DRIM! DRIM! DRIM!
Amélia odiava muitas coisas na vida: injustiças, preconceitos, oportunistas, mentiras, falsidades, seus colegas de faculdade e a sua querida vizinha do 301.
Mas, não existia nada que pudesse superar seu ódio por acordar cedo, principalmente pelo seu maravilhoso despertador com toda aquela sua melodia dos céus. Ironia transbordava de si.
Amaldiçoava todos os deuses no mesmo horário do dia. Não conseguia entender por que se matriculou no horário da manhã. Só podia estar com algum problema mental.
Ou talvez uma distração.
Sim, uma completa distração.
A sua diabinha de rosto angelical.
Fazer aquela rotina todos os dias, deixava-lhe enjoada e com vontade de morrer pela manhã. Em poucos minutos, estaria pronta para começar mais um dia em seu novo país. Talvez não tão novo assim.
Os Estados Unidos da América era o sonho de qualquer jovem e, com ela, não era diferente.
Desde pequena, sonhava em como seria sua vida no país aclamado por todos. Com muito esforço, conseguiu alcançar seu objetivo.
Havia se mudado há dois anos. Mais especificamente, para o Brooklyn, em um confortável apartamento de poucos metros quadrados. Considerado pequeno aos olhos dos outros, mas, para si, era mais do que o suficiente.
Ao fundo, conseguia escutar um cantarolar familiar.
Jade
Sua colega de apartamento adorava cantar pelas manhãs. Dizia que isso trazia boas energias para o dia. Amélia só não sabia para onde essas energias iam, pois sempre era tudo tão corrido e turbulento.
Esperava de coração que isso fosse totalmente diferente com Jade.
E sabia que era.
A garota tinha uma aura especial, leve com uma pluma, tinha o poder de encantar a todos ao seu redor. Adorava ser gentil com as pessoas e era o mais sociável possível. Sempre ajudando e aconselhando a todos para o caminho do bem.
Era um anjo na terra.
Seu querubim.
Tal ser que transformava seus dias, inconsequentemente, nos mais dolorosos e prazerosos possíveis.
Não sabia em que momento aquele amor avassalador se instalara no seu coração. Duvidava que pudesse descobrir com precisão. Só podia senti-lo vibrar seu corpo e acelerar seus pensamentos. Era mágico e amendrontador, como andar em um paraíso negro, sem um caminho para seguir. Jade era, e continuava sendo, a melhor amiga de Amélia. A sua companheira de aventuras e grandes memórias. Além disso, era sua confidente e ombro amigo. Sabia que poderia contar com ela para tudo. Haviam se conhecido no ensino fundamental. Eram duas adolescentes animadas e solicitas. E logo já eram inseparáveis, andando por todos os lados juntas, como verdadeiras gêmeas. Como se conhecessem a vários anos, em vidas passadas, fortes laços que não podiam ser quebrados nem pela própria morte. Passavam horas conversando sobre amenidades. Amélia ado
Mesmo que não trouxesse boas energias para seu dia, Amélia amava admirar Jade cantando, era como observar os anjos cantando no céu, com belas nuvens branquinhas e um lindo céu azul, límpido e vivo. A forma como seus lábios dançavam a cada nota proferida, o balançar suave de seus quadris desejosos ao avançar da música, o agraciar de seus cabelos sedosos a cada movimento dado em sua dança particular, o verdadeiro paraíso. Ela adorava tudo aquilo, era, definitivamente, um dos melhores momentos da sua vida. Jade era como uma obra de arte viva, a autêntica Monalisa, tão bela quanto os quadros de Vincent Van Gogh, de Pablo Picasso ou Leonardo da Vinci. Era a sua própria Adele Bloch-Bauer ou Suzanne Valadon. Era sua verdadeira musa, sua bela arte. Uma explosão de cores e sentimento
Durante anos, esteve em uma batalha. Tentou resistir, mas era inevitável. Se encontrava presa nas teias pegajosas do amor, como uma pequena presa, prestes a ser devorada pela temida aranha. Não podia desistir, tinha que tentar. Mesmo que soubesse a verdade, o esforço era inútil, estava perdida, derrotada, não havia mais nada que pudesse fazer. O amor que possuía em seu coração era forte demais para acabar tão repentinamente, sem sequer ter sido vivido verdadeiramente. ◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇ Encontravam-se no meio do ano letivo. O fim do semestre era caótico: trabalhos
