Luana
Já é fim de tarde e o restaurante está tranquilo ainda, sentamos próximos ao pequeno palco e depois de fazer nossos pedidos, conversamos sobre o tempo que ficamos sem nos ver.
Depois de algum tempo, a banda começa a tocar, algumas pessoas se arriscaram em pequenos passos acompanhando a batida da música, percebo que Ali fica um pouco agitada e se levanta de repente.
— Vamos dançar! — fala puxando a mão do Beto, que também não entende a atitude dela, mas cede sorrindo.
— O que deu nela? — pergunta Rodrigo.
— Não sei, coisas de Alice — respondo e ao olhar na direção da entrada do restaurante, vejo Daniel com uma garota pendurada em seu pescoço se aproximando da nossa mesa, ele balança a cabeça, cumprimentando Rodrigo.
— De onde você conhece o Daniel? — pergunto curiosa.
— O conheci em um jogo de futebol, temos alguns amigos em comum. Ficamos conversando após a partida e descobri que ele adquiriu uma casa de praia que fica ao lado da nossa, aquela que pertencia à família da Dona Isaura.
— Ah, interessante... — Penso o quanto esse final de semana poderá sair do nosso controle, nem quero imaginar o que Alice faria quando descobrir que Daniel é nosso vizinho.
— E de onde você o conhece? — me pergunta curioso.
— Da faculdade. Temos alguns colegas em comum, mas não temos contato, para falar a verdade, faz mais de dois anos que não nos vemos, ele se formou um ano depois de Alice. — Não entro em muitos detalhes, essa história não é minha para ser contada.
— Encontrei com ele mais cedo e o convidei para se juntar a nós amanhã à noite.
— Sinto que esse final de semana vai ser bem agitado! — Comento baixo imaginando como minha amiga vai reagir quando souber que companhia para o jantar.
— O que você disse? — pergunta com um olhar curioso.
— Nada. Me conta como vão as coisas no escritório? Ainda está saindo com... qual o nome daquela ruiva mesmo?
— Rebeca — Rodrigo responde, direto como sempre. — As coisas no escritório estão boas, fechamos com mais dois clientes, e não estou mais saindo com a Rebeca, agora me fale de você?
— Continuo estudando e fazendo vários plantões, quero muito conseguir ser efetivada no hospital. — Tomo um pouco do meu milk-shake, enquanto Rodrigo me olha nos olhos.
— E? — insiste Rodrigo.
— E mais nada.
— Não está saindo com ninguém? — Toca meus dedos e sinto minha pele queimar, enquanto nossos olhos estão fixos.
Ali e Beto voltam para a mesa fazendo com que Rodrigo se afaste.
— Sonhando acordada? Terra chamando Luana! — Alice zomba da minha distração. — Vamos dançar? Hoje é sexta e a boate deve estar muito animada. E vocês — fala apontando para seu irmão e Beto — Se quiserem fazer outra coisa, não se prendam e nem esperem por nós, sabemos nos cuidar.
— Nós vamos com vocês — anuncia Rodrigo se levantando.
— Ok, vamos então que a diversão está apenas começando, estou tão feliz por estarmos juntos novamente! — Alice parece realmente alegre e o fato de ter visto Daniel já foi esquecido por ela.
— Vou pegar o carro, me esperem na saída — diz Rodrigo.
***
Vamos para a boate “Black Power”, o dono é um amigo de faculdade do Beto.
A pista está muito animada, dançamos durante muito tempo, sempre sob o olhar protetor de Rodrigo que recusa toda mulher que o chama para dançar.
— Preciso ir ao banheiro — falo colocando a mão no ombro de Alice.
— Vou com você responde e sai me puxando pela pista.
— Os garotos estão na deles hoje, você percebeu? O Rodrigo recusou dançar com várias mulheres e seu fiel escudeiro não sai do lado dele. — minha amiga fala rindo alto, demonstrando estar um pouco embriagada.
— E você já bebeu demais, não é? — digo em tom de repreensão.
— Poxa... vamos nos divertir, você é muito certinha Luana e não estou fazendo nada demais, só estou feliz.
Quando voltamos para a pista, avisto Rodrigo conversando com uma mulher no bar, ela está com a mão em seu ombro, sussurrando algo que faz com que ele sorria, sinto algo queimando dentro de mim, algo que nunca havia sentido.
— Você tem razão, vamos nos divertir — falo puxando minha amiga para o meio da pista.
Após alguns minutos Alice sinaliza que está indo ao bar, não demora muito e ela retorna com duas cervejas e me entrega uma, estou com tanta sede que viro todo o líquido de uma vez.
