Não sabia em que momento aquele amor avassalador se instalara no seu coração. Duvidava que pudesse descobrir com precisão. Só podia senti-lo vibrar seu corpo e acelerar seus pensamentos. Era mágico e amendrontador, como andar em um paraíso negro, sem um caminho para seguir.
Jade era, e continuava sendo, a melhor amiga de Amélia. A sua companheira de aventuras e grandes memórias. Além disso, era sua confidente e ombro amigo. Sabia que poderia contar com ela para tudo.
Haviam se conhecido no ensino fundamental. Eram duas adolescentes animadas e solicitas. E logo já eram inseparáveis, andando por todos os lados juntas, como verdadeiras gêmeas. Como se conhecessem a vários anos, em vidas passadas, fortes laços que não podiam ser quebrados nem pela própria morte.
Passavam horas conversando sobre amenidades. Amélia adorava tudo aquilo. Jade era como sua alma gêmea, entendia-a tão bem que às vezes tal compreensão a assustava. Entretanto, também a confortava, por saber e sentir tudo isso com Jade, sentia-se sortuda por te-la em sua vida.
A química entre elas era incrível.
O tempo foi passando e a amizade, crescendo. Claro que haviam superado turbulências durante os anos. Algumas discussões bobas, brigas superficiais ou ciúmes tolos. Mas, a amizade expandia, tão forte que nada era capaz de destruí-la ou atacá-la. Era algo de outro mundo.
As garotas cresceram juntas. Com apenas meses de diferença, a conexão se fortalecia, inquebrável e resistente. Além de render boas piadas por parte de Amélia, por ser a mais velha, ela adorava brincar com sua amiga por esse fato.
Estavam juntas quando a mais velha teve seu primeiro relacionamento amoroso.
E quando a mais nova perdeu sua virgindade.
Eram inseparáveis.
Como se, juntas, tornam-se uma só.
Então, não tinha como saber. Amélia só percebeu, com um click, que era completamente apaixonada por Jade e isso a ergueu do mundo para jogá-la do mais alto ponto existente, como uma grande montanha russa. Perigosa, mas atraente.
Todas as peças de seu passado compartilhado começaram a ter um verdadeiro sentido: os ciúmes que sentia por todos os namorados ou paqueras de Jade; a preocupação exacerbada que possuía, sempre querendo tratá-la como uma boneca de porcelana; a euforia que sentia com o simples fato de respirar o mesmo ar de sua parceira.
Sua amada.
O baque foi forte para a pobre garota. Não sabia o que fazer. Jade era sua melhor amiga, aquilo não poderia ocorrer, era totalmente improvável e impossível. A clara relação de amizade impedia qualquer evolução nesse aspecto.
Mas, foi inevitável. Como o Sol aquece a Terra, Amélia foi aquecida pelo seu amor à Jade. Tão caloroso e calentador, como um abraço de urso. Era incrível o que isso poderia causar em si, as sensações e emoções loucas, como os hormônios de um adolescente. Quase como se voltasse a ser criança, com um ar de infância segura.
Começava a enxergá-la como uma rainha, a colocando em um pedestal e adorando-a como uma deusa, sempre tentando fazer de tudo para mimá-la e prover o melhor para sua adorada amiga. Faria de tudo para vê-la feliz.
Era seu conforto tratar sua garota como merecia. Mesmo que a garota em questão não soubesse das reais intenções de sua melhor amiga. Mas, como poderia saber? A mais velha sempre tentou não vacilar ou denunciar seu coração.
Amélia não deixou que o amor abalasse sua amizade. Por isso, ocultou esse sentimento proibido bem no fundo de meu âmago, tentando a todo custo esquecê-lo na parte mais remota de seu ser, como se fosse apenas um delírio de sua cabeça, um engano simples.
Todavia, isso era impossível. Como voar ou tocar o céu, Amélia não poderia simplesmente apagar tudo de sua mente, do seu órgão vital. Era difícil demais para si, mesmo que tentasse tudo que conseguia.
Precisava de Jade, assim como precisava do ar, do tão precioso oxigênio para viver.
Era seu oxigênio, sua vida, tudo que mais desejava ter. Não poderia se afastar, esconder o que sentia ou declarar o seu amor. Sabia da orientação de sua amiga. Totalmente padrão e guardada em uma caixinha. Não a culpava ou desgostava, apenas sentia mágoa por saber que não possuía uma mínima chance.
