Capítulo 6

Beto

Acabamos por ficar o resto do dia na praia, alugamos um armário para guardar nossos pertences e ficamos à tarde toda nos revezando entre mergulhos, risadas e conversas sem importâncias no quiosque e, sem querer me gabar, sei que chamamos bastante atenção das mulheres que passam por ali.

Já é fim de tarde, quando exaustos, resolvemos voltar para o hotel. Meu pai me avisa que vai jantar com Cris, a recepcionista, enquanto eu só queria a companhia da minha cama, e foi exatamente essa companhia que tive depois de um banho relaxante. Estou tão cansado que mal deito e já caio em um sono profundo.

***

Acordo com batidas insistentes na porta, levanto ainda cambaleando de sono.

— JÁ VAI! — Nossa, que insistente. Será que o hotel tá pegando fogo?

Abro a porta, pronto para matar quem esteja do outro lado, mas fico totalmente sem rumo e paralisado ao ver quem está em minha porta.

— Olívia? — Arregalo os olhos, ficando totalmente desperto. — O que você está fazendo aqui? — Seus olhos vermelhos, deve ter chorado muito. — Entra. — Ela me olha, não acreditando muito no que estou falando, eu também estaria achando estranho se estivesse no lugar dela, nunca fomos próximos e nunca conversamos muito.

— Me desculpa — Olívia diz entrando em meu quarto. — Não queria atrapalhar seu descanso...

— Vamos fazer o seguinte, eu vou tomar um banho rápido e já volto pra gente conversar, ok? — Ela não diz nada. — Bem... fique à vontade — digo, também sem saber como continuar essa conversa.

Tomo um banho rápido e não consigo imaginar o motivo de Olívia ter aparecido por aqui. Ninguém, além de Orlando, sabe onde estou. Arrumo-me rapidamente e vou conversar com minha irmã.

MINHA IRMÃ.

Sei que ela é inocente e não deve pagar pelas atitudes da nossa mãe, mas é difícil olhar para ela e não lembrar que a traição só veio à tona quando ela engravidou de Olívia.

Quando retorno ao quarto, Olívia está sentada no mesmo lugar que a deixei, ela enxuga os olhos quando percebe a minha presença.

— Você já tomou café? — Ela nega com a cabeça. — Vou pedir para trazerem algo, enquanto conversamos. — Ligo e peço para me trazerem um café completo, não sei o que ela gosta de comer, então, peço um pouco de tudo suficiente para duas pessoas. Sento-me num sofá próximo e fico esperando com que ela comece.

— Beto... Mais uma vez, quero te pedir desculpas, mas não sabia a quem mais podia recorrer, e você... é meu único irmão.

— O que ela fez dessa vez? — Tenho certeza de que minha mãe deve ter aprontado algo, apesar de não ter muito contato com Olívia, não quero que ela passe o que passei e sei que minha mãe não tem um gênio muito fácil de se lidar.

— Bem... — Ela aperta as mãos, nervosa. — Você sabe que ano que vem faço quinze anos. — É difícil esquecer essa data, ela praticamente nasceu na mesma época que meus pais assinaram o divórcio. — Sei que você pouco se importa comigo ou com os meus sonhos... sempre me tratou com indiferença e... — Se levanta e começa a andar de um lado ao outro pelo quarto.

Somos interrompidos pelo serviço de quarto, que veio trazer nosso café. A copeira gentilmente organiza tudo na mesa e sinalizo para Olívia se sentar.

— Olívia... Me perdoa... Você sabe que é difícil pra mim, já conversamos so... — Não me deixa terminar.

— Eu sei que cada vez que olha para mim, lembra-se de tudo o que sofreu, mas, eu só quero poder conversar... Eu queria... queria poder ter meu irmão na minha vida. Contar pra ele meus sonhos, minhas conquistas... — Suas palavras fazem com que eu me sinta um lixo. É como se tivesse acabado de levar um soco no estômago.

— Vamos fazer assim, juro que vou tentar estar mais presente. — Ela abre um sorriso sincero. — Mas, não espere muito de mim. Eu posso te machucar muito.

— Obrigada. — Ela levanta me dando um abraço, e quase me derruba da cadeira. Fico sem reação diante de sua atitude, mas acabo retribuindo o abraço. Essa é a primeira vez que permito esse tipo de afeto, e posso até dizer que gostei do sentimento que surgiu em mim ao dar o primeiro abraço sincero em minha irmã. — Sei que você vai ser o melhor irmão do mundo. Você já é para mim, tenho orgulho de ser sua irmã — diz beijando meu rosto. — Trouxe um presente para você, espero que goste. — Ela vai até sua bolsa e tira um pequeno embrulho. — Não sabia o que comprar, mas acho que pode ser bastante útil.

Abro o embrulho e vejo uma linda caneta MontBlanc nas cores preta e dourada.

— É linda, Oli! Não precisava, deve ter sido muito cara.

— Economizei minhas mesadas e disse para mamãe que precisava comprar um vestido novo, você sabe como ela gosta de esbanjar e nem me questionou quando não apareci com nenhum vestido novo em casa. — Essa sua atitude já demonstra que ela é bem diferente da nossa mãe.

— O que está olhando? — Seus olhos estão cheios de lágrimas.

— Você... Você me chamou de Oli... — Não sei explicar o que estou sentindo, mas acho que a sua simplicidade está fazendo com que eu mude minhas atitudes.

— Bem... Vamos sentar para terminar o café. E você ainda não me explicou o que está fazendo e como chegou até aqui. — Ela senta novamente em seu lugar.

— Meus pais estão hospedados aqui também... — Quase engasgo com o que acabo de ouvir. — Chegamos agora há pouco e eu briguei com a mamãe. — Meu pai vai surtar quando souber que eles estão hospedados aqui. Já vi que nosso momento de tranquilidade deu errado. — Ela veio com a ideia de fazer uma festa de quinze anos para toda a sociedade.

— Mas esse não é o sonho de toda garota da sua idade? — pergunto levantando uma sobrancelha, lembrando-me da alegria de Alice em sua festa. Rodrigo e eu estávamos vestidos iguais a dois pinguins e fomos obrigados a dançar a famosa valsa com as meninas.

— Sim, mas eu desenho... E desde pequena meu sonho é fazer intercâmbio em Paris e fazer um curso de Moda, assim que terminar o ensino médio... — Ela suspira. — A mamãe disse que isso não dá dinheiro, que filha dela não nasceu para trabalhar e, ainda me disse, que tenho que me preocupar em conhecer os garotos da sociedade e arrumar um marido rico, que possa me sustentar... Eu não quero essa festa, quero estudar fora... E quando disse isso, ela surtou e quase me bateu quando a enfrentei... — Fico indignado ao saber, ela pode não ser o melhor exemplo de mãe, mas nunca levantou a mão para mim. — Eu fugi do quarto onde estava e a deixei lá, sozinha. Dei uma volta na praia e, foi aí, que me encontrei com um amigo seu, o Orlando. Ele que indicou o hotel para meu pai e hoje ele perguntou se já tinha encontrado com você, já que estávamos hospedados no mesmo lugar, foi quando voltei correndo e perguntei o número do seu quarto na recepção.

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