Beto
— Que lugar maravilhoso, filho! — meu pai diz assim que chegamos ao resort.
— Lindo mesmo. As ondas aqui são ótimas, e o hotel é coisa de primeiro mundo. — Acabamos de chegar e estamos tirando nossas malas do carro, finalmente, depois de tanto tempo irei tirar dez dias de férias com meu velho.
Chamamos a atenção de algumas mulheres que estão conversando na recepção do hotel, senhor Júlio foi pai novo e quem vê nós dois andando juntos, pensam que somos irmãos, inclusive, já enganamos muita gente assim, principalmente, as mulheres.
— Bom dia, senhorita... — Já vai começar. Júlio e sua primeira vítima.
— Cristiane, mas pode me chamar de Cris — Pisca para ele, flertando descaradamente.
— Cris... Lindo nome para uma linda mulher. Reservas em nome de Júlio e Roberto Castro, por favor. — Ela só falta babar, quando meu pai repete o nome dela. Ele está debruçado em cima do balcão.
— Suítes 403 e 404... — Sua voz soa sensualmente, a atendente olha fixo para meu pai, tenho que me segurar para não começar a rir de tudo isso.
— Vou ficar no 404. Toma a sua chave Beto. — Ele j**a a chave do meu quarto.
— Bom serviço, linda... — Meu pai dá uma piscadinha para ela e seguimos para o elevador, onde um rapaz aguarda com nossas malas.
— Mal chegamos e o senhor já está arrasando corações, hein, pai... — Seguro a risada, e ele faz cara feia. Já estamos dentro do elevador.
— Vamos combinar assim, filho, nos próximos dez dias você está proibido de me chamar de pai, aqui serei somente Júlio, um amigo, combinado? Não vá queimar meu filme, filho — Ele está sério, um vinco se forma em sua testa, mas já estou acostumado com isso. Toda vez que saímos juntos e ele está querendo arrumar alguém, sou rebaixado de meu papel de filho e viro somente "o amigo".
— Combinado, senhor Júlio Castro! — dou tapinhas em suas costas. — Já vi que vou passar todas as noites sem sua companhia, não é verdade? Viemos para ter alguns momentos pai e filho, mas os momentos serão pai e elas.
— Filho, você já passou da idade de fazer chantagem emocional! — Nesse momento chegamos ao nosso andar, onde cada um vai para a sua suíte.
Sempre que viajamos juntos ficamos em suítes separadas, assim mantemos nossa privacidade, a última vez que ficamos no mesmo quarto numa viagem, foi antes de eu completar dezoito anos.
Sou muito organizado com meus pertences, logo começo a tirar tudo da mala, guardando roupas e outros itens de higiene pessoal, me acostumei com isso morando com meu pai.
Durante minha adolescência nunca fui muito organizado, mas depois que fui morar com ele, acabei me acostumando. Não tínhamos empregados na época e nunca conseguia achar o que precisava no quarto, então, depois de muito puxão de orelha, sou PHD em organização. Em meu armário tudo é separado por cores e também por estilos, roupas sociais não se misturam com as esportivas, tudo metodicamente em seu lugar. Hoje temos a Laurinha, uma senhora de sessenta anos que nos ajuda em casa e ela é a única pessoa que consegue arrumar minhas coisas do jeito que gosto.
Depois da faculdade, fui morar em Ferraz com Rodrigo, mas na capital, o mercado para engenharia estava meio saturado e com pouco serviço, e quando Rodrigo resolveu voltar para casa, não pensei duas vezes para voltar, até mesmo por que trabalhava mais lá com meu pai do que em outro lugar, e as viagens que tinha que fazer, quase que diariamente, estavam me cansando demais.
Voltei a morar com meu pai numa cobertura próximo ao apartamento da família de Rodrigo, meu pai sempre se deu muito bem com o senhor Clóvis, que foi um dos poucos que o apoiou quando ele descobriu a traição.
Clóvis cuidou do divórcio do meu pai e depois disso assumiu também os casos da construtora e, desde então, a amizade entre eles só se fortalece, assim como a minha amizade com Rodrigo.
