Ximena Valverde Nesse momento, minha inquietude não era de raiva, era de desespero. O desespero de sentir a pele arrepiar com as coisas que ele falava, de sentir o estômago revirar com as palavras que saíam da boca desenhada de Alejandro Albeniz, de sentir o ventre aquecido com um simples toque de pele.Não podia sentir nada daquilo! Querendo sair daquele momento ilesa, fingi que não ouvi sua frase e mudei totalmente de assunto.— Não se surpreendeu quando percebeu que saí da casa dos meus pais?— Talvez ontem me surpreendesse, mas hoje, o senhor Pedro foi até a Granafly. — ele deixou a frase subentendida, mas eu sabia a que se referia.— Meu pai sempre foi reservado, agora virou um senhor alcoviteiro?— Não fica chateada com ele. — enquanto falava, ele ainda procurava uma música para ouvir na extensa playlist de Carlos, enquanto isso, lá fora, a chuva insistia em cair, sem trégua.— Não estou. Isso não era nenhum segredo. — dei de ombros.— Essa é perfeita! — Provavelmente, ele, en
Alejandro Albeniz Entrei em casa no máximo silêncio possível, Mercês parecia mais minha mulher, ela marcava minha vida mais do que Catalina e foi ela quem apareceu no alto da escada de camisola curta, deixando à mostra os silicones das coxas e da bunda que o trouxa do meu pai vivia pagando para renovar.— Entrando na surdina? O que aconteceu, que em um segundo você estava na academia e no outro estava cruzando a portaria com seu carro às pressas? — Mercês perguntou, como se eu lhe devesse explicações.Eram tantos fatos na minha vida que, ainda não tive tempo de procurar um lugar para mim. Essa casa era tão minha quanto do meu pai, já que foi uma herança do meu falecido avô, para minha já falecida mãe. Entretanto, não suportava morar junto a Mercês e ao seu olhar inquisidor sobre mim.— Boa noite, querida madrasta! — sorri cínico e fui subindo as escadas ao seu encontro, até ficar cara a cara com ela. — Vai se foder! Já disse para não se meter na minha vida.— Meu Deus, Alejandro! Só
Alejandro Albeniz O circo estava todo montado novamente, me referia a situação dessa forma porque o último voo inaugural acabou em tragédia, mas a verdade era que sabia o quanto era importante esse tipo de evento para a imagem do setor comercial. Quem não estava aceitando bem era o meu corpo. Suor frio começou a escorrer pelo meu rosto, assim que vi as aeronaves ainda em terra. Os repórteres cercavam o meu pai, quando me viram, vieram instantâneamente em cima de mim. E só faziam perguntas sobre o desastre. Justamente algo que eu daria tudo para não lembrar.Respeitava muito a profissão de jornalismo, mas alguns não passavam de abutres. Lembro que no voo fatídico, tinha apenas duas colunistas aqui, uma de aviação e outra de economia. Agora, tinha mais de cem repórteres esperando que acontecesse outra desgraça.— Meu filho! Finalmente chegou o grande dia! — sorri sem humor para ele e para as diversas câmeras que insistiam em nos fotografar. — O que houve, Alejandro? Está pálido. — el
Ximena Valverde O meu medo tinha nome e sobrenome: Noberto Trajano. Mas a polícia me garantiu que ele não foi a pessoa que comprou as flores e muito menos que ligou para mim. Ele morava na França há dois anos e não vinha à Espanha. Por lá, se casou e vivia sem conflitos. A polícia tratou de minimizar a situação, dizendo que eu deveria ter um admirador secreto, como se isso fosse algo bom. No dia que meu pai e eu fomos à delegacia, ainda recebi mais duas ligações e assim que pararam, troquei de número.Para a alegria do senhor Pedro, eu me candidatei à vaga de gestão de turismos da Granafly, e passei por todas as fases de recrutamento e seleção. Todo dia, eu recebia um e-mail pedindo para eu comparecer para a próxima fase e tudo o que eu não queria era encontrar o Alejandro. Não porque eu não quisesse, mas porque não queria a interferência dele na minha pretensão de trabalho.No entanto, agora no final, com quase as duas mãos na vaga, estava eu esperando para a entrevista com o CEO A
