Beto
Depois de algum tempo, Vitor me chama e começo meu espetáculo, nunca estive tão nervoso, mas o Ademir e Vitor que me aguardem, eles ainda vão me pagar caro, graças a Deus as únicas pessoas conhecidas aqui são Rodrigo, Ademir e Vitor. Graças a Deus, o restante do pessoal não pode comparecer, seria bem pior se o time estivesse completo.
Uma música qualquer começa a tocar, canto alguns trechos dançando, as crianças acompanham batendo palmas.
Sentada no chão no meio das crianças, avisto aqueles cabelos loiros que me chamaram atenção logo que cheguei, ela está rindo enquanto b**e palmas com as crianças no ritmo da música, parece estar bem familiarizada em lidar com todos esses pequenos seres.
Termino minha apresentação e a busco com os olhos, mas ela não está mais no mesmo lugar, após procurar um pouco, a encontro distribuindo pequenas sacolas com guloseimas para as crianças que estão todas à sua volta, quase derrubando-a. Chego perto e chamo atenção delas para mim, converso com os pequenos consigo organizar uma fila e ajudo na distribuição.
— Você leva jeito com crianças — Entrega mais uma sacolinha. — Sua apresentação foi engraçada. — Abre um sorriso e me olha fixamente, esse olhar consegue me desestabilizar e fico sem saber como agir em sua presença.
— Gosto muito de crianças, fazer o quê? Às vezes, temos que ajudar os amigos, ou no meu caso, pagar uma aposta.
— Aposta? — Acho que falei demais, existem coisas que não precisam ser comentadas.
— É, mas deixa para lá... Me perdoe. Sou o Beto, muito prazer em conhecê-la — estendo minha mão em sua direção, olhando dentro dos seus olhos.
— Prazer, Ágata — Sorri novamente, mas logo fica séria. — Me perdoe, estou trabalhando e não posso ficar conversando com os convidados. Com licença, senhor... — Não a deixo terminar.
— É Beto, somente Beto... Fique à vontade, não quero te atrapalhar. — Ela vai em direção aos brinquedos infantis e fico parado feito bobo, não sabendo como agir. Ela é diferente das mulheres que conheço... Mulher não. Beto, acorda! Ela ainda deve ser uma adolescente que mal saiu do ensino médio.
— É, amigo, vai ficar babando aí pela garota até quando? — Rodrigo está ao meu lado. — Você sabe que ela não é o tipo de garota para você, né?
— Claro que sei — digo, mais para mim do que para ele. — Só estou admirado da facilidade que ela tem com as crianças, com certeza, mal saiu do ensino médio, e menor de idade é chave de cadeia, você sabe disso melhor do que eu.
— Ainda bem que sabe, não estou nem um pouco a fim de ter que tirar meu melhor amigo da cadeia. — Ele dá um tapa em meu ombro. — Vamos, estou cansado e amanhã temos o minitorneio de futebol.
Despeço-me do Vitor e vamos para casa, assim que chegamos tomo um banho e resolvo dar uma volta.
— Rodrigo, vamos dar uma volta? — Ele está, para variar, novamente ao telefone.
— Não tô afim. Beto... — Ele volta a conversar, enquanto retorno para meu quarto. — Beto! — ele grita. — Luana mandou um beijo e falou para você ter juízo.
— Manda outro para ela, e fala que o juízo eu dispenso, deixo isso para ela — respondo rindo já saindo do apartamento.
Após rodar um pouco sem rumo certo, resolvo parar em uma boate, já é quase meia-noite de um sábado e o lugar está lotado. Logo que entro vejo uma garota que peguei a semana passada, mas hoje não estou com vontade de repetir figurinha. Ela me vê e dá um enorme sorriso, finjo que não é comigo e vou até o bar, peço uma caipirinha. Logo uma mulher encosta ao meu lado e pede um drink, ela é mulata e tem um corpo de fazer inveja a qualquer passista de escola de samba. O garçom volta e quando vai pegar a comanda dela, entrego a minha a ele dizendo que será por minha conta. Ela sorri me dando uma piscadinha, e sai rebolando. Quando está próxima à pista de dança, olha para trás e me chama, deixo meu copo sobre o balcão e agora, sim, vou curtir a noite!
***
Meu celular toca sem parar e minha vontade é de jogá-lo contra a parede, de repente, alguém invade meu quarto e j**a algo em mim fazendo com que eu dê um pulo da cama, ainda tentando assimilar o que está acontecendo.
— Bom dia, Bela Adormecida, estamos atrasados. — Rodrigo está parado na porta do quarto, pronto para sair. — Vamos, anda logo, a galera já está esperando.
— Já disse que detesto sua felicidade matutina? — resmungo irritado. — Ainda são dez horas da manhã, por que você está feliz assim tão cedo?
— Beto, nem é tão cedo assim, o jogo está marcado para às 11h e se você enrolar, vamos nos atrasar. Quem mandou chegar tão tarde, quer dizer, tão cedo...
