A madrugada parecia respirar aliviada, como se a floresta finalmente recuperasse seu ritmo natural após o caos da noite. As sombras haviam se dissipado, e o silêncio era agora um manto reconfortante, em vez de uma presença inquietante. No coração da mata, onde a luz das estrelas mal alcançava, Kaena e os estrategistas mascarados preparavam-se para partir.Kaena olhou para Yara e Tupã, que permaneciam lado a lado, ainda carregando a intensidade dos eventos daquela noite nos olhos. Os estrategistas mascarados ficaram em silêncio, como se fossem espectros que desapareciam junto com a escuridão.— Vocês sabem o que fazer agora — disse Kaena, sua voz firme, mas em tom de despedida. — A floresta deu o primeiro passo, mas tenho a amarga sensação de que esta luta não terminará tão cedo. Donaldo pode ter sido derrotado, mas outros como ele virão, e vocês precisarão estar alertas.Yara assentiu lentamente, sentindo o peso das palavras de Kaena. O vento soprava entre as árvores, fustigando seus
A luz da manhã filtrava-se pelas copas das árvores, lançando sombras compridas e douradas sobre o solo. A floresta em volta parecia sussurrar bênçãos em cada rajada de vento, mas também se despedir, como se soubesse que os dois estavam prestes a deixá-la para trás.O norte os chamava, uma terra cheia de promessas e perigos. A jornada não seria fácil, mas nenhum deles esperava facilidade; apenas resultados. Caminhavam lado a lado — Tupã com seus passos firmes e Yara com seu olhar atento —, a conexão entre eles um fio invisível de força e cumplicidade, uma força maior do que qualquer obstáculo que poderiam encontrar.Conforme avançavam, a paisagem começou a mudar. As árvores altas e acolhedoras da floresta deram lugar a vegetação mais
A manhã nascera com uma estranha melancolia no ar. O sol, normalmente vibrante, parecia mais pálido, filtrando-se com timidez através da vegetação esparsa em volta do esconderijo da tribo. Yara e Tupã estavam reunidos com o ancião e outros membros sobreviventes, discutindo as possibilidades de reconstrução e resistência. A escolha diante deles pesava como uma pedra no coração: seguir para o norte e cumprir a promessa feita a Tumbleweed ou ficar e ajudar aquela tribo, tão devastada pela opressão dos exploradores.— Entendam — disse o ancião, apoiado em seu cajado —, não queremos ser um fardo para vocês. Mas também sabemos que, sem ajuda, nossa tribo não sobreviverá a outro ataque. Somos poucos e vulneráveis.Antes que Yara ou Tupã pudessem responder, um jovem entrou na caverna improvisada, a expressão em seu rosto carregada de preocupação.— Ancião, as crianças... elas pi
A subida pelas montanhas era um desafio tanto para o corpo quanto para a mente. Cada passo exigia mais de Yara, com o terreno traiçoeiro e os ventos cortantes que traziam o cheiro de pedras e silêncio. As encostas eram íngremes, com pedras soltas que ameaçavam ceder a qualquer instante, e ravinas profundas parecendo olhos negros, espreitando das profundezas.Yara avançava com cuidado, o olhar atento, as mãos firmes em seu arco. Cada som, por menor que fosse, parecia amplificado. O chilrear distante de um pássaro, o estalo de galhos secos ao vento, até mesmo sua respiração, tudo se transformava em um lembrete constante de que ela estava sozinha e vulnerável.Os sinais de presença humana tornavam a jornada ainda mais perturbadora. Aqui e ali, ela encontrava marcas deixadas por exploradores: pegadas recentes, ferramentas abandonadas, garrafas de bebida alcoólica, e até mesmo restos de acampamentos. O cheiro de fumaça velha e de água de fogo e ferro impregnava o ar em certos trechos, desto
