Parte 127...AlejandroA porta do quarto estava entreaberta. O silêncio lá dentro me incomodou mais do que qualquer discussão que já tive. E eu já conheço bem essa mulher. Quando ela está em silêncio demais… Tem coisa errada. Empurrei a porta devagar, sem bater.— Camila?Ela estava sentada na beira da cama, de cabeça baixa, os ombros caídos e fungando. Merda. O que será agora?Empurrei a porta de vez, nem me importei em fechar. Me aproximei num pulo, o coração já batendo mais rápido do que quando entro armado num tiroteio.— Camila… - ajoelhei à frente dela — Que porra aconteceu? Foi minha mãe? Ela te disse alguma merda de novo? Me diz.Ela levantou o rosto. Os olhos vermelhos, mas o olhar… Não era de raiva. Era de algo mais profundo. Do tipo que quebra a gente por dentro.— Não foi a sua mãe, Alejandro - disse, a voz embargada. — Não é isso. Não tem nada a ver com ela.— Então me diz o que é, mulher. Você está me matando aqui. - levei as mãos ao rosto dela, sem conseguir disfarçar o
Parte 128...Santiago— Mas tem que ser agora? - perguntei aborrecido a Ricardo por telefone — Eu já tinha compromisso com Sofia.— E isso não pode ficar para depois?— É urgente o que você precisa, Ricardo?— É sim. Preciso que vá falar com o informante sobre a entrega que estava acertada com os Vandrini - ele solta o ar como cansado — Ele deixou escapar que estava junto com Diego e o irmão, quando tentaram prejudicar Alejandro.— E por que você mesmo não vai?— Porque estou na estrada. Tenho que resolver minha questão com a Clara e o pai dela, antes que meu irmão cisme de arrancar minha cabeça. Alejandro parece que recebeu um santo casamenteiro e quer todos nós amarrados.— Bem, ele tem razão de cobrar isso de você. - dei risada — Se deixar você solto, vai fazer oitenta anos apenas de curtição e sem levar nenhuma mulher à sério.— Até parece. Você não fica muito longe de mim, Santiago.— Fico sim. Eu nunca me envolvi com nenhuma mulher que eu não pagasse por seu tempo. Já você tem m
Parte 129...Santiago— Onde diabos ela está?Eu entrei como um furacão, empurrando a porta da sala. Ramiro estava deitado o sofá, com muito sangue pelo chão. Três dos capangas estavam com ele, ao lado do médico ajoelhado em sua frente, fazendo a limpeza do ferimento. Gabriel entrou apressado atrás de mim.— Ramiro! - ele parou ao lado do sofá e olhou pra mim — Que porra aconteceu aqui, Santiago?— É o que eu vou descobrir - me inclinei sobre ele — Ramiro... O que houve, onde está Sofia? - questionei com irritação.Ramiro conseguiu falar, mas não estava bem pra soltar a língua de vez e estou agoniado.— Mas quem diabos pode ter sido? - Gabriel perguntou — Ramiro vai sair dessa?— Vai sim... - o médico respondeu — A perda de sangue faz parecer pior do que é de verdade, mas até agora não achei nenhum ponto que seja fatal.— Menos mal - ele passa a mão pelo cabelo — Mas que porra é essa, Santiago?— E eu que sei? - saí do apartamento e ele me seguiu — Essa merda começou depois que Alejan
Parte 130...SantiagoO motor do carro ainda rugia quando disquei o número do Alejandro. Ele atendeu rápido, a voz tensa:— Eu já estou ciente da merda toda. Onde você está?— Indo resolver, eu não posso ficar de mãos paradas. Tenho que correr contra o tempo.— Eu sei, mas não faça nada sozinho, Santiago.— Diz que você achou a Sofia. Aí eu fico calmo - falei soltando o ar.— Em breve vamos fazer isso - ele falou sem demora — Calma! Eu não vou deixar Sofia para trás. Ela agora está com você. É da família.— Ainda não casamos, mas desde que a trouxe eu já sabia que uma hora ou outra ia acabar assim... Mas já sei quem tá por trás disso. Um homem chamado Maurício Rivas. - disse o nome com raiva — Era braço direito do Diego. Ele sumiu por anos, e agora voltou pra acertar as contas. E não está sozinho. Tem infiltrado entre os meus. Talvez entre os seus também.Silêncio do outro lado. Então Alejandro respondeu, firme:— Acha que é só você o alvo?— Não. Ele está indo atrás das nossas mulher
Parte 131...AlejandroCorri apressado e soltei ela com as mãos tremendo. Sofia agarrou meu pescoço e eu senti a alma do Santiago rasgar de raiva ao ver o estado dela. Os olhos dele estavam vermelhos. Ele se ajoelhou e a puxou para o colo.— Está tudo bem agora, pequena... - ele sussurrou. — Ninguém mais vai te tocar. Me desculpa... Eu sabia que tinha algo de errado.— Atrás! - Matteo gritou.O último capanga tentou fugir. Corri atrás, saltei por cima da escada quebrada e o derrubei com um chute no peito. Ele caiu no chão gemendo e se embolando com as mãos no peito.— Fala, filho da puta. - cuspi — Quem mais está com vocês? Quem mandou você mexer com a nossa família?— Eu... Eu não queria... Foi o Maurício Rivas... - ele chorava — Ele pagou... Mas não foi só ele... Eu tinha que obedecer...— Vai falar agora ou eu mesmo vou desenhar um mapa no seu corpo com essa lâmina. - arrastei a faca pela bochecha dele, bem devagar.— Eu falo! Eu falo, porra! - gritou. — Tem mais gente envolvida...
