Parte 8...CamilaA escada para o porão era estreita e rangia. O espaço era apertado, com caixas empilhadas e um cheiro de mofo impregnando o ar. Clara fechou a porta acima de nós com cuidado e se virou para mim.— Fique quieta. Qualquer barulho pode atrair atenção - ela sussurrou. — Eles vão dar um jeito nisso.O silêncio voltou, mas dessa vez era sufocante. Ouvi passos lá em cima, o som de portas sendo abertas e fechadas. Meu coração martelava no peito, e eu me peguei prendendo a respiração para ouvir melhor.— Eles estão procurando algo - Letícia murmurou, com os olhos arregalados.— Ou alguém - Clara corrigiu, com a voz fria e olhando pra mim.O som de passos ficou mais alto, como se estivessem descendo a escada.— Alguém está vindo! - sussurrei, meu coração quase saltando pela boca.Clara fez sinal para que ficássemos em silêncio total. Os passos pararam do lado de fora da porta. O silêncio era tão denso que eu quase podia ouvir o sangue pulsando em meus ouvidos.De repente, a po
Parte 9...AlejandroMeu telefone vibrou sobre a mesa do escritório, interrompendo minha conversa. O nome de Héctor brilhava na tela. Meus irmãos se calaram. Peguei o aparelho e atendi sem hesitar.— Olá, Héctor! Presumo que saiba da situação. - minha voz saiu firme, sem rodeios.— Sim... Eu já sei - ouvi um suspiro irritado do outro lado — Alejandro, essa garota nos desonrou. - a voz de Héctor era um misto de raiva e frustração. — Fugir desse casamento é um ato de traição. Mesmo sendo minha filha, isso não é aceitável... Eu peço desculpas pelo comportamento dela.Recostei-me na cadeira, deixando um longo silêncio se instalar. Héctor estava irritado, mas isso era exatamente o que eu precisava.— Estou cuidando disso, mas preciso de sua permissão para usar... Todos os meios necessários. - vi o sorriso de Ricardo.— Você tem carta branca. Não importa o que seja preciso, Alejandro. Faça o que for necessário. Essa união é crucial, e Camila precisa entender isso.— Não se preocupe, ela vai
Parte 10...CamilaO sol da tarde atravessava a janela da pequena pousada, iluminando o modesto quarto onde nos reunimos. A pequena mesa estava coberta por mapas, passagens de trem e anotações rabiscadas em folhas soltas. Era um caos organizado, e minha cabeça latejava com as informações.— Então é isso. - Clara apontou para um dos mapas com o dedo firme. — De Madri, você vai pegar o trem noturno até Barcelona e, de lá, o voo para Roma. É mais demorado, mas é bem melhor assim, porque confunde quem estiver procurando por você.— Verdade - Letícia disse — Falei muito rápido com Malena e sua família já sabe - ela mordeu o lábio — Inclusive, ela foi chamada para falar sobre sua fuga.— E aí? - me preocupei com Malena.— Bom, aí que ela segurou a língua até que mostraram um vídeo da gente, recebendo você na estação de trem - encolheu os ombros.— Meu Deus... E agora?— Agora que ela vai ter que segurar a onda - Clara soltou um suspiro — Meu tio não vai aceitar que ela tenha se metido niss
Parte 11...CamilaA van avançava aos trancos pela estrada, cada solavanco arrancando um grito silencioso da minha perna. O lugar onde o tiro de Diego me atingira há anos, parecia latejar como se fosse ontem. Não era só o esforço físico, era mais o estresse.Eu segurava o banco com força, tentando ignorar a dor. Do meu lado, Clara e Letícia estavam imóveis, mas seus olhos gritavam o medo que nenhuma de nós ousava colocar em palavras. Letícia mais ainda. Seu rosto estava corado.Diego nos encarava do fundo da van, um sorriso cruel emoldurando seu rosto deformado pela raiva. Ele parecia um homem possuído, consumido pelo ódio que carregava há anos.Era exatamente como eu me recordava daquele dia horrível em que ele invadiu nossa casa.— Sabe, Camila - ele disse, a voz escorrendo sarcasmo — Você e sua mãe destruíram minha vida. Ela deveria ter sido minha. Seu pai roubou tudo de mim: meu futuro, minha honra. Agora, chegou a hora de pagar por isso. Eu sou paciente, sabia que se aguardasse
