Alejandro Albeniz Consegui o telefone de Raquel, ela morava em um prédio próximo a Plaza Nueva. Quando liguei e disse quem era, a ex-funcionária do meu pai estranhou, disse que aceitaria se encontrar comigo, mas não em sua casa, mas eu a convenci. Raquel, era o tipo de funcionária do rico elitista, alguém feito meu pai. Vinha por diversas vezes pegar a sombrinha e receber Mercês no carro, devido ao sol quente ou por estar chovendo. Alguns integrantes da “família aristocrata Albeniz” pensavam que ainda estavam no século XVIII. Não sabia se eu já tinha esse pensamento, ou se passar parte da minha vida na América, me fez achar tudo isso um exagero desnecessário. Os Estados Unidos defendiam autonomia desde os 18, achavam um absurdo um jovem adulto morar com os pais, como eu estava fazendo agora. Morando na TriBeCa, conseguia um bom loft com serviço de lavanderia, próximo a um bom restaurante e sempre tinha uma loja de conveniência aberta para comprar algum congelado. Assim, aprendi a
Catalina Lombardo Todos já dormiam, tinha certeza que ele me esperava nu e com a porta destrancada. Meti a mão na maçaneta e ele me aguardava de pé, com duas taças a mão e o rosé no gelo.— Eu sabia que estava me esperando. — falei assim que entrei.— E eu sabia que você viria, sua safada. — Um sorriso sem vergonha pintou seu rosto.Beto pôs as taças na banquinha de cabeceira, pegou a garrafa já aberta e entornou a bebida direto no gargalo. Me puxou para perto dele, dividindo o líquido e sua língua comigo. A gente transou como se o mundo fosse acabar. Era por volta das duas da madrugada quando saí do quarto do Beto e voltei para o meu. Quando entrei, minha tia estava sentada na beirada da minha cama. — Fumando dentro do meu quarto? — a repreendi.Ela levantou da cama e apagou o cigarro no meu travesseiro, deixando um buraco e um cheiro horrível de queimado.— Que isso, Mercês? — praticamente gritei, furiosa.— Isso é para não apagar ele na sua cara! — Ao mesmo tempo, a mão dela exp
Ximena Valverde Javier ligou em êxtase pela manhã, ele não apenas foi readmitido pela Asus Blue, como também foi promovido a chefe de equipe dos comissários. Ao menos esse mal, Alejandro conseguiu consertar, o que me fez ter certeza sobre o que dizia o dito popular de que para tudo se tinha jeito, menos para a morte.Foi duro entrar na nossa casa, ver cada coisa que Carlos e eu compramos juntos. Meu pai apoiou minha decisão, minha mãe ainda estava inconformada por eu sair de casa dessa maneira. Para que eu não ficasse sozinha, ela me presenteou um cachorro, o que era bastante curioso, já que meus pais não permitiram que eu tivesse um na minha infância e adolescência. Lito era bem pequeno e sapeca, com seu pelo caramelo e bico fino, parecia um lobinho. Era um filhote que me enchia de alegria. Marquei veterinário para ele no fim da tarde para a noite, assim teria um bichinho sempre saudável.Depois que meu pai me ajudou a levar minha coisas e o Lito para a casa nova, aproveitei o resta
Ximena Valverde Lito me fazia sorrir, pela manhã, quando minha mãe me presenteou com ele, achei que talvez não fosse o momento ideal. O medo de não poder dar a ele o carinho e atenção necessários me assolava. Agora, estava na clínica veterinária, querendo saber se ele estava saudável e poder dar a melhor qualidade de vida que eu pudesse a ele. Pensei que nesse horário a clínica estaria mais vazia, no entanto, tinha bichinhos para todos os lados, alguns bem bravos, latindo à beça para os outros.Lito dormia no meu colo, pelo que li, os filhotes ficavam assustados na rua, por isso preferiam dormir, já em casa colocavam para fora toda a energia resguardada.Estava sentada ao lado da porta e de frente para o balcão da atendente, olhei para o lado e ele entrou com um cachorro no colo, enrolado no blazer do seu terno, seguido por duas senhoras, que deveriam ter mais ou menos a idade do meu pai.Não era possível, talvez houvesse um propósito para essas coincidências, pois esse era o último
