Capítulo 3

Ágata

Já faz algumas semanas que deixei meu pai sozinho e vim para a cidade grande, morar com a minha tia. Ela tem um pequeno Bufê e vim para ajudá-la e, se tudo der certo, fazer a minha tão sonhada faculdade.

Nasci numa cidadezinha do interior, meus pais eram caseiros em numa fazenda e, depois de um tempo com a morte do proprietário, as terras foram divididas e meus pais ganharam um pedacinho da terra e uma cabeça de gado pelos serviços prestados. Tínhamos uma pequena plantação, isso era nosso sustento. Quando tinha oito anos, minha mãe engravidou novamente e ganhei um irmão. Aurélio era lindo, um menino de ouro. Crescemos sem luxo, mas nunca nos faltou amor, éramos muito unidos, até que um dia vimos nossa família desmoronar...

Meu pai e eu tínhamos ido à cidade comprar alguns mantimentos que estavam faltando, era o dia do nosso piquenique na beira do lago, estava ansiosa, pois isso era nossa maior diversão, após fazer todas as compras, fomos embora num carro velho do meu pai.

Meu maior sonho era terminar os estudos na cidade grande, onde minha tia Márcia — irmã de meu pai — morava e ser promotora de eventos. Na escola sempre ajudava as professoras nas organizações das festas, queria muito ajudar meus pais e sabia que se realizasse esse meio sonho poderia até melhorar nossa casa e, quem sabe, comprar mais alguns animais.

Quando estávamos chegando em casa, o desespero foi tomando conta de mim, de longe vimos altas labaredas e nosso pesadelo começou, nossos vizinhos tentavam — em vão — apagar o fogo que já tinha tomado a casa toda. Tentamos entrar para salvar minha mãe e meu irmão, mas fomos impedidos. A casa era feita de madeira e podia desabar tudo.

E foi nesse dia que perdi a vontade de viver, eu sobrevivi para dar apoio ao meu pai, desisti de todos os meus sonhos, não poderia deixá-lo sozinho. Com muito esforço e ajuda dos nossos vizinhos, conseguimos construir uma pequena casa, com dois quartos, cozinha e banheiro.

Tia Márcia veio ficar conosco alguns dias e queria que eu voltasse com ela para estudar, mas não quis. Terminei meus estudos ali mesmo e disse que nunca mais sairia da fazenda. Algum tempo depois, meu pai foi taxativo e quase me expulsou de casa, não queria que desistisse dos meus sonhos por causa dele, e depois de muita discussão e anos tentando me convencer, resolvi me mudar. Cinco anos após a morte da minha mãe e de meu irmão... Aqui estou eu.

Hoje tenho uma festa para animar, gosto de quando fazemos festas infantis, me divirto muito com as crianças. Estou muito animada, meu coração diz que a partir de agora muita coisa vai mudar em minha vida.

****

A festa está muito animada, as crianças não ficam um minuto sem entrar no brinquedo que estou tomando conta, fui avisada de que um dos convidados irá fazer uma apresentação para entreter os baixinhos e que depois disso posso entregar uma sacolinha com doces e alguns apetrechos para que eles brinquem.

Acho muito engraçado o rapaz dançando e somente quando ele se aproxima de mim, para me ajudar com as sacolinhas, é que reparo como ele é lindo. Mas totalmente proibido para você — minha consciência grita e, com certeza, homens como ele, nunca se interessariam por mulheres como eu.

Trocamos algumas palavras, antes que ele se despeça e vá embora, volto para o meu trabalho e não o vejo mais, foi só mais um homem bonito que apreciei e que nunca mais verei.

****

Alguns meses depois...

Estou vivendo um sonho!

Se alguém me disse que apenas quatro meses após eu ter me mudado para a cidade, eu estaria trabalhando na organização de um dos maiores e mais badalados eventos da sociedade local e ainda seria sócia de uma empresa de organização de eventos, internaria a pessoa na hora, pois certamente ela estaria louca!

Até quinze dias atrás, tudo isso parecia um sonho, até que Deus resolveu mandar um anjo para me guiar, de repente, tudo virou realidade. Além de sermos contratadas para o evento, Luana se encantou tanto com nosso projeto que nos ofereceu sociedade.  

Nosso primeiro grande evento foi um sucesso, tirando o pequeno acidente com a bandeja de taças...

“Estou perdida em pensamentos, quando escorrego em uma poça de água e vejo tudo em câmera lenta... copos voando... bandeja... só sinto ser aparada por braços fortes... Quando levanto a cabeça para ver quem é meu salvador, vejo que é o cowboy da festa infantil de Ferraz, perco-me dentro daqueles olhos intensos... Saio do meu devaneio quando ouço alguém gritando perto de mim.

— SUA DESGRAÇADA!!! OLHA O QUE VOCÊ FEZ COM MEU CABELO??? — ela grita com o dedo em meu rosto. — E VOCÊ, BETO? VAI FICAR AÍ PARADO? — Ela vira para ele, que me ajuda ficar de pé.

— Janaína, fala baixo! Olha o escândalo! Foi um acidente... — ele fala entredentes.

— ACIDENTE NADA... QUERO ESSA VAGABUNDA NO OLHO DA RUA!!! AGORA!!! — Não sei o que falar nem como agir, isso nunca aconteceu comigo.”

― Ágata, minha filha! — Minha tia invade meu quarto com um jornal na mão, me fazendo voltar à realidade. ― Você precisa ler isso, olha o que estão falando sobre o evento de ontem! ― Enquanto me ajeito na cama dando um lugar para ela se sentar, me entrega o jornal e fico nas alturas ao me ver na primeira capa do caderno de eventos da cidade, ao lado de Luana.

― Nossa! Tia, isso é maravilhoso! Nunca imaginei que iria ter tanta repercussão, quer dizer, sabia que a mídia ia cobrir o evento, mas uma página somente sobre o Bufê é incrível!!! ― digo, tendo a certeza de que tudo o que aconteceu não foi um sonho.

Minha tia está com lágrimas nos olhos, sei o quanto ela lutou para abrir o pequeno Bufê, mas também sei que sua maior felicidade é saber que vou conseguir realizar meus sonhos... Sonhos que viraram metas e estão prestes a se concretizarem.

― Meu anjo... Agora tudo vai dar certo! ― ela deixa as lágrimas caírem por seu rosto. ― Na próxima semana, vamos à universidade fazer sua matrícula. — Eu havia prestado vestibular assim que cheguei à cidade, consegui até mesmo uma bolsa de cinquenta por centro nas mensalidades, porém, não tinha o dinheiro da matrícula. ― Agora, levanta e vem tomar o café que preparei, merecemos um café com tudo o que temos direito, depois de tanto trabalho e de todo esse sucesso ― Me abraça apertado.

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