Parte 5...
Camila
— Fascinante? - cruzei os braços. — Você está começando a me irritar, sabia?
— Não sabia que tinha o temperamento esquentado - disse ele, recostando-se novamente no sofá. — Essa informação não me passaram. Agora, me diga, o que você quer saber?
— Quem foi o informante que você colocou para me vigiar? - disparei, sem pensar muito.
Alejandro pareceu avaliar se me responderia ou não, mas acabou cedendo.
— Um dos seus professores da faculdade. Professor Vasquez. Ele me devia favores.
Minha mente girou. Vasquez. O professor de marketing. Ele sempre parecia interessado demais em saber sobre minha vida, perguntando sobre meu futuro, minha família...
— Ele me reportava diretamente sobre seus progressos, seus horários, e qualquer problema que surgisse.
— Você é inacreditável... Isso é errado - murmurei, sentindo um misto de raiva e incredulidade. — Ficar me vigiando.
— Acredite, Camila. Não era só curiosidade. Era proteção.
— Proteção? - minha voz subiu que ficou até fina. — Você chama isso de proteção? Espionar minha vida, usar pessoas próximas de mim para me manipular?
Ele não respondeu imediatamente, apenas me encarou com aquela expressão indecifrável, como se estivesse tentando entender mais sobre mim.
— Eu faço o que é necessário. Sempre - respondeu por fim, a voz firme.
— E espera que eu aceite isso, sem questionar? - gesticulei.
— Não espero que aceite facilmente. Mas você vai aceitar.
Fiquei em silêncio por um momento, tentando processar tudo. Ele parecia que era controlador, teimoso e... Confiante demais. Mas também havia algo nele que me atraía, algo que eu não gostei de admitir.
— Isso ainda não é o suficiente para eu concordar em marcar o casamento agora - disse, quebrando o silêncio.
— Não se preocupe, Camila - ele respondeu, inclinando-se para mais perto. — Eu sou paciente. Mas saiba de uma coisa: o tempo está do meu lado, não do seu. Você só tem poucas semanas para isso.
— Pois bem.. Usarei cada dia que tenho.
— Parece que a liberdade lhe deu asas - ergueu a sobrancelha — Interessante.
— Não é interessante, é a vida - retruquei e tentei levantar, mas ele segurou meu pulso.
— A sua vida já está organizada, bonita.
Eu gostei do “bonita”.
— Ainda não - puxei o pulso — Eu estava organizando, quando você apareceu.
— Em uma boate? - riu de modo cínico.
— Eu tenho direito de estar onde quiser.
— Claro... E por isso você foi onde quis... Agora está na hora de assumir seu papel.
Ouvir isso me deu um frio na barriga. Não pensei que três anos passariam tão rápido. E sendo bem honesta, eu gostei muito de minha vida livre, sem a obrigação de ser a filha de um mafioso e menos ainda esposa de um.
É complicado pra mim e acho que estar aqui em frente a ele, me deixa com medo. Agora as coisas estão começando a andar para o lado que eu não queria.
Eu sabia que não teria uma vida normal, igual às minhas outras colegas de faculdade, mas eu tentei ser livre dentro do que podia.
Não tive contato com outros homens de modo íntimo, porque eu sabia que tinha um impedimento. Não de verdade, porque isso não estava no acordo, mas ainda assim, eu sabia que seria melhor não ultrapassar essa barreira.
A máfia tem alguns valores que ainda são antigos e não vou ser eu quem vai mudar isso. Prefiro deixar para quem tem mais vontade.
Claro que tive alguns poucos encontros, mas nunca passei do ponto, o que deixou cada um dos caras com quem saí, um tanto decepcionados e até irritados. Mas agora sabendo que Alejandro tinha pessoas de olho em mim, até me alegro de não ter ido além.
Sei lá o que poderia ter acontecido.
— Eu não vou marcar nenhuma data agora, Alejandro - levantei, buscando manter um pouco de minha coragem — Ainda tenho direito a duas semanas. Vou aproveitar isso.
— Tudo bem, Camila - ele levantou — Só lembre de que em duas semanas, você vai entrar em uma igreja comigo.
Eu engoli em seco e puxei o ar fundo, mas mantive a pose. Nem sei como, mas o importante é que eu não deixe que ele saiba que me colocou mais um receio nos ombros.
— Ok! Duas semanas.
Me virei e andei forçando a perna, para mancar o menos possível e passei pelos seguranças dele que estava na descida.
