O pequeno Orion sorria para mim e balançava suas asinhas enquanto eu fazia cócegas em suas gordurinhas. Ao nosso lado, Matteo nos olhava com um sorriso de lado e com o braço por cima dos meus ombros.
-Ele gosta de você. - Ayla diz de seu lugar no colo de Daren.
-Você demorou tanto tempo para pegar ele que agora o garoto já está quase andando. - Mendo diz rindo e leva uma cotovelada de Eleanor.
-Não seja exagerado!
Eu havia finalmente cedido aos sorrisinhos que o bebê de cabelos escuros lançava para mim. Hesitei por um momento mas respirei fundo e o peguei quando ele estendeu os bracinhos para mim. Foi uma sensação maravilhosa.
-Acha que Aurea vai demorar? - El pergunta.
-Não sei. - Daren diz - Ela disse que tinha algo importante para falar com a gente e que só ia pegar algumas coisas e já estava de volta.
-Parecia sério. - Ayla sussurra.
-Nunca é bo
No começo haviam os deuses, seres perfeitos e imortais que habitavam o mundo que conhecemos hoje. Cada um tinha o poder de criar e controlar algo.Notte, deus da noite, Solis, deusa do sol, e Tenebris, deusa da escuridão e do submundo, eram os primeiros e mais antigos. Notte e Solis eram casados, juntos deram início a genealogia dos deuses, deles vieram Malea e Banhi, deusa da água e o deus do fogo, Caeli e Ila, deus do ar e a deusa da terra, e o belo Chadna, o deus do amor. Malea e Banhi geraram Fiore, a deusa da flora, já Caeli e Ila geraram Promalis, o deus da fauna. Fiore e Promalis geraram Cibetilis, a deusa da fertilidade.Tenebris, Cibetilis e Chadna, não se casaram, mas se relacionavam entre eles. Da relação entre Tenebris e Chadna vieram as bruxas e os demônios, enquanto da relação entre Chadna e Cibetilis vieram as ninfas, as sereias e os feéri
O sol aquece minha face quando saio da caverna escura para o dia claro e quente, ele é bem vindo depois da noite fria e mal dormida. Tiro minha faca da bainha presa à minha coxa direita enquanto apuro os ouvidos, tentando escutar se eles já conseguiram me encontrar.Meses. Tem meses que ouvi falar do fim da guerra contra o rei de Maghdon. Meses que finalmente me vi longe das garras do monstro, bom... Nem tanto. Desde a minha fuga, mais e mais deles continuam vindo, e as últimas bestas conseguiram deixar um estrago bem maior. Coloco a mão na ferida aberta, e de cor estranha, na minha costela.Depois de confirmar que estava sozinha, rasgo um pedaço da túnica e amarro forte sobre o machucado. Uma das coisas que aprendi com o rei foi não demonstrar dor, independente de estar quase me matando. Forço meus pés a continuarem andando. Eu não sei para onde vou, apenas caminho, seguindo o estranho puxão que vem de dentro do meu estômago. Venho seguindo e
Abro meus olhos encontrando-me em uma completa escuridão. Imediatamente detecto que onde quer que eu esteja, não estou sozinha. Não ouso me mexer. Avalio mentalmente quais as minhas chances em um possível combate.-Você está acordada. - Me sobressalto ao ouvir a voz masculina que reverbera por toda escuridão -Eu não sou seu inimigo. - Ela é rouca e parece acompanhada de sussuros.-Por que eu deveria acreditar? - Pergunto, obrigando meus olhos a se acostumarem com a escuridão.-Se eu quisesse matar você... - A voz se aproxima e eu fico em estado de alerta - Eu já teria feito.Apesar do clima tenso, sorrio de lado. Arrogante. Ele claramente está certo, mas eu não diria isso. A escuridão começa a fazer sentido para mim e eu observo uma forma andar de um lado para o outro de frente ao local em que estou deitada. Meu sorriso se alarga quando eu mergulho na escuridão, surgindo atrás do macho alado que me observava. Rapida
