Anabella tomava seu café da tarde na pequena cozinha, depois de ter ido na padaria comprar um real de pão e um pacote pequeno de pó de café.
"Esse pão parece que é de manhã, duro e seco" pensava a jovem enquanto terminava seu café da tarde.
Ouviu batidas na porta e uma voz conhecida fez com que revirasse os olhos.
"Não acredito nisso"— Pois não, senhor Joaquim — referiu-se ao dono da casa onde morava de aluguel.
— Anabelle você pode adiantar do mês que vem? — de longe Bella conseguiu observar seus olhos vermelhos, certamente estava drogado como das outras vezes.
— Não posso, faz duas semanas que paguei o aluguel deste mês. - disse direta ignorando a cara de contragosto que Joaquim fez.
— Está bem menina, estava precisando.
— Claro! E a propósito é Anabella, com licença.
Fechou a porta sem dar tempo de o senhor responder.
"Mais era só o que me faltava, se não aguenta sustentar vício é só parar, pede ajuda, mas tente parar. Todos sabem que ele só pede dinheiro para usar drogas" pensou enquanto terminava de lavar o copo usado. Secou as mãos e checou o horário, 18:20 hora certa para seguir rumo ao trabalho.
Outra vez ouviu-se batidas na porta, franziu o cenho contrariada.
"Espero que não seja cobrança de novo, não vejo a hora de ter minha casinha, pode demorar, mas irei ter"
Ao abrir a porta deparou-se com seu ex namorado Diogo, o rapaz insistente não aceitava o fim que Bella deu no relacionamento de quase um ano. Muito ignorante e machista foi mostrando seu lado agressivo, fazendo a jovem recuar por trazer lembranças de quando morava ainda com o pai que se descontrolava quando bebia demais, mesmo fazendo tratamento no AA, não conseguia se manter sóbrio levando a ter recaídas e descontando a raiva na jovem.
Agora seu ex estava ali com uma cara de poucos amigos insistindo para que Bella voltasse com ele.— Diogo entenda que nosso relacionamento acabou, eu não quero uma pessoa como você na minha vida. — Falou trancando a porta da casa e indo para o ponto de ônibus, provavelmente iria chegar atrasada no restaurante.
— Eu sou o melhor pra você Ana, não vê que te amo — Disse segurando o braço de Bella fazendo-a parar e emitir um gemido de dor.
— Me larga Diogo, está me machucando!
— Desculpa amor, por favor aceita então minha carona até o restaurante, prometo não tocar mais no assunto.
Mesmo desconfiada a jovem aceitou, visto que seu ônibus tinha acabado de passar quando foi segurada pelo rapaz e demoraria mais uma hora para que outro passasse.
Diogo não tocou no assunto como prometido, porém assim que estacionou o carro em frente ao estabelecimento onde Bella trabalhava voltou a insistir. Impaciente a jovem saiu do veículo e quando estava prestes a entrar foi segurada novamente, agora com um tom de voz mais alto e raivoso o rapaz declarou:
— Presta atenção Ana, se não ficar comigo, não haverá outro ou outra, sou capaz de acabar com a sua vida. — Seus olhos estavam fixos na menina, seus dedos apertando seu braço sem nenhuma delicadeza.
Diogo não aceitava a sexualidade de Bella, e isso era um motivo de brigas constantes.— Você está me ameaçando? — Perguntou encarando seus olhos escuros e depois desviou o olhar em volta do local, várias pessoas assistia a cena ignorando por ser um casal, não fariam nada a respeito.
— Eu posso saber o que está acontecendo aqui?
Camille chefe de Anabella, perguntou demonstrando sua irritação.
"Droga, to ferrada" pensou a jovem.
Quando Diogo ouviu a voz firme de Camille, soltou imediatamente a jovem. Ele conhecia bem o trabalho que a gerente fazia fora do restaurante e no fundo temia.
— Isso é um aviso Ana — Entrou no carro e saiu cantando pneu.
Bella olhou para sua patroa que estava de braços cruzados esperando uma justificativa para o que acabara de ver.
— Dona Camille, desculpa pelo transtorno, não foi minha intenção. — Tentou argumentar, tinha a cabeça baixa.
— Me poupe de suas explicações Anabella, que não venha se repetir. Agora vai, você já está atrasada. — respondeu liberando passagem para a jovem.
"Que mulher grossa"
Passava das 22 horas quando o restaurante começou a esvaziar, Bella terminava de atender uma mesa quando viu os olhares de Camille lhe acompanhar.
"É hoje que eu estou na rua" pensou
— Dona Camille, eu posso fazer hora extra para compensar o inconveniente de mais cedo — Comentou receosa ao se aproximar.
— Você é a funcionária que mais faz hora extra! Como disse anteriormente que não se repita e tudo fica como está. — A gerente falou sem encarar os olhos de Bella, sua mente gritava "cuidado" sempre que estava perto demais da jovem.
— Eu faço pra me manter como posso.
