Durante anos, esteve em uma batalha. Tentou resistir, mas era inevitável. Se encontrava presa nas teias pegajosas do amor, como uma pequena presa, prestes a ser devorada pela temida aranha.
Não podia desistir, tinha que tentar. Mesmo que soubesse a verdade, o esforço era inútil, estava perdida, derrotada, não havia mais nada que pudesse fazer. O amor que possuía em seu coração era forte demais para acabar tão repentinamente, sem sequer ter sido vivido verdadeiramente.
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Encontravam-se no meio do ano letivo. O fim do semestre era caótico: trabalhos, provas, seminários, resumos etc. Uma correria sem fim, deixando todos exaustos. Muitas responsabilidades e informações para absorver e processar em suas mentes.
Para Amélia, ainda havia seu trabalho, uma grande obrigação. A biblioteca nunca foi um local muito movimentado, sempre calmo e pacífico, com poucos clientes ou visitantes que, geralmente, eram fixos e estavam ali sempre que podiam. Mas, agora, em pleno fervor escolar, diversos alunos adentravam pelas grossas portas, intensos e apressados, tentando, inutilmente, aprender em semanas o que não foram capazes de fazer em meses. Como se isso fosse realmente possível de se fazer.
Por isso, aquela seria uma rotina temporária. Bastava apenas que todo o caos diminuísse e fosse controlado novamente e, então, a biblioteca teria sua paz restaurada. Não via a hora de que toda correria terminasse e pudesse, finalmente, descansar um pouco e aproveitar o silêncio aconchegante do lugar.
Estava desgastada. Precisava da sensação anestésica do álcool, o formigamento característico de horas gastas com afinco em danças contagiantes, além do prazer proporcionado pelo sexo. A perfeita combinação para o seu corpo, como um energético ou combustível.
Amélia duvidava que tal ato pudesse chegar perto das sensações causadas por sua amiga. Talvez, perto da metade, mas nunca completamente. Era como um vazio constante, doloroso e impiedoso. Não negaria, já havia se tocado várias vezes pensando na jovem. Era inevitável. Os pensamentos e desejos combinados poderiam causar grandes efeitos no seu corpo.
Jade era sexy. Seus atributos angelicais só tornavam a sua tarefa cada vez mais complexa e difícil.
A bela jovem tinha curvas magníficas, lábios carnudos e tentadores, olhos de âmbar de tirar o fôlego e uma atitude avassaladora.
Amélia não conseguiria ser pária a tais atributos, por isso, contentava-se em apenas terminar o serviço e fingir que nunca havia feito aquilo.
Perdida em seus devaneios melancólicos e sexuais, a mais velha não percebeu quando a dona de seus pensamentos passou pelas pesadas portas do local.
Mas, a sua aura era contagiante demais para não ser notada. O caminho por qual passava era iluminado por sua presença, algo esplêndido e notório.
Focada em sua obsessão secreta, Amélia não percebeu que Jade estava acompanhada.
Era um rapaz. Avistara ele algumas vezes com sua musa. A garota dizia ser apenas um bom amigo de seu curso, mas, duvidava muito que o rapaz visse tudo aquilo como uma simples amizade.
Não podia mentir, o rapaz era bonito, de porte atlético e olhos verdes marcantes. Mas, não era o suficiente para sua garota.
Ninguém era, na verdade. E quem era, não poderia ser.
— Oi, meu bem. — Sua doce voz infiltrou-se pelos poros do corpo de Amélia e, como um maldito clique, trazendo consigo a enxurrada de sentimentos que apenas ela era capaz de carregar.
— Oi, flor. Veio atrás de livros para suas provas? — Tentava não dar atenção ao rapaz, ao lado da mais nova. Quem sabe assim ele percebesse que era indesejado e partisse para bem longe dali.
Amélia não veria problema algum nisso.
— Sim, eu e o Jack precisamos revisar alguns assuntos importantes. Achei que seria perfeito fazermos isso aqui, já que além de ter umas maiores variedades de obras, ainda veríamos você. Então, decidimos juntar o útil ao agradável. — A jovem proferiu tudo em uma rajada só. Parecia estar empolgada e Amélia sabia bem o porquê de toda aquela agitação, mas preferiu ignorar, por enquanto.
— Claro. Venham, mostrarei o local e vocês poderão ficar à vontade para procurar o que acham necessário.