Tranco a porta do quarto antes de me dirigir ao banheiro. Há uma enorme banheira no centro do cômodo, eu ligo a torneira enquanto vou até o espelho grande e largo pendurado na parede oposta.O ruído de surpresa que deixa meus lábios é inevitável. Eu não me lembro quando foi a última vez que me vi no espelho, mas eu posso afirmar que essa não é a imagem que eu costumava ver. As mangas longas do suéter em que me foi vestido parecem largas demais para os meus braços, a calça pende de um jeito estranho sobre meu quadril que antes fora largo, meus cabelos longos estão ralos e desbotados, tenho olheiras roxas e fundas, minhas bochechas estão ocas e há um corte em cicatrização na maçã do meu rosto, os olhos verdes parecem sem vida mas eu duvido que alguma vez tivesse sido diferente. Permito que a calça desça até os meus tornozelos e passo o suéter pela cabeça, deixando-o se juntar ao restante da roupa. Não visto nada por baixo.A visão agora me
Seria mentira se eu dissesse que as palavras dele não me deixaram mais calma, mas ao mesmo tempo eu fiquei ansiosa pra mostrar que eu não preciso de proteção. Me levanto do sofá e passo rapidamente por ele, esbarrando em seu braço propositalmente, indo em direção ao quarto. Paro antes de abrir a porta.-Agradeço pelas palavras de conforto e a hospitalidade. Mas... - Abro um sorriso irônico e tiro da manga a adaga que roubei de sua bainha quando passei por ele - Eu não costumo aceitar ofertas de proteção.Me viro a tempo de vê-lo piscando de surpresa e conferindo a bainha, antes de seus lábios formarem um rápido sorriso de lado.-Acho que vou ficar com essa. Por precaução. - Dou uma piscadinha e entro no quarto.Deito novamente na cama, colocando a adaga debaixo do travesseiro e puxo as cobertas até o pescoço. Por um tempo eu apenas fico ouvindo as batidas frenéticas do meu coração, tentando organizar todos os
Matteo não voltou mais no quarto, mas eu também não voltei a dormir. Tive receio de que se dormisse poderia ter pesadelos piores e pudesse atacá-lo outra vez, então me obriguei a ficar acordada.Já era dia quando saí do quarto e me assustei quando o encontrei pelando de febre deitado no sofá. Depois de muita relutância, da parte dele, eu o arrastei até o quarto e o coloquei na cama.Me preocupei que os ferimentos tivessem infeccionado, mas aparentemente seu corpo só estava reagindo a dor extrema que sentiu, os machucados estavam bem.Troquei os curativos e pedi que ele dormisse enquanto eu preparava algo para que pudéssemos comer. Não achei que ele fosse capaz de comer algo além de sopa, e como haviam muitas latas, foi o que fiz.Quando voltei para o quarto ele estava dormindo. Lutei comigo mesma entre deixá-lo dormir ou acordá-lo para comer. A segunda opção venceu, já que eu não sabia quando foi a últim
Nós acabamos de comer em completo silêncio. Eu me obriguei a engolir a sopa, tinha perdido o apetite.-Você não vai tirar os meus pontos.-Por que não? - Afasta a tigela vazia.-Posso fazer isso sozinha.-Eu tenho certeza que sim, mas eu posso te ajudar. - Ele cruza os braços, me encarando - Compensar o que fez por mim.-Eu não fiz nada de mais.-Você cuidou de mim.-Você cuidou de mim primeiro.-Eu não vou forçar você, mas seria mais prudente que outra pessoa fizesse isso. Você pode acabar se ferindo de novo.Matteo respira fundo, se levantando e eu desvio o olhar do seu, observando minhas mãos cheias de cicatrizes e calos. Eu com certeza estou sendo imatura, e ele está certo, mas a ideia de ter outra pessoa observando uma vulnerabilidade minha ainda me apavora. Eu também me levanto, pegando nossas tigelas.<
Chegamos a conclusão de que não seria uma boa ideia eu usar a minha magia até que o feitiço fosse quebrado. Eu continuei esperando por julgamento ou repreensão, porém, recebi conforto e ajuda.A fogueira feita com corpos estala na minha frente, Matteo está ao meu lado, perto o suficiente para que suas asas impessam a neve e o vento de chegar até mim.-Se eles estão te rastreando pela sua magia é provável que estejam a caminho neste exato momento. Nós temos que nos apressar.Eu me viro para encara-lo. Não entendo como ele pode querer me ajudar depois de ver o que eu fiz. Se ele ao menos soubesse que aquilo não foi nem metade do que eu já fui capaz, do que eu sou capaz... Penso em contar tudo de uma vez para ele. Dizer quem eu fui, já que não sei quem eu sou agora. Várias imagens passam pela minha cabeça e o buraco ameaça voltar a me corroer, estremeço quando isso acontece, mas ele logo começa a diminuir quando as asas de