Alejandro Albeniz No escritório, quando o tal Pavel a abraçou, imediatamente senti um nó no estômago. Depois, quando desci atrás dela, vi que ele não desgrudava. Fiquei até pensando que ela subiria na moto dele e o deixaria levá-la em casa. Resolvi ficar esperando do outro lado da rua, dentro do carro com vidros escuros, eu não precisava disfarçar as expressões involuntárias ao ver tanta afinidade em duas pessoas que acabaram de se conhecer.Havia algo na forma como Ximena ria, como jogava o cabelo para o lado, como passava os dedos distraidamente pelo próprio braço. Ela havia tirado o blazer que vestia e ele estava atravessado em sua bolsa tiracolo. Sem perceber que qualquer movimento seu era uma provocação silenciosa, tudo nela exalava uma beleza natural, sem esforço, do tipo que não precisava de exageros para ser notada.E eu notei! Ah, Deus, como eu notei!Desde a primeira vez que a vi correndo, vestida de noiva no meio da rua. Então, naquele momento, no meu estômago veio um nó
Ximena Valverde Sentada na recepção, esperava ser chamada pela gestora de RH. Olhava as manchetes para matar o tempo. Na tela do celular, todos falavam como um CEO de uma empresa poderosa teve coragem de expor seus medos diante de todos. Na plataforma Y, a #medodevoar e o nome da Granafly estavam no topo de trends, entrei para ver o que diziam e as mensagens eram todas positivas, a popularidade da empresa subiu substancialmente.Particularmente, achei de uma valentia, um todo poderoso ter coragem em demonstrar fraquezas. O jeito de andar, o aroma cítrico, me fizeram saber que era ele, mesmo eu continuando sentada e de cabeça baixa. Se ainda assim, sua presença marcante e seu perfume estonteante fossem irrelevantes para mim, seu olhar flamejante não passaria despercebido por minha pele, que arrepiava.Atendendo ao meu pedido, Alejandro não se fez presente mais do que o necessário e passou rápido por mim. Eu fingi que não o vi chegar e ele fingiu que eu não estava ali. Logo depois, fu
Alejandro Albeniz Ao mesmo tempo em que ela pedia para eu me afastar, ela se aproximava. Ximena queria fugir de algo que já estava tão enraizado no ser dela quanto no meu. Nós nos queríamos. Nos queríamos muito. Sem pressionar, dei o espaço que ela queria, mas não ia abrir mão dela. Não ia abrir mão do que sentia por ela e sabia que ela sentia por mim. Entrei na reunião com o risco de perder a presidência e saí de lá com um baita projeto de marketing, iria usar a hashtag #medodevoar para um curso ministrado junto a profissionais da área e uma psicóloga. Seria perfeito!Apesar de não falar nada, sabia que o senhor Albeniz ficou orgulhoso. No fundo, eu sabia que a ideia de me afastar e colocar o Beto não saiu da mente do meu pai, mas ele propôs isso, achando que era o melhor. Cada vez que mexia em alguns procedimentos da Granafly, mais desconfiava do Beto. Ainda não sabia, mas algo muito obscuro estava sendo feito por aqui. Quando tivesse as provas contundentes, jogaria tudo no ven
Alejandro Albeniz O senhor Pedro tinha razão em tudo e me fez questionar o que que eu esperava do meu relacionamento com a Ximena. Se eu a desejava e queria que ela me levasse a sério, no mínimo, eu deveria estar completamente livre. Me acostumei à vida que eu e Catalina levávamos, algo meio aberto, ao menos da minha parte, nunca me senti preso a minha namorada, ela sempre foi o comodismo, a opção mais próxima, o que nunca foi justo com ela.Liguei para Catalina e disse que a buscaria na entrada da mansão. Dentro de casa, não daria para conversar, a privacidade era algo que não existia na propriedade Albeniz.Catalina entrou no carro, linda e sexy como sempre. Toda arrumada e esbanjando altruísmo, o que eu iria fazer não era legal. Aprendi com meu pai que casamento era um negócio e tinha isso em mente quando deixei o meu relacionamento com Catalina ir tão longe.Tinha tesão nela. Qual homem não teria? O problema é que não a amava e não poderia passar uma vida inteira a enganando e se