Luana
— Manhêeeeeee... Vou ficar com a Sr.ª Veiga, a Alice me chamou para almoçar com eles. Tudo bem? — pergunto para minha mãe, que se arruma para ir ao supermercado com meu pai.
— Tudo bem, filha, mas não vai dar trabalho, assim que retornarmos, te chamo. Não pretendemos demorar.
— Obrigada, mamãe, te amo!
— Também te amo, filha!
Me despeço dos meus pais com um beijo e um aperto toma conta do meu peito, sinto algo que não consigo entender, sigo pensativa ao encontro da minha amiga, que me aguarda próximo a piscina.
— Vamos pra sala, os meninos já estão esperando para jogarmos videogame, vamos jogar contra eles e tenho certeza que vamos arrasar — diz confiante.
Não respondo. Apenas caminho em silêncio ao seu lado e apesar de gostar muito da companhia dos meus amigos, não consigo relaxar completamente.
Rodrigo irmão de Alice e Beto seu melhor amigo, já estão com o vídeo game ligado prontos para iniciar a partida.
Jogamos garotos contra garotas e pela primeira vez depois de uns minutos conseguimos a vantagem no jogo — mal sabem eles que pegamos todas as dicas disponíveis na internet!
— Crianças, o almoço já está na mesa, venham antes que esfrie — dona Roberta, mãe da Alice fala ao abrir a porta do quarto.
— Poxa, mãe! Agora que estamos ganhando? — Alice fala manhosa tentando convencer a mãe.
— Sim, agora, lavem as mãos e venham! — dona Roberta fala com tom bravo, mas abre um sorriso depois.
***
Depois do almoço sentamos na varanda para jogar conversa fora, pois os garotos não queriam continuar o jogo por estarem perdendo, mas Alice que não consegue ficar muito tempo sem fazer nada, se levanta e sai correndo nos deixando sem entender o que essa maluquete iria fazer, não muito tempo depois, ela volta com uma garrafa fazia nas mãos rindo.
— Vamos brincar de verdade ou desafio! — Alice intima. — Com algumas regras: quem a garrafa apontar faz a pergunta e todos são obrigados a responder, caso alguém escolha desafio, a pessoa que perguntou escolhe a prenda a ser paga.
— Agora ficou perigoso esse jogo, temos que torcer para nunca cair na Ali, ela vai aprontar com a gente — digo olhando para os meninos.
Os meninos se entreolham e dão de ombros, sabendo que tentar discutir ou argumentar com Alice, é desperdício de tempo.
Ela se posiciona rodando a garrafa e segundos depois ela para em minha frente.
— E aí Luana, o que quer saber? — Alice diz animada.
— Deixa eu ver... o que vocês esperam do futuro? Ou melhor, vocês acreditam que daqui a alguns anos ainda seremos amigos? — digo depois de pensar alguns segundos.
— Nossa, Luana, é para ser uma brincadeira divertida! Pode perguntar qualquer coisa e você vem com essa pergunta? — Ali diz inconformada. — Que coisa mais sem graça!
— Sempre seremos amigos. — Beto é o primeiro a responder. — E eu vou ser o engenheiro mais gostoso da cidade — ele ergue a camisa e mostra o abdômen —, olha o meu tanquinho e com muitas mulheres ao meu redor. Ah... vou ter muito dinheiro.
— Agora minha vez — Alice comenta ao meu lado. — Eu vou estar formada, trabalhando em um dos escritórios do papai e é lógico que estaremos juntos... faremos parte da mesma família, eu casada com o Beto e você, Luana, com o Rodrigo! — Sinto meu rosto corar nesse momento, não sei de onde minha amiga tira essas ideias — Vai ser tão lindo! Vamos ter um casamento duplo — Ela suspira enquanto coloca a mão no peito com o olhar sonhador.
— Tá ficando louca, Alice! — Rodrigo responde irritado. —Eu nunca vou me casar, imagina eu, Rodrigo Veiga, amarrado a uma mulher! Nem que o inferno congele!!!
— Olha o que tá falando, hein, irmãozinho! Um dia vou lembrar essa conversa e vamos ver quem vai estar com a razão. — Alice fala debochada...
Para evitar que os irmãos discutam, giro a garrafa que, para o nosso azar, cai virada para Alice que abre um sorriso enorme.
— Há! Agora quero ver, vamos começar com a Luana. — Seu olhar agora é indecifrável e ao mesmo tempo sei que ela vai aprontar para mim. — Se tivesse que escolher agora, um namorado, quem seria o felizardo, Beto ou Rodrigo?
Fuzilo Alice com o olhar, pois tenho certeza que ela se lembra do dia que eu estava olhando uma foto de Rodrigo.
— Vamos Luana, afinal de contas, não deve ser tão complicado responder. — Alice provoca diante do meu silêncio.
— Acho que escolheria o Rodrigo — falo baixo e cubro meu rosto com as mãos logo em seguida, envergonhada.
— Não falei que teremos casamento duplo? — Alice diz gargalhando, tirando minhas mãos do meu rosto, enquanto os garotos trocam olhares em silêncio.
Quando Alice segura a garrafa novamente para girar, ouvimos uma buzina, e Beto se levanta rapidamente.
— Meu pai chegou. Tchau, meninas. Falou aí, Rodrigão.
— Que pena! Agora a brincadeira estava ficando interessante. — Alice fala desanimada.
— Alice! Filha! Pode vir aqui um pouco. — A mãe de Alice grita, chamando-a.
— Juro que não foi minha culpa. — Alice vai ao encontro da mãe resmungando.
Eu e Rodrigo ficamos sozinhos, ele levanta do local onde está sentando-se ao meu lado.
— Também escolheria você. — Meu coração b**e acelerado, abaixo os olhos sem coragem de olhar para ele. — Quando formos adultos, formados, prometo que se casar vou escolher você e seremos muito felizes.
Tomo coragem e subo meu olhar para o seu rosto, nos encaramos durante algum tempo, até que um movimento na garagem seguidos por um grito da dona Roberta chama nossa atenção.
Corremos para a garagem e logo avisto dois policiais conversando com o senhor Clóvis, pai de Rodrigo, enquanto dona Roberta chora abraçada a ele.
Assim que nos vê, eles param de falar, os policiais olham triste em minha direção
— Luana, querida... — senhor Clóvis diz baixo, assim que me aproximo com Rodrigo — precisamos conversar! — Rodrigo segura minha mão firme, olho para ele e depois para seu pai, novamente meu coração acelera, porém ao contrário do que aconteceu minutos atrás, a sensação não é boa. Meus olhos se enchem de lágrimas e começam a cair sem permissão. — Querida, venha aqui ao meu lado — senhor Clóvis diz. — Aconteceu um acidente, bateram no carro dos seus pais e meu anjo, eu sinto muito.
— NÃO! NÃO! NÃO! NÃO QUERO SABER!!! — Me solto de Rodrigo e saio correndo para a casa dos fundos, onde moro com meus pais com os olhos turvos devido as lágrimas.
Entro em casa e não há barulho da minha mãe na cozinha ou a TV ligada no canal de esportes favorito do meu pai, vou até o quarto deles e é possível sentir no ar o cheiro do perfume preferido da minha mãe.
Sento no chão, próximo a cama e choro baixinho, não quero pensar na possibilidade de nunca mais ver meus pais, que eles não vão me ver entrar na faculdade, que nunca mais terei o colo do papai, que nunca mais vou ouvir minha mãe contando histórias de quando tinha minha idade.
Deito encolhida e não sei quanto tempo fico ali, até que ouço alguns passos, me coração b**e forte na esperança de ver meus pais entrando e falando que tudo não passou de um engano, que estão bem e não estavam envolvidos no acidente...
Anos depois...Luana— Não acredito que você me convenceu a fazer essa viagem! — falonovamente para Alice.— Relaxa, Luana. Você anda trabalhando e estudando demais, quando foi a última vez que relaxou de verdade, sem entrar em tópicos como tendões, órgãos, diagnósticos e outros tantos termos que vocês usam.Sorrio ao me lembrar de uma reunião que fiz em nosso apartamento alguns dias atrás com alguns amigos médicos. Alice ficou toda animada achando que seria uma festa de arromba, porém sempre surgia conversas sobre os plantões que havíamos realizado e os diagnósticos de alguns casos. Alice se entediou tanto que se trancou no quarto, depois de trinta minutos de reunião.Depois do acidente que matou meus pais, senhor Clóvis entrou com o pedido de minha tutela e passei a morar definitivamente com eles. O pai de Alice também investiu todo o dinheiro do seguro de vida dos meus pais e assumiu minha educação, me tratando como uma filha. Dona Roberta, se recusou a ficar na mesma casa, pois tu
LuanaJá é fim de tarde e o restaurante está tranquilo ainda, sentamos próximos ao pequeno palco e depois de fazer nossos pedidos, conversamos sobre o tempo que ficamos sem nos ver.Depois de algum tempo, a banda começa a tocar, algumas pessoas se arriscaram em pequenos passos acompanhando a batida da música, percebo que Ali fica um pouco agitada e se levanta de repente.— Vamos dançar! — fala puxando a mão do Beto, que também não entende a atitude dela, mas cede sorrindo.— O que deu nela? — pergunta Rodrigo.— Não sei, coisas de Alice — respondo e ao olhar na direção da entrada do restaurante, vejo Daniel com uma garota pendurada em seu pescoço se aproximando da nossa mesa, ele balança a cabeça, cumprimentando Rodrigo.— De onde você conhece o Daniel? — pergunto curiosa.— O conheci em um jogo de futebol, temos alguns amigos em comum. Ficamos conversando após a partida e descobri que ele adquiriu uma casa de praia que fica ao lado da nossa, aquela que pertencia à família da Dona Isa
RodrigoChegamos em casa rápido e as meninas vão direto para o quarto.Ando de um lado para o outro na sala, imaginando o que pode ter acontecido para que Luana tenha essa reação, Beto me observa atentamente.— Cara, porque você não conversa com ela? — Beto indaga.— Do que você está falando? — digo sem entender onde ele quer chegar.— Luana, cara... tô falando da Luana! Vocês precisam conversar, sei que você gosta dela e não é sentimento de irmão. — Paro ao ouvir o que Beto diz. De onde ele tirou essa ideia?— Não sei do que você está falando! Nós crescemos juntos, quero protegê-la, eu quero...— Você a ama. Precisa parar de negar o que sente, faz tempo que tenho notado que você está diferente, e tenho certeza que essa mudança tem nome e sobrenome — Beto fala me interrompendo, seu olhar é sério. Ele é meu melhor amigo e me conhece muito bem, nunca consegui esconder nada dele.— Eu não sei quando comecei a me sentir assim, ela é tudo pra mim, mas me vê como seu irmão, eu não suporto,
RodrigoDroga!... Como sou estúpido!As ondas se desmancham na areia, levanto os olhos para o céu e os raios do sol ofuscam minha vista. Não deveria ter voltado a esse assunto, mas ela precisa saber que não me esqueci da promessa!— Rodrigo! Vem jogar com a gente! — Alice grita jogando o frisbee em minha direção.— Vou dar um mergulho — respondo devolvendo o disco.Preciso me acalmar, não me conformo de ter deixado Luana triste, ainda estou aprendendo a controlar minha impulsividade, pois muitas vezes magoo as pessoas ao meu redor.Não sei quanto tempo fiquei na água, quando volto a me juntar a eles encontro todos conversando animadamente, sinto os olhos de Luana fixos em mim.— Está tudo bem? — Luana pergunta, me oferecendo uma cerveja.— Sim, só estou pensando... — O que não era mentira, preciso descobrir o que está acontecendo com a gente e terá que ser hoje. Decido que logo após o jantar vou chama-la para conversar.***Luana— Vou matar meu irmão! Ele não podia ter convidado alg