— Filho! — meu pai me chama, batendo na porta e a abrindo em seguida. — Ainda está cedo para o almoço, então, o que você acha de uma corrida pela orla, um mergulho e depois comemos algo em algum quiosque de beira de praia? Faz tanto tempo que não faço isso... — diz, nostálgico, ele já está pronto para sair e eu preso em pensamentos, e eu continuo com a mesma roupa que cheguei.
— Vou me trocar e já podemos sair, estou precisando mesmo sentir um pouco dessa maresia.
— Te espero no saguão do hotel — Me dá uma piscadinha saindo logo depois, tenho certeza de que o motivo dele me esperar no saguão, é a tal recepcionista que nos atendeu.
Ele sempre foi muito discreto em relação a sua vida amorosa, sei que nesses treze anos ele nunca se envolveu emocionalmente com ninguém, já vi algumas fotos dele em jornais sempre acompanhado de alguma beldade, mas nunca me apresentou nenhuma e muito menos trouxe alguém para dentro de casa, acho que tem medo de se entregar e se decepcionar novamente.
Apesar de sermos muito amigos, ele nunca se abriu profundamente sobre isso, sei que sofreu demais com a separação e agora quer aproveitar a vida, assim como eu... Depois da separação deles, nunca mais tive um pensamento sobre formar uma família, como meus amigos que hoje, em sua maioria, são todos casados. Rodrigo era meu último amigo solteiro e pejo jeito não vai demorar a passar para esse time.
Não demoro a me arrumar e sigo em direção ao saguão, realmente preciso lembrar-me de agradecer ao Orlando pela indicação desse resort, é muito melhor do que pude visualizar pelo site.
Orlando é dono de uma agência de turismo e jogamos futebol juntos, há vários meses ele havia se hospedado neste hotel e virou o seu lugar favorito.
Assim que saio do elevador, vejo meu pai encostado no balcão da recepção conversando com a tal Cristiane, pelo clima, com certeza, já conseguiu o contato da garota, ele sempre fez sucesso entre as mulheres desde sua juventude.
― Vamos? ― pergunto assim que me aproximo deles.
― Sim... ― ele não tira os olhos dela. ― Até mais tarde, então... linda ― beija levemente a mão dela.
― Primeiro encontro das férias?
— Não podemos perder tempo, afinal de contas, só vivemos uma vez, não é? — Acabamos de chegar à beira da praia, respiro fundo, aproveitando a maresia, estava com saudade disso tudo: do mar, das ondas, da areia...
— Espero que tenha algumas ondas boas, tô doido pra surfar! — Surfe e futebol sempre foram os antídotos contra o estresse do dia a dia. Olho para o meu pai que agora fita o mar a nossa frente.
— Então, quero ver se consegue me acompanhar, garotão. O último a chegar ao posto de salva-vidas paga o almoço.
— Pronto pra comer areia, velho? — Ele ergue as sobrancelhas, e me fuzila com o olhar. Uma coisa que o tira do sério é chamá-lo de velho.
— Vamos ver quem é o velho aqui.
E assim começamos nossa corrida, ficamos lado a lado durante todo o trajeto e chegamos juntos ao lugar local combinado.
— Realmente... você... está... em boa forma... — Coloco as mãos nos joelhos quase sem fôlego, e segundos depois tiro a camiseta. — Vamos tomar uma água de coco, estou morrendo de sede.
Caminhamos conversando até um quiosque que é quase um restaurante, pois vende desde pequenas porções até refeições completas. Com um ambiente agradável e familiar, resolvemos ficar por ali mesmo.
BetoAcabamos por ficar o resto do dia na praia, alugamos um armário para guardar nossos pertences e ficamos à tarde toda nos revezando entre mergulhos, risadas e conversas sem importâncias no quiosque e, sem querer me gabar, sei que chamamos bastante atenção das mulheres que passam por ali.Já é fim de tarde, quando exaustos, resolvemos voltar para o hotel. Meu pai me avisa que vai jantar com Cris, a recepcionista, enquanto eu só queria a companhia da minha cama, e foi exatamente essa companhia que tive depois de um banho relaxante. Estou tão cansado que mal deito e já caio em um sono profundo.***Acordo com batidas insistentes na porta, levanto ainda cambaleando de sono.— JÁ VAI! — Nossa, que insistente. Será que o hotel tá pegando fogo?Abro a porta, pronto para matar quem esteja do outro lado, mas fico totalmente sem rumo e paralisado ao ver quem está em minha porta.— Olívia? — Arregalo os olhos, ficando totalmente desperto. — O que você está fazendo aqui? — Seus olhos vermelho
Beto— Mas ela não pode obrigar a você fazer uma coisa que não concorda! — Saber disso me deixa impaciente, pois sei que com dona Luísa tudo é possível.— Até parece que você não a conhece. Acredita que ela ainda teve a coragem de me dizer que vai fazer a lista dos convidados, e ainda me proibiu de convidar alguns amigos do colégio porque eles "não sabem se comportar em festa refinada" — imita a voz da nossa mãe. — Simplesmente porque são bolsistas, disse que não terão condições financeiras para alugar as roupas e não vão saber se comportar. Fico me perguntando como ela pode ser tão mesquinha. Como pude nascer dela... — É, pelo jeito, dona Luísa está colocando as garras para fora, mas parece que ela não vai conseguir manipular minha irmã.— E o que você quer? — coloco os cotovelos em cima da mesa curioso e posso afirmar que estou gostando de conhecer um pouco mais essa pirralha.— Na verdade, quero uma festa simples, nada de valsa e vestido longo. Quero guardar o dinheiro da festa par
Ágata― Vamos, tia, se a senhora continuar com essa moleza, vamos chegar ao sítio no Ano Novo! ― Nunca vi pessoa mais enrolada do que a dona Márcia para sair, parece que vamos ficar fora por meses e não apenas uma semana. Deixamos o senhor Joaquim, nosso vizinho, encarregado de ligar as luzes e pegar as correspondências, do jeito que anda a violência na cidade, não podemos facilitar de jeito nenhum. ― Esqueceu de que vamos num fusca e não em uma Ferrari?! ― Meu pai mora no interior, num pequeno sítio a duzentos e cinquenta quilômetros daqui.― Para quem não queria viajar, você está bem apressadinha, hein, Ág! ― minha tia diz, conferindo pela centésima vez, se as portas e janelas estão fechadas.— Quero chegar antes do almoço e fazer uma surpresa para o papai. ― Quando resolvemos passar o Natal no sítio, avisamos que iríamos chegar ao final da tarde, mas não estamos aguentando de saudade.Estou muito empolgada, é a primeira vez que vou dirigir durante a viagem. Meu pai, com muito sacri
ÁgataFizemos juntos o almoço, enquanto conto em detalhes de como está minha adaptação na cidade grande, minhas novas amizades, sobre o Bufê, as mudanças que aconteceram tão rápido e ver a felicidade e o orgulho em seus olhos quando falei sobre a faculdade, não tem preço...— Filha, sua mãe e seu irmão devem estar muito orgulhosos de você! — Seus olhos estão cheios de lágrimas, é assim toda vez que falamos sobre nossa família. — Tenho certeza de que estão fazendo a maior festa pelas suas conquistas.— Eu sei, pai... — Sento ao seu lado, o puxando para um abraço. — Sinto tanta falta deles...Ficamos um bom tempo em silêncio e, assim como eu, meu pai deve estar lembrando dos momentos que vivemos quando a nossa família ainda estava completa.— Pai... O Aurélio tá escovando os dentes do Gugu de novo!!! — gritei, enquanto meu irmão segurava firme a boca do Gugu e tentava escovar os dentes dele. Ele sempre fazia isso dizendo que o cachorro estava ficando com mau hálito.— Filho... Solta o G
ÁgataAo lado da árvore de Natal, as crianças estão montando o presépio, essa sempre foi a hora mais esperada por todas elas.Todos os anos escrevem seus nomes e colocam na meia do papai Noel, na árvore e quando é quase meia-noite, um dos adultos presentes vai até a árvore, pega a meia e retira um nome e essa é a criança escolhida para colocar o Menino Jesus na manjedoura, que está vazia agora.As mulheres vão para a cozinha e começam a preparar as comidas mais demoradas, e após deixar os assados no forno, começam a arrumar a mesa para o almoço com o prato de todos trouxeram, sempre que nos reunimos para as festas, fazemos as refeições comunitárias.Como senti falta dessa união! É uma das pequenas coisas que não encontramos na cidade grande, lá é cada um por si.O dia começa a se despedir e, com isso, uma noite linda chega, todos vão para suas casas se arrumar para a ceia, mas antes teremos uma celebração de Natal, meu pai faz questão de comparecer todos os anos na pequena capela que
ÁgataHoje pela manhã liguei para Luana, que contou sobre a festa no hotel, que foi um sucesso.Nunca vi papai tão animado, me desacostumei a dormir cedo e, o pior de todos, acordar cedo, e quando falo cedo, não estou falando seis ou sete da manhã e sim quatro da manhã! Horário em que muita gente da cidade está indo deitar, nós estamos acordando, e sete da noite já estou quebrada…E assim foi nossa rotina nesses dias em que ficamos por aqui, Malu vinha para cá quase todas as tardes, assim como dona Francisca, que sempre vinha nos trazer algo diferente e maravilhosamente saboroso. Tenho que concordar com minha tia, ela realmente quer conquistar não só meu pai, mas como todos nós, pelo estômago.Dona Francisca está viúva há dez anos e não tem filhos, era professora e, praticamente todos nós, passamos por sua sala de aula, sempre esteve ao nosso lado principalmente depois que tudo aconteceu.Em algum momento, desconfiei que ela nutria uma paixão secreta pelo meu pai e parece que ele tem
BetoNunca podia imaginar que depois de uma corrida maravilhosa, o destino nos passaria a perna, e nos levaria ao hospital, em vez de estarmos celebrando o noivado e a vitória de Rodrigo.Dia após dia fui vendo o sofrimento de todos ao nosso redor. Alice estava, assim como Luana, desesperada com a falta de respostas, a cirurgia havia sido um sucesso e, segundo os médicos, ele tinha que encontrar um motivo para sobreviver, e é nessa hora que minha ficha cai. Nós não somos nada e ainda ficamos brigando e não aceitamos aquelas pessoas que Deus colocou em nossas vidas, isso faz com que eu repense em minha relação com Olívia.Desde que voltei da praia, não estive com ela, nem ao menos liguei, e só de pensar que posso não ter a oportunidade de ser presente em sua vida, uma dor aperta em meu peito, então resolvo ligar e a convido para um cinema, ela aceita na hora, ainda não acreditando que a convidei para sair. Me despeço de todos no hospital, e vou para casa me arrumar para encontrá-la.C
ÁgataApós ter recebido essa ligação, digamos, um pouco “estranha”, volto para o quarto que, em alguns minutos já está todo arrumado e eu super exausta.Olho para o relógio e percebo que estou um pouco atrasada, me arrumo rapidamente e saio correndo, para minha sorte, na pracinha próxima de casa tem um táxi parado, passo o endereço do bar e, após vinte minutos, estacionamos em frente ao Boemia, pago a corrida e percebo que estou dez minutos atrasada.— Droga! — Nunca gostei de chegar atrasada em meus compromissos, não gosto de esperar e também não gosto de deixar ninguém me esperando.O bar não está muito cheio, quando entro avisto Alice sentada numa mesa acompanhada com um homem, assim que ela me vê sinaliza para que eu me aproxime. O homem que está sentado com Alice é realmente muito bonito e estou lembrada de tê-lo visto aqui.— Oi... — digo tímida. — Me desculpe o atraso. — Alice está abatida, com certeza o estado do Rodrigo não deve ser dos melhores.— Imagina, Ág, acabei de cheg