O som de pratos quebrando mais uma vez ecoou em meus ouvidos.Fiquei na sala ao lado do sofá do meu padrasto e respirei fundo antes de entrar na cozinha.- Roger, o que você está fazendo?- Hambúrguer! - Priscila gritou, saindo de trás do balcão em seu pequeno avental e batendo nas minhas pernas com um abraço.Acariciei o cabelo de Priscila, longos como o meu.- Meu subchef está certo! Você não pode sentir o cheiro, querida? Esta costumava ser uma das suas refeições favorita. - mamãe disse, ela adora mimar os netos.Ela e Roger chegaram a pouco da ilha e ficariam alguns dias com a gente.- Eu posso sentir o cheiro muito bem - eu respondi - E você pode por favor ter mais cuidado com a porcelana?- Desculpe por isso, querida - Roger respondeu, com seu rosto corando em meio aos traços de maquiagem teimosa do início do dia, que a Priscila fizera nele.Eu sei que eles se sentem mal... como posso ficar brava com eles?Depois do incidente das crianças brincando na rua enquanto ele dormia, ma
Depois de conseguir engolir o hambúrguer mais desleixado da minha vida, eu me inclinei para trás na minha cadeira.Ainda não conseguia entender como um homem que viveu durante anos em uma ilha paradisíaca praticamente sozinho não sabia cozinhar. Confesso que fato da minha filha de quatro anos estar envolvida não melhorava em nada.Entendia menos ainda porque ele insistia tanto em cozinhar. Dona Marly é uma ótima cozinheira, sem contar que temos um bom chefe à disposição, mas quando Roger está na cozinha elas nem ousa entrar.Da cabeceira da mesa de jantar, eu tinha uma visão completa da minha família: Roger, com molho escorrendo pela camiseta do seu time de futebol preferido, minha linda esposa com molho na bochecha, minha filha com molho... em todos os lugares e meu filho com molho nas mãos.Minha sogra era a mais limpa no grupo, se manteve intacta.- Obrigado pelo jantar, Roger. Isso foi... inesquecível.Patrícia me lançou um olhar, mas Roger dispensou o elogio com um aceno gracioso
Minha garganta estava seca, era quase fisicamente doloroso admitir, mas era verdade. Eu nunca tive esse problema de confiança, mas algo estava diferente agora, talvez eu tenha ficado muito sensível depois que me tornei pai, a vontade de ser sempre melhor para os meus filhos me deixou desse jeito.Patrícia segurou meu rosto, me forçando a olhar em seus olhos, quando o fiz, vi amor puro.- Otávio está tão orgulhoso de você. Você não pode sentir isso? - Um sorriso tocou seus lábios, eu sabia o que ela estava pensando.Nossos filhos. Nossa vida.Foi apenas uma pequena parte disso e eu consegui segurar esse anjo de mulher, minha alma gêmea.Patrícia estava certa, meu avô ficaria orgulhoso. Eu a beijei, precisando mostrar a ela o amor que eu não podia dizer em voz alta.- Eu te amo - eu sussurrei, beijando seu rosto, seu lóbulo da orelha, seu pescoço, sua clavícula...Tudo o que importava para mim estava bem aqui em meus braços. A respiração de Patrícia vacilou e todo o meu corpo ficou vivo
Nova Era.Daqui de cima, eu podia ver como a escola ganhou esse nome, quando você chega ao topo do campus montanhoso, a vista realmente era interminável.Aquilo transmitia algo novo, espontâneo e especial.A colina era ladeada por montanhas com milhares de árvores espalhadas à nossa frente, e o rio Conectado que brilhava ao sol.Beatriz abriu os braços para a vista, quase a apresentando para nós. Sorri para Bruno ao meu lado, ele estava franzindo a testa para o prédio de ciências, que parecia uma cabana de madeira.Na verdade, toda a escola parecia um acampamento de verão.Mas pelo menos não parece uma grande escola internacional como a Harvard.Pessoalmente, eu trocaria o abafamento de ferro forjado pelo esplendor natural.Até Breno e Priscila estavam apreciando a vista.- Paula, o que é isso? - Priscila perguntou, apontando para uma caverna na montanha próxima que eu não tinha notado.A funcionária de admissões incentivou as crianças a chamá-la pelo primeiro nome, o que fez Bruno re