— Amiga, o que houve lá em cima? - Malena perguntou — A gente tentou subir, mas aqueles gorilas de terno não deixaram.
Eu dei uma risadinha nervosa e a puxei para o canto.
— Onde estão os rapazes?
— Na pista - ela apontou — Depois que eles quase foram jogados pela escada, decidiram esperar e foram se divertir. Você disse que estava tudo bem.
— Também pensei que estaria.
— E não está?
— Não... - mordi o lábio — Lena, eu preciso de ajuda - segurei suas mãos.
— Ajuda para quê?
— Para escapar de Alejandro Calderón!
Malena ficou de boca aberta e olhos arregalados. Eu sei, entendo o que ela pensa. Alejandro é o Dom da máfia Calderón e pelo pouco que sei dele, ninguém nunca escapou de um acordo feito com a família.
Mas tudo tem uma primeira vez.
********* ***
A música pulsava forte no meu peito, e as luzes coloridas da boate criavam um jogo frenético de sombras e brilhos.
Pessoas dançavam ao nosso redor, corpos se movendo ao ritmo eletrizante, nossos amigos na pista mais embaixo, distraídos.
Mas eu não estava em clima de festa. Malena e eu fomos sentar em um canto, afastadas da pista, fingindo que curtíamos nossos drinks. A tensão entre nós era forte.
— Você tem certeza disso? - Malena perguntou, inclinando-se para perto de mim para que sua voz fosse ouvida em meio à música alta.
— Absoluta. Eu não posso me casar com ele, Malena. Não assim. - minhas mãos tremiam ligeiramente ao redor do copo, e eu evitei o olhar dela. — Preciso sair daqui antes que seja tarde.
— Ele não disse mais nada?
Eu contei a ela minha conversa com Alejandro no piso acima. Malena suspirou, olhando ao redor como se procurasse alguma ameaça invisível. Assim como eu, estava nervosa também.
— Não, só o que eu te falei.
— É um risco enorme, Cami. Você sabe que ele tem olhos em todo lugar... Eu jamais iria imaginar que nosso professor fosse informante.
— É por isso que preciso de você, Malena. Você é a única pessoa em quem eu confio. Sei lá se um dos rapazes não trabalha para ele também? - realmente penso assim agora.
Ela apertou os lábios, claramente lutando contra algo interno. Malena sempre foi cautelosa, especialmente quando o assunto envolvia minha família ou o mundo de Alejandro.
— E pra onde você vai? - ela perguntou, cruzando os braços sobre a mesa.
— Ainda não sei ao certo. Talvez Madrid. Posso usar meu status de estudante pra justificar a viagem. Já estou no fim do curso - dei um gole no meu drink, tentando mascarar o nervosismo. — Mas preciso sair de Valência o quanto antes.
Malena balançou a cabeça, mordendo o lábio inferior.
— Eles vão perceber. Seu pai, Alejandro... Eles não vão aceitar isso de braços cruzados.
Eu senti que ela estava até mais nervosa do que eu.
— Não vou dar a eles outra escolha. Eu não me sinto preparada - meu tom era mais firme do que eu me sentia por dentro. — Alejandro pode ter me vigiado, mas ele não sabe tudo sobre mim. E casamento é algo muito sério.
Ela riu baixinho, mas havia preocupação nos olhos dela.
— Camila, isso é um jogo perigoso. Eles não são homens comuns. Você aceitou o acordo.
— Você acha que não sei disso? - inclinei-me para frente, o som ao nosso redor abafando minha voz. — Mas eu não vou passar o resto da minha vida sendo uma esposa - troféu, Malena. Eu mereço mais do que isso. Eu quero amor.
Ela ficou em silêncio por um momento, observando as pessoas ao nosso redor. Então, se inclinou ainda mais perto.
— Tudo bem. Mas vamos precisar de um plano. E tem que ser bem feito.
— E rápido - completei, olhando para os lados para ter certeza de que ninguém estava prestando atenção em nós.
Malena pensou por um momento, seus dedos tamborilando na mesa.
— O dormitório da faculdade é uma vantagem. Eles não têm controle total sobre o campus, e você pode usar isso ao seu favor.
— E se usarmos a entrega de suprimentos? - sugeri, lembrando-me dos caminhões que entravam regularmente no campus.
— Pode funcionar. - ela acenou com a cabeça, a ideia tomando forma. — Você pode se esconder em um dos caminhões que saem para o depósito. Daí, pegamos um transporte alternativo pra te levar pra Madrid.
— E os informantes dele? - perguntei, a paranoia crescendo.
