Depois de um longo dia de trabalho, sentei-me na sala da gerência ao lado de Teri, exausta, mas satisfeita. O estúdio estava ganhando vida, e eu finalmente estava começando a sentir que tudo estava dando certo. As turmas estavam quase completas, e eu tinha passado o dia inteiro ensinando, sentindo a adrenalina e a alegria de ver cada aluna se desenvolver.— Acho que finalmente conseguimos — comentei, girando levemente a cadeira enquanto observava os papéis de contabilidade sobre a mesa.— Conseguimos? — Teri riu, levantando as sobrancelhas. — Quer dizer que você finalmente aceitou que eu sou uma excelente administradora e que sem mim essa sua academia não passava do papel?— Eu diria que você é boa o suficiente para merecer um aumento — rebati com um sorriso, e ela arqueou ainda mais as sobrancelhas.— Esse seria um excelente argumento. Se eu não fosse sua sócia.Rimos juntas e ficamos em silêncio por um instante, ambas concentradas na papelada. Até que, de repente, soltei um suspiro
Nicolas dirigia em silêncio, as mãos firmes no volante, enquanto eu encarava a paisagem noturna através da janela. Depois de tudo que aconteceu, ele insistiu em me tirar dali. Disse que eu precisava comer algo, esfriar a cabeça. Eu queria recusar, dizer que estava bem, mas a verdade era que a adrenalina ainda corria pelo meu corpo, e ficar sozinha com meus pensamentos parecia uma péssima ideia.Estacionamos em um restaurante discreto, mas sofisticado, com luzes baixas e uma atmosfera acolhedora. Ele nos levou até uma mesa perto da janela, longe da movimentação, e enquanto eu olhava o menu, percebi que ele me observava.— Você está bem? — A voz dele era calma, mas havia uma preocupação genuína.Forjei um sorriso, tentando parecer tranquila.— Estou bem. Já passei por coisa pior.Ele arqueou uma sobrancelha, claramente não convencido.— Parece que sim.Nossos pedidos chegaram, e ele pegou a taça de vinho com a elegância despreocupada de alguém acostumado a jantares refinados. Girou o lí
O fim da aula foi marcado por risadas e conversas animadas entre as alunas, que se juntavam em pequenos grupos para trocar impressões sobre os ensaios do dia. Eu observava de longe, sentindo um orgulho genuíno do progresso delas. As turmas estavam completas, os alunos estavam motivados, e eu finalmente sentia que estava construindo algo sólido, algo que ninguém poderia tirar de mim.Caminhei até minha bolsa, preparada para recolher minhas coisas e ir embora, mas parei ao ouvir um sussurro próximo.— Eu vi a Larissa chorando no banheiro da escola ontem — uma das alunas, Luana, comentou baixinho para Camila, sua voz carregada de preocupação.— Ela não queria ter ficado com a Helena, mas os pais dela não quiseram trocá-la de academia — Camila suspirou.Meus músculos tensionaram imediatamente.— Mas ela falou por que estava chorando? — Camila perguntou, curiosa.— Disse que não aguenta mais o ritmo. Mas a Helena está pegando pesado porque quer que todo mundo esteja impecável no evento int
A música preenchia o estúdio enquanto eu repetia o mesmo movimento junto com Camila, ajustando sua postura com delicadeza, mas sem aliviar na exigência. Ela estava se saindo melhor do que eu esperava, completamente focada, absorvendo cada instrução. Mas era difícil manter a concentração quando do lado de fora Helena esbravejava, tentando atravessar a porta enquanto Pedro a barrava com a calma que só ele possuía.Soltei um suspiro aliviado. Eu tinha sorte de ter Pedro não só como segurança, mas como amigo. Ele levava seu trabalho a sério e, mesmo que eu tivesse o contratado para me ajudar a manter a ordem na academia, sabia que ele ficaria ali por mim e por Teri independentemente de qualquer coisa. Depois de tudo que passei, saber que podia confiar nele me trazia um tipo de tranquilidade que eu não sentia há muito tempo. E apesar de para ele eu ser só uma louca que acertava um ou outro palpite sobre o futuro, eu estava vendo que, do lado dele, nossa relação estava começando a se recons
Organizar a mala deveria ser um processo simples e automático, mas ali estava eu, dobrando e desdobrando a mesma blusa pela terceira vez enquanto minha mente vagava em um turbilhão de pensamentos. O acampamento era, acima de tudo, um evento profissional, mas a ideia de passar dias inteiros tão próximos a Nicolas fazia meu coração bater mais forte do que eu queria admitir.Desde que voltei no tempo, minha prioridade tinha sido minha vingança. Destruir Miguel e Helena, tomar tudo deles, reconstruir minha vida e a dos meus filhos da maneira que deveria ter sido desde o começo. Mas toda vez que pensava que Nicolas não fazia parte disso — que eu precisava reconquistá-lo, fazê-lo me amar novamente, fazê-lo lembrar, mesmo sem lembrar — uma angústia apertava meu peito.Suspirei, afastando esses pensamentos e voltando a focar na mala. Não adiantava me torturar agora. O importante era que eu estaria lá, e ele também.— Mamãe, você precisa levar um casaco grosso. — Heitor apareceu na porta do qu
~NICOLAS~O acampamento deveria ser apenas um evento corporativo, uma oportunidade para fortalecer o espírito de equipe e melhorar o desempenho dos funcionários da Sartori. Mas, desde que coloquei os pés aqui, minha mente parecia incapaz de focar em qualquer coisa que não fosse Ayla Navarro.Não era racional. Eu mal a conhecia. Não tínhamos uma história. E, ainda assim, desde o primeiro encontro, algo nela me puxava para perto como um ímã. Era uma sensação inquietante, um incômodo persistente que eu tentava ignorar sem sucesso.E Letícia notava.Ela não era burra. Muito pelo contrário. Se havia algo que minha namorada sabia fazer bem, era perceber qualquer mínima variação na minha atenção. E, para minha infelicidade, ela já havia notado o quanto Ayla conseguia me desestabilizar sem sequer fazer esforço.— Você não acha que já olhou o suficiente? — A voz de Letícia cortou meu devaneio.Estávamos no centro do acampamento, e eu observava de longe Ayla interagindo com os funcionários. Ela
~AYLA~O sol ainda não estava no ponto mais alto do céu quando reuni o grupo para a primeira aula do dia. O ambiente era agradável, cercado pela natureza, e o som dos pássaros misturava-se ao murmúrio das conversas dispersas entre os funcionários.— Certo, pessoal — comecei, puxando a atenção de todos para mim. — Hoje vamos focar na respiração e no alongamento. Eu sei que para alguns de vocês isso pode parecer perda de tempo, mas acreditem, um corpo relaxado e uma mente equilibrada fazem toda a diferença no desempenho diário.Algumas pessoas assentiram com interesse, enquanto outras pareciam apenas suportar a atividade porque fazia parte do cronograma. Isso era esperado. Eu já tinha lidado com esse tipo de resistência antes.— Vamos começar com algo simples. Pés afastados na largura dos ombros, coluna reta. Respirem fundo.A movimentação começou, alguns ajustando a postura com facilidade, outros visivelmente desajeitados. Meu olhar percorreu o grupo até parar em Nicolas. Ele estava um
~NICOLAS~O final da tarde trouxe um ar mais fresco ao acampamento. Depois de um dia inteiro cercado por reuniões, atividades e discussões operacionais, decidi dar uma volta sozinho, buscando um pouco de silêncio para organizar meus próprios pensamentos.Eu não costumava me sentir assim. Desorientado. Inquieto. Desde que Ayla apareceu na minha vida, uma sensação incômoda vinha crescendo dentro de mim, como se eu estivesse esquecendo algo importante. Algo que deveria estar ali, na minha mente, mas simplesmente escapava sempre que eu tentava focar.Segui pela trilha que levava ao lago. O reflexo do céu tingia a água de tons dourados e alaranjados, criando uma cena que parecia saída de um quadro. Então, meus olhos encontraram algo – ou melhor, alguém – e todo o resto desapareceu.Ayla estava lá.Sozinha, de pé sobre a grama macia, os pés descalços afundando levemente no solo. O vento fazia seus cabelos dançarem, e ela se movia com uma graça impossível de ignorar. Cada gesto era fluido, n