Capítulo 2

Lorenna

Me encontro dentro do carro da paquera da minha amiga com meu coração quase saindo pela boca. A minha vontade é de pegar aquela pirralha pelos cabelos e passar um sermão para o resto da sua vida. Tive que inventar uma mentira para mamãe não desconfiar de nada. Carlos, o amigo da Juliana, me olhava pelo espelho com uma expressão triste. Ele não pensou duas vezes em me ajudar, e contou que trabalhava na secretaria de saúde do estado, porém conhecia algumas pessoas da Secretaria de Justiça e consequentemente alguns delegados e policiais. Sei que não era momento para prestar atenção nele, mas era realmente um homem muito charmoso. Claro que mais velho que a Juli que assim como eu não se envolvia com rapazes da nossa idade.

Volto a me concentrar na situação em que Laisa se enfiou, pensando no que dizer quando voltasse para casa sem a pirralha. Minha mãe provavelmente surtaria, e temia pela saúde dela. Carlos parou o carro no estacionamento da DP e mal esperei ele desligar o veículo, eu desci apressada indo em direção a recepção. Juliana vinha atrás de mim gritando pelo meu nome. Na recepção passei o nome da irmã e a policial de plantão me disse que Laisa se encontrava numa cela separada do namorado. Me pediu para aguardar que avisaria ao delegado de plantão que os responsáveis pela menor já estavam na delegacia.

— Lorenna, fica tranquila que vou ajudar no que eu puder — Carlos diz tentando me animar. Dou um sorriso sem graça para o homem, com a esperança de que tudo de verdade se resolvesse essa noite.

— Lô, fica tranquila amiga. O Carlos vai ajudar a gente e sua mãe nem vai saber da palhaçada que aquela moleca aprontou.

Concordo com minha amiga na esperança de que ela tivesse razão. A policial que nos atendeu retorna, pedindo que entre na sala do delegado. Pergunto se Juliana e Carlos podem me acompanhar e a moça concorda. Nós três seguimos até o escritório do delegado. Encontrei um senhor em torno de 50/60 anos, cabelos grisalhos, usando óculos e uma cara de poucos amigos. Ao lado dele, dois policiais civis e sentada na cadeira de frente a mesa dele a minha irmã caçula.

Sem me importar com o lugar que estou, avanço em cima daquela filha de uma mãe, que é mais rápida do que eu se desviando dos t***s em seu rosto.

— Inconsequente e sem noção da vida. O que você aprontou sua idiota?

Me exalto, sem perceber o lugar que estou.

— Lô amiga, se controla pelo amor de Deus — Juliana me segura pelo braço, me impedindo de cometer um crime.

— Lorenna a Juliana tem razão. Se acalma que vamos resolver o seu problema hoje mesmo.

Carlos me diz e agradeço a preocupação dele. Sentado na cadeira, o delegado, me olha com cara de reprovação e faz sinal para que eu me sente. Laisa, esperta, foi para perto de um dos policiais. Assim não correria o risco de me ver voando para cima dela.

— Senhorita...? O delegado diz e respondo meu nome.

— Lorenna Vieira, senhor. Me perdoe pelo escândalo, mas a minha vontade é fazer picadinho daquela criatura ali — aponto para Laisa que me olha com um sorriso debochado.

— E quem são vocês dois? O delegado aponta para Carlos e Juliana.

— Eu sou amiga dela e esse senhor aqui é o meu amigo — Juliana responde e o delegado pede para os dois policiais nos deixarem sozinhos. Os homens saem da sala. De pé ao meu lado na cadeira, Juliana toca no meu ombro me dando forças, enquanto Carlos se escora na parede com os braços cruzados.

— Senhorita, um dos policiais já informou o motivo da sua irmã caçula presa em minha delegacia.

— Doutor, por favor perdoe a minha irmã. Ela com certeza deve estar com o juízo fora do normal. Temos uma mãe doente e se ela descobrir sobre o que essa idiota fez.

— Hey sua metida, quem você pensa que é para me chamar de idiota? Só porque agora tem um diploma de merda tá se achando melhor do que os outros?

Laisa diz com raiva na voz e o delegado a manda calar a boca. Minha irmã se encolhe com o que o homem fala e olho para ela, mas chateada do que já estou.

— Senhorita, infelizmente não vou deixar sua irmã ser solta essa noite. O outro garoto que a acompanhava, conseguiu pagar a fiança assim que chegou. Mas essa mocinha aqui, merece passar uma noite dormindo no banco de cimento da cela, para quem sabe assim colocar um pouco de juízo nessa cabeça.

— Seu delegado, o senhor não tem noção, eu não posso deixar a minha irmã dormir aqui, porque minha mãe vai desconfiar que aconteceu algo.

Digo, na verdade, eu meio que imploro para que o homem libere aquela garota.

— Sua irmã, foi pega com toda a maconha na bolsa e ainda por cima destratou a policial feminina, bancando a revoltada.

O delegado diz, vejo como Laisa baixa o rosto e meu deus como eu queria pegar aquela menina e ensinar uma bela lição.

— Senhor delegado, eu posso pagar a fiança para liberar essa jovem. Apenas me diga o valor que passo o meu cartão agora mesmo.

Carlos, que até então se mantinha calado, se ofereceu para pagar e Juliana concordou com a ideia maluca.

— Juli, eu vou pagar esse dinheiro com o quê? Ficou doida também. Não deixe eu dar um jeito de tirar essa pirralha daqui.

— O senhor tem a quantia de 10 mil reais para que essa mocinha seja solta hoje mesmo? Porque ela não entende ou finge que o que fez não foi nada. E não se arrepende de ficar vendendo porcaria para jovens da idade dela.

— O senhor não sabe nada da minha vida, para ficar aí bancando o filósofo.

Laisa responde e me levanto da cadeira avançando pela segunda vez para cima dela. Sou impedida agora por Carlos que segura meu braço com força me tirando um gemido de dor.

— Olha aqui, minha gente. Essa delegacia não é casa da mãe Joana não. Ou vocês se comportam, ou então vão fazer companhia para essa mocinha na mesma cela.

A porta da sala abre e o policial que nos atendeu volta com um papel entregando na mão do delegado.

O homem lê com atenção o que está escrito e assina algo, me entregando para que eu possa ler o que tem escrito.

A cada linha que leio, sinto o sangue fugir do meu sistema. Com certeza não seria apenas a minha mãe que morreria de desgosto essa noite. Eu faria o mesmo caminho, mas dessa vez de tanta raiva por ter uma idiota como irmã. Juliana percebe a cor sumir do meu rosto, tirando das minhas mãos o papel. Lendo em voz alta, diz um palavrão e assim como eu, ela deveria estar sentindo o mesmo.

— Lorenna, nem juntando minhas economias eu consigo juntar quase 20 mil em uma noite. O senhor não acha que exagerou não?

Juliana fala algo deixando o delegado sem palavras.

— Juliana calma. Eu já disse que pago e depois resolvemos como sua amiga me devolve esse valor.

Carlos, diz já tirando o cartão da carteira e entregando para a policial feminina. Sem reagir, vejo quando o processo é encerrado e Laisa vem até mim parando ao meu lado, aproveitando que Juliana e Carlos conversam algo com o delegado.

— Viu irmãzinha querida. Como você é uma filha da puta sortuda, que até um homem que eu nem conheço se ofereceu para salvar a pobre mocinha sonsa.

Laisa fala em tom de deboche e naquele momento nem eu mesma saberia responder como pagaria uma dívida tão alta para um desconhecido, apenas para livrar uma malcriada de passar a noite presa e evitar um desgosto ainda maior para minha amada mãe.

 

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