Malena olhou para mim com uma expressão firme.
— Vamos agir rápido e discreto. Você vai precisar sair sem levantar suspeitas. Talvez eu possa distrair quem estiver por perto.
Concordei com a cabeça. Pode ser uma loucura o que vou fazer, mas eu posso tentar.
Parte 6...CamilaA noite estava quieta demais, como se o silêncio antecipasse o que eu ia fazer. As luzes amareladas do campus iluminavam o caminho pavimentado, mas eu me mantinha nas sombras, meu coração martelando no peito. Malena estava ao meu lado, os olhos atentos vasculhando o entorno como uma sentinela.— Tudo pronto? - sussurrei, minha voz quase inaudível. Ela assentiu.— O motorista do táxi está te esperando na esquina. As passagens estão no seu bolso, e minhas primas já sabem que você está a caminho.— Não seria melhor se eu me escondesse no fundo de um dos furgões de comida?— Eu chequei isso, não ia dar. Eles são param quando chegam na empresa que fornece a comida para a faculdade. Você ficaria presa lá dentro. O táxi é melhor.— E você? - olhei para ela, meu peito apertando com a culpa. — Não posso te deixar aqui sozinha com tudo isso.— Eu vou ficar bem. - Malena apertou meu braço com firmeza, me forçando a continuar andando. — Eu não posso sair agora, mas você pode. E
Parte 7...Camila— Eu sei que ela parece ser rude, mas é só o jeito dela, amiga - Malena me disse ao celular.— Parece que ela não gostou muito de ter me ajudado - eu estava no banheiro.— Não se preocupe, eu contei um pouco do motivo e ela entendeu. Clara teve uns problemas no passado com um ex namorado.— Mas será que ela não vai contar para alguém? Fiquei preocupada.— Não vai, não. Ela é de confiança, eu garanto. É só o jeito meio seco dela falar.— Letícia me pareceu mais solta.— E ela é mesmo - ouvi sua risada — Ela pode ser uma boa amiga sua também.— E por aí, falando em amiga... Alguém notou minha falta?— Até agora, não. Ainda é cedo pra isso.— Malena, eu não pensei na questão dos rivais de meu pai... Só me preocupei em escapar do casamento.— Agora já era... Você tem que seguir.— Eu sei, mas qualquer coisa, você me avisa. Eu não vou sair da pousada.— Faça isso. Eu vou ligar para o celular da Clara ou da Letícia.— Certo. Eu aguardo. - suspirei — Se cuida por aí... Eu..
Parte 8...CamilaA escada para o porão era estreita e rangia. O espaço era apertado, com caixas empilhadas e um cheiro de mofo impregnando o ar. Clara fechou a porta acima de nós com cuidado e se virou para mim.— Fique quieta. Qualquer barulho pode atrair atenção - ela sussurrou. — Eles vão dar um jeito nisso.O silêncio voltou, mas dessa vez era sufocante. Ouvi passos lá em cima, o som de portas sendo abertas e fechadas. Meu coração martelava no peito, e eu me peguei prendendo a respiração para ouvir melhor.— Eles estão procurando algo - Letícia murmurou, com os olhos arregalados.— Ou alguém - Clara corrigiu, com a voz fria e olhando pra mim.O som de passos ficou mais alto, como se estivessem descendo a escada.— Alguém está vindo! - sussurrei, meu coração quase saltando pela boca.Clara fez sinal para que ficássemos em silêncio total. Os passos pararam do lado de fora da porta. O silêncio era tão denso que eu quase podia ouvir o sangue pulsando em meus ouvidos.De repente, a po
Parte 9...AlejandroMeu telefone vibrou sobre a mesa do escritório, interrompendo minha conversa. O nome de Héctor brilhava na tela. Meus irmãos se calaram. Peguei o aparelho e atendi sem hesitar.— Olá, Héctor! Presumo que saiba da situação. - minha voz saiu firme, sem rodeios.— Sim... Eu já sei - ouvi um suspiro irritado do outro lado — Alejandro, essa garota nos desonrou. - a voz de Héctor era um misto de raiva e frustração. — Fugir desse casamento é um ato de traição. Mesmo sendo minha filha, isso não é aceitável... Eu peço desculpas pelo comportamento dela.Recostei-me na cadeira, deixando um longo silêncio se instalar. Héctor estava irritado, mas isso era exatamente o que eu precisava.— Estou cuidando disso, mas preciso de sua permissão para usar... Todos os meios necessários. - vi o sorriso de Ricardo.— Você tem carta branca. Não importa o que seja preciso, Alejandro. Faça o que for necessário. Essa união é crucial, e Camila precisa entender isso.— Não se preocupe, ela vai