— Ahhhh... cara, uma mulata maravilhosa! Precisava ver o que ela fazia com... — Ele me corta.
— Menos... bem menos. Me poupe dos detalhes e anda logo, preguiçoso, vamos tomar café na padaria. Você tem exatamente quinze minutos para se arrumar e descer, estou te esperando na garagem — Ele sai do quarto, batendo a porta.
Arrumo-me o mais rápido que consigo, do jeito que conheço o Rodrigo é capaz de me largar aqui, não seria um problema tão grande se ele não estivesse com meu uniforme do time. Quando chego à garagem, ele já está com o carro ligado, passamos na padaria e vamos encontrar com o resto do pessoal.
O jogo foi tranquilo, ganhamos um e empatamos outro, devido aos saldos de gols fomos classificados para a próxima fase que irá acontecer durante a semana.
Resolvemos almoçar na churrascaria do clube que, para nossa sorte, está vazia, mas também, todas as pessoas normais já almoçaram, são quase três horas da tarde e, tirando nós, há somente um casal com uma criança. Estamos em um total de vinte homens e, quando estou me aproximando da mesa, ouço risadas e eles cantam a mesma música que cantei no aniversário.
Olho para Rodrigo, Ademir e Vitor que estão vermelhos de tanto rir, não acredito que eles gravaram e mostraram o vídeo para o time todo!
Tudo bem, eles me pagam, não perdem por esperar! Se pensam que vou ficar bravo, estão enganados, começo a cantar a música com eles, pego o copo do Rodrigo e bebo todo seu chope... Apesar do mico, é ótimo ter esses momentos com a galera.
ÁgataJá faz algumas semanas que deixei meu pai sozinho e vim para a cidade grande, morar com a minha tia. Ela tem um pequeno Bufê e vim para ajudá-la e, se tudo der certo, fazer a minha tão sonhada faculdade.Nasci numa cidadezinha do interior, meus pais eram caseiros em numa fazenda e, depois de um tempo com a morte do proprietário, as terras foram divididas e meus pais ganharam um pedacinho da terra e uma cabeça de gado pelos serviços prestados. Tínhamos uma pequena plantação, isso era nosso sustento. Quando tinha oito anos, minha mãe engravidou novamente e ganhei um irmão. Aurélio era lindo, um menino de ouro. Crescemos sem luxo, mas nunca nos faltou amor, éramos muito unidos, até que um dia vimos nossa família desmoronar...Meu pai e eu tínhamos ido à cidade comprar alguns mantimentos que estavam faltando, era o dia do nosso piquenique na beira do lago, estava ansiosa, pois isso era nossa maior diversão, após fazer todas as compras, fomos embora num carro velho do meu pai.Meu ma
ÁgataSomos interrompidas pelo telefone tocando, minha tia vai atender e volta dizendo que é um pedido de orçamento. E esse foi o primeiro de muitos que recebemos, no final da tarde já estávamos com todos os sábados agendados pelos próximos dois meses, isso significa que estaremos ocupados nas festas de fim de ano, não poderei passar as festas com meu pai. O telefonema mais inesperado foi de um dos hotéis mais importantes da cidade, que queria nos contratar para sua festa de réveillon.Passo o final de semana fazendo orçamentos e, diferente dos outros que costumava fazer, esses eram imensos, pois a maioria das festas que pegamos era para o triplo de pessoas que estávamos acostumadas.Fico feliz, mas, ao mesmo tempo, preocupada, pois teremos que aumentar o nosso quadro de ajudantes, as pessoas que nos ajudavam nas festas possuem outro emprego durante a semana, e o Bufê é uma forma de terem um aumento na renda mensal e todos são muito competentes no que fazem.A semana passa rápido, min
Beto— Que lugar maravilhoso, filho! — meu pai diz assim que chegamos ao resort.— Lindo mesmo. As ondas aqui são ótimas, e o hotel é coisa de primeiro mundo. — Acabamos de chegar e estamos tirando nossas malas do carro, finalmente, depois de tanto tempo irei tirar dez dias de férias com meu velho.Chamamos a atenção de algumas mulheres que estão conversando na recepção do hotel, senhor Júlio foi pai novo e quem vê nós dois andando juntos, pensam que somos irmãos, inclusive, já enganamos muita gente assim, principalmente, as mulheres.— Bom dia, senhorita... — Já vai começar. Júlio e sua primeira vítima.— Cristiane, mas pode me chamar de Cris — Pisca para ele, flertando descaradamente.— Cris... Lindo nome para uma linda mulher. Reservas em nome de Júlio e Roberto Castro, por favor. — Ela só falta babar, quando meu pai repete o nome dela. Ele está debruçado em cima do balcão.— Suítes 403 e 404... — Sua voz soa sensualmente, a atendente olha fixo para meu pai, tenho que me segurar pa