— Não precisa justificar — Camille, cortou sua fala. Para ela quanto menos sabesse da vida de sua funcionária era melhor. Sentia que Anabella poderia ser um problema, este o qual evitaria o máximo que pudesse. Não queria agir com grosseria, mas achava que assim evitaria intimidades.
— Com licença — Bella se retirou da recepção praguejando aquela mulher mal amada, porem linda aos seus olhos.
"O que tem de grossa, tem de atraente" falou para si.
As onze horas foi para o ponto de ônibus, distraída ouvindo suas músicas anos 80, não percebeu quando o carro de Diogo estacionou próximo a ela. Apenas notou quando esse buzinou várias vezes chamando sua atenção. Não querendo mais problemas continuou sentada no banco atenta para os ônibus que passavam.
Tudo que Bella não queria era ter que discutir novamente, ela notava que a cada vez que uma briga surgia ficava pior a comunicação entre eles.Mesmo sendo muito apegada ao ex namorado tinha certeza que foi a melhor decisão ter terminado. Porém ainda gostava dele, então evitaria qualquer tipo de carinho ou bajulação, para não ter uma recaída.
Diogo, insatisfeito por ter sido ignorado foi até Bella, com a conversa de sempre que iria melhorar, ser diferente, menos agressivo, que só agia assim na hora da raiva mais que há amava muito. Se não fosse a experiência frustrada de todas as vezes que deu essa chance a Diogo, certamente Bella iria ceder outra vez, mas estava determinada a não reatar este relacionamento abusivo.
Ignorando a falação do rapaz, assim que seu ônibus apontou fez sinal e entrou deixando-o vermelho de raiva.
"De problemas já basta a minha vida" pensou.
Chegando em casa foi direto tomar um banho, debaixo do chuveiro ficava se questionando em como sua vida mudou em tão pouco tempo. A mãe falecida, o pai alcoólatra desde sempre, a mudança que teve que fazer para não continuar apanhando do pai quando chegava bêbado em casa a culpando de que a morte de sua mãe era por sua causa, a bolsa de estudo que não conseguiu ganhar para fazer faculdade, o namoro que passou de saudável para abusivo de repente, ou talvez sempre fosse tóxico e nunca percebeu.
Com todos os acontecimentos se permitiu chorar, fazendo assim suas lágrimas misturar com a água quente que caía sobre seu corpo. Bella, por fora mostrava uma força fora do comum, mas quando estava sozinha no seu mundo, desabava em lágrimas e pedia para que o amanhã fosse um dia melhor.
Bella limpava a casa ao som de - Roxette - tinha gosto pelas músicas da cantora, assim como de outros que são dessa época, quando soube da morte passou semanas ouvindo dia e noite as musicas preferidas.Estava fazendo almoço para deixar tudo pronto antes de sair para trabalhar, optou por fazer um strogonoff, então se deu conta de que não tinha batata palha e resolveu ir no mercadinho para comprar. No bairro só ouvia falar do estado de seu Joaquim, que passou mal de madrugada de tanto que usou droga. "Infelizmente, é triste" pensou.Quando retornou colocou a comida para esquentar novamente, pegou um prato fundo e se serviu com pouca comida, Bella comia muito pouco fazendo se perceber que estava abaixo do peso, porém isso nada mais era do que seu estado psicológico abalado.Estava distraída almoçando quando seu celular tocou, lhe chamando atenção e pausando a música que tocava via bluetooth, por não esperar nenhuma ligação ficou surpresa ao ver o nome
Ao final do seu expediente Bella olhava preocupada para fora do restaurante, caia uma chuva nada branda logo pensou na sua casa, sempre que chovia ficava inundada só que dessa vez não saberia o que fazer pois sempre quando isso acontecia dormia na casa do ex namorado e sua amiga estaria trabalhando até de manhã. Desta vez teria que dormir no molhado, sua vontade de mudar daquele lugar era grande porém nunca conseguiu achar um aluguel mas em conta, então acabava deixando de lado."Irei me molhar toda, pior que o dia estava ensolarado. Se mamãe tivesse aqui iria ouvir poucas e boas, como "a gente sempre precisa ter uma sombrinha dentro da bolsa, faça chuva ou faça sol" e que irônico hoje é "faça chuva"Bem feito, agora aprende e na próxima não cometa a mesma burrada"Bella estava saindo para fora quando sua chefe a chamou:- Anabella amanha chegue duas horas antes, libero você mais cedo.- Sim Camille, até amanhã.A gerente apenas assentiu
AnabellaAbro os olhos com camille me chamando- Anabella, acorda - sua voz denunciava calma, e seu hálito vinho.E após verificar o local olhar de um lado para o outro e saber que eu estou no quarto, levo meu corpo ao abraço de Camille, não me importei se existe ou não intimidade porque assim como no sonho eu encontrei segurança no calor de tal ato.Ela não parece se importar, suas mãos passeiam pelas minhas costas sobre o tecido fino que me cobre em um vai e vem lento, muito lento que se der continuidade seria capaz de adormecer de novo. Meu rosto esta entre a curva de seu pescoço e o único perfume que sou capaz de inalar é o de sua pele. Seu cheiro é doce, me trazendo junto com as carícias relaxamento.Agradeço mentalmente por estar segura, a frequência de meus sonhos, melhor dizer, pesadelos tem me deixado em estado de pura agonia. Sei q
