O telefone vibra na minha mão, interrompendo meus pensamentos enquanto reviso alguns textos da faculdade. Ao ver o nome da minha irmã, Alina, meu coração aquece. Atendo com um sorriso antes mesmo de dizer alô.
— Kira! , ela exclama com uma animação que faz meus lábios se curvarem automaticamente.
— O que foi, Alina? Está explodindo de felicidade. — brinco, encostando-me ao sofá.
— Fui pedida em casamento! — grita, e eu quase consigo ver seu sorriso reluzindo do outro lado da linha.
— Não acredito! Alina, isso é maravilhoso! — respondo, sentindo minha felicidade genuína por ela atravessar a voz.
— Ele preparou tudo com tanto carinho, Kira… Era o pôr do sol, flores, e ele até tocou nossa música no violão. Foi perfeito…
A voz dela se embarga um pouco, de pura emoção.
— Você merece tudo isso e muito mais, irmãzinha. Estou tão feliz por você.
Conversamos por mais alguns minutos, ela me conta detalhes sobre o anel, sobre como se sente. Falo o quanto estou orgulhosa e mal posso esperar para ser sua dama de honra. Por fim, ela desliga com um “te amo” emocionado.
Permaneço com o celular na mão por alguns segundos após a ligação terminar. O silêncio ao meu redor é quase gritante agora.
Levanto-me e caminho até o espelho na sala. Olho para mim mesma, com a mesma expressão que me vejo tantas vezes, mas hoje há algo diferente.
Alina sempre foi uma romântica incorrigível, mas eu… bem, eu me tornei o oposto. Desde que cheguei à América, tinha sonhos de conquistar minha independência, de construir uma vida onde eu não dependesse de ninguém para ser feliz. Mas, no fundo, sei que essa decisão de seguir sozinha não nasceu apenas do desejo de ser forte, nasceu também de uma dor antiga.
Meus pensamentos se voltam para ele. Sergei. Meu amigo de infância, que um dia foi tudo para mim… e, de repente, foi o que mais me machucou. É engraçado como o coração humano pode transformar carinho em ferida. Ele não me traiu de propósito, mas quebrou a confiança que eu havia colocado nele de maneira irremediável. E, depois disso, eu decidi que o amor não era mais para mim.
Eu suspiro, forçando um sorriso ao ver meu reflexo no espelho. Minhas mãos alisam os fios claros do meu cabelo, e vejo nos meus próprios olhos um brilho determinado.
— Vamos focar nos seus estudos, Kira. — Digo com firmeza. — Você vai ser a melhor psicóloga que já existiu na América!
Dessa vez, meu sorriso é sincero. Porque, sim, eu tenho uma missão maior. Quem sabe, um dia, o amor volte a fazer sentido… mas hoje? Hoje é o meu sonho que fala mais alto.
✲ ✲ ✲
O telefone ainda está em minha mão, a linha já cortada, mas parece que o eco da voz de Amélia continua reverberando na minha mente.
— Noah, Olívia decidiu que quer morar com você. É definitivo.
As palavras dela ficaram gravadas, como um carimbo incandescente na minha alma. Minha menininha. Minha Olívia. Finalmente.
Por um momento, a emoção me invade com tanta força que sinto meu coração acelerar. Vou tê-la aqui, sob meu teto, na minha rotina. Não vou mais depender de ligações e viagens de férias. Mas logo a enxurrada de sentimentos é seguida por uma onda de incertezas.
Me encosto na cadeira e respiro fundo. Minha casa… nossa casa… precisa ser diferente. Não é apenas uma mansão moderna e impessoal, é um lar que precisa acolher uma adolescente de 19 anos. Ela não vai querer paredes frias de vidro e uma decoração minimalista como eu gosto. Penso em um quarto com almofadas coloridas, prateleiras com livros, talvez algumas plantas. Dou uma risada nervosa. Desde quando eu sei o que uma adolescente precisa?
Levo a mão à nuca e fecho os olhos por um instante. Minha mente corre solta. Como vou lidar com isso? Ser um CEO de uma multinacional exige cada segundo da minha atenção, mas criar uma adolescente… isso é outro nível de desafio. Penso em como seria mais fácil se eu tivesse alguém ao meu lado.
Uma mulher.
O pensamento é abrupto e me pega de surpresa. Uma presença que equilibrasse as coisas, que conhecesse nuances que eu jamais entenderia. Mas não há ninguém.
Solto um suspiro longo e cansado. Não posso me dar ao luxo de pensar em romances, não depois de tudo que aconteceu.
Amélia…
O nome dela é um fantasma que às vezes ainda me persegue. Foi uma paixão que começou quente e rápida como um incêndio… e terminou em cinzas frias e um divórcio doloroso. Ela era bonita, charmosa e envolvente, mas será que eu a amei de verdade? Ou fui simplesmente enfeitiçado por algo que parecia perfeito aos olhos do mundo?
