Capítulo 3

Durante anos, esteve em uma batalha. Tentou resistir, mas era inevitável. Se encontrava presa nas teias pegajosas do amor, como uma pequena presa, prestes a ser devorada pela temida aranha.

Não podia desistir, tinha que tentar. Mesmo que soubesse a verdade, o esforço era inútil, estava perdida, derrotada, não havia mais nada que pudesse fazer. O amor que possuía em seu coração era forte demais para acabar tão repentinamente, sem sequer ter sido vivido verdadeiramente.

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Encontravam-se no meio do ano letivo. O fim do semestre era caótico: trabalhos, provas, seminários, resumos etc. Uma correria sem fim, deixando todos exaustos. Muitas responsabilidades e informações para absorver e processar em suas mentes.

Para Amélia, ainda havia seu trabalho, uma grande obrigação. A biblioteca nunca foi um local muito movimentado, sempre calmo e pacífico, com poucos clientes ou visitantes que, geralmente, eram fixos e estavam ali sempre que podiam. Mas, agora, em pleno fervor escolar, diversos alunos adentravam pelas grossas portas, intensos e apressados, tentando, inutilmente, aprender em semanas o que não foram capazes de fazer em meses. Como se isso fosse realmente possível de se fazer.

Por isso, aquela seria uma rotina temporária. Bastava apenas que todo o caos diminuísse e fosse controlado novamente e, então, a biblioteca teria sua paz restaurada. Não via a hora de que toda correria terminasse e pudesse, finalmente, descansar um pouco e aproveitar o silêncio aconchegante do lugar.

Estava desgastada. Precisava da sensação anestésica do álcool, o formigamento característico de horas gastas com afinco em danças contagiantes, além do prazer proporcionado pelo sexo. A perfeita combinação para o seu corpo, como um energético ou combustível.

Amélia duvidava que tal ato pudesse chegar perto das sensações causadas por sua amiga. Talvez, perto da metade, mas nunca completamente. Era como um vazio constante, doloroso e impiedoso. Não negaria, já havia se tocado várias vezes pensando na jovem. Era inevitável. Os pensamentos e desejos combinados poderiam causar grandes efeitos no seu corpo.

Jade era sexy. Seus atributos angelicais só tornavam a sua tarefa cada vez mais complexa e difícil.

A bela jovem tinha curvas magníficas, lábios carnudos e tentadores, olhos de âmbar de tirar o fôlego e uma atitude avassaladora.

Amélia não conseguiria ser pária a tais atributos, por isso, contentava-se em apenas terminar o serviço e fingir que nunca havia feito aquilo.

Perdida em seus devaneios melancólicos e sexuais, a mais velha não percebeu quando a dona de seus pensamentos passou pelas pesadas portas do local.

Mas, a sua aura era contagiante demais para não ser notada. O caminho por qual passava era iluminado por sua presença, algo esplêndido e notório.

Focada em sua obsessão secreta, Amélia não percebeu que Jade estava acompanhada.

Era um rapaz. Avistara ele algumas vezes com sua musa. A garota dizia ser apