Lucas saiu do hospital completamente determinado, mas mal havia cruzado as portas quando o sentimento de liberdade foi substituído por uma inquietação.Ele chamou um táxi, jogando a pequena mala no banco de trás enquanto se acomodava no assento, os olhos atentos à movimentação ao redor.A cidade pulsava com vida naquela manhã, mas, para Lucas, cada rosto anônimo na multidão parecia uma ameaça. Enquanto o táxi deslizava pelas ruas de Nova York, ele não conseguia se livrar da sensação de estar sendo observado, seguido.Os retrovisores do carro captavam os reflexos dos veículos que vinham atrás, e um em particular chamou sua atenção. Um sedã preto, distante o suficiente para não levantar suspeitas, mas sempre presente, seguindo na mesma rota.“Será que é paranoia?”, – ele pensou, mas sua mente, acostumada a jogos de sobrevivência, insistia que não.— Algo errado, senhor? — perguntou o motorista, notando o olhar tenso de Lucas pelo espelho retrovisor.Lucas apenas balançou a cabeça, tentan
Lucas desceu as escadas da estação de metrô com pressa, tentando manter a calma enquanto misturava-se com a multidão que fluía ao seu redor.O cheiro de metal enferrujado e as luzes piscando mal eram notados por ele, com a mente trabalhando em alta velocidade para bolar um plano.O boné que comprou na loja de conveniência cobria parte de seu rosto, e a jaqueta folgada escondia bem sua silhueta.Ele olhou para trás, rapidamente, sem parar de andar. Os dois homens que haviam saído do sedã preto não estavam longe. Haviam entrado na estação também, provavelmente tentando não parecer suspeitos, mas Lucas os notou. O coração dele batia forte, e a adrenalina o mantinha alerta.Lucas acelerou o passo, passando pelas catracas do metrô e caminhando diretamente para a plataforma.Os trens lotados de Nova York podiam ser caóticos, mas, naquele momento, eram a melhor chance que ele tinha de desaparecer.Assim que chegou à plataforma, ouviu o som de um trem se aproximando. O barulho dos trilhos era
O hospital seguia seu ritmo de sempre, mas para Ana, tudo parecia deslocado. Ela atendia seus pacientes, mas com os pensamentos fragmentados e longe dali. Naquela manhã, enquanto Ana lutava contra seus próprios pensamentos, ela não tinha ideia de que a saída de Lucas era só o início de algo muito maior. "Por que ele teve que sair assim?" – Ana se questionava pela décima vez naquela manhã, enquanto preenchia o prontuário de outro paciente. "E por que eu me importo tanto? Ele é só mais um paciente problemático... muito charmoso e intrigante, ok, mas ainda assim problemático. Eu tenho que parar com isso." – ela balançou a cabeça, como se quisesse se livrar dos pensamentos. Enquanto tentava se concentrar no trabalho, o som dos saltos de Márcia ecoou pelo corredor. A presença de Márcia sempre vinha acompanhada de uma tensão. Quando Ana levantou o olhar, ela já estava parada na porta do consultório 04 no pronto atendimento do hospital, o rosto carregado de um sorriso cínico. — Bom dia,
Após a saída de Ana, o corredor do hospital ficou agitado, com o burburinho dos funcionários sussurrando sobre a partida repentina de Lucas.Márcia, ainda com seu sorriso malicioso, virou-se para Dr. John, que permanecia parado no meio do corredor, observando Ana se afastar.— Ah, John, parece que nossa querida Dra. Ana anda em uma corda bamba emocional, não é? — comentou Márcia, cruzando os braços enquanto lançava um olhar irônico.John sorriu com aquele ar presunçoso de quem se divertia demais com o caos alheio.— Ela se preocupa demais com esse Lucas. Deve ser difícil ter que lidar com pacientes assim... tão intensos. — Ele suspirou dramaticamente, como se estivesse interpretando o papel de um observador compassivo. — Mas, vamos ser honestos, Márcia, há mais do que preocupação médica naquela mulher. Ana está envolvida emocionalmente, só não quer admitir.Márcia ergueu uma sobrancelha, rindo baixinho.— Ah, John, você sempre tão atento ao relacionamentos dos outros. Talvez devesse f