BetoAcabamos por ficar o resto do dia na praia, alugamos um armário para guardar nossos pertences e ficamos à tarde toda nos revezando entre mergulhos, risadas e conversas sem importâncias no quiosque e, sem querer me gabar, sei que chamamos bastante atenção das mulheres que passam por ali.Já é fim de tarde, quando exaustos, resolvemos voltar para o hotel. Meu pai me avisa que vai jantar com Cris, a recepcionista, enquanto eu só queria a companhia da minha cama, e foi exatamente essa companhia que tive depois de um banho relaxante. Estou tão cansado que mal deito e já caio em um sono profundo.***Acordo com batidas insistentes na porta, levanto ainda cambaleando de sono.— JÁ VAI! — Nossa, que insistente. Será que o hotel tá pegando fogo?Abro a porta, pronto para matar quem esteja do outro lado, mas fico totalmente sem rumo e paralisado ao ver quem está em minha porta.— Olívia? — Arregalo os olhos, ficando totalmente desperto. — O que você está fazendo aqui? — Seus olhos vermelho
Beto— Mas ela não pode obrigar a você fazer uma coisa que não concorda! — Saber disso me deixa impaciente, pois sei que com dona Luísa tudo é possível.— Até parece que você não a conhece. Acredita que ela ainda teve a coragem de me dizer que vai fazer a lista dos convidados, e ainda me proibiu de convidar alguns amigos do colégio porque eles "não sabem se comportar em festa refinada" — imita a voz da nossa mãe. — Simplesmente porque são bolsistas, disse que não terão condições financeiras para alugar as roupas e não vão saber se comportar. Fico me perguntando como ela pode ser tão mesquinha. Como pude nascer dela... — É, pelo jeito, dona Luísa está colocando as garras para fora, mas parece que ela não vai conseguir manipular minha irmã.— E o que você quer? — coloco os cotovelos em cima da mesa curioso e posso afirmar que estou gostando de conhecer um pouco mais essa pirralha.— Na verdade, quero uma festa simples, nada de valsa e vestido longo. Quero guardar o dinheiro da festa par
Ágata― Vamos, tia, se a senhora continuar com essa moleza, vamos chegar ao sítio no Ano Novo! ― Nunca vi pessoa mais enrolada do que a dona Márcia para sair, parece que vamos ficar fora por meses e não apenas uma semana. Deixamos o senhor Joaquim, nosso vizinho, encarregado de ligar as luzes e pegar as correspondências, do jeito que anda a violência na cidade, não podemos facilitar de jeito nenhum. ― Esqueceu de que vamos num fusca e não em uma Ferrari?! ― Meu pai mora no interior, num pequeno sítio a duzentos e cinquenta quilômetros daqui.― Para quem não queria viajar, você está bem apressadinha, hein, Ág! ― minha tia diz, conferindo pela centésima vez, se as portas e janelas estão fechadas.— Quero chegar antes do almoço e fazer uma surpresa para o papai. ― Quando resolvemos passar o Natal no sítio, avisamos que iríamos chegar ao final da tarde, mas não estamos aguentando de saudade.Estou muito empolgada, é a primeira vez que vou dirigir durante a viagem. Meu pai, com muito sacri
ÁgataFizemos juntos o almoço, enquanto conto em detalhes de como está minha adaptação na cidade grande, minhas novas amizades, sobre o Bufê, as mudanças que aconteceram tão rápido e ver a felicidade e o orgulho em seus olhos quando falei sobre a faculdade, não tem preço...— Filha, sua mãe e seu irmão devem estar muito orgulhosos de você! — Seus olhos estão cheios de lágrimas, é assim toda vez que falamos sobre nossa família. — Tenho certeza de que estão fazendo a maior festa pelas suas conquistas.— Eu sei, pai... — Sento ao seu lado, o puxando para um abraço. — Sinto tanta falta deles...Ficamos um bom tempo em silêncio e, assim como eu, meu pai deve estar lembrando dos momentos que vivemos quando a nossa família ainda estava completa.— Pai... O Aurélio tá escovando os dentes do Gugu de novo!!! — gritei, enquanto meu irmão segurava firme a boca do Gugu e tentava escovar os dentes dele. Ele sempre fazia isso dizendo que o cachorro estava ficando com mau hálito.— Filho... Solta o G
ÁgataAo lado da árvore de Natal, as crianças estão montando o presépio, essa sempre foi a hora mais esperada por todas elas.Todos os anos escrevem seus nomes e colocam na meia do papai Noel, na árvore e quando é quase meia-noite, um dos adultos presentes vai até a árvore, pega a meia e retira um nome e essa é a criança escolhida para colocar o Menino Jesus na manjedoura, que está vazia agora.As mulheres vão para a cozinha e começam a preparar as comidas mais demoradas, e após deixar os assados no forno, começam a arrumar a mesa para o almoço com o prato de todos trouxeram, sempre que nos reunimos para as festas, fazemos as refeições comunitárias.Como senti falta dessa união! É uma das pequenas coisas que não encontramos na cidade grande, lá é cada um por si.O dia começa a se despedir e, com isso, uma noite linda chega, todos vão para suas casas se arrumar para a ceia, mas antes teremos uma celebração de Natal, meu pai faz questão de comparecer todos os anos na pequena capela que