Há tanto tempo que não provava aquilo, às vezes pensava que havia esquecido como eram as sensações. Depois de semanas enclausurada em uma enxurrada de provas e trabalho maçante na biblioteca, finalmente encontrou um tempo para espairecer. Era extremamente necessário para o seu corpo um pouco de descanso ou relaxamento, geralmente procurava isso em bares ou festas, mas, dessa vez, Amélia faria algo diferente. Claro, o local escolhido não era o mais indicado para isso, com todos os problemas e confusões que o cercavam. Uma aura completamente caótica e energética. Era disso que precisava, um pouco de energia. Sabia que não poderia encontrar um melhor, não para ela, pelo menos. Um palco de luta clandestina. Era uma das partes proibidas da cidade mais desejadas por Amélia, a verdadeira representação de aventura e adre
Amélia e o tal "Lobo Mau esbarraram naquela mesma noite. A química entre os dois era palpável, como a clássica tensão sexual dos livros. Carnal e sedenta. De uma forma ou outra, se encontrariam profundamente. E, foi exatamente o que aconteceu, perdendo-se um no outro. Se de longe ele era fenomenal, de perto era um espetáculo. Toda a áurea confiante e dominadora só tornara tudo ainda mais excitante. Sabia bem o que fazer, seus atos deixavam claro toda experiência que possuía. E Amélia não negava, havia sido incrível. Perdera as contas de quantas vezes repetiram o mesmo processo, de modos diferentes. Estavam tão esgotados que, no final, só se embolaram nos lençóis macios e dormiram profundamente. Não houvera diálogos ou papos rasos. Não era necessário. Conheciam as necessidades do outro e sabiam como saciá-las, satisfazê-las. Não houve troca de números, expectativas ou qualquer outra coisa que pudesse planejar um outro esbarrão futuro. A
Jamais em sua vida tinha visto as coisas da forma como estavam no momento. A cor escarlate tingia tudo em sua frente, tornando o cenário macabro e horripilante. Era como um show de horrores, o próprio inferno terrestre. Luzes piscavam e cegavam sua visão, era como se demônios possuíssem seu corpo e ordenassem seus atos. Não comandava seus movimentos, perdera completamente o poder e controle, era como se não soubesse absorver o que estava em sua frente, acontecendo nesse exato momento. Só sentia uma explosão prestes a acontecer dentro de si. Chegara tão perto do mais novo casal que nem havia percebido tal ato. Sua respiração ofegante esvoaçava levemente os cabelos castanhos de Jade, o mesmo ar sendo compartilhado pelos três, uma distância mínima havia ali. As expressões que tomavam conta dos seus rostos eram de pu
Há exatos três semanas, dois dias, dezesseis horas, quarenta minutos e cinco segundos estava sem falar com Jade. Era tão dependente de sua relação que não conseguia ficar sem contar todos os míseros segundos que passavam distantes, sem contato. Não ousaram se olhar, permanecer no mesmo cômodo e tentar uma reconciliação. A mínima comunicação possível era escassa, quase inexistente. Como duas estranhas que esbarram na rua. Sem importância ou relevância. Todo o tempo da relação fora descartado como nada em míseros segundos, em um mísero pronunciamento. Nunca havia sentido aquilo. Um verdadeiro vazio, como um buraco negro sugando todo e qualquer sentimento do seu corpo. Ou um furacão, destruindo qualquer simples sinal de alegria ou vida em seu corpo. Se sentia prestes a ser levada pelo mais temido dos terremotos. Ter
Num estado profundo e solitário de amargor, Amélia sentia que precisava de alguma emoção em sua vida, necessitava sentir algo diferente de toda aquela dor e sofrimento. Para ela, toda a confusão que sua vida havia se tornado precisava normalizar, organizar tudo em seu devido lugar. Porém, antes de qualquer coisa, tentaria encontrar uma forma de extravasar toda aquela mágoa, ira e raiva. Não podia carregar esses sentimentos consigo, traria apenas malefícios para si. Deveria extravasa-los e jogá-los fora do seu sistema, para bem longe de si. Portanto, procurou por algum método que fosse eficaz o suficiente para o que precisava. O sexo, antes seu grande parceiro nesse tipo de problema, não ajudava mais. O vazio após o ato era pior que antes, como se apenas contribuísse para o buraco negro que era o seu coração. O se