Tupã caminhava sozinho pela mata, cada passo um eco da determinação que o guiava. A floresta ao redor parecia diferente agora que estava sem Yara. Ainda era viva, pulsante, mas havia um silêncio que parecia pesar mais do que o normal. Ele sentia a ausência dela como uma brisa interrompida, uma força que antes equilibrava seus pensamentos.Mas ele não podia se desviar de seu propósito. Cada decisão que tomaram juntos levava àquele momento, e a promessa feita a Tumbleweed e aos outros que sofriam nas minas dependia de sua força.O norte o chamava, por mais que o caminho fosse traiçoeiro.Logo ao deixar a clareira onde se despedira de Yara, o terreno começou a mudar. O chão úmido e acolhedor da floresta deu lugar a trilhas acidentadas, cobertas de pedras soltas e raízes traiçoeiras que pareciam querer derrubá-lo a cada passo. O vento soprava mais frio, trazendo consigo o cheiro do desconhecido, uma mistura de terra seca e cinzas distantes.Tupã movia-se com a destreza de um Sith, seus pés
Depois de dias avançando, Tupã começou a farejar sinais de presença humana. Primeiramente, eram pegadas mal apagadas na lama, acompanhadas por cinzas de fogueiras antigas. Mais adiante, encontrou galhos quebrados em ângulos que não eram naturais — marcas claras de atividades recentes.Finalmente, ao cair da noite, ele percebeu uma luz fraca piscando ao longe. Era um acampamento, escondido parcialmente entre as árvores mais ralas do norte. A fumaça de uma fogueira subia em espirais finas, misturando-se ao céu escuro e estrelado.Tupã respirou fundo, ajustou a aljava de flechas em suas costas, então começou a se aproximar. Seus passos eram leves, e ele se movia com a fluidez de um rio calmo, evitando galhos secos que poderiam traí-lo. Não podia ser visto nem ouvido.Quando finalmente chegou a uma distância segura, Tupã se abaixou, escondendo-se atrás de uma árvore gro
O silêncio da floresta era enganoso. Tupã movia-se com a destreza de um espírito Asanbosam, os olhos atentos aos menores detalhes. Cada folha amassada, cada galho partido era uma pista deixada pelos caçadores. A floresta contava histórias para aqueles que sabiam escutá-la, e Tupã era um mestre em decifrar seus sussurros.Os planos de Donaldo não saíam de sua mente. O desejo de vingança daquele homem e sua insistência em explorar o desconhecido representavam um perigo para tudo que Tupã defendia. Se Donaldo realmente tinha caçadores em campo para buscar "esquisitices", o tempo era inimigo dos guardiões, e Tupã precisava entender o terreno antes que fosse tarde demais.Os primeiros sinais não demoraram a surgir. Pegadas na terra, com sulcos profundos, indicavam botas pesadas. Um galho quebrado revelava que pelo menos um dos homens carregava uma arma longa, talvez um rifle. Tupã seguiu esses rastros com paciência, como uma sombra que observa sem ser vista.O caminho o levou a um trecho d
O ar na base das montanhas parecia mais denso, a floresta, com sua habitual vitalidade, agora carregando uma estranha tensão, como se ela mesma estivesse prendendo o fôlego. Yara movia-se com prudência, cada passo silencioso, mas repleto de propósito. Estava reunindo provisões: raízes comestíveis, pequenas frutas, e analisando o terreno para futuras necessidades da tribo.Mas havia algo diferente naquele dia.Conforme examinava um arbusto de folhas largas, sentiu uma presença. Não era um som ou um movimento perceptível, mas algo mais sutil, uma sensação de que os olhos da própria floresta grudavam-se sobre si. O vento parecia mudar de direção, sussurrando advertências que ela não conseguia compreender.Endireitando-se devagar, Yara olhou em volta, seus olhos compenetrados vasculhando as sombras. O silêncio era profundo, porém não reconfortante.— Quem está aí? — perguntou ela em voz baixa, a mão já tocando seu arco.Nenhuma resposta veio, mas as folhas de um galho próximo tremularam, e