Amélia estava estranha, distante e distraída. Não conversava mais comigo ou fazia nossos passatempos de sempre; maratonar novas séries, passear pela cidade, conhecer novos lugares ou sair para festas. Ela poderia até pensar que conseguia disfarçar seus sentimentos e sensações, mas eu a conhecia, sabia quando algo estava errado ou fora do lugar.
Era bem óbvio a mudança drástica. Somos melhores amigas a tanto tempo, nem sequer conseguiria definir. Desde pequenas estamos juntas em todos os momentos importantes que já ocorreram em nossas vidas ou até mesmo os péssimos. Não importava a situação.
Estávamos sempre uma ao lado da outra, conhecendo tão bem nossas particularidades e desejos; compartilhando nossas experiências; vivendo juntas. Era assim desde o nosso pequeno vilarejo, que possuía tantos traumas para nós duas.
Estar em um vazio constante é cansativo, você tenta, de todas as formas, mudar ou reverter a situação. Busca por todos os tipos de alternativas, nem sempre se importando com as consequências do seus atos. É exatamente assim que me sinto, ultimamente. Cheguei ao ponto de não me importar com as consequências, com o que pode acontecer comigo caso meu plano não ocorra conforme eu pensei. É angustiante e exaustivo procurar por algo que não é possível encontrar ou comprar em uma loja, como se fosse um objeto, um artigo de decoração. A solidão é como um grande universo, vasto e devastador. Eu, um pequeno grão de areia, perdido no espaço, sem saber como voltar para o meu ponto inicial. Na verdade, não há começo, meio ou fim. Há apenas um único ponto transformado e multiplicado para diversos minúsculos pontos, mas, mesmo com tantas, eu não consigo encontrar o meu. Eu
Após alguns segundos, Amélia recobrou seus sentidos, acordando verdadeiramente Correu seus olhos ao seu redor, percebendo o local onde se encontrava, no camarim do clube, destinado apenas para os lutadores. Não houve um grande deslocamento, mas, mesmo assim, o seu corpo doeu, reclamando pelo esforço. Conseguiu sentir a força de cada soco espalhada pela sua pele, como pequenas agulhas profundas, estava tão pesada quanto uma rocha. Os lábios machucados ardiam, o gosto metálico do sangue estava presente em sua boca, trazendo uma sensação ruim para si. Tinha certeza de que seus olhos estavam inchados, assim como todos os músculos do seu corpo, completamente feridos e sensíveis. Com atenção, ouviu vozes ao fundo, entretanto não pôde distinguir quem eram seus respectivos donos, o seu ouvido também doía, talvez tivesse afetado sua audição. O branco do teto ainda inc
A noite fora, de longe, a pior parte de todo o momento. Seu corpo clamava por socorro, reclamando por causa das futuras cicatrizes que viriam com o tempo. E sua mente não a deixava descansar, trabalhando e relembrando a todo instante tudo o que ocorreu em apenas um dia. A luz da Lua entrava pela janela, iluminava o quarto e clareava seus pensamentos. Durante os devaneios, não conseguiu perceber a movimentação estranha, só se dando conta do fato quando sentiu o colchão afundar ao seu lado, indicando que havia alguém ao seu lado. Não precisava virar para saber quem é, a reconhecia apenas pelo seu cheiro. Era a dona dos seus pensamentos. Era Jade. Nenhuma das duas disse nada, apenas apreciando o momento juntas. Era, para Amélia, ter Jade ao seu lado, tão perto, como sempre desejou intensamente. Era a realização dos
Logo após a caminhada, as duas amantes chegaram até a praia, no mesmo lugar que passaram tanto tempo juntas e viveram tantas boas lembranças. As ondas calmas daquela noite pareciam esconder segredos jamais vistos pelos mortais, sussurrando uma bela melodia para os ouvidos das garotas. Assim como o amor das duas, parecia ultrapassar qualquer capacidade de compreensão humana. Era especial e intenso demais para ser compreendido de uma forma tão simples e vaga. Era complexo e extenso, só elas poderiam decifrá-lo e entendê-lo. As estrelas cantavam no céu e o vento trazia uma promessa silenciosa de que tudo ficaria bem, que aquilo era o certo a se fazer. O encorajamento das estrelas era o suficiente para que Amélia começasse a falar e declarar seu amor, da forma mais pura que conseguia. Não houve muitas palavras ou con
Depois de uma intensa busca, finalmente conseguiu encontrar o ursinho rosa debaixo da cama, bem escondido. Só gostaria de saber como ele havia parado ali. Tirou o excesso de poeira, deixando-o novinho em folha. Caminhou até a área externa, encontrando as duas mulheres da sua vida, sentadas no balanço, observando as borboletas voarem por cima das flores do jardim.Chegou perto das duas, entregando o brinquedo para a mini versão da sua esposa.— Obrigada, mamãe! - A garotinha agradeceu, saltando do balanço e correndo para brincar com o seu ursinho.— Ela está bem animada hoje. - Jade comentou, enquanto enlaçou meu pescoço, me dando um beijo singelo.— Com certeza está, ela adora ir visitar o tio Johnny. - Sorri, me lembrando da época em que contamos para o meu amigo que Jade estava grávida de uma menininha. Ele ficou tão feliz quanto nós duas, planejando todo o futuro da nossa filha.Hoje iremos comemorar 6 anos de casadas e decidimos fazer algo especial, apenas nós dua
Há muitos anos átras, uma chorosa garotinha entrava pela grande estrutura devagar, desengonçada. Sentia medo dos possíveis olhares que receberia ou dos insultos. Mesmo que sua família possuísse grandes posses na cidade, sua mãe era rigorosa demais, tratando a filha como uma simples marionete, vinda de uma época totalmente diferente da que viviam. Suas roupas eram longas, o pequeno corset atrapalhavas ua respiração, deixando seu rosto ainda mais vermelho.Seguiu pelas instruções dadas pela secretária até uma organizada sala, cheia de alunos que esperavam ansiosamente pela sua professora. Esse era o primeiro de muitos dias de aula na nova escola Santa Luz, um grande instituto para crianças cristães que precisavam orgulhar sua família e linhagem de sucesso. Amélia, querendo ou não, fazia parte de uma das mais ricas famílias da cidade, com be
Ela possuía tudo que poderia desejar. Havia saído de seu país natal há mais de 2 anos. Estudava em uma ótima faculdade dos Estados Unidos; tinha um aconchegante e minúsculo apartamento no Brooklyn; um emprego temporário em um dos lugares mais favoritos do mundo; uma vida sexual tanto quanto ativa demais. E tinha ela...
DRIM! DRIM! DRIM! Amélia odiava muitas coisas na vida: injustiças, preconceitos, oportunistas, mentiras, falsidades, seus colegas de faculdade e a sua querida vizinha do 301. Mas, não existia nada que pudesse superar seu ódio por acordar cedo, principalmente pelo seu maravilhoso despertador com toda aquela sua melodia dos céus. Ironia transbordava de si. Amaldiçoava todos os deuses no mesmo horário do dia. Não conseguia entender por que se matriculou no horário da manhã. Só podia estar com algum problema mental. Ou talvez uma distração. Sim, uma completa distração. A sua diabinha de rosto angelical. Fazer aquela rotina todos os dias, deixava-lhe enjoada e com vontade de morrer pela manhã. Em poucos minutos, estaria pronta para começar mais um dia em seu novo país. Talvez não tão novo assim. Os Estados Unidos da América era o sonho de qualquer jovem e, com ela, não era diferente. Desde pequena, sonhava em c