Beto
— Você não pode me abandonar agora, eu estou grávida!!!
— Grávida de um filho que não é meu!
— Idiota. — A porta bateu fazendo com que as paredes tremessem. Me vi sozinho e, só então, entendi que minha família havia acabado.
Sento-me na cama, minhas mãos tremem e o suor deixa um rastro em meu rosto, faz tempo que não lembro desse dia.
Durante boa parte da minha adolescência, esse episódio fez com que eu mudasse totalmente a maneira de pensar e passasse a desconfiar de qualquer mulher que tentasse se aproximar, com exceção de Luana, que acabei confundindo sentimentos, porém não passava de carência e hoje estou feliz por vê-la em um relacionamento com meu amigo, Rodrigo.
Meus pais se separaram, porque quando meu pai mais precisou de apoio, minha mãe, achou mais prático pular no colo daquele que era o melhor amigo do meu pai e acabou engravidando.
Não comento com ninguém, porém essa atitude da minha mãe mexe comigo até hoje, tanto que, mesmo sem ter culpa do que aconteceu, não consigo me relacionar com minha irmã e evito encontrar com minha mãe.
Verifico as horas e descubro que falta pouco tempo para que eu pague o maior mico da vida diante de todo o time de futebol: animar uma festa infantil. Sorrio ao lembrar do que aconteceu naquele dia.
“— Beto, como vão indo às conquistas? — JC, um professor de educação física e dono da academia que frequentamos questiona.
— Tranquilo. Nada em vista... por enquanto. — Dou uma piscada para que eles entendam que não sairei daqui sozinho.
— Você precisa se aquietar amigo, até quando vai ficar pulando de galho em galho desse jeito. — Ademir leva o copo de chopp na boca, me olha de maneira estranha e solta uma risada cínica. — Já que você está tranquilo hoje, que tal uma aposta? — Coloca o copo na mesa olhando ao redor. — Ali... tá vendo aquelas duas mulheres, as loiras que estão naquela mesa? — Olho na mesma direção que ele e abro um sorriso, realmente elas são muito gatas. — Então, não sei se você sabe, mas sábado é aniversário da filha do Vitor e sou o encarregado de entreter as crianças, essa foi à tarefa dada aos padrinhos, ia contratar alguns palhaços, mágicos, mas já que estamos aqui você pode quebrar esse galho para o amigão aqui... — Coloco os cotovelos sobre a mesa e volto a encarar Ademir estreitando os olhos, creio que ele vai aprontar, mas a vontade de vê-lo quebrar a cara é maior. — Se você conseguir dar um beijo em uma delas, eu vou vestido de cowboy para festa, mas se você não conseguir convencê-las... você vai no meu lugar e fará uma pequena apresentação para as crianças. Topa? Sei que com toda sua experiência será fácil... — Viro minha cabeça para o local onde as mulheres bebem sorridentes e olho novamente para Ademir abrindo um sorriso.
— Fechado, Ademir, vai preparando a roupa xadrez, meu caro colega! — Pego meu copo e vou em direção a elas que agora cochicham entre elas.
Passo no bar e peço para entregarem na mesa delas mais do mesmo drink, troco meu copo de chopp e caminho confiante até elas.
É hoje que vou me dar bem!
Me apresento e engatamos uma conversa animada, até que resolvo dar a tacada final.
— O que acham de irmos a um local mais reservado. — Levo meu copo aos lábios lentamente dando uma piscadinha.
— Olha, Beto, é uma boa ideia — uma delas diz abrindo um sorriso — principalmente, se você for voyeur, porque da fruta que você gosta, a gente come até o caroço, não é meu amor.
Elas se beijam como se não houvesse amanhã, fazendo meu queixo cair no mesmo momento, pego meu copo e saio sem me despedir, enquanto elas ainda se beijam fervorosamente.
Olho em direção à mesa dos meus amigos e Ademir está chorando de tanto rir.
Pelo jeito, me dei mal nessa aposta.”
Tenho que me lembrar de nunca mais apostar nada com o time, a experiência de hoje já vale para uma vida inteira e tenho certeza que eles sabiam que aquelas duas gostosas eram um casal, por isso sugeriram a aposta e eu caí feito patinho na armação deles.
Como sei que não vou conseguir voltar a dormir, resolvo tomar um banho e assistir a algum filme na TV, a festa que irei com os caras é no final da tarde e preciso me preparar psicologicamente para o mico que vou pagar.
A tarde passa rápido e quando me dou conta estou vestindo uma camisa xadrez e me preparando para a fatídica festa, espero não ter muitos conhecidos nessa festa. Não quero nem imaginar como irá ficar minha imagem de pegador depois desse mico.
Eu, animando festa infantil? Onde estava com a cabeça quando resolvi aceitar aquela proposta?
Vou acompanhado de Rodrigo, estamos em meu carro e ele não tira o sorriso bobo do rosto, com certeza está falando com a Luana. Chegando ao salão do condomínio onde Vitor mora, sou recebido pelo sacana do Ademir, que vem todo contente em minha direção.
— Olha! Nosso cowboy já chegou, venha, reservei uma mesa, para nós, próxima ao pequeno palco — Ademir não tira o sorriso do rosto, com certeza se divertindo do mico que vou pagar.
Sento-me e fico aguardando a hora do show, vejo uma garota organizando as crianças para alguma brincadeira, ela se mistura aos pequenos e, não fosse o uniforme, poderia ser facilmente confundida com todas aquelas crianças.
BetoDepois de algum tempo, Vitor me chama e começo meu espetáculo, nunca estive tão nervoso, mas o Ademir e Vitor que me aguardem, eles ainda vão me pagar caro, graças a Deus as únicas pessoas conhecidas aqui são Rodrigo, Ademir e Vitor. Graças a Deus, o restante do pessoal não pode comparecer, seria bem pior se o time estivesse completo.Uma música qualquer começa a tocar, canto alguns trechos dançando, as crianças acompanham batendo palmas.Sentada no chão no meio das crianças, avisto aqueles cabelos loiros que me chamaram atenção logo que cheguei, ela está rindo enquanto bate palmas com as crianças no ritmo da música, parece estar bem familiarizada em lidar com todos esses pequenos seres.Termino minha apresentação e a busco com os olhos, mas ela não está mais no mesmo lugar, após procurar um pouco, a encontro distribuindo pequenas sacolas com guloseimas para as crianças que estão todas à sua volta, quase derrubando-a. Chego perto e chamo atenção delas para mim, converso com os pe
ÁgataJá faz algumas semanas que deixei meu pai sozinho e vim para a cidade grande, morar com a minha tia. Ela tem um pequeno Bufê e vim para ajudá-la e, se tudo der certo, fazer a minha tão sonhada faculdade.Nasci numa cidadezinha do interior, meus pais eram caseiros em numa fazenda e, depois de um tempo com a morte do proprietário, as terras foram divididas e meus pais ganharam um pedacinho da terra e uma cabeça de gado pelos serviços prestados. Tínhamos uma pequena plantação, isso era nosso sustento. Quando tinha oito anos, minha mãe engravidou novamente e ganhei um irmão. Aurélio era lindo, um menino de ouro. Crescemos sem luxo, mas nunca nos faltou amor, éramos muito unidos, até que um dia vimos nossa família desmoronar...Meu pai e eu tínhamos ido à cidade comprar alguns mantimentos que estavam faltando, era o dia do nosso piquenique na beira do lago, estava ansiosa, pois isso era nossa maior diversão, após fazer todas as compras, fomos embora num carro velho do meu pai.Meu ma
ÁgataSomos interrompidas pelo telefone tocando, minha tia vai atender e volta dizendo que é um pedido de orçamento. E esse foi o primeiro de muitos que recebemos, no final da tarde já estávamos com todos os sábados agendados pelos próximos dois meses, isso significa que estaremos ocupados nas festas de fim de ano, não poderei passar as festas com meu pai. O telefonema mais inesperado foi de um dos hotéis mais importantes da cidade, que queria nos contratar para sua festa de réveillon.Passo o final de semana fazendo orçamentos e, diferente dos outros que costumava fazer, esses eram imensos, pois a maioria das festas que pegamos era para o triplo de pessoas que estávamos acostumadas.Fico feliz, mas, ao mesmo tempo, preocupada, pois teremos que aumentar o nosso quadro de ajudantes, as pessoas que nos ajudavam nas festas possuem outro emprego durante a semana, e o Bufê é uma forma de terem um aumento na renda mensal e todos são muito competentes no que fazem.A semana passa rápido, min
Beto— Que lugar maravilhoso, filho! — meu pai diz assim que chegamos ao resort.— Lindo mesmo. As ondas aqui são ótimas, e o hotel é coisa de primeiro mundo. — Acabamos de chegar e estamos tirando nossas malas do carro, finalmente, depois de tanto tempo irei tirar dez dias de férias com meu velho.Chamamos a atenção de algumas mulheres que estão conversando na recepção do hotel, senhor Júlio foi pai novo e quem vê nós dois andando juntos, pensam que somos irmãos, inclusive, já enganamos muita gente assim, principalmente, as mulheres.— Bom dia, senhorita... — Já vai começar. Júlio e sua primeira vítima.— Cristiane, mas pode me chamar de Cris — Pisca para ele, flertando descaradamente.— Cris... Lindo nome para uma linda mulher. Reservas em nome de Júlio e Roberto Castro, por favor. — Ela só falta babar, quando meu pai repete o nome dela. Ele está debruçado em cima do balcão.— Suítes 403 e 404... — Sua voz soa sensualmente, a atendente olha fixo para meu pai, tenho que me segurar pa
BetoAcabamos por ficar o resto do dia na praia, alugamos um armário para guardar nossos pertences e ficamos à tarde toda nos revezando entre mergulhos, risadas e conversas sem importâncias no quiosque e, sem querer me gabar, sei que chamamos bastante atenção das mulheres que passam por ali.Já é fim de tarde, quando exaustos, resolvemos voltar para o hotel. Meu pai me avisa que vai jantar com Cris, a recepcionista, enquanto eu só queria a companhia da minha cama, e foi exatamente essa companhia que tive depois de um banho relaxante. Estou tão cansado que mal deito e já caio em um sono profundo.***Acordo com batidas insistentes na porta, levanto ainda cambaleando de sono.— JÁ VAI! — Nossa, que insistente. Será que o hotel tá pegando fogo?Abro a porta, pronto para matar quem esteja do outro lado, mas fico totalmente sem rumo e paralisado ao ver quem está em minha porta.— Olívia? — Arregalo os olhos, ficando totalmente desperto. — O que você está fazendo aqui? — Seus olhos vermelho
Beto— Mas ela não pode obrigar a você fazer uma coisa que não concorda! — Saber disso me deixa impaciente, pois sei que com dona Luísa tudo é possível.— Até parece que você não a conhece. Acredita que ela ainda teve a coragem de me dizer que vai fazer a lista dos convidados, e ainda me proibiu de convidar alguns amigos do colégio porque eles "não sabem se comportar em festa refinada" — imita a voz da nossa mãe. — Simplesmente porque são bolsistas, disse que não terão condições financeiras para alugar as roupas e não vão saber se comportar. Fico me perguntando como ela pode ser tão mesquinha. Como pude nascer dela... — É, pelo jeito, dona Luísa está colocando as garras para fora, mas parece que ela não vai conseguir manipular minha irmã.— E o que você quer? — coloco os cotovelos em cima da mesa curioso e posso afirmar que estou gostando de conhecer um pouco mais essa pirralha.— Na verdade, quero uma festa simples, nada de valsa e vestido longo. Quero guardar o dinheiro da festa par
Ágata― Vamos, tia, se a senhora continuar com essa moleza, vamos chegar ao sítio no Ano Novo! ― Nunca vi pessoa mais enrolada do que a dona Márcia para sair, parece que vamos ficar fora por meses e não apenas uma semana. Deixamos o senhor Joaquim, nosso vizinho, encarregado de ligar as luzes e pegar as correspondências, do jeito que anda a violência na cidade, não podemos facilitar de jeito nenhum. ― Esqueceu de que vamos num fusca e não em uma Ferrari?! ― Meu pai mora no interior, num pequeno sítio a duzentos e cinquenta quilômetros daqui.― Para quem não queria viajar, você está bem apressadinha, hein, Ág! ― minha tia diz, conferindo pela centésima vez, se as portas e janelas estão fechadas.— Quero chegar antes do almoço e fazer uma surpresa para o papai. ― Quando resolvemos passar o Natal no sítio, avisamos que iríamos chegar ao final da tarde, mas não estamos aguentando de saudade.Estou muito empolgada, é a primeira vez que vou dirigir durante a viagem. Meu pai, com muito sacri
ÁgataFizemos juntos o almoço, enquanto conto em detalhes de como está minha adaptação na cidade grande, minhas novas amizades, sobre o Bufê, as mudanças que aconteceram tão rápido e ver a felicidade e o orgulho em seus olhos quando falei sobre a faculdade, não tem preço...— Filha, sua mãe e seu irmão devem estar muito orgulhosos de você! — Seus olhos estão cheios de lágrimas, é assim toda vez que falamos sobre nossa família. — Tenho certeza de que estão fazendo a maior festa pelas suas conquistas.— Eu sei, pai... — Sento ao seu lado, o puxando para um abraço. — Sinto tanta falta deles...Ficamos um bom tempo em silêncio e, assim como eu, meu pai deve estar lembrando dos momentos que vivemos quando a nossa família ainda estava completa.— Pai... O Aurélio tá escovando os dentes do Gugu de novo!!! — gritei, enquanto meu irmão segurava firme a boca do Gugu e tentava escovar os dentes dele. Ele sempre fazia isso dizendo que o cachorro estava ficando com mau hálito.— Filho... Solta o G