Parte 1...CamilaEu tinha acabado de chegar de uma consulta na clínica de sempre, mas era só uma rotina. Como minha perna estava me incomodado um pouco, eu achei melhor falar com o médico.Eu ainda sentia o eco das palavras do médico na consulta, enquanto o carro percorria as ruas que levavam de volta à nossa casa. A dor na perna era incômoda, mas suportável. O doutor, como sempre, reforçava que eu precisava manter os exercícios de fisioterapia. Às vezes, eu me perguntava se ele achava que eu era menos teimosa do que realmente sou.Eu só parei com a terapia, tempos atrás, porque não estava me incomodando. Acho que esses dias eu exagerei na natação.Assim que entrei na sala de estar, minha mãe estava sentada no sofá, bordando alguma peça de roupa como fazia quando queria distrair a mente. Ela ergueu os olhos e sorriu com ternura, mas não parou o bordado.— Como foi no médico, querida? - ela perguntou, sem desviar as mãos do trabalho.— Nada demais. Ele só reclamou da minha falta de p
Parte 2...CamilaEu estava saindo da cozinha e ao passar em frente do escritório de meu pai, parei ao ouvir a voz de minha mãe.— Eu sei da importância desse acordo, meu marido... Mas você não acha que ela deveria poder escolher?— Escolher o quê, Valéria? - a voz de meu pai era seca — Nossa filha é aleijada.— Pelo amor de Deus, homem, não fale assim dela - encostei o ouvido na porta ao ouvir minha mãe retrucar — Camila não é aleijada.— E ela manca porque motivo, então? - ouvi um som forte, como uma cadeira sendo arrastada — É um charme dela?Ouvir aquilo me deixou triste. Meu pai nunca aceitou meu problema, que nem mesmo foi criado por mim. Aliás, se existe um culpado disso dentro dessa família, ele é quem deve se sentir assim. Eu fui uma vítima.— Por que você tem que ser frio dessa forma, Hector? Ela é sua filha. Sua única filha!O silêncio que se seguiu foi tão cortante quanto as palavras do meu pai. Encostei a mão na maçaneta, hesitando entre entrar e enfrentar aquela discussã
Parte 3...Três anos depois...CamilaA música pulsava no meu corpo, uma batida forte e animada que parecia combinar perfeitamente com o ritmo da minha vida nos últimos três anos. Malena estava ao meu lado, rindo de algo que um dos nossos colegas tinha dito, e eu não podia deixar de sorrir. Essa era a liberdade que eu tinha decidido abraçar, mesmo sabendo que meu tempo estava contado.Minha taça de vinho rosé já estava pela metade quando senti Malena puxar meu braço.— Vem dançar, Camila! - ela gritou, se inclinando para que eu ouvisse.— Eu já tô indo! - retruquei, apontando para a taça como desculpa e depois para a perna.Ela revirou os olhos, mas foi para a pista mesmo assim. Eu gostava de observá-la se soltar. Malena era minha constante, meu porto seguro nesses anos de independência. Apesar de nunca sair muito, quando ela se jogava, era para valer. E eu também não era de viver em festas e boates, apenas quando tinha um bom convite. Me dediquei mesmo a fazer bom proveito de minha