~AYLA~O quarto estava silencioso, iluminado apenas pela luz fraca do abajur ao lado da cama. O espelho no teto refletia meu rosto cansado, os olhos fundos denunciando as noites mal dormidas. Lá fora, a música alta da boate abafava os pensamentos que insistiam em me assombrar.Nicolas não voltou.Naquela noite no restaurante, ele prometeu um encontro, uma chance para algo... diferente. Mas ele não apareceu. E, desde então, nunca mais voltou.Lorenzo, sempre sarcástico e desbocado, até tentou quebrar o gelo com suas piadas afiadas.— E aí, Nyx, seu cliente VIP já enjoou de você? — ele disse outro dia, rindo enquanto arrumava algumas bebidas no bar.Eu apenas lancei um olhar duro em sua direção, sem responder. Não havia graça em nada que envolvesse Nicolas.O pior era saber que o tempo estava acabando. Aquele contrato generoso que Nicolas pagou para garantir que eu fosse exclusivamente dele estava prestes a expirar. Em poucos dias, eu teria que voltar para outros clientes. Tocar outros
Eu não sabia como Teri e Paulo tinham me convencido a subir até ali. Talvez tenha sido o olhar determinado de Teri ou as palavras encorajadoras de Paulo, mas, de alguma forma, estávamos agora na sala de espera do Grupo Sartori.O ambiente era frio, sofisticado e impecavelmente silencioso. Cada detalhe, desde os móveis minimalistas até o aroma amadeirado que pairava no ar, parecia gritar “poder”. E, no meio daquele cenário, eu me sentia tão deslocada quanto um peixe fora d'água.Olhei para a porta de vidro no final do corredor, a mesma porta que levava ao terraço do prédio. A imagem veio como um soco no estômago: eu, atravessando aquela mesma porta, desesperada, correndo em direção ao vazio que parecia ser minha única saída. Pisquei algumas vezes, tentando afastar a lembrança. Era só uma memória distorcida, não era real. Não podia ser.— Eu não posso fazer isso — murmurei, virando-me para Teri. — Não tem a mínima chance de eu ficar frente a frente com Nicolas de novo.Teri franziu o ce
~TERI~Ficar sozinha em uma sala com um homem como Ricardo Belmonte não era exatamente um problema para mim. Eu já tinha enfrentado caras piores, com sorrisos mais perigosos e intenções mais nebulosas. Ainda assim, havia algo nele que me deixava em alerta. Talvez fosse aquele jeito de olhar, como se estivesse sempre dois passos à frente de qualquer jogada que eu pudesse fazer.Ele me observava com um sorriso quase indecifrável, como se estivesse tentando me desvendar enquanto inclinava a cabeça levemente para o lado.— Eu acho que conheço você de algum lugar — ele disse. — Mas não consigo me lembrar de onde.Inclinei a cabeça também, espelhando o gesto dele, e deixei um sorriso malicioso escapar pelos lábios pintados de vermelho.— Depende, senhor Belmonte. Você está acostumado a contratar garotas de programa de luxo?Ele riu, um pouco desconcertado, como se ele estivesse esperando por qualquer coisa que não aquela resposta tão direta. Seus dedos deslizaram pela gravata, ajustando o n
~NICOLAS~O bar que escolhemos estava quase vazio naquela noite de sábado. A iluminação baixa lançava sombras suaves sobre os copos de uísque e garrafas perfeitamente alinhadas atrás do balcão de mogno escuro. O som abafado de jazz tocava ao fundo, e o gelo no meu copo tilintava suavemente enquanto eu o girava entre os dedos.Ricardo estava sentado à minha frente, com a gravata frouxa e o paletó jogado displicentemente sobre o encosto da cadeira. Ele bebia devagar, mas seus olhos me analisavam com a intensidade de alguém que sabia mais do que dizia.— E então? Como está Isabela? — perguntou ele, rompendo o silêncio confortável entre nós.— Foi só um susto — respondi, com a voz rouca do álcool e do cansaço acumulado. — Mas você sabe... Na situação dela, não existe mais "bem". Cada dia é uma batalha que estamos perdendo.Ricardo assentiu, o olhar dele carregado de compreensão.— Talvez fosse melhor começar a preparar Amélie para o pior, Nico. Ela é esperta, mas ainda é uma criança.Solt