AndoMeio desligadoEu nem sintoMeus pés no chãoPela caixinha de som soava Marisa Monte - Ando meio desligado - enquanto Camille arrumava casa.OlhoE não vejo nadaEu só pensoSe você me querEu nem vejo a horaDe te dizerAquilo tudoSua voz acompanhava o ritmo da cançãoQue eu decoreiE depois do beijoQue eu já sonheiVocê vai sentir masPor favorNão leve à malEu só quero que você me queiraNão leve à malEstava tão dispersa que não notou a presença de Bella avaliando a mulher a sua frente. Parecia intocável, mas ali na sua frente era só mais um ser humano qualquer, dividindo a melancolia de uma canção que transpirava sentimentos.Camille ao sentir ser vigiada pausou a musica ainda de costas para Bella, e em uma girada rápida captou os olhos castanhos da jovem em si. Sorriu fraco ao perceber que a deixou envergonhada.- Imagino que esta ai tempo suficiente para me ouvir taga
- Eu preciso terminar essa bagunça, por favor vai embora, não temos mais nada para conversar.Bella falava irritada com seu ex namorado, duas horas depois que a jovem foi deixada em casa, Diogo bateu em sua porta. Como se não bastasse a chuva para lhe estressar com todo o estrago feito na noite anterior, se deparava com um homem pegajoso em seus pés, o rapaz desconhecia a palavra não.- Você não pode me expulsar - falou segurando firme os dois braços da jovem - olhe para mim. - gritou.- Eu não sei mais quem é você, ou o que se tornou para ser tão bruto com uma mulher - Bella dizia tentando se desvencilhar das mãos brutas do ex, porem esse transtornado pela raiva apertava mais.- Você me respeite, sempre disse me amar e agora não quer mais? - falou irônico - voce acha que eu sou bobo, quem é a pessoa pela qual me trocou?- Me solta, n&
CamilleEu estou literalmente cansada, como pode estender um aniversário e faze-lo virar noivado? Sem nenhum comunicado antes. Odeio essa falta de comprometimento, de responsabilidade.Meus funcionários não iriam precisar trabalhar tanto, eu mesma adiantaria bastante coisa.Esses últimos dias tem sido meio agitados, quando Mônica deu aquele telefonema senti que estava em meu antigo trabalho, e não posso negar eu amava ser uma agente do FBI, eu amo! Porém o peso no passado, ou a desculpa que eu uso para me colocar como vítima, não me permite voltar para meu ramo, não definitivamente.Eu amava uma mulher que foi tudo para mim. Uma mulher que era simplesmente tudo, tudo que eu já tive de bom nessa vida. Na sacada com minha taça de vinho lembranças vêm e vão, tenho certeza que eu estaria apanhando de Malu se ela me visse nessa situação, uma mulher que é dona de um
Naquela manhã de domingo Bella acordou Se sentindo um pouco indisposta, levou as mãos nas têmporas massageando na tentativa de amenizar o desconforto que sentia. De frente para o espelho se encarava, tinha olheiras, a pele um pouco desidratada, e os cabelos sem o brilho que amava. Decidiu que precisava voltar a ser mais vaidosa, todo o acontecimento do relacionamento a deixou um pouco descuidada, Diogo nunca gostou que ela se arrumasse muito dizia que era para chamar atenção de outros homens, para evitar brigas maiores fazia a vontade dele. E agora uma imagem refletida de si mesma a fazia se sentir envergonhada por tal atitude. Ela mais nova batia de frente com seu pai, e com Diogo baixava a guarda, pensava no quanto o amor poderia ser cruel, se todos falam que o amor é lindo, então ela desconhecia esse sentimento. Única amor que aqueceu seu coração foi o maternal de sua mãe.Pois a caminhar ate a cabeceira da cama e pegar seu celular, várias ligações de Diogo, e mensagens um
A semana estava passando voando, estava sendo cansativo porem satisfatório para Bella. A jovem ficou mais relaxada percebendo que seu ex finalmente estava entendo as coisas sobre eles, e parou de ficar lhe enchendo com ligações e mensagens.Outro ponto que estava sendo bom para ela, era o comportamento de Camille, podia não ser nada para alguns porem para Bella, ter a chefe mais aberta com ela, menos grossa, e sorrindo as vezes em sua direção, significava muito para ela. E mesmo acanhada devolvia os sorrisos que ganhava, fazendo assim ambas criarem uma bolha discreta.Estava dispersa na recepção quando um casal chegou fazendo sua atenção voltar a eles. Ao perceber quem era sorriu, não era um casal e sim o trisal Cavalcanti que sempre jantava no restaurante juntos, ora as duas mulheres, ora o marido e uma de suas esposas, e juntos como agora.- Boa noite Anabella - disse o homem educado.- Boa noite - Bella falou direcionando o olhar para os três em sua frente