Meu peito aperta com a lembrança das discussões, das mentiras e da distância que se instalou entre nós muito antes do fim oficial. Eu me afastei para não me destruir e ela seguiu em frente sem olhar para trás.
Mas agora, isso não importa mais. Minha vida inteira está focada na empresa e na fusão com os coreanos. Cada decisão, cada reunião, cada acordo… tudo para consolidar o legado dos Fitzgerald. Mas nada disso se compara ao que sinto ao imaginar minha filha entrando pela porta da frente.
Minha menininha.
Respiro fundo, permitindo-me um sorriso breve e esperançoso. Ela está voltando. Não vou ser perfeito, mas vou tentar. Vou aprender o que for preciso para ser um bom pai.
O que eu não sei , e nem poderia prever, é que minha vida está prestes a mudar de um jeito que nenhuma reunião ou estratégia de negócios poderia antecipar.
Saio da sala de reuniões com um suspiro aliviado. A fusão com os coreanos avança e, embora cada detalhe ainda precise ser minuciosamente analisado, sinto que as peças estão finalmente se encaixando. Passo pela recepção e aceno para a equipe, enquanto meu celular vibra com a ligação que estou esperando.— Noah Fitzgerald.— Senhor Fitzgerald, aqui é o Blake, do estúdio de arquitetura. Estamos no local e queríamos confirmar algumas mudanças para o quarto da sua filha.Minha expressão suaviza ao ouvir isso. Olivia finalmente vai voltar para casa.— Pode falar, Blake.— A estrutura principal está concluída, mas gostaria de saber se deseja algo personalizado, talvez uma área de estudo integrada ou um espaço para hobbies.Olho para a parede de vidro que dá vista para a cidade enquanto a voz do arquiteto me preenche. Imagino Olívia sorrindo ao ver tudo pronto.— Sim, quero algo confortável e funcional. Ela vai precisar de um canto para se concentrar. Além disso, coloquem alguns detalhes mode
Saí da empresa em um ritmo frenético, checando o relógio no painel do carro enquanto atravessava a cidade. Los Angeles estava particularmente caótica, mas nada poderia me atrasar naquele dia. A matrícula de Olívia precisava ser entregue na Universidade da Califórnia, e eu havia prometido cuidar disso pessoalmente. Era o mínimo que eu podia fazer, já que ela estava prestes a deixar sua vida na Europa para morar comigo.Estacionei na vaga mais próxima que encontrei e saí do Volvo, ajustando meus óculos escuros. O sol brilhava forte, mas o vento trazia um frescor típico da costa. Caminhei a passos largos, minha mente já pensando nos documentos e na reunião marcada com a reitoria. O campus estava agitado, jovens por toda parte, conversando, rindo, alguns com fones de ouvido. Por um instante, pensei no que me aguardava com Olívia e senti um misto de ansiedade e alegria.Foi então que senti o impacto.Uma jovem trombou comigo e quase derrubou a pasta que eu segurava. Ela estava de cabeça ba
Em seu escritório, estava Noah. Sentado em sua poltrona de couro, tomando uma dose de sua bebida preferida, após uma reunião cansativa com alguns acionistas do ramo. Dava uma pausa na pilha de papéis que estavam em sua mesa e nos pensamentos que borbulhavam a todo vapor. Um certo amigo o acompanhava. O moreno bebericava seu whisky quando resolveu interromper o silêncio do ambiente.— Quer dizer que sua filha vai morar com você? — James perguntou, com um sorriso malicioso estampando seu rosto. — Sim! Estou tão feliz! — o loiro fala, com os olhos brilhando e um sorriso de orelha a orelha. — Estou morrendo de saudades da minha pequena. Se bem que… ela já está com dezenove anos. Nossa! Como o tempo passa rápido… O moreno sorri para o amigo, mas a expressão que faz os pêlos do amigo se eriçarem e o loiro faz uma careta, já esperando pelo pior:— Diz logo o que se passa nessa sua mente pervertida, Barker.— Noah, pensa comigo. Sua filha está indo para a universidade. Certamente ela vai
Olivia desembarcou em Chicago e desceu pela escada rolante do aeroporto, procurando seu pai com os olhos. Rondava o ambiente até que seu olhar aterrissou em uma cabeleira loira familiar. Sorriu largo ao se deparar com a figura alta que segurava uma placa com os dizeres: “Seja bem vinda, princesinha do papai”. Seu pai realmente não mudava, pensou a loira. Continuava carinhoso, do jeito mais brega e fofo. A alegria era tanta que saiu correndo e se jogou nos braços do pai, como se tivesse oito anos outra vez. Ali, nos braços dele, era como se o tempo não tivesse passado. Sentindo o calor do mais velho, ela fechou os olhos e sorriu. Ela continuava sendo a mesma garotinha de sempre.— Papai! Que saudade de você! — A loira sorriu, passando os olhos pela roupa do pai. Ele vestia uma calça jeans e uma camisa polo branca. Nos pés, um par de tênis e pendurado na gola, um clássico Ray Ban preto. Ele estava, na linguagem dos jovens, descolado. Por um momento, a garota se perdeu em seus pensamen
