Capítulo 5

Beto

— Que lugar maravilhoso, filho! — meu pai diz assim que chegamos ao resort.

— Lindo mesmo. As ondas aqui são ótimas, e o hotel é coisa de primeiro mundo. — Acabamos de chegar e estamos tirando nossas malas do carro, finalmente, depois de tanto tempo irei tirar dez dias de férias com meu velho.

Chamamos a atenção de algumas mulheres que estão conversando na recepção do hotel, senhor Júlio foi pai novo e quem vê nós dois andando juntos, pensam que somos irmãos, inclusive, já enganamos muita gente assim, principalmente, as mulheres.

— Bom dia, senhorita... — Já vai começar. Júlio e sua primeira vítima.

— Cristiane, mas pode me chamar de Cris — Pisca para ele, flertando descaradamente.

— Cris... Lindo nome para uma linda mulher. Reservas em nome de Júlio e Roberto Castro, por favor. — Ela só falta babar, quando meu pai repete o nome dela. Ele está debruçado em cima do balcão.

— Suítes 403 e 404... — Sua voz soa sensualmente, a atendente olha fixo para meu pai, tenho que me segurar para não começar a rir de tudo isso.

— Vou ficar no 404. Toma a sua chave Beto. — Ele j**a a chave do meu quarto.

— Bom serviço, linda... — Meu pai dá uma piscadinha para ela e seguimos para o elevador, onde um rapaz aguarda com nossas malas.

— Mal chegamos e o senhor já está arrasando corações, hein, pai... — Seguro a risada, e ele faz cara feia. Já estamos dentro do elevador.

— Vamos combinar assim, filho, nos próximos dez dias você está proibido de me chamar de pai, aqui serei somente Júlio, um amigo, combinado? Não vá queimar meu filme, filho — Ele está sério, um vinco se forma em sua testa, mas já estou acostumado com isso. Toda vez que saímos juntos e ele está querendo arrumar alguém, sou rebaixado de meu papel de filho e viro somente "o amigo".

— Combinado, senhor Júlio Castro! — dou tapinhas em suas costas. — Já vi que vou passar todas as noites sem sua companhia, não é verdade? Viemos para ter alguns momentos pai e filho, mas os momentos serão pai e elas.

— Filho, você já passou da idade de fazer chantagem emocional! — Nesse momento chegamos ao nosso andar, onde cada um vai para a sua suíte.

Sempre que viajamos juntos ficamos em suítes separadas, assim mantemos nossa privacidade, a última vez que ficamos no mesmo quarto numa viagem, foi antes de eu completar dezoito anos.

Sou muito organizado com meus pertences, logo começo a tirar tudo da mala, guardando roupas e outros itens de higiene pessoal, me acostumei com isso morando com meu pai.

Durante minha adolescência nunca fui muito organizado, mas depois que fui morar com ele, acabei me acostumando. Não tínhamos empregados na época e nunca conseguia achar o que precisava no quarto, então, depois de muito puxão de orelha, sou PHD em organização. Em meu armário tudo é separado por cores e também por estilos, roupas sociais não se misturam com as esportivas, tudo metodicamente em seu lugar. Hoje temos a Laurinha, uma senhora de sessenta anos que nos ajuda em casa e ela é a única pessoa que consegue arrumar minhas coisas do jeito que gosto.

Depois da faculdade, fui morar em Ferraz com Rodrigo, mas na capital, o mercado para engenharia estava meio saturado e com pouco serviço, e quando Rodrigo resolveu voltar para casa, não pensei duas vezes para voltar, até mesmo por que trabalhava mais lá com meu pai do que em outro lugar, e as viagens que tinha que fazer, quase que diariamente, estavam me cansando demais.

Voltei a morar com meu pai numa cobertura próximo ao apartamento da família de Rodrigo, meu pai sempre se deu muito bem com o senhor Clóvis, que foi um dos poucos que o apoiou quando ele descobriu a traição.

Clóvis cuidou do divórcio do meu pai e depois disso assumiu também os casos da construtora e, desde então, a amizade entre eles só se fortalece, assim como a minha amizade com Rodrigo.

— Filho! — meu pai me chama, batendo na porta e a abrindo em seguida. — Ainda está cedo para o almoço, então, o que você acha de uma corrida pela orla, um mergulho e depois comemos algo em algum quiosque de beira de praia? Faz tanto tempo que não faço isso... — diz, nostálgico, ele já está pronto para sair e eu preso em pensamentos, e eu continuo com a mesma roupa que cheguei.

— Vou me trocar e já podemos sair, estou precisando mesmo sentir um pouco dessa maresia.

— Te espero no saguão do hotel — Me dá uma piscadinha saindo logo depois, tenho certeza de que o motivo dele me esperar no saguão, é a tal recepcionista que nos atendeu.

Ele sempre foi muito discreto em relação a sua vida amorosa, sei que nesses treze anos ele nunca se envolveu emocionalmente com ninguém, já vi algumas fotos dele em jornais sempre acompanhado de alguma beldade, mas nunca me apresentou nenhuma e muito menos trouxe alguém para dentro de casa, acho que tem medo de se entregar e se decepcionar novamente.

Apesar de sermos muito amigos, ele nunca se abriu profundamente sobre isso, sei que sofreu demais com a separação e agora quer aproveitar a vida, assim como eu... Depois da separação deles, nunca mais tive um pensamento sobre formar uma família, como meus amigos que hoje, em sua maioria, são todos casados. Rodrigo era meu último amigo solteiro e pejo jeito não vai demorar a passar para esse time.

Não demoro a me arrumar e sigo em direção ao saguão, realmente preciso lembrar-me de agradecer ao Orlando pela indicação desse resort, é muito melhor do que pude visualizar pelo site.

Orlando é dono de uma agência de turismo e jogamos futebol juntos, há vários meses ele havia se hospedado neste hotel e virou o seu lugar favorito.

Assim que saio do elevador, vejo meu pai encostado no balcão da recepção conversando com a tal Cristiane, pelo clima, com certeza, já conseguiu o contato da garota, ele sempre fez sucesso entre as mulheres desde sua juventude.

― Vamos? ― pergunto assim que me aproximo deles.

― Sim... ― ele não tira os olhos dela. ― Até mais tarde, então... linda ― beija levemente a mão dela.

― Primeiro encontro das férias?

— Não podemos perder tempo, afinal de contas, só vivemos uma vez, não é? — Acabamos de chegar à beira da praia, respiro fundo, aproveitando a maresia, estava com saudade disso tudo: do mar, das ondas, da areia...

— Espero que tenha algumas ondas boas, doido pra surfar! — Surfe e futebol sempre foram os antídotos contra o estresse do dia a dia. Olho para o meu pai que agora fita o mar a nossa frente.

— Então, quero ver se consegue me acompanhar, garotão. O último a chegar ao posto de salva-vidas paga o almoço.

— Pronto pra comer areia, velho? — Ele ergue as sobrancelhas, e me fuzila com o olhar. Uma coisa que o tira do sério é chamá-lo de velho.

— Vamos ver quem é o velho aqui.

E assim começamos nossa corrida, ficamos lado a lado durante todo o trajeto e chegamos juntos ao lugar local combinado.

— Realmente... você... está... em boa forma... — Coloco as mãos nos joelhos quase sem fôlego, e segundos depois tiro a camiseta. — Vamos tomar uma água de coco, estou morrendo de sede.

Caminhamos conversando até um quiosque que é quase um restaurante, pois vende desde pequenas porções até refeições completas. Com um ambiente agradável e familiar, resolvemos ficar por ali mesmo.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo