Capítulo 2

Luana

Já é fim de tarde e o restaurante está tranquilo ainda, sentamos próximos ao pequeno palco e depois de fazer nossos pedidos, conversamos sobre o tempo que ficamos sem nos ver.

Depois de algum tempo, a banda começa a tocar, algumas pessoas se arriscaram em pequenos passos acompanhando a batida da música, percebo que Ali fica um pouco agitada e se levanta de repente.

— Vamos dançar! — fala puxando a mão do Beto, que também não entende a atitude dela, mas cede sorrindo.

— O que deu nela? — pergunta Rodrigo.

— Não sei, coisas de Alice — respondo e ao olhar na direção da entrada do restaurante, vejo Daniel com uma garota pendurada em seu pescoço se aproximando da nossa mesa, ele balança a cabeça, cumprimentando Rodrigo.

— De onde você conhece o Daniel? — pergunto curiosa.

— O conheci em um jogo de futebol, temos alguns amigos em comum. Ficamos conversando após a partida e descobri que ele adquiriu uma casa de praia que fica ao lado da nossa, aquela que pertencia à família da Dona Isaura.

— Ah, interessante... — Penso o quanto esse final de semana poderá sair do nosso controle, nem quero imaginar o que Alice faria quando descobrir que Daniel é nosso vizinho.

— E de onde você o conhece? — me pergunta curioso.

— Da faculdade. Temos alguns colegas em comum, mas não temos contato, para falar a verdade, faz mais de dois anos que não nos vemos, ele se formou um ano depois de Alice. — Não entro em muitos detalhes, essa história não é minha para ser contada.

— Encontrei com ele mais cedo e o convidei para se juntar a nós amanhã à noite.

— Sinto que esse final de semana vai ser bem agitado! — Comento baixo imaginando como minha amiga vai reagir quando souber que companhia para o jantar.

— O que você disse? — pergunta com um olhar curioso.

— Nada. Me conta como vão as coisas no escritório? Ainda está saindo com... qual o nome daquela ruiva mesmo?

— Rebeca — Rodrigo responde, direto como sempre. — As coisas no escritório estão boas, fechamos com mais dois clientes, e não estou mais saindo com a Rebeca, agora me fale de você?

— Continuo estudando e fazendo vários plantões, quero muito conseguir ser efetivada no hospital. — Tomo um pouco do meu milk-shake, enquanto Rodrigo me olha nos olhos.

— E? — insiste Rodrigo.

— E mais nada. 

— Não está saindo com ninguém? — Toca meus dedos e sinto minha pele queimar, enquanto nossos olhos estão fixos.

Ali e Beto voltam para a mesa fazendo com que Rodrigo se afaste.

— Sonhando acordada? Terra chamando Luana! — Alice zomba da minha distração. — Vamos dançar? Hoje é sexta e a boate deve estar muito animada. E vocês — fala apontando para seu irmão e Beto — Se quiserem fazer outra coisa, não se prendam e nem esperem por nós, sabemos nos cuidar.

— Nós vamos com vocês — anuncia Rodrigo se levantando.

— Ok, vamos então que a diversão está apenas começando, estou tão feliz por estarmos juntos novamente! — Alice parece realmente alegre e o fato de ter visto Daniel já foi esquecido por ela.

— Vou pegar o carro, me esperem na saída — diz Rodrigo.

***

Vamos para a boate “Black Power”, o dono é um amigo de faculdade do Beto.

A pista está muito animada, dançamos durante muito tempo, sempre sob o olhar protetor de Rodrigo que recusa toda mulher que o chama para dançar.

— Preciso ir ao banheiro — falo colocando a mão no ombro de Alice.

— Vou com você   responde e sai me puxando pela pista.

— Os garotos estão na deles hoje, você percebeu? O Rodrigo recusou dançar com várias mulheres e seu fiel escudeiro não sai do lado dele. — minha amiga fala rindo alto, demonstrando estar um pouco embriagada.

— E você já bebeu demais, não é? — digo em tom de repreensão.

— Poxa... vamos nos divertir, você é muito certinha Luana e não estou fazendo nada demais, só estou feliz.

Quando voltamos para a pista, avisto Rodrigo conversando com uma mulher no bar, ela está com a mão em seu ombro, sussurrando algo que faz com que ele sorria, sinto algo queimando dentro de mim, algo que nunca havia sentido.

— Você tem razão, vamos nos divertir — falo puxando minha amiga para o meio da pista.

Após alguns minutos Alice sinaliza que está indo ao bar, não demora muito e ela retorna com duas cervejas e me entrega uma, estou com tanta sede que viro todo o líquido de uma vez.

Enquanto dançamos como se não houvesse amanhã, começa a tocar Gilr On Fire, da Alicia Keys, nós adoramos essa música, sempre a cantamos em casa.