No dia seguinte, Olivia saiu cedo para seu primeiro dia de aula. Estava animada, não só com o novo ambiente, mas para inaugurar o "presentinho" que seu pai havia lhe dado, um Atlas Cross Sport, um carrão de primeira qualidade. Um pequeno exagero do qual provavelmente sua mãe reclamaria, mas ela estava achando o máximo. "Se não puder mimar minha própria filha, de que vale mesmo ter todo esse dinheiro?", foi o argumento do mais velho. Para a loira tudo aquilo era empolgante demais para negar. Chegando lá, mesmo contra a sua vontade, acabou chamando a atenção de todos ao redor. Afinal, a loira era dona de uma beleza única e dirigia um carro possante e bem chamativo. A Fitzgerald ia ingressar na faculdade de psicologia, era um sonho desde criança. A mente humana sempre foi algo que a fascinou e essa afinidade só cresceu ainda mais depois do divórcio dos pais, em que ela vivenciou de perto aquela situação e as consequências dela. Foi um período difícil para menor, mas com a ajuda da Dra.
O ambiente aconchegante e intimista os envolveu assim que entraram. Uma música suave tocava ao fundo, e o cheiro de especiarias preenchia o ar. Se sentaram e depois que os pedidos foram feitos, a Fitzgerald resolveu iniciar a conversa:— Papai… — Noah olha a filha com atenção. — É que… pensei em dar uma festa de boas vindas aos meus colegas lá em casa nesse final de semana. Nossa casa é bem grande, tem uma área com piscina, salão de jogos… seria divertido conhecer as pessoas da minha turma melhor. Pode ser? O mais velho se surpreendeu com a pergunta. Não imaginava que teria de lidar com isso tão rápido. Ao se deparar com os olhinhos pidões da filha, suavizou a expressão: — E como seria a organização dessa festa, minha filha? Posso pedir alguma ajuda à sua tia Savannah. Ela trabalha com isso e é a melhor nesse ramo. — Olivia riu dos exageros do pai, mas achou fofa sua tentativa de mimá-la:— Pai, não preciso de uma promoter pra organizar uma festa de calouros, pelo amor de Deus —
Chegado o grande dia, Olívia estava eufórica. Tudo estava organizado, o DJ já estava no local e Noah tinha providenciado um profissional para ficar responsável pela churrasqueira e pelos petiscos. O bar que foi montado já estava abastecido. Ele tinha conversado com a filha sobre o cuidado com o excesso de bebidas e pedido para que não houvesse brincadeiras próximo à piscina. Noah chegaria em casa ao fim da tarde e passaria direto para o seu quarto de maneira discreta. Queria deixar os mais jovens à vontade. James até tentou participar da festinha, mas Noah, conhecendo o amigo pervertido, o dispensou logo.Olivia já estava vestida com o seu biquíni azul claro. A parte de cima era de cortininha e embaixo tinha lacinhos laterais. Uma saída de banho branca, meio transparente, complementava o look. Estava de um lado para o outro, recebendo os convidados, ansiosa. Kira, sua mais nova e fiel amiga, estava com ela desde cedo. A loira vestia um short jeans curto e uma blusa de malha branca. Iv
A festa rolava solta, regada a muita bebida, dança e pegação. Os pensamentos de Kira estavam longe, especificamente no loiro que invadiu o quarto da amiga. Ela resolveu por um minuto esquecê-lo e se divertir. Acabou tendo que aguentar as investidas de Ethan a festa inteira e se rendeu a uns beijos quentes com ele, na tentativa de conter sua excitação. Verdade seja dita, o capitão do time não era nada mal. No outro dia estavam já de pé, prontas para a faculdade. A festa havia sido numa quinta feira e as duas estavam sentadas à mesa, comendo e conversando. Na verdade, apenas Olivia tagarelava, comentando como a festa tinha sido maravilhosa e que Henry tinha uma pegada incrível. Kira, por sua vez, estava ansiosa para ver novamente o loiro, mas nada disse a respeito. Esperava o momento de perguntar à amiga sobre o homem quando, de repente, um cheiro amadeirado surgiu no recinto e a morena fechou os olhos, se entregando àquelas sensações que lhe davam um frenesi. O perfume trazia uma memó