O prédio era rústico por fora, com certeza, mas assim que entramos, saltamos décadas no futuro.No centro do átrio redondo havia um enorme telescópio, olhei para cima para descobrir que todo o teto era feito de vidro.A luz do sol entrava e nuvens fofas passavam por cima.- Isso é bom - admitiu Bruno, me lançando um sorriso tímido.Peguei a mão dele, uma pequena oferta de paz, e segui o balbucio animado da voz de Breno.- Uau! Todo este equipamento é real! Não é como as coisas de bebê que tenho em casa!Bruno e eu entramos em uma das salas do salão principal.- Você gosta de aprender sobre ciência em casa? - Paula perguntou.- Eu conduzo experimentos sempre que posso - Breno respondeu sinceramente.- Ele é um grande nerd. Eu sou a estrela de cinema da família, você poderia dizer - Priscila se intrometeu.- Isso não é legal, Priscila - eu repreendi.- Somos todos muito nerds na Nova Era porque adoramos aprender - Paula disse, transformando o deboche em algo para se orgulhar.- E també
- Vamos demorar apenas alguns minutos! - Paula disse para mim e Patrícia antes de fechar a porta da sala de entrevistas.Por fim, o último passo. Uma "conversa com os jovens estudiosos", e então poderíamos deixar esse lugar hippie para trás.- Não foi incrível? - Patrícia perguntou animadamente, agarrando meu braço.- Uh, o quê?- Paula com Breno e Priscila! Ela poderia ter gritado com eles, mas em vez disso, ela ensinou Priscila a compartilhar!- Você quer dizer com o cavalo?- Sim, com o cavalo! - Patrícia respondeu, nas eu não entendia por que ela estava tão animada.- Eu pensei que era apenas normal - eu joguei de volta. - Eu não entendo por que você gosta deste lugar. É tão... hippie e sem graçaEu fiz uma careta enquanto olhava ao redor do prédio de escritórios.Estava em uma casa velha, e parecia muito caseiro, nada profissional.Caralho, a secretária tinha um cobertor de crochê pendurado no topo de sua cadeira de escritório. Eu estava prestes a apontar isso para Patrícia, mas
Seus olhos procuraram os meus, e eu estendi a mão, puxando-a em meus braços.- Você está certa - eu disse a ela.Essas costumavam ser as palavras mais difíceis para eu dizer, mas eu estava mudando, mesmo que às vezes mudasse muito devagar, manter a paz com Patrícia era prioridade. - Eu sinto muito.- Obrigada - ela suspirou. Então ela me abraçou de volta relaxando em meus braços.- Se você acha que esta escola é certa para Breno e Priscila, eu confio em você - eu disse sendo sincero.- Eu acho que é - ela respondeu, e suspirou com semblante abatido. Senti a pressão ser liberada entre nós e eu beijei sua cabeça. A tensão nos deixou e pela primeira vez em uma semana ou mais, me senti em paz, porque finalmente, eu estava sozinho com ela.- Eu gostaria que pudéssemos fugir, só você e eu - eu sussurrei.- Oh, Deus, eu também - ela concordou - Você nem sabe o quanto, mas até que possamos, eu preciso saber que você está ao meu lado.Eu me afastei, levan
Não dormi bem naquela noite, minha cabeça estava a mil por hora com as adversas possibilidades.Mas um pensamento específico continuou se repetindo na minha cabeça:E se encontrássemos a escola perfeita para nossos filhos... e imediatamente arruinássemos suas chances de frequentar?!Enquanto Bruno dormia tranquilo e profundamente ao meu lado, eu não conseguia parar de imaginar o que a funcionária de admissões deveria ter pensado sobre nós.Apenas outro casal rico clássico?Pai desconfiado, mãe tensa?Um casal descontrolado que acha que pode tudo em qualquer lugar?Bruno e eu mal olhamos um para o outro durante todo o tour e então estávamos avançando o sinal vermelho no final a ponto de ter relações íntimas em um lugar como aquele.Devemos ter parecido completamente tóxicos e desestruturados, mesmo que em meu coração eu soubesse que tudo estava errado, eu não conseguia parar minha mente.Então, decidi aceitar a derrota do sono.Verifiquei meu telefone e fiquei encantada ao encontrar me