Ximena Valverde Fazia alguns dias que estava morando na casa que seria minha e do Carlos. Mas até então, tenho dormido no quarto que seria do nosso bebê, o filho que planejávamos ter em breve, não tive coragem de abrir o quarto principal. Hoje abri a porta de uma vez, como se tirasse um curativo grudado à pele. Por um lado, foi bom. Lembro da minha sogra dizendo para eu deixar o Carlos seguir, deixar sua alma repousar em paz, era o que estava tentando fazer. Eu fui forte, mas não tanto. Troquei a água do Lito, peguei minha bolsa e saí dali. Já andando na rua, ouvi a voz de meu pai.— Vai aonde? — ele perguntou de dentro do carro.— Caminhar, pai, mas se o senhor veio me visitar, eu volto. — parei para respondê-lo.— Não, estou indo na Granafly assinar o aviso prévio, apenas passei para saber como está você e o Lito.— O senhor espera um pouco, irei lá dentro pegar uns currículos para entregar em um shopping ali perto.— Trabalho em shopping, filha? — o senhor Pedro reclamou. — Você
Ximena Valverde Nesse momento, minha inquietude não era de raiva, era de desespero. O desespero de sentir a pele arrepiar com as coisas que ele falava, de sentir o estômago revirar com as palavras que saíam da boca desenhada de Alejandro Albeniz, de sentir o ventre aquecido com um simples toque de pele.Não podia sentir nada daquilo! Querendo sair daquele momento ilesa, fingi que não ouvi sua frase e mudei totalmente de assunto.— Não se surpreendeu quando percebeu que saí da casa dos meus pais?— Talvez ontem me surpreendesse, mas hoje, o senhor Pedro foi até a Granafly. — ele deixou a frase subentendida, mas eu sabia a que se referia.— Meu pai sempre foi reservado, agora virou um senhor alcoviteiro?— Não fica chateada com ele. — enquanto falava, ele ainda procurava uma música para ouvir na extensa playlist de Carlos, enquanto isso, lá fora, a chuva insistia em cair, sem trégua.— Não estou. Isso não era nenhum segredo. — dei de ombros.— Essa é perfeita! — Provavelmente, ele, en
Alejandro Albeniz Entrei em casa no máximo silêncio possível, Mercês parecia mais minha mulher, ela marcava minha vida mais do que Catalina e foi ela quem apareceu no alto da escada de camisola curta, deixando à mostra os silicones das coxas e da bunda que o trouxa do meu pai vivia pagando para renovar.— Entrando na surdina? O que aconteceu, que em um segundo você estava na academia e no outro estava cruzando a portaria com seu carro às pressas? — Mercês perguntou, como se eu lhe devesse explicações.Eram tantos fatos na minha vida que, ainda não tive tempo de procurar um lugar para mim. Essa casa era tão minha quanto do meu pai, já que foi uma herança do meu falecido avô, para minha já falecida mãe. Entretanto, não suportava morar junto a Mercês e ao seu olhar inquisidor sobre mim.— Boa noite, querida madrasta! — sorri cínico e fui subindo as escadas ao seu encontro, até ficar cara a cara com ela. — Vai se foder! Já disse para não se meter na minha vida.— Meu Deus, Alejandro! Só
Alejandro Albeniz O circo estava todo montado novamente, me referia a situação dessa forma porque o último voo inaugural acabou em tragédia, mas a verdade era que sabia o quanto era importante esse tipo de evento para a imagem do setor comercial. Quem não estava aceitando bem era o meu corpo. Suor frio começou a escorrer pelo meu rosto, assim que vi as aeronaves ainda em terra. Os repórteres cercavam o meu pai, quando me viram, vieram instantâneamente em cima de mim. E só faziam perguntas sobre o desastre. Justamente algo que eu daria tudo para não lembrar.Respeitava muito a profissão de jornalismo, mas alguns não passavam de abutres. Lembro que no voo fatídico, tinha apenas duas colunistas aqui, uma de aviação e outra de economia. Agora, tinha mais de cem repórteres esperando que acontecesse outra desgraça.— Meu filho! Finalmente chegou o grande dia! — sorri sem humor para ele e para as diversas câmeras que insistiam em nos fotografar. — O que houve, Alejandro? Está pálido. — el