— Desse jeito, você vai acabar chegando na hora que acabar isso sim.Levei o copo sujo para a pia, lavando e deixando no escorredor de louça.— Meu amor te desejo sorte e sei que vai conseguir esse emprego.Depois da ligação da minha amiga, fui para a boate e trabalhei a noite inteira pensando na oferta recebida. Mesmo não compreendendo o motivo de omitir que morava em comunidade, responderia todas as perguntas que a avó da menina me faria, esperando não dar nenhuma bola fora. Luciana havia me contado que eu me formei no mesmo ano que ela, porém não exercia a profissão por cuidar da minha mãe doente.— Mãe, não me espera para o almoço, tudo bem? A entrevista ficou marcada para às nove da manhã. Saindo daqui agora, chamo o Uber e em 5
LorennaÚltima mala fechada. No total 3 malas, uma caixa com alguns livros e minha mãe na sala chorando porque ficaria sozinha em casa. Quero dizer sozinha não, porque em breve ela se mudaria para Embu das Artes. Moraria com uma prima também viúva e foi difícil convencer dona Carmem a aceitar. A casa onde moramos eu alugaria e enviaria o dinheiro todo mês para mamãe. Juliana não acreditou quando contei tudo do trabalho, muito menos do dinheiro que eu receberia em três anos, multiplicado por 36 meses, daria uma fortuna.Mamãe não gostou de saber que eu moraria com os patrões. Até perguntou se o meu patrão era casado, solteiro ou divorciado. Expliquei que o homem era viúvo, porém não obtive muitas informações além do nome. Comecei a levar minhas coisas para o carro, minha mãe na sala faz de conta que está assistindo à novela. Eu teria que me apresentar aos meus novos patrões as 19:00 horas. Dona Roseli havia me enviado mensagem, me avisando que eu jantaria com toda a família. Luciana me