Enquanto dançamos como se não houvesse amanhã, começa a tocar Gilr On Fire, da Alicia Keys, nós adoramos essa música, sempre a cantamos em casa.
“Ela é só uma garota e está em chamas
Mais quente que uma fantasia
Solitária como uma rodovia
Ela está vivendo em um mundo que está em chamas
Sentindo a catástrofe, mas ela sabe que pode voar para longe
Oh, ela tem os pés no chão
E está incendiando
Oh, ela tem a cabeça nas nuvens
E não irá voltar atrás”
Um rapaz começa a dançar comigo, ele se aproxima e pergunta ao meu ouvido se pode me pagar uma bebida. Não me sinto muito confortável com sua proximidade. Olho para Alice que faz um sinal com a mão me incentivando a curtir o momento, olho para o rapaz e assinto, ele mais do que depressa segura minha mão e me conduz até o bar.
A luz está mais clara, sendo possível vê-lo com mais clareza, e ele é muito bonito, cabelos castanhos claros e olhos pretos. Ele me entrega uma cerveja e sorri, mostrando que também tem um lindo sorriso.
— Você é muito bonita — afirma, fazendo-me corar. — Qual o seu nome?
— Luana. Obrigada pelo elogio — falo sem graça.
— Está sozinha? — pergunta curioso.
— Não, com uns amigos. — Levo minha cerveja a boca e sinto seu gosto amargo, nunca fui fã de cerveja e nem sei o motivo de ter aceitado, pois havia acabado de tomar uma latinha, e devido a sede, mal havia sentido o gosto.
— Eu também, meu nome é Paulo, apesar de não ter perguntado.
— Ah! me desculpa é que deixei minha amiga sozinha na pista e ela já bebeu um pouco demais.
— Tudo bem, vamos voltar então — fala. — Posso te acompanhar?
— Acho que sim, quer dizer, claro — respondo confusa, depositando a latinha sobre o balcão, largando-a pela metade
Alice estava no mesmo lugar e conversava animadamente com um rapaz loiro, com pinta de surfista.
Sempre fui fraca para bebidas, sinto o álcool fazendo efeito em meu corpo, e isso me faz me soltar cada vez mais.
Paulo coloca as mãos em minha cintura me puxando para mais perto, fecho os olhos e me deixo levar pela música.
Sinto a respiração de Paulo próximo ao meu rosto, e ele deposita lentamente um beijo em minha face, fazendo meu corpo se arrepiar, porém ao invés de prazer sinto medo, abro meus olhos e não é mais Paulo que está comigo, porém devido as luzes da pista de dança, não consigo identificar a pessoa, ele se aproxima novamente e tenta me beijar, coloco as mãos em seu peito e o empurro, saindo correndo sem olhar para trás.
Rodrigo
Estou sentado no bar, observando minha irmã e Luana dançando na pista, quando uma cliente do escritório aparece chamando minha atenção, o que me deixa surpreso pela coincidência de termos viajado para a mesma cidade.
— Dr. Rodrigo... como você está?
— Bem e você, Luciana?
— Bem, mas estarei melhor depois de vencermos da audiência de separação — diz colocando a mão em meu ombro e sussurrando em meu ouvido. — Conseguir com que aquele filho da mãe, me dê uma pensão bem gorda. — Sorrio ao notar o quanto está bêbada, Luciana procurou nosso escritório quando descobriu a traição de seu marido e agora quer tudo o que tem direito.
— Cuidado com o que fala, lembra do que acertamos em nossa última reunião — afirmo, lembrando que devido ao que minha cliente anda espalhando nas redes sociais e em todos eventos que participa, ela pode ser processada por calúnia e difamação, aliás, do jeito que anda a briga entre ela e o ex, é certo que ele fará isso mesmo.
— Ok doutor, já me calei. Vou voltar para meus amigos, a gente se vê por aí. – Despede-se e caminha devagar, quase não se aguentando em pé.
Quando volto meu olhar para a pista Luana não está com Alice, vejo somente minha irmã dançando com um cara loiro, não demora muito e Lu se junta a eles acompanhado por um homem que não conheço
O tal cara se aproxima demais de Luana para o meu gosto e algo diferente se agita em mim diante dessa cena, em um impulso pego meu copo e viro o líquido de uma vez. — Era para ser eu dançando com ela, mais ninguém... — Penso enquanto sinto o ardor da bebida em minha garganta, a vontade que eu tenho é de ir até ela encher a cara dele de porrada por ousar em tocar em minha Luana.
Respiro fundo tentando me acalmar enquanto procuro por Beto tentando desviar minha atenção de Luana e o encontro conversando com duas garotas, de repente um tumulto na pista de dança chama minha atenção.
