~AYLA~O sol ainda não estava no ponto mais alto do céu quando reuni o grupo para a primeira aula do dia. O ambiente era agradável, cercado pela natureza, e o som dos pássaros misturava-se ao murmúrio das conversas dispersas entre os funcionários.— Certo, pessoal — comecei, puxando a atenção de todos para mim. — Hoje vamos focar na respiração e no alongamento. Eu sei que para alguns de vocês isso pode parecer perda de tempo, mas acreditem, um corpo relaxado e uma mente equilibrada fazem toda a diferença no desempenho diário.Algumas pessoas assentiram com interesse, enquanto outras pareciam apenas suportar a atividade porque fazia parte do cronograma. Isso era esperado. Eu já tinha lidado com esse tipo de resistência antes.— Vamos começar com algo simples. Pés afastados na largura dos ombros, coluna reta. Respirem fundo.A movimentação começou, alguns ajustando a postura com facilidade, outros visivelmente desajeitados. Meu olhar percorreu o grupo até parar em Nicolas. Ele estava um
~NICOLAS~O final da tarde trouxe um ar mais fresco ao acampamento. Depois de um dia inteiro cercado por reuniões, atividades e discussões operacionais, decidi dar uma volta sozinho, buscando um pouco de silêncio para organizar meus próprios pensamentos.Eu não costumava me sentir assim. Desorientado. Inquieto. Desde que Ayla apareceu na minha vida, uma sensação incômoda vinha crescendo dentro de mim, como se eu estivesse esquecendo algo importante. Algo que deveria estar ali, na minha mente, mas simplesmente escapava sempre que eu tentava focar.Segui pela trilha que levava ao lago. O reflexo do céu tingia a água de tons dourados e alaranjados, criando uma cena que parecia saída de um quadro. Então, meus olhos encontraram algo – ou melhor, alguém – e todo o resto desapareceu.Ayla estava lá.Sozinha, de pé sobre a grama macia, os pés descalços afundando levemente no solo. O vento fazia seus cabelos dançarem, e ela se movia com uma graça impossível de ignorar. Cada gesto era fluido, n
O sol já começava a aquecer o acampamento quando comecei a preparar o espaço para a aula de yoga da manhã. O gramado ao redor estava úmido com o orvalho da noite, e o som tranquilo das árvores balançando ao vento criava o ambiente perfeito para relaxamento.Os funcionários começaram a chegar, mas não vi Nicolas entre eles.— Ele teve que lidar com algumas questões administrativas — um dos diretores comentou casualmente. — Disse que viria depois, mas acho difícil.Assenti, tentando esconder minha decepção.Claro que ele não viria.Nicolas Sartori, CEO da empresa, não parecia o tipo de homem que se sentava no chão para alongar e respirar profundamente. Se já havia sido difícil convencê-lo a participar da aula no dia anterior, era óbvio que ele aproveitaria qualquer desculpa para escapar dessa.Ou pelo menos era o que eu pensava.Depois da aula, enquanto eu guardava os tapetes e ajeitava o espaço, ouvi uma voz atrás de mim.— Então é assim que você convence meus funcionários a trabalhare
A tarde seguia seu ritmo tranquilo no acampamento. O sol brilhava forte no céu, e o refeitório começava a encher conforme os funcionários se acomodavam para o almoço. O aroma de comida recém-preparada pairava no ar, misturando-se ao som das conversas animadas, tornando o ambiente acolhedor, quase normal.Quase.Porque, apesar da conversa animada ao meu redor, minha mente estava em outro lugar. Ou melhor, em outra pessoa.Letícia.Desde o primeiro dia no acampamento, eu percebia algo estranho nela. Claro, não era surpresa nenhuma que ela não gostava de mim. O problema era que seu interesse nos negócios da Sartori parecia maior do que o normal para alguém que, teoricamente, só estava aqui como namorada de Nicolas. Ela trabalhava na Sartori, mas até onde eu sabia passava longe de ser de uma área administrativa.Ela tinha um interesse real nos negócios da Sartori, e não era por amor a Nicolas. O que eu ainda não entendia exatamente era o que ela estava tentando fazer e com quem estava tra