LuanaAcordo com o quarto iluminado pela luz solar, pois me esqueci de fechar as cortinas, me espreguiço na tentativa de acordar os músculos do corpo e finalmente arrumo coragem para levantar.Entro no banheiro sorrindo, não consigo acreditar em tudo o que está acontecendo, nunca imaginei que Rodrigo pudesse sentir algo por mim, toco algumas vezes meus lábios e ainda posso sentir o toque dos seus lábios sobre os meus, sorrio enquanto me lembro da sua declaração. Coloco um biquíni verde e saio distraída, quase tendo um ataque cardíaco ao sair e dar de cara com Alice sentada em minha cama.— Bom dia, cunhadinha! Dormiu bem? — Não consigo dizer nada, pois ela mesmo responde. — Claro que dormiu bem! Depois da noite de ontem...— Bom dia, Ali. Quer me matar coração logo cedo? E não sei do que você está falando. — Tento ficar séria, mas ao me lembrar dos beijos de Rodrigo um sorriso se abre imediatamente em meu rosto. Não tenho como negar, pois, foi tudo muito especial para mim.— Ahhh, Lua
RodrigoMinha princesa tem o dom das palavras, tudo o que disse nos emocionou plenamente, e sei que é recíproca a importância de nossa amizade, nos melhores e nos piores momentos sempre fomos a fortaleza um para o outro.Depois que terminamos de cantar, arrumamos as coisas para voltamos para casa. Amanhã nossa rotina volta ao normal, queria poder parar o tempo e ter um pouco mais de tempo com Luana.— Esse final de semana passou tão rápido — diz enquanto nos sentamos na varanda. — Queria poder ficar mais tempo com você.— Eu também — digo puxando-a para o meu colo —, mas infelizmente temos que voltar, quero ver se consigo ir te ver daqui uns quinze dias, antes minha agenda está cheia. Apesar do escritório ser do ramo empresarial, estou com alguns casos da área cível para finalizar e algumas audiências marcadas nos próximos dias, vai ficar impossível sair da cidade — digo enquanto passo a mão em seus cabelos.— Entendo — Luana diz passando os braços ao redor do meu pescoço e me dando um
LuanaApós responder o e-mail do hospital, passando meus dados para o Congresso, ainda sem acreditar que consegui uma bolsa para participar. Meu celular apita, avisando que recebi mais uma mensagem e agora é de Rodrigo.Oi amor, tudo bem? Já tô com sdds...Sorrio ao ver sua mensagem.Tudo sim... tbm estou com saudades!Resolvo ligar, quero contar sobre o e-mail, mas ao mesmo tempo meu coração se aperta, pois começamos a namorar ontem e já ficarei algum tempo fora do Brasil, não sei como ele irá reagir.— Oi amor, boa noite! — Oi... como foi a viagem?— Tudo correu bem e como foi o almoço com meus pais?— Bem, vou dormir na casa deles essa noite.— Aconteceu alguma coisa? — pergunta preocupado.— Não. Alice disse que tinha algo para resolver e que não teria hora para voltar, então resolvi ficar aqui, não queria ficar sozinha em casa, mas quer saber? Acho que o "algo a resolver" se chama Daniel.— Tomara que eles se acertem, pelo pouco que conheço, ele parece ser gente boa. Estou com s
LuanaNunca imaginei que ficar longe do Rodrigo seria tão difícil, faz mais de quinze dias que nos vimos, quinze longos dias que senti seus beijos.Nos falamos todos os dias por telefone, mas meu desejo é tê-lo ao meu lado, o que me ajuda a superar a distância e a saudade é a correria dos últimos dias. Além da correria no hospital, estou ajudando Roberta com a organização do leilão beneficente, esse ano ela quer que após o leilão haja um baile.Me arrumo para finalmente fazer a prova final da residência, e se tudo der certo, no próximo ano poderei assumir meu cargo como efetiva. Acordei antes de o relógio despertar e agora tento colocar algo no estômago mesmo sabendo que isso é quase impossível, tamanha minha ansiedade. Meu celular vibra indicando que recebi uma mensagem, abro um sorriso involuntário ao ver o nome de Rodrigo na tela. Boa sorte, meu amor! Tenho certeza que a vaga já é sua. Te amo estou com sdds... bjsTem como não amar cada vez mais esse homem? Mesmo de longe ele pare