— Mas que diabos... — Vejo Luana sair correndo na multidão, seguida por Alice, corro atrás delas gritando por Luana.
Quando consigo alcançá-las na saída da boate, vejo Luana tremendo e minha irmã tentando acalmá-la sem sucesso.
— O que aconteceu? — pergunto e sem dar tempo de ouvir a resposta puxo Luana para meus braços, abraçando-a enquanto passo a mão em suas costas. — Alice, avisa o Beto que estamos indo pra casa. — Peço para minha irmã. — Calma querida, não vou deixar nada de mal te acontecer — sussurro em no ouvido de Luana.
— O que aconteceu com ela, cara? — Beto pergunta assustado ao se aproximar junto com Alice.
— Não sei — respondo. — Vamos para casa, ela precisa descansar.
RodrigoChegamos em casa rápido e as meninas vão direto para o quarto.Ando de um lado para o outro na sala, imaginando o que pode ter acontecido para que Luana tenha essa reação, Beto me observa atentamente.— Cara, porque você não conversa com ela? — Beto indaga.— Do que você está falando? — digo sem entender onde ele quer chegar.— Luana, cara... tô falando da Luana! Vocês precisam conversar, sei que você gosta dela e não é sentimento de irmão. — Paro ao ouvir o que Beto diz. De onde ele tirou essa ideia?— Não sei do que você está falando! Nós crescemos juntos, quero protegê-la, eu quero...— Você a ama. Precisa parar de negar o que sente, faz tempo que tenho notado que você está diferente, e tenho certeza que essa mudança tem nome e sobrenome — Beto fala me interrompendo, seu olhar é sério. Ele é meu melhor amigo e me conhece muito bem, nunca consegui esconder nada dele.— Eu não sei quando comecei a me sentir assim, ela é tudo pra mim, mas me vê como seu irmão, eu não suporto,
RodrigoDroga!... Como sou estúpido!As ondas se desmancham na areia, levanto os olhos para o céu e os raios do sol ofuscam minha vista. Não deveria ter voltado a esse assunto, mas ela precisa saber que não me esqueci da promessa!— Rodrigo! Vem jogar com a gente! — Alice grita jogando o frisbee em minha direção.— Vou dar um mergulho — respondo devolvendo o disco.Preciso me acalmar, não me conformo de ter deixado Luana triste, ainda estou aprendendo a controlar minha impulsividade, pois muitas vezes magoo as pessoas ao meu redor.Não sei quanto tempo fiquei na água, quando volto a me juntar a eles encontro todos conversando animadamente, sinto os olhos de Luana fixos em mim.— Está tudo bem? — Luana pergunta, me oferecendo uma cerveja.— Sim, só estou pensando... — O que não era mentira, preciso descobrir o que está acontecendo com a gente e terá que ser hoje. Decido que logo após o jantar vou chama-la para conversar.***Luana— Vou matar meu irmão! Ele não podia ter convidado alg
LuanaAcordo com o quarto iluminado pela luz solar, pois me esqueci de fechar as cortinas, me espreguiço na tentativa de acordar os músculos do corpo e finalmente arrumo coragem para levantar.Entro no banheiro sorrindo, não consigo acreditar em tudo o que está acontecendo, nunca imaginei que Rodrigo pudesse sentir algo por mim, toco algumas vezes meus lábios e ainda posso sentir o toque dos seus lábios sobre os meus, sorrio enquanto me lembro da sua declaração. Coloco um biquíni verde e saio distraída, quase tendo um ataque cardíaco ao sair e dar de cara com Alice sentada em minha cama.— Bom dia, cunhadinha! Dormiu bem? — Não consigo dizer nada, pois ela mesmo responde. — Claro que dormiu bem! Depois da noite de ontem...— Bom dia, Ali. Quer me matar coração logo cedo? E não sei do que você está falando. — Tento ficar séria, mas ao me lembrar dos beijos de Rodrigo um sorriso se abre imediatamente em meu rosto. Não tenho como negar, pois, foi tudo muito especial para mim.— Ahhh, Lua
RodrigoMinha princesa tem o dom das palavras, tudo o que disse nos emocionou plenamente, e sei que é recíproca a importância de nossa amizade, nos melhores e nos piores momentos sempre fomos a fortaleza um para o outro.Depois que terminamos de cantar, arrumamos as coisas para voltamos para casa. Amanhã nossa rotina volta ao normal, queria poder parar o tempo e ter um pouco mais de tempo com Luana.— Esse final de semana passou tão rápido — diz enquanto nos sentamos na varanda. — Queria poder ficar mais tempo com você.— Eu também — digo puxando-a para o meu colo —, mas infelizmente temos que voltar, quero ver se consigo ir te ver daqui uns quinze dias, antes minha agenda está cheia. Apesar do escritório ser do ramo empresarial, estou com alguns casos da área cível para finalizar e algumas audiências marcadas nos próximos dias, vai ficar impossível sair da cidade — digo enquanto passo a mão em seus cabelos.— Entendo — Luana diz passando os braços ao redor do meu pescoço e me dando um