O trio seguiu pelos corredores aconchegantes da biblioteca. Amava todo aquele ar dramático que o lugar carregava. Achava isso perfeito para poder lamentar-se pelo azar da sua vida.
Não sabia que ficava aliviada ou mais agoniada. Ao mesmo tempo que preferia Jade ali com o colega indesejado, pois assim saberia tudo o que aconteceria e poderia arranjar alguma desculpa para atrapalhar qualquer avanço do rapaz, tinha o fato de que veria toda aquela palhaçada de camarote.
Não poderia aguentaria passar por tudo aquilo novamente, mas não havia muitas opções, por isso, colocou um falso sorriso no rosto e deixou o jovem casal a sós.
Se antes estava desgastada, depois daquele dia infernal na biblioteca, achava que não existia mais salvação para sua situação.
Fora obrigada a observar todo aquele circo durante o seu dia. Aparentemente, havia muitos assuntos para serem estudados pelo tal casal. Passaram todo o expediente de Amélia na biblioteca, conversando sobre coisas que não estavam no radar da mais velha.
Remexia-se desgostosa com a visão que tinha. Não suportava ver aquele pedaço de gente investir tão descaradamente em cima de sua garota. Ele não via que estava apenas passando vergonha? Incomodando Jade e atiçando o monstro ciumento que existia em Amélia.
O garoto parecia saber do segredo profundo da mais velha, fazendo toda aquela cena de forma mais provocativa possível. Quase lançou cadeiras em cima daquela criatura. Fora insuportável.
Ainda teve que presenciar os dois pombinhos se despedindo como um maldito casal apaixonado, com abraços e beijinhos carinhosos no pacote. A vida realmente não gostava muito dela.
Mas, felizmente, logo mais o príncipe de merda foi embora, deixando as almas gêmeas sozinhas. Trataram de partir para casa o mais rápido possível, estavam esgotadas e isso era claro para todos que as vissem.
Amélia estava decidida. Precisava de uma festa e, aquele final de semana, seria perfeito para isso. Iria beber até não lembrar de seu nome, nem de uma tal paixão avassaladora e proibida que sentia.
Há tanto tempo que não provava aquilo, às vezes pensava que havia esquecido como eram as sensações. Depois de semanas enclausurada em uma enxurrada de provas e trabalho maçante na biblioteca, finalmente encontrou um tempo para espairecer. Era extremamente necessário para o seu corpo um pouco de descanso ou relaxamento, geralmente procurava isso em bares ou festas, mas, dessa vez, Amélia faria algo diferente. Claro, o local escolhido não era o mais indicado para isso, com todos os problemas e confusões que o cercavam. Uma aura completamente caótica e energética. Era disso que precisava, um pouco de energia. Sabia que não poderia encontrar um melhor, não para ela, pelo menos. Um palco de luta clandestina. Era uma das partes proibidas da cidade mais desejadas por Amélia, a verdadeira representação de aventura e adre
Amélia e o tal "Lobo Mau esbarraram naquela mesma noite. A química entre os dois era palpável, como a clássica tensão sexual dos livros. Carnal e sedenta. De uma forma ou outra, se encontrariam profundamente. E, foi exatamente o que aconteceu, perdendo-se um no outro. Se de longe ele era fenomenal, de perto era um espetáculo. Toda a áurea confiante e dominadora só tornara tudo ainda mais excitante. Sabia bem o que fazer, seus atos deixavam claro toda experiência que possuía. E Amélia não negava, havia sido incrível. Perdera as contas de quantas vezes repetiram o mesmo processo, de modos diferentes. Estavam tão esgotados que, no final, só se embolaram nos lençóis macios e dormiram profundamente. Não houvera diálogos ou papos rasos. Não era necessário. Conheciam as necessidades do outro e sabiam como saciá-las, satisfazê-las. Não houve troca de números, expectativas ou qualquer outra coisa que pudesse planejar um outro esbarrão futuro. A
Jamais em sua vida tinha visto as coisas da forma como estavam no momento. A cor escarlate tingia tudo em sua frente, tornando o cenário macabro e horripilante. Era como um show de horrores, o próprio inferno terrestre. Luzes piscavam e cegavam sua visão, era como se demônios possuíssem seu corpo e ordenassem seus atos. Não comandava seus movimentos, perdera completamente o poder e controle, era como se não soubesse absorver o que estava em sua frente, acontecendo nesse exato momento. Só sentia uma explosão prestes a acontecer dentro de si. Chegara tão perto do mais novo casal que nem havia percebido tal ato. Sua respiração ofegante esvoaçava levemente os cabelos castanhos de Jade, o mesmo ar sendo compartilhado pelos três, uma distância mínima havia ali. As expressões que tomavam conta dos seus rostos eram de pu