Parte 10...CamilaO sol da tarde atravessava a janela da pequena pousada, iluminando o modesto quarto onde nos reunimos. A pequena mesa estava coberta por mapas, passagens de trem e anotações rabiscadas em folhas soltas. Era um caos organizado, e minha cabeça latejava com as informações.— Então é isso. - Clara apontou para um dos mapas com o dedo firme. — De Madri, você vai pegar o trem noturno até Barcelona e, de lá, o voo para Roma. É mais demorado, mas é bem melhor assim, porque confunde quem estiver procurando por você.— Verdade - Letícia disse — Falei muito rápido com Malena e sua família já sabe - ela mordeu o lábio — Inclusive, ela foi chamada para falar sobre sua fuga.— E aí? - me preocupei com Malena.— Bom, aí que ela segurou a língua até que mostraram um vídeo da gente, recebendo você na estação de trem - encolheu os ombros.— Meu Deus... E agora?— Agora que ela vai ter que segurar a onda - Clara soltou um suspiro — Meu tio não vai aceitar que ela tenha se metido niss
Parte 11...CamilaA van avançava aos trancos pela estrada, cada solavanco arrancando um grito silencioso da minha perna. O lugar onde o tiro de Diego me atingira há anos, parecia latejar como se fosse ontem. Não era só o esforço físico, era mais o estresse.Eu segurava o banco com força, tentando ignorar a dor. Do meu lado, Clara e Letícia estavam imóveis, mas seus olhos gritavam o medo que nenhuma de nós ousava colocar em palavras. Letícia mais ainda. Seu rosto estava corado.Diego nos encarava do fundo da van, um sorriso cruel emoldurando seu rosto deformado pela raiva. Ele parecia um homem possuído, consumido pelo ódio que carregava há anos.Era exatamente como eu me recordava daquele dia horrível em que ele invadiu nossa casa.— Sabe, Camila - ele disse, a voz escorrendo sarcasmo — Você e sua mãe destruíram minha vida. Ela deveria ter sido minha. Seu pai roubou tudo de mim: meu futuro, minha honra. Agora, chegou a hora de pagar por isso. Eu sou paciente, sabia que se aguardasse
Parte 12...Camila— Você não faria isso! - fiquei indignada.— E como sabe disso? - ele deu uma risadinha fria — Você não me conhece, nunca quis.— E nem você a mim - puxei o braço, mas ele foi rápido e me pegou de novo, me fazendo sentar em seu colo — Alejandro...— Como você sabe que eu nunca quis? - seu olhar parou em minha boca.Eu engoli em seco, estremecendo de leve. Estamos perto demais. Sinto o cheiro dele, sua boca perto da minha, sua voz grave. Ele estava me provocando.Tinha uma tensão entre nós, mas não era ruim. Não sei explicar.— Alejandro... - o nome dele me escapou, carregado de confusão.Não sei como me sentir agora. Estou estressada por ter reencontrado Diego após tantos anos. Eu tentei evitar pensar nele durante anos, enquanto me recuperava de sua crueldade contra uma menina de apenas doze anos.Ver Diego entrando pela porta do quarto me fez sentir um ódio, um medo, tudo junto e isso me estressou demais.Ele se inclinou um pouco mais, sua boca quase tocando a minh
Parte 13...Camila— Não chore. Você já tem idade para assumir seus problemas.— Eu sei disso, não sou criança - respondi esfregando os olhos.— Então pare de agir como uma, porra!Eu tentei sair do colo dele, mas Alejandro me segurou pela cintura.— Olha, você não tem que ficar com raiva e nem me cobrar nada - fiquei indignada.— Você ainda não me viu com raiva - respondeu me jogando deitada no banco e veio por cima de mim — Mas vai ter oportunidade para isso, quando for minha mulher. - ele riu de um modo até diabólico. — Você não faz ideia do quanto eu me controlei para não fazer um assassinato coletivo - prendi a respiração.— Não precisa ser rude assim...Ele me cortou, parecendo mais raivoso.— Rude? Se eu não tivesse chegado a tempo, aquele canalha, filho da puta, teria feito horrores com você, só para atingir seu pai. - segurou meu rosto — Você teria arruinado sua vida e de outras pessoas também. Não pode ser infantil assim, Camila.Eu abri e fechei a boca de imediato. Eu sei q