LuanaApós responder o e-mail do hospital, passando meus dados para o Congresso, ainda sem acreditar que consegui uma bolsa para participar. Meu celular apita, avisando que recebi mais uma mensagem e agora é de Rodrigo.Oi amor, tudo bem? Já tô com sdds...Sorrio ao ver sua mensagem.Tudo sim... tbm estou com saudades!Resolvo ligar, quero contar sobre o e-mail, mas ao mesmo tempo meu coração se aperta, pois começamos a namorar ontem e já ficarei algum tempo fora do Brasil, não sei como ele irá reagir.— Oi amor, boa noite! — Oi... como foi a viagem?— Tudo correu bem e como foi o almoço com meus pais?— Bem, vou dormir na casa deles essa noite.— Aconteceu alguma coisa? — pergunta preocupado.— Não. Alice disse que tinha algo para resolver e que não teria hora para voltar, então resolvi ficar aqui, não queria ficar sozinha em casa, mas quer saber? Acho que o "algo a resolver" se chama Daniel.— Tomara que eles se acertem, pelo pouco que conheço, ele parece ser gente boa. Estou com s
LuanaNunca imaginei que ficar longe do Rodrigo seria tão difícil, faz mais de quinze dias que nos vimos, quinze longos dias que senti seus beijos.Nos falamos todos os dias por telefone, mas meu desejo é tê-lo ao meu lado, o que me ajuda a superar a distância e a saudade é a correria dos últimos dias. Além da correria no hospital, estou ajudando Roberta com a organização do leilão beneficente, esse ano ela quer que após o leilão haja um baile.Me arrumo para finalmente fazer a prova final da residência, e se tudo der certo, no próximo ano poderei assumir meu cargo como efetiva. Acordei antes de o relógio despertar e agora tento colocar algo no estômago mesmo sabendo que isso é quase impossível, tamanha minha ansiedade. Meu celular vibra indicando que recebi uma mensagem, abro um sorriso involuntário ao ver o nome de Rodrigo na tela. Boa sorte, meu amor! Tenho certeza que a vaga já é sua. Te amo estou com sdds... bjsTem como não amar cada vez mais esse homem? Mesmo de longe ele pare
Alguns dias depois...LuanaOlho no espelho mais uma vez e tenho certeza que escolhi a roupa perfeita, meu vestido é preto com renda vermelha, foi o primeiro vestido que provei, me encantei com ele logo de cara.Estou tão nervosa com o evento que nem me dou conta que não falo com Rodrigo desde cedo, pego o celular e não há mensagens ou ligações, onde será que ele está? Disse que chegaria pela manhã e até agora nada, bufo diante da falta de notícias, estou perdida em pensamentos quando ouço um suspiro atrás de mim.— Está brava, princesa? — Rodrigo está lindo, encostado no batente da porta com a mão no bolso. — Esperando notícias de alguém? — Ele abre um sorriso e os braços ao mesmo tempo em que corro em sua direção.— Você tá bem? — digo analisando-o por inteiro. — Por que não ligou quando chegou?— Cheguei um pouco antes do almoço e sabia que estaria ocupada com a supervisão do buffet do evento, não queria atrapalhar — ele diz indo em direção da sala, vou atrás dele e me deparo com u
LuanaMe aproximo rapidamente antes que os convidados percebam o que está acontecendo.— Oi, Beto — cumprimento meu amigo, e falo baixo — Tira sua acompanhante daqui antes que eu pule no pescoço dela, graças a Deus ninguém viu o escândalo que essa louca está fazendo! — Me viro para a mulher que olha para Ágata com fogo nos olhos.— Querida, desculpe o inconveniente... no próximo salão teremos serviços de spa para os convidados, tenho certeza que eles podem arrumar seu cabelo!— Muito obrigada... — ela responde toda educada, nem parece a louca que estava gritando com Ágata agora a pouco.— Espero que sejam tomadas as devidas providências a respeito do que aconteceu, não quero ter o desprazer de cruzar com essa empregadinha durante o jantar. — Suspiro.— Senhora... — falo com ela— Senhorita Janaína Maurer — responde —, mas pode me chamar de Janaína, pelo que vejo você conhece o Beto— Sim... nos conhecemos, Janaína — digo olhando feio para o Beto. — Me acompanhe, por favor. — Peço para