~NICOLAS~A lua mal iluminava o caminho enquanto Ayla e eu caminhávamos pela trilha estreita na floresta. A brisa noturna soprava entre as árvores, carregando o cheiro úmido da terra e das folhas. O som da fogueira acesa no acampamento ainda ecoava à distância, mas aqui, entre as sombras das árvores, havia um silêncio reconfortante.— Você deveria ter trazido um casaco — comentei, observando como o vento bagunçava seus cabelos.— Você parece meus filhos — ela ri, como se estivesse lembrando de algo. — Eu gosto do frio — disse com um sorriso de canto.Eu não sabia exatamente como acabamos indo juntos buscar lenha. Talvez tenha sido coincidência, ou talvez eu estivesse encontrando desculpas para passar mais tempo ao lado dela sem admitir isso para mim mesmo.Ela caminhava à minha frente, os passos leves, os olhos atentos ao chão coberto de galhos. Por um momento, eu me permiti observá-la sem pressa. Havia algo de magnético em Ayla. Algo que parecia sempre puxar minha atenção para ela, m
O domingo passou como um borrão, mas eu percebi cada segundo que Ayla passou me evitando.Desde a noite anterior, ela parecia determinada a fingir que eu não existia. Nenhum olhar, nenhuma provocação, nenhuma chance de me aproximar. Ela sempre encontrava uma maneira de sair de perto antes que eu conseguisse dizer qualquer coisa.E isso me incomodava mais do que eu estava disposto a admitir.Amanhã seria o último dia do acampamento. A última oportunidade antes de voltarmos à rotina, ao escritório, à distância segura que ela parecia ansiosa em querer colocar entre nós.E eu me recusava a ir embora sem resolver isso.Mas entre Letícia grudada em mim e Ayla fugindo na direção oposta, parecia impossível sequer trocar uma palavra com ela.Suspirei, passando a mão pelos cabelos depois de mais um jogo de futebol entre os funcionários. Ricardo me lançou um olhar de soslaio enquanto bebia um gole de água.— Você está tenso.— Estou bem — menti.Ele riu, claramente não acreditando em mim.— Sei.
O caminho até o lago era silencioso, cortado apenas pelo som dos meus passos sobre a grama úmida. A noite estava absurdamente estrelada, o céu limpo como um manto de veludo cravejado de luz. Mas eu mal reparava nisso. Minha mente estava em um turbilhão desde o momento em que vi aquele tapa acontecer na tela.Ayla sabia.Não era um palpite, não era uma suposição. Ela sabia.E se ela sabia daquilo… o que mais ela sabia?Meus olhos se ajustaram à escuridão conforme me aproximava da clareira próxima ao lago. A fogueira já estava acesa, e a silhueta de Ayla se destacava contra as chamas. Ela estava sentada sobre um tronco caído, pernas cruzadas, braços apoiados nos joelhos, olhando para cima como se o céu guardasse todas as respostas que ela não podia dizer em voz alta.Ela não pareceu surpresa quando me viu.Na verdade, parecia já estar esperando por mim.— Aconteceu, não aconteceu? — perguntou sem nem olhar na minha direção. Sua voz era baixa, serena.Meus músculos enrijeceram. Como diab
O som dos pássaros ecoava pelo acampamento quando abri os olhos. O sol ainda estava baixo no horizonte, tingindo o céu de tons suaves de laranja e dourado. Mas minha mente já estava desperta, completamente lúcida.Letícia caiu na armadilha.Levantei-me da cama e caminhei até o notebook. Assim que a tela acendeu, a confirmação estava ali.Os arquivos que eu havia deixado como isca tinham sido copiados.Aquela altura, Letícia provavelmente já os teria enviado para as pessoas certas — ou erradas, dependendo do ponto de vista. Ela achava que tinha algo sólido nas mãos, algo que poderia manchar o nome da Sartori publicamente. Mas, no fim, tudo o que ela conseguiu foi cavar a própria ruína.Graças a Ayla.Meu peito apertou ao pensar nela.Eu sabia que ainda tinha muita coisa para resolver. Mas, naquele momento, só havia um lugar onde eu queria estar.Com Ayla.Peguei uma blusa qualquer e saí da cabana em passos firmes, caminhando em direção ao lago. A brisa fria da manhã trazia consigo o ch