“Ela é só uma garota e está em chamas

Mais quente que uma fantasia

Solitária como uma rodovia

Ela está vivendo em um mundo que está em chamas

Sentindo a catástrofe, mas ela sabe que pode voar para longe

Oh, ela tem os pés no chão

E está incendiando

Oh, ela tem a cabeça nas nuvens

E não irá voltar atrás”

Um rapaz começa a dançar comigo, ele se aproxima e pergunta ao meu ouvido se pode me pagar uma bebida. Não me sinto muito confortável com sua proximidade. Olho para Alice que faz um sinal com a mão me incentivando a curtir o momento, olho para o rapaz e assinto, ele mais do que depressa segura minha mão e me conduz até o bar.

A luz está mais clara, sendo possível vê-lo com mais clareza, e ele é muito bonito, cabelos castanhos claros e olhos pretos. Ele me entrega uma cerveja e sorri, mostrando que também tem um lindo sorriso.

— Você é muito bonita — afirma, fazendo-me corar. — Qual o seu nome?

— Luana. Obrigada pelo elogio — falo sem graça.

— Está sozinha? — pergunta curioso.

— Não, com uns amigos. — Levo minha cerveja a boca e sinto seu gosto amargo, nunca fui fã de cerveja e nem sei o motivo de ter aceitado, pois havia acabado de tomar uma latinha, e devido a sede, mal havia sentido o gosto.

— Eu também, meu nome é Paulo, apesar de não ter perguntado.

— Ah! me desculpa é que deixei minha amiga sozinha na pista e ela já bebeu um pouco demais.

— Tudo bem, vamos voltar então — fala. — Posso te acompanhar?

— Acho que sim, quer dizer, claro — respondo confusa, depositando a latinha sobre o balcão, largando-a pela metade

Alice estava no mesmo lugar e conversava animadamente com um rapaz loiro, com pinta de surfista.

Sempre fui fraca para bebidas, sinto o álcool fazendo efeito em meu corpo, e isso me faz me soltar cada vez mais.

Paulo coloca as mãos em minha cintura me puxando para mais perto, fecho os olhos e me deixo levar pela música.

Sinto a respiração de Paulo próximo ao meu rosto, e ele deposita lentamente um beijo em minha face, fazendo meu corpo se arrepiar, porém ao invés de prazer sinto medo, abro meus olhos e não é mais Paulo que está comigo, porém devido as luzes da pista de dança, não consigo identificar a pessoa, ele se aproxima novamente e tenta me beijar, coloco as mãos em seu peito e o empurro, saindo correndo sem olhar para trás.

Rodrigo

Estou sentado no bar, observando minha irmã e Luana dançando na pista, quando uma cliente do escritório aparece chamando minha atenção, o que me deixa surpreso pela coincidência de termos viajado para a mesma cidade.

— Dr. Rodrigo... como você está?

— Bem e você, Luciana?

— Bem, mas estarei melhor depois de vencermos da audiência de separação — diz colocando a mão em meu ombro e sussurrando em meu ouvido. — Conseguir com que aquele filho da mãe, me dê uma pensão bem gorda. — Sorrio ao notar o quanto está bêbada, Luciana procurou nosso escritório quando descobriu a traição de seu marido e agora quer tudo o que tem direito.

— Cuidado com o que fala, lembra do que acertamos em nossa última reunião — afirmo, lembrando que devido ao que minha cliente anda espalhando nas redes sociais e em todos eventos que participa, ela pode ser processada por calúnia e difamação, aliás, do jeito que anda a briga entre ela e o ex, é certo que ele fará isso mesmo.

— Ok doutor, já me calei. Vou voltar para meus amigos, a gente se vê por aí. – Despede-se e caminha devagar, quase não se aguentando em pé.

Quando volto meu olhar para a pista Luana não está com Alice, vejo somente minha irmã dançando com um cara loiro, não demora muito e Lu se junta a eles acompanhado por um homem que não conheço

O tal cara se aproxima demais de Luana para o meu gosto e algo diferente se agita em mim diante dessa cena, em um impulso pego meu copo e viro o líquido de uma vez. — Era para ser eu dançando com ela, mais ninguém... — Penso enquanto sinto o ardor da bebida em minha garganta, a vontade que eu tenho é de ir até ela encher a cara dele de porrada por ousar em tocar em minha Luana.

Respiro fundo tentando me acalmar enquanto procuro por Beto tentando desviar minha atenção de Luana e o encontro conversando com duas garotas, de repente um tumulto na pista de dança chama minha atenção.

— Mas que diabos... — Vejo Luana sair correndo na multidão, seguida por Alice, corro atrás delas gritando por Luana.

Quando consigo alcançá-las na saída da boate, vejo Luana tremendo e minha irmã tentando acalmá-la sem sucesso.

— O que aconteceu? — pergunto e sem dar tempo de ouvir a resposta puxo Luana para meus braços, abraçando-a enquanto passo a mão em suas costas. — Alice, avisa o Beto que estamos indo pra casa. — Peço para minha irmã. —  Calma querida, não vou deixar nada de mal te acontecer — sussurro em no ouvido de Luana.

— O que aconteceu com ela, cara? — Beto pergunta assustado ao se aproximar junto com Alice.

— Não sei — respondo. — Vamos para casa, ela precisa descansar.

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