De volta ao apartamento e ao Lucas, ele permanecia em silêncio, a mente processando todas as possibilidades. Ele sabia que não tinha muito tempo. A sensação de ser perseguido não o deixava relaxar, e a dores em seu corpo começavam a aparecer. Com passos decididos, ele começou a se mover pelo pequeno apartamento, procurando algo para comer, sua glicose provavelmente estava baixando. A geladeira fazia um zumbido baixo, e ele abriu, encontrando uma garrafa de água e alguns alimentos que havia deixado da última vez que esteve ali. Depois de beber um gole de água, Lucas pegou seu celular descartável e ficou olhando para a tela por um momento. Ele sabia que precisava manter contato mínimo, mas não podia evitar. Sem pensar muito, digitou uma mensagem rápida para Ana. Lucas: “Estou fora do hospital. Espero que você esteja bem.” Ele não esperava uma resposta imediata. "Por que estou pensando tanto nela?" — Lucas pensou, sentando-se à mesa e jogando a cabeça para trás. Enquanto esperava
Lucas se sentou na beira da cama do pequeno apartamento, sentindo o suor frio formar-se em sua testa. Seu corpo começou a tremer levemente, os sinais da hipoglicemia surgindo. Ele sabia que estava sem comer e que o controle de sua diabetes era precário desde que saiu do hospital. "Merda... isso não pode estar acontecendo agora" – pensava, sentindo a visão começar a ficar embaçada. Com uma respiração falha, ele olhou para a mesa. A garrafa de água que havia tomado antes não era suficiente, e ele sabia que não podia ignorar o problema por mais tempo. Lucas abriu a mala desesperadamente, à procura de algum remédio, mas não encontrou nada. Lutando contra a fraqueza que tomava conta de seu corpo, Lucas pegou o celular descartável novamente. A única pessoa em quem conseguia pensar era Ana. Ele hesitou por um momento. Ela estava provavelmente no hospital, ocupada com seus pacientes. "Ela vai me matar... Vai pensar que eu estou fazendo isso de propósito." – Lucas pensava, mas sabia qu
Lucas: “Você precisa ser discreta, Ana. Não quero que ninguém te siga.” Ana olhou para a mensagem enquanto a chuva começava a cair com força. A chuva caía com uma intensidade quase desumana, as gotas batendo no para-brisa como se quisessem invadir o carro. Ana apertava o volante com força. Cada batida de seu coração parecia sincronizada com o som das gotas no vidro. "Por que você está fazendo isso, Ana?" – sua mente gritava enquanto uma parte lutava contra a ideia de atender ao pedido de Lucas. "Ele saiu do hospital por conta própria, contra as minhas recomendações. Ele pode muito bem cuidar de si mesmo." – pensou. Mas então, a lembrança da última mensagem de Lucas ecoou em sua mente: "Eu preciso de você." Havia algo naquela frase que desarmava todas as suas defesas, algo que ela não conseguia ignorar. Ela olhou para o celular e digitou uma resposta rápida. Ana: “Você está me pedindo para ser discreta? O que está acontecendo, Lucas? Por que tanto mistério?” A resposta não d
Ana finalmente chegou à porta do prédio, ofegante, a respiração embaçando o ar frio ao seu redor. A chuva martelava em seu capuz, encharcando suas roupas e fazendo seus sapatos deslizarem na calçada. Tudo dentro dela gritava para ir embora, mas algo mais forte a empurrava para frente. Talvez fosse a preocupação, talvez fosse o fato de que, por mais irritante e teimoso que Lucas fosse, ela não conseguia simplesmente deixá-lo. "Ele está mal... ou é só mais uma jogada dele?" – Ana pensava, rangendo os dentes enquanto tocava a maçaneta da porta. Ela bateu com força na porta do apartamento, sentindo uma mistura de ansiedade e raiva. "Se ele estiver bem e eu tiver corrido para cá no meio dessa tempestade por nada, ele vai ouvir!" – pensou, impaciente. Lucas enviou a última mensagem para Ana: Lucas: "Entre. A porta está destrancada." Ela abriu a porta lentamente, e a cena que encontrou do outro lado fez seu coração apertar. Lucas estava sentado no chão, encostado contra a parede, o ros