Capítulo 4

Ágata

Somos interrompidas pelo telefone tocando, minha tia vai atender e volta dizendo que é um pedido de orçamento. E esse foi o primeiro de muitos que recebemos, no final da tarde já estávamos com todos os sábados agendados pelos próximos dois meses, isso significa que estaremos ocupados nas festas de fim de ano, não poderei passar as festas com meu pai. O telefonema mais inesperado foi de um dos hotéis mais importantes da cidade, que queria nos contratar para sua festa de réveillon.

Passo o final de semana fazendo orçamentos e, diferente dos outros que costumava fazer, esses eram imensos, pois a maioria das festas que pegamos era para o triplo de pessoas que estávamos acostumadas.

Fico feliz, mas, ao mesmo tempo, preocupada, pois teremos que aumentar o nosso quadro de ajudantes, as pessoas que nos ajudavam nas festas possuem outro emprego durante a semana, e o Bufê é uma forma de terem um aumento na renda mensal e todos são muito competentes no que fazem.

A semana passa rápido, minha matrícula na faculdade está feita, e estou tão feliz que só falto sair abraçando as árvores que encontro pelo caminho, nunca imaginei que conseguiria colocar meus planos em prática em tão pouco tempo.

Até que o que não estava planejado começa a acontecer... meu coração começa a bater um pouco mais forte toda vez que penso em um tal engenheiro metido a recreador infantil e cowboy.

Eu nunca namorei e não planejo namorar tão cedo, quando encontrar alguém quero que seja como meus pais.

O amor entre eles era lindo, meu sonho é formar uma família como era a minha antes de tudo se perder. Sempre tive umas paqueras, mas nunca passou disso, quer dizer, teve o Ditinho uma vez...

Ele era o menino mais lindo do colégio, tinha dezesseis anos e era jogador de futebol do time da escola, seu pai era um fazendeiro metido a rico, mas todos sabiam que ele estava era falido. Ele me pediu um beijo uma vez, eu tinha acabado de completar dezesseis anos e nunca havia beijado ninguém e me senti a “rainha da cocada preta”, principalmente, porque todas as garotas se desmanchavam por causa dele, e ele queria me beijar.

“Encontramo-nos debaixo da arquibancada do ginásio de futebol e ficamos um tempo conversando, um sentado ao lado do outro, de repente, ele foi se aproximando e pegando na minha mão, eu estava simplesmente desesperada, não sabia como agir. Tinha perdido minha mãe recentemente e não tinha ninguém para conversar, por mais que fosse muito ligada ao meu pai, não me sentia à vontade de conversar sobre garotos com ele.

Ele foi se aproximando cada vez mais e quando achei que fosse, enfim, me beijar, me puxou para o seu colo, apertando minha cintura. Tentei me soltar e senti sua boca sobre a minha, ele lambia meus lábios deixando sua saliva ali e empurrava sua língua dentro da minha boca, me senti enojada com aquela situação. Parecia que ele estava lambendo um picolé. Se isso era beijar, nunca mais beijaria ninguém enquanto eu viver, o pior de tudo ainda não contei... Ele me “lambia” de uma forma tão... digamos... intensa, comecei a sentir meu estômago embrulhar, nessa mesma hora ele me ajeitou em seu colo e senti que tinha sentado em algo duro, juro que não acreditei que ele estava excitado por estar me lambendo. Fiquei apavorada e não sei de onde tirei forças e consegui sair dos braços dele e saí correndo sem olhar para trás.”

Essa foi a última vez que encontrei com ele, logo depois houve um grande escândalo: a cidade descobriu que o pai dele estava falido e com problemas na justiça, ele foi preso e Ditinho se mudou para a casa dos avós com a mãe, pois estavam morrendo de vergonha pela prisão do pai e, realmente, por nossa cidade ser pequena foi o acontecimento do ano ele saindo algemado da delegacia.

Desde que conheci o Beto, senti um carinho muito grande por ele, devido à maneira que brincou com as crianças na festa no dia em que nos conhecemos, e por suas ações não imaginei que ele fosse rico, as pessoas com a mesma condição dele sempre fizeram questão de mostrar que o dinheiro pode comprar tudo, e ele é o oposto disso tudo.

Nunca imaginei que o encontraria novamente, mas como o mundo é pequeno, descubro que ele é amigo de infância de Luana e Alice, então, acredito que vamos nos encontrar muito.

Os orçamentos continuam a crescer cada vez mais, fazendo com que fosse preciso termos um espaço só nosso.

Hoje olho para trás e ainda não consigo acompanhar a velocidade de tudo o que está acontecendo em minha vida e não imaginei que fosse possível voltar para casa tão cedo para matar a saudades do meu paizinho.

Olho para a mala em cima da minha cama e sorrio feliz com as possibilidades que o mundo está me oferecendo.

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