Jade era encantadora, alegre e meiga e todos sabiam disso. Por esses motivos, vivia cercada por cantadas e os mais diversos galãs, de todos os tipos possíveis. Não apenas os garotos, como as garotas também. Todos queriam um pouco do seu tempo ou de sua atenção. Era assustador e dilacerante.
Fora obrigada a assistir de camarote todos os encontros românticos existentes na vida de sua musa. Diversos homens tentando conquistar o precioso coração da bela jovem, como se fosse uma princesa presa em sua torre, no canto mais alto de um temível castelo. Aquilo não era o conto de fadas, Jade não precisava ser salva, apenas amada.
Amélia poderia ser um pouco metida nesse ponto, mas ela com toda certeza sabia que poderia prover tudo que sua melhor amiga precisava. Queria tanto que ela pduessse perceber e mudar isso o mais rápido possível.
Contorcia-se em sua amargura quando via que meros mortais não tratavam sua garota como merecia, apenas com interreses carnais ou tolos, superfulus demais para uma pessoa tão doce como ela.
Jade deveria ser tratada como uma rara espécie, como um anjo. Sua delicadeza e graça deveriam ser exaltadas, sua bondade e enorme coração deveriam ser louvados. Jade deveria ser endeusada, venerada. Tais pensamentos só esclareciam cada vez mais o que Amélia sabia: estava perdidamente e loucamente apaixonada por sua melhor amiga.
As pessoas às quais Jade convivia não haviam constatado tal fato. Ninguém poderia enxergá-la como Amélia, entendê-la ou compreendê-la. A relação que possuíam era profunda demais e responsável pela conexão forte que havia entre elas. E isso só tornava todo inferno pessoal de Amélia algo quase impossível de se aguentar, observar a mesma cena várias vezes, como um espetáculo de horror, sem poder intervir ou mostrar a todos os garotos como se trata uma dama de verdade. Com amor e devoção.
Entretanto, desconhecia o que poderia fazer para mudar aquilo. Portanto, passava seu tempo livre enxotando tais presenças indesejadas para bem longe da sua amada, distraindo sua mente com as mais variadas atividades: ler, cantar, dançar, admirar as estrelas, respirar. Qualquer coisa que pudesse mudar o foco da sua mente e ajudá-la temporariamente. Só não sabia até quando aquilo daria certo, sem trazer graves consequências para a sua preciosa amizade.
Mesmo que não trouxesse boas energias para seu dia, Amélia amava admirar Jade cantando, era como observar os anjos cantando no céu, com belas nuvens branquinhas e um lindo céu azul, límpido e vivo. A forma como seus lábios dançavam a cada nota proferida, o balançar suave de seus quadris desejosos ao avançar da música, o agraciar de seus cabelos sedosos a cada movimento dado em sua dança particular, o verdadeiro paraíso. Ela adorava tudo aquilo, era, definitivamente, um dos melhores momentos da sua vida. Jade era como uma obra de arte viva, a autêntica Monalisa, tão bela quanto os quadros de Vincent Van Gogh, de Pablo Picasso ou Leonardo da Vinci. Era a sua própria Adele Bloch-Bauer ou Suzanne Valadon. Era sua verdadeira musa, sua bela arte. Uma explosão de cores e sentimento
Durante anos, esteve em uma batalha. Tentou resistir, mas era inevitável. Se encontrava presa nas teias pegajosas do amor, como uma pequena presa, prestes a ser devorada pela temida aranha. Não podia desistir, tinha que tentar. Mesmo que soubesse a verdade, o esforço era inútil, estava perdida, derrotada, não havia mais nada que pudesse fazer. O amor que possuía em seu coração era forte demais para acabar tão repentinamente, sem sequer ter sido vivido verdadeiramente. ◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇ Encontravam-se no meio do ano letivo. O fim do semestre era caótico: trabalhos
Há tanto tempo que não provava aquilo, às vezes pensava que havia esquecido como eram as sensações. Depois de semanas enclausurada em uma enxurrada de provas e trabalho maçante na biblioteca, finalmente encontrou um tempo para espairecer. Era extremamente necessário para o seu corpo um pouco de descanso ou relaxamento, geralmente procurava isso em bares ou festas, mas, dessa vez, Amélia faria algo diferente. Claro, o local escolhido não era o mais indicado para isso, com todos os problemas e confusões que o cercavam. Uma aura completamente caótica e energética. Era disso que precisava, um pouco de energia. Sabia que não poderia encontrar um melhor, não para ela, pelo menos. Um palco de luta clandestina. Era uma das partes proibidas da cidade mais desejadas por Amélia, a verdadeira representação de aventura e adre
Amélia e o tal "Lobo Mau esbarraram naquela mesma noite. A química entre os dois era palpável, como a clássica tensão sexual dos livros. Carnal e sedenta. De uma forma ou outra, se encontrariam profundamente. E, foi exatamente o que aconteceu, perdendo-se um no outro. Se de longe ele era fenomenal, de perto era um espetáculo. Toda a áurea confiante e dominadora só tornara tudo ainda mais excitante. Sabia bem o que fazer, seus atos deixavam claro toda experiência que possuía. E Amélia não negava, havia sido incrível. Perdera as contas de quantas vezes repetiram o mesmo processo, de modos diferentes. Estavam tão esgotados que, no final, só se embolaram nos lençóis macios e dormiram profundamente. Não houvera diálogos ou papos rasos. Não era necessário. Conheciam as necessidades do outro e sabiam como saciá-las, satisfazê-las. Não houve troca de números, expectativas ou qualquer outra coisa que pudesse planejar um outro esbarrão futuro. A
Jamais em sua vida tinha visto as coisas da forma como estavam no momento. A cor escarlate tingia tudo em sua frente, tornando o cenário macabro e horripilante. Era como um show de horrores, o próprio inferno terrestre. Luzes piscavam e cegavam sua visão, era como se demônios possuíssem seu corpo e ordenassem seus atos. Não comandava seus movimentos, perdera completamente o poder e controle, era como se não soubesse absorver o que estava em sua frente, acontecendo nesse exato momento. Só sentia uma explosão prestes a acontecer dentro de si. Chegara tão perto do mais novo casal que nem havia percebido tal ato. Sua respiração ofegante esvoaçava levemente os cabelos castanhos de Jade, o mesmo ar sendo compartilhado pelos três, uma distância mínima havia ali. As expressões que tomavam conta dos seus rostos eram de pu
Há exatos três semanas, dois dias, dezesseis horas, quarenta minutos e cinco segundos estava sem falar com Jade. Era tão dependente de sua relação que não conseguia ficar sem contar todos os míseros segundos que passavam distantes, sem contato. Não ousaram se olhar, permanecer no mesmo cômodo e tentar uma reconciliação. A mínima comunicação possível era escassa, quase inexistente. Como duas estranhas que esbarram na rua. Sem importância ou relevância. Todo o tempo da relação fora descartado como nada em míseros segundos, em um mísero pronunciamento. Nunca havia sentido aquilo. Um verdadeiro vazio, como um buraco negro sugando todo e qualquer sentimento do seu corpo. Ou um furacão, destruindo qualquer simples sinal de alegria ou vida em seu corpo. Se sentia prestes a ser levada pelo mais temido dos terremotos. Ter
Num estado profundo e solitário de amargor, Amélia sentia que precisava de alguma emoção em sua vida, necessitava sentir algo diferente de toda aquela dor e sofrimento. Para ela, toda a confusão que sua vida havia se tornado precisava normalizar, organizar tudo em seu devido lugar. Porém, antes de qualquer coisa, tentaria encontrar uma forma de extravasar toda aquela mágoa, ira e raiva. Não podia carregar esses sentimentos consigo, traria apenas malefícios para si. Deveria extravasa-los e jogá-los fora do seu sistema, para bem longe de si. Portanto, procurou por algum método que fosse eficaz o suficiente para o que precisava. O sexo, antes seu grande parceiro nesse tipo de problema, não ajudava mais. O vazio após o ato era pior que antes, como se apenas contribuísse para o buraco negro que era o seu coração. O se
Aquela luta era diferente das outras, não que possuísse grande conhecimento prático. Apenas continha informações teóricas, tudo que já havia assistido e lido também. Era diferente de subir em um palco e lutar de verdade, cara a cara com o oponente. Não conhecia sua adversária. Aparentemente, era nova na área. Talvez causasse um certo temor, mas estava amargurada demais para se importar. Conhecia bem a teoria de toda a coisa, os movimentos, os momentos certos de agir e confrontar.