Catalina Lombardo Todos já dormiam, tinha certeza que ele me esperava nu e com a porta destrancada. Meti a mão na maçaneta e ele me aguardava de pé, com duas taças a mão e o rosé no gelo.— Eu sabia que estava me esperando. — falei assim que entrei.— E eu sabia que você viria, sua safada. — Um sorriso sem vergonha pintou seu rosto.Beto pôs as taças na banquinha de cabeceira, pegou a garrafa já aberta e entornou a bebida direto no gargalo. Me puxou para perto dele, dividindo o líquido e sua língua comigo. A gente transou como se o mundo fosse acabar. Era por volta das duas da madrugada quando saí do quarto do Beto e voltei para o meu. Quando entrei, minha tia estava sentada na beirada da minha cama. — Fumando dentro do meu quarto? — a repreendi.Ela levantou da cama e apagou o cigarro no meu travesseiro, deixando um buraco e um cheiro horrível de queimado.— Que isso, Mercês? — praticamente gritei, furiosa.— Isso é para não apagar ele na sua cara! — Ao mesmo tempo, a mão dela exp
Ximena Valverde Javier ligou em êxtase pela manhã, ele não apenas foi readmitido pela Asus Blue, como também foi promovido a chefe de equipe dos comissários. Ao menos esse mal, Alejandro conseguiu consertar, o que me fez ter certeza sobre o que dizia o dito popular de que para tudo se tinha jeito, menos para a morte.Foi duro entrar na nossa casa, ver cada coisa que Carlos e eu compramos juntos. Meu pai apoiou minha decisão, minha mãe ainda estava inconformada por eu sair de casa dessa maneira. Para que eu não ficasse sozinha, ela me presenteou um cachorro, o que era bastante curioso, já que meus pais não permitiram que eu tivesse um na minha infância e adolescência. Lito era bem pequeno e sapeca, com seu pelo caramelo e bico fino, parecia um lobinho. Era um filhote que me enchia de alegria. Marquei veterinário para ele no fim da tarde para a noite, assim teria um bichinho sempre saudável.Depois que meu pai me ajudou a levar minha coisas e o Lito para a casa nova, aproveitei o resta
Ximena Valverde Lito me fazia sorrir, pela manhã, quando minha mãe me presenteou com ele, achei que talvez não fosse o momento ideal. O medo de não poder dar a ele o carinho e atenção necessários me assolava. Agora, estava na clínica veterinária, querendo saber se ele estava saudável e poder dar a melhor qualidade de vida que eu pudesse a ele. Pensei que nesse horário a clínica estaria mais vazia, no entanto, tinha bichinhos para todos os lados, alguns bem bravos, latindo à beça para os outros.Lito dormia no meu colo, pelo que li, os filhotes ficavam assustados na rua, por isso preferiam dormir, já em casa colocavam para fora toda a energia resguardada.Estava sentada ao lado da porta e de frente para o balcão da atendente, olhei para o lado e ele entrou com um cachorro no colo, enrolado no blazer do seu terno, seguido por duas senhoras, que deveriam ter mais ou menos a idade do meu pai.Não era possível, talvez houvesse um propósito para essas coincidências, pois esse era o último
Ximena ValverdeQuando minha mãe insistiu que eu fizesse meu casamento na Basília de San Juan Dios, eu achei um exagero fora do tom. Eu queria uma igreja simples e pequena, não essa exuberante, já na fachada decorada com obras de arte barroca e um monumental de entrada flanqueada por colunas salomônicas. Mas a verdade é que agora me sentia uma princesa, que iria encontrar seu príncipe, que a aguardava ansioso no altar.O motorista trajado como tal, abriu a porta e meu pai e eu descemos da limousine alugada. Meu vestido era o mais simples que consegui convencer a minha mãe a comprar, na verdade, mandamos fazer. Não queria anáguas, ficar parecendo um cupcake, mas da extensa grinalda não consegui fugir. Enquanto puxava metros de pano de dentro do veículo, vi meu irmão e minha mãe descerem as escadas à frente da basílica, eles chamaram meu pai em um canto e cochicharam algo não audível para mim.Já com a grinalda enrolada no braço, me aproximei, querendo saber o que eles falavam. — Volta