Há exatos três semanas, dois dias, dezesseis horas, quarenta minutos e cinco segundos estava sem falar com Jade. Era tão dependente de sua relação que não conseguia ficar sem contar todos os míseros segundos que passavam distantes, sem contato. Não ousaram se olhar, permanecer no mesmo cômodo e tentar uma reconciliação. A mínima comunicação possível era escassa, quase inexistente. Como duas estranhas que esbarram na rua. Sem importância ou relevância. Todo o tempo da relação fora descartado como nada em míseros segundos, em um mísero pronunciamento. Nunca havia sentido aquilo. Um verdadeiro vazio, como um buraco negro sugando todo e qualquer sentimento do seu corpo. Ou um furacão, destruindo qualquer simples sinal de alegria ou vida em seu corpo. Se sentia prestes a ser levada pelo mais temido dos terremotos. Ter
Num estado profundo e solitário de amargor, Amélia sentia que precisava de alguma emoção em sua vida, necessitava sentir algo diferente de toda aquela dor e sofrimento. Para ela, toda a confusão que sua vida havia se tornado precisava normalizar, organizar tudo em seu devido lugar. Porém, antes de qualquer coisa, tentaria encontrar uma forma de extravasar toda aquela mágoa, ira e raiva. Não podia carregar esses sentimentos consigo, traria apenas malefícios para si. Deveria extravasa-los e jogá-los fora do seu sistema, para bem longe de si. Portanto, procurou por algum método que fosse eficaz o suficiente para o que precisava. O sexo, antes seu grande parceiro nesse tipo de problema, não ajudava mais. O vazio após o ato era pior que antes, como se apenas contribuísse para o buraco negro que era o seu coração. O se
Aquela luta era diferente das outras, não que possuísse grande conhecimento prático. Apenas continha informações teóricas, tudo que já havia assistido e lido também. Era diferente de subir em um palco e lutar de verdade, cara a cara com o oponente. Não conhecia sua adversária. Aparentemente, era nova na área. Talvez causasse um certo temor, mas estava amargurada demais para se importar. Conhecia bem a teoria de toda a coisa, os movimentos, os momentos certos de agir e confrontar.
Amélia estava estranha, distante e distraída. Não conversava mais comigo ou fazia nossos passatempos de sempre; maratonar novas séries, passear pela cidade, conhecer novos lugares ou sair para festas. Ela poderia até pensar que conseguia disfarçar seus sentimentos e sensações, mas eu a conhecia, sabia quando algo estava errado ou fora do lugar. Era bem óbvio a mudança drástica. Somos melhores amigas a tanto tempo, nem sequer conseguiria definir. Desde pequenas estamos juntas em todos os momentos importantes que já ocorreram em nossas vidas ou até mesmo os péssimos. Não importava a situação. Estávamos sempre uma ao lado da outra, conhecendo tão bem nossas particularidades e desejos; compartilhando nossas experiências; vivendo juntas. Era assim desde o nosso pequeno vilarejo, que possuía tantos traumas para nós duas. Estar em um vazio constante é cansativo, você tenta, de todas as formas, mudar ou reverter a situação. Busca por todos os tipos de alternativas, nem sempre se importando com as consequências do seus atos. É exatamente assim que me sinto, ultimamente. Cheguei ao ponto de não me importar com as consequências, com o que pode acontecer comigo caso meu plano não ocorra conforme eu pensei. É angustiante e exaustivo procurar por algo que não é possível encontrar ou comprar em uma loja, como se fosse um objeto, um artigo de decoração. A solidão é como um grande universo, vasto e devastador. Eu, um pequeno grão de areia, perdido no espaço, sem saber como voltar para o meu ponto inicial. Na verdade, não há começo, meio ou fim. Há apenas um único ponto transformado e multiplicado para diversos minúsculos pontos, mas, mesmo com tantas, eu não consigo encontrar o meu. Eu Capítulo 11