Parte 12...Camila— Você não faria isso! - fiquei indignada.— E como sabe disso? - ele deu uma risadinha fria — Você não me conhece, nunca quis.— E nem você a mim - puxei o braço, mas ele foi rápido e me pegou de novo, me fazendo sentar em seu colo — Alejandro...— Como você sabe que eu nunca quis? - seu olhar parou em minha boca.Eu engoli em seco, estremecendo de leve. Estamos perto demais. Sinto o cheiro dele, sua boca perto da minha, sua voz grave. Ele estava me provocando.Tinha uma tensão entre nós, mas não era ruim. Não sei explicar.— Alejandro... - o nome dele me escapou, carregado de confusão.Não sei como me sentir agora. Estou estressada por ter reencontrado Diego após tantos anos. Eu tentei evitar pensar nele durante anos, enquanto me recuperava de sua crueldade contra uma menina de apenas doze anos.Ver Diego entrando pela porta do quarto me fez sentir um ódio, um medo, tudo junto e isso me estressou demais.Ele se inclinou um pouco mais, sua boca quase tocando a minh
Parte 13...Camila— Não chore. Você já tem idade para assumir seus problemas.— Eu sei disso, não sou criança - respondi esfregando os olhos.— Então pare de agir como uma, porra!Eu tentei sair do colo dele, mas Alejandro me segurou pela cintura.— Olha, você não tem que ficar com raiva e nem me cobrar nada - fiquei indignada.— Você ainda não me viu com raiva - respondeu me jogando deitada no banco e veio por cima de mim — Mas vai ter oportunidade para isso, quando for minha mulher. - ele riu de um modo até diabólico. — Você não faz ideia do quanto eu me controlei para não fazer um assassinato coletivo - prendi a respiração.— Não precisa ser rude assim...Ele me cortou, parecendo mais raivoso.— Rude? Se eu não tivesse chegado a tempo, aquele canalha, filho da puta, teria feito horrores com você, só para atingir seu pai. - segurou meu rosto — Você teria arruinado sua vida e de outras pessoas também. Não pode ser infantil assim, Camila.Eu abri e fechei a boca de imediato. Eu sei q
Parte 14...AlejandroQuando eu soube que o infeliz do Diego já estava no encalço de Camila, fiquei furioso, quase fora de mim. Só não me estressei mais, porque Ricardo já estava com tudo acertado.Eu não ia deixar que novamente Diego causasse problemas para ela. Ainda me incomoda muito o que aconteceu no passado e não posso tirar minha parte da culpa.Quando cheguei até a pousada, foi a maior sorte que Diego apenas tinha conseguido pegar Camila há pouco tempo.Se ele tivesse desaparecido com ela, eu teria muito mais trabalho para descobrir onde estava escondida. E até encontrar seu esconderijo, quem sabe que diabos ele teria feito com ela.Me importei mais com Camila do que deveria e Diego acabou escapando. Mas eu o conheço, ele não vai parar. O ódio que ele nutre pelo pai de Camila é grande demais.Agora ainda tem as duas garotas. De certo o pai delas vai querer que eu devolva as filhas de imediato, mas ainda tenho que saber até que ponto elas se envolveram com essa burrice de Camil
Parte 1...CamilaEu tinha acabado de chegar de uma consulta na clínica de sempre, mas era só uma rotina. Como minha perna estava me incomodado um pouco, eu achei melhor falar com o médico.Eu ainda sentia o eco das palavras do médico na consulta, enquanto o carro percorria as ruas que levavam de volta à nossa casa. A dor na perna era incômoda, mas suportável. O doutor, como sempre, reforçava que eu precisava manter os exercícios de fisioterapia. Às vezes, eu me perguntava se ele achava que eu era menos teimosa do que realmente sou.Eu só parei com a terapia, tempos atrás, porque não estava me incomodando. Acho que esses dias eu exagerei na natação.Assim que entrei na sala de estar, minha mãe estava sentada no sofá, bordando alguma peça de roupa como fazia quando queria distrair a mente. Ela ergueu os olhos e sorriu com ternura, mas não parou o bordado.— Como foi no médico, querida? - ela perguntou, sem desviar as mãos do trabalho.— Nada demais. Ele só reclamou da minha falta de p