ALGUNS DIAS ANTESAlejandro AlbenizAssumir a empresa aérea foi algo que sempre almejei. As exigências do meu pai é que tardaram minha volta à Espanha, mais precisamente à Granada. O senhor Albeniz, como quase todas as pessoas desse país, tinha valores arcaicos, acreditavam fielmente que um homem de sucesso e sério tinha que ter consigo, bem ao seu lado, uma “primeira dama”. Apesar de amar o lugar onde nasci, eu estudei na América e passei boa parte da minha vida por lá, me preparando para assumir o Império Albeniz. Não que aqui eu não conseguiria o preparo necessário para administrar Granafly, o problema é que não queria apenas entender da burocracia, fui atrás das especializações e evolução necessária do nosso produto e serviço, por isso fiz todos os cursos que achei necessário, na Boeing.Na reta final da minha preparação, vim para a Europa, mas não para a Espanha, meu destino foi a França e lá também me dediquei às especializações oferecidas pela poderosa Airbus. E foi na Franç
Ximena Valverde Minha mãe e suas ideias, por mim eu preferia ir em lojas de alugueis de roupa, encontrar o vestido do meu gosto. Ela e suas crenças de que a roupa que eu alugasse poderia ter estigmas ruins de outras pessoas e meu casamento desandar. O bom de fazer com uma costureira, é que tudo saiu como eu queria, até os tecidos pude escolher. Estava na última prova, ao me olhar no espelho, me vi linda. Meu casamento seria um sonho. Daqui a dois dias seria a mulher mais feliz do mundo, ia casar com o homem da minha vida.— Filha, tá parecendo uma princesa! — minha mãe falou com lágrimas nos olhos.— Mãe, para de chorar e pega um pouquinho desse café pra mim. — apontei para a garrafa em cima do bufê na sala de costura.Sem demora, minha mãe pegou o copinho descartável e pôs a dose do líquido fumegante para mim.A costureira, que voltava de outro cômodo, tentou prevenir um acidente, mas o efeito foi o contrário.— Não faça isso, não dê café a ela usando o vestido branco! — Ela gritou.
Alejandro Albeniz O que estava se passando comigo? Acabei de praticamente jogar praga no casamento da mulher mais linda que eu já vi na minha vida. A sorte é que ela não me levou a sério, eu mesmo não estava me entendendo. Fiquei entorpecido pela eletricidade passando por todo o meu corpo, fazendo o meu coração disparar. Ele batia tão rápido, que parecia que daria um salto do meu peito. Sempre quando ficava louco por uma mulher, era uma outra parte do meu corpo que latejava, nunca o peito. Quando a vi seguir com a mãe, tive vontade de ir atrás dela, de falar novamente para ela não se casar. Como se ela devesse se casar comigo, como tivesse sido feita para mim. Eu com certeza não estava bem e olha que pelo café da manhã foi apenas um suco de laranja, não foi um hi-fi. Pensando no estresse desnecessário que o senhor Albeniz tentou me causar essa manhã, seria até aceitável eu batizar o suco, mas não fiz. Meu corpo estava sóbrio, mas minha mente ficou inebriada de um sentimento
Carlos AlcarazEra o dia mais importante da minha vida. Iria me casar com a mulher que sempre amei. A mais linda, decidida, cheirosa, gostosa… Ximena e eu seríamos muito felizes. Terminava de me arrumar, quando ouvi batidas na porta. Permiti que minha mãe entrasse, sabia que era ela.— Nossa, como é lindo meu filho! — ela babou sua cria. — Tem vaga no carro para você.— Estava pensando em ir de moto, mãe.— E sujar essa farda branca? Nem pensar! — Ela bradou.— Está certo. — assenti.Vestir a farda de gala do bombeiro para me casar, foi ideia da minha noiva. Eu já usava tanto farda, que confesso que gostaria de colocar algo diferente, mas os desejos de Ximena para mim eram ordens.Quando saí do quarto, as mulheres da minha vida me abraçaram; minha mãe, avó, irmã e prima.— Chegou a hora que vamos nos livrar de você — minha irmã disse sorrindo, me fazendo rir.E todos pareciam muito felizes, menos Betina, minha prima. Ela criou algumas expectativas da épocas em que éramos pré-adolesce