~AYLA~Eu estava sentada no sofá gasto da nossa sala, com as pernas cruzadas e um copo de vinho barato na mão. A luz amarelada do abajur iluminava apenas metade do meu rosto, enquanto a outra metade permanecia na penumbra. Teri estava no chão, com as costas apoiadas no sofá e os cabelos espalhados sobre os ombros. A TV estava ligada, mas nenhum de nós realmente prestava atenção nela.— Ele é casado, Teri — minha voz soou baixa, mas firme. — Nicolas é casado. E a esposa dele está no hospital.Teri arqueou uma sobrancelha, o rosto virado para mim.— Como você descobriu isso?— Eu me lembro dele e da filha no hospital. Eu estava lá, lembra? A Dra. Alice comentou sobre eles. Disse que estavam sempre lá… — Minha voz falhou, e eu apertei o copo com mais força. — E agora eu não consigo parar de pensar nisso. Nicolas Sartori, o homem que me fez acreditar que queria algo mais comigo, que fez parecer que eu era mais do que só uma mulher que ele pagou para estar ali, simplesmente abandonou a esp
A respiração saiu pesada de meus lábios assim que eu e Teri atravessamos a entrada da boate. O alívio foi imediato, mas não o suficiente para dissipar a tensão que vinha me acompanhando durante todo o trajeto. Pegamos um Uber naquela noite, algo que quase nunca fazíamos já que não podíamos nos dar ao luxo de pagar algo mais caro do que uma passagem de ônibus, e mesmo assim, cada minuto do caminho foi uma tortura. Eu não conseguia parar de pensar que, de alguma forma, alguém descobriria o que havia na mala que carregávamos. Claro, era paranoia minha, mas a sensação não me deixava em paz.Assim que cruzamos a porta, percebi algo estranho: Pedro não estava no seu lugar habitual. Em vez disso, um segurança novo, que eu nunca tinha visto, ocupava o posto.— Oi, cadê o Pedro? — perguntei, me aproximando.— Ele está com uma virose — respondeu, com um tom neutro, sem sequer desviar o olhar da entrada. — Me chamaram pra cobrir hoje.Suspirei, desapontada, mas não deixei de sorrir.— Logo hoje
Meu coração quase parou quando meus olhos encontraram os dele. O choque foi tão grande que meus pés agiram antes da minha mente, me fazendo dar passos desajeitados para trás. Estava tão absorta no terror daquela visão que nem percebi quando saí do quarto. Mas não tive chance de fugir.Mãos fortes agarraram meus braços com força e me puxaram de volta para dentro. A porta se fechou atrás de mim, e o som seco da tranca ecoou no silêncio do quarto.— Senti sua falta — ele disse, aproximando-se com uma intensidade que me fez recuar mais uma vez. Em um movimento abrupto, seus lábios colidiram com os meus, violentos, invasivos.— Miguel, não! — gritei, empurrando-o com toda a força que consegui reunir. Ele parou, me encarando com aquele mesmo olhar sarcástico que me fazia sentir tão pequena desde o dia em que nos separamos.— Eu paguei por você — ele disse, com um tom ácido. — Você não tem o direito de dizer não.Minha respiração estava pesada, mas consegui responder, mesmo com a voz trêmula
~TERI~A porta se abriu devagar, revelando Ricardo sentado em uma poltrona de couro já desgastada, com um copo de uísque equilibrado entre os dedos. Ele parecia à vontade demais naquele ambiente, entregando que não era sua primeira vez em um lugar como aquele. O sorriso despreocupado em seu rosto foi a primeira coisa que notei, seguido pelo olhar ligeiramente avaliador que ele lançou em minha direção.— Até que enfim — ele disse, levantando o copo em uma saudação preguiçosa. — Achei que fosse me deixar esperando a noite toda.Cruzei os braços e encostei-me à porta, lançando um olhar provocador.— Não está acostumado a aguardar por algo bom?Ele riu, tomando um gole do uísque e me observando com aquele olhar casual que misturava charme e atrevimento.— Para algo realmente bom, eu espero o tempo que for necessário.— Direto aos negócios? — perguntei, com um sorriso travesso.Ele arqueou a sobrancelha, um sorriso brincando nos lábios.— Qual deles?Ri enquanto arrastava a mala para dentr