— Se não ficar, usa no Brasil.— O estilo brasileiro é bem diferente. Lá, prefiro uma calça jeans para o hospital e para sair, vestidos um pouco mais curtos.— Terá que se acostumar com a nossa cultura. Então, por hora, vamos comprar só roupas de inverno mesmo, pois essas não têm como ser curtas. O que acha?— Ótima ideia.*****Um dia de caminhada pela grande metrópole não foi suficiente, mas ainda assim foi um dia excelente. Minha mais nova tia quis me vestir à altura da fortuna de vovô, contudo aceitei apenas algumas roupas, na verdade, vestidos de inverno, que sempre gostei de usar, e lhe mostrei que médico se veste o mais confortável possível.Almoçamos juntas e terminamos o dia em uma cafeteria bem linda. Não tinha café brasileiro, contentei-me com o famoso cappuccino, com espuma por cima e chocolate. Estava uma delícia. Titia aproveitou o momento para fazer algumas perguntas. Não achei isso uma intromissão, pelo contrário, já estava gostando dela. Era estranho sentir essa empa
— No começo, tentou resistir à ideia, mas minha voz continha uma firmeza que ele não podia ignorar. Eventualmente, compreendeu que era o fim. Mesmo que ele tenha lutado contra isso, minha determinação prevaleceu. Afinal, como você disse, meus sentimentos por ele já não eram tão intensos.A garçonete chegou, interrompendo o fluxo das memórias, trazendo consigo um cappuccino quente.— Trouxe o cappuccino que você pediu. Notei que não ficou muito satisfeita com o café gelado, que costumava ser o seu favorito.— Desculpe, tia. No Brasil, somos adeptos de um café forte, encorpado e saboroso. E aquele café gelado definitivamente não atende a essas características.— Não precisa se desculpar. Gosto é subjetivo.— E como mamãe costumava dizer, gosto não se discute.— Voltando ao assunto do namoro. Então, você está solteira agora.— Estou solteira há um bom tempo. Tive alguns relacionamentos mais casuais, como se diz aqui no Brasil, nada muito sério. Foram encontros, apenas isso.— Então você
O motorista pontual já me esperava na porta de entrada do prédio, pronto para abrir a porta do passageiro.— Bom dia, senhora.— Bom dia.— Irei levá-la direto para o hospital, ou quer passar em algum lugar antes?— Na verdade, não tomei café-da-manhã. Preciso comer um pão ou queijo e um café puro mesmo, sem ser gelado. Brasileiro não está acostumado com isso.— Ao lado do hospital tem uma cafeteria bem gostosa. Posso parar lá primeiro antes. Acho que a senhora terá uma agenda cheia. É bom que já conheça onde pode tomar o café ou o lanche da tarde.— O senhor também é muito legal, senhor.A cafeteria era bem agradável, e as coisas eram gostosas, mas tive que comer rápido para não chegar atrasada. Titio já avisara que vovô não gostava de atrasos. Ele me esperava no hall do hospital, que era chiquérrimo por sinal, junto com o patriarca, titio e o diretor do hospital. Todos de terno e gravata. Eu, a simplória neta, de calça jeans, sobretudo e tênis. Roupas bem típicas para um hospital.
Saí e liguei para o meu tio agoniada, que já tinha mandado mais de três mensagens para saber do cliente.— Que agonia é essa?— Ele é meu cantor mais bem pago. Depois, como poderei pagar suas bebidas?— Pare de falar besteira. Você já é rico, porém dinheiro demais não traz felicidade. Fique tranquilo, ele está bem. Está passando por algo que não quis revelar. E não se ofenda com o que vou perguntar, ok? Você, como empresário, não o está pressionando demais? Shows em excesso e uma rotina pesada de ensaios, por exemplo.— Um pouco, mas não é isso. Eu sei o que é, mas deixa para lá.— Bom, quero meu pagamento, não se esqueça disso. Eu cobro e com juros se não estiver dentro do esperado.— Tem um carro à sua espera na entrada e, amanhã, aproveite para comprar um na concessionária.— Vou pensar nisso. Você tem certeza de que vou ficar, não é? Só porque passei trabalhando doze horas hoje no hospital, já fiz cirurgias e ainda atendi um cliente seu. Espere eu dar a resposta, aí penso no carro
O motorista ia me levar diretamente para o apartamento, mas resolvi parar à beira do rio Han e caminhar. Admirando as águas gélidas do rio Han (Han-gang), que banhava a cidade de Seul, e não pude evitar sentir uma mistura de encanto e fascínio. A intensidade e beleza daquela cidade tecnológica e, ao mesmo tempo, tão prosaica e antiga, já me conquistava profundamente.Enquanto a correnteza fluía serenamente diante dos meus olhos, eu me vi envolta em uma atmosfera única, onde o passado e o presente se fundiam de forma harmoniosa. Os arranha-céus modernos se erguiam majestosamente, contrastando com a arquitetura tradicional, repleta de palácios e templos, que testemunharam séculos de história.O reflexo do sol nas águas do rio criava uma miríade de brilhos que dançavam em sincronia com a cidade. Era como se Seul estivesse viva, pulsando com sua energia vibrante e, ao mesmo tempo, abraçando suas raízes culturais com orgulho.Distraída, senti o telefone vibrar. O susto foi completo quando
Eu não queria acordar, de jeito nenhum! O sonho era divino. Estava na praia sendo beijada por um homem lindo, como em um comercial. A alegria daquela visão durou até o despertador tocar no momento crucial. Desliguei o alarme e levantei rapidamente. Precisava estudar. No domingo mesmo, peguei um livro de farmacologia na biblioteca do hospital e o devorei pela manhã. Nem saí para almoçar. Estava tão preocupada com as diferenças de medicamentos que nem lembrei de estar com fome, apenas lia e relia princípios ativos importantes.Como combinado, liguei para as meninas e só nessa hora peguei o celular e vi a mensagem de bom dia do cantor estonteante.— Oi, bom dia. Como foi a sua noite?— Oi, tudo bem? Estou com vergonha, só agora vi sua mensagem. Passei a manhã inteira estudando.Respondi sem graça, pedindo mil desculpas por não ter visto antes.Para não ficar ansiosa e também porque já estava atrasada, não esperei a resposta e chamei as morenas mais bonitas da minha vida para um vídeo. T
Perdi a noção do tempo, sobretudo porque já estava no segundo cateterismo quando recebi a mensagem da enfermeira de que meu tio me aguardava no refeitório. Terminado o procedimento, cheguei ao local e tirei a touca da cabeça. Ele estava de costas, tomando um suco.— Oi, titio lindo.Ele me olhou e acompanhei seu olhar especulativo.— Estranhou a vestimenta? A vida de um médico é assim. Estava no centro cirúrgico. Estou com roupa apropriada, não tive tempo de tirar, desculpe.— Você está com sangue respingado na roupa.— Ah, isso é normal.— Tem como se trocar para almoçar comigo, por favor?— Não sei se quero almoçar, temos muitos pacientes hoje — respondi com um sorriso radiante, por estar fazendo o que amo.— Agora, Min-Ji.Murchei e não disse mais nada. Em um bom português, saí com o rabinho entre as pernas. Ele sabia mandar sem ser grosso. Saí e retornei pouco depois com a roupa normal e jaleco branco. A comida já estava na mesa.— Por que está bravo comigo?— Porque no primeiro
A semana transcorreu normalmente, mas não vi o crush. Ele estava em uma nova turnê por outras cidades. Éramos apenas conhecidos, mas nos comunicávamos diariamente por mensagem. No hospital, o ambiente de trabalho estava cada vez melhor, o que me atraía ainda mais. Esse aspecto de estar gostando do hospital me deixava angustiada e pensativa. Por que os seres humanos são tão complicados? Se temos dificuldade, pedimos para não ter; se temos tudo na mão, queremos ir embora com medo de não nos adaptar. Complexo.Era quarta-feira e levei dois sustos no mesmo dia. O primeiro relacionado ao vovô Kang. Enquanto estava realizando uma cirurgia, recebi a recomendação de que, logo que terminasse, fosse ao quarto Vip 303. O enfermeiro não me deu mais detalhes. Após terminar o primeiro procedimento, fui direto para o terceiro andar. Bati na porta e entrei. Vovô estava na cama do hospital, sendo o paciente.— Bom dia. O que está acontecendo? O que o senhor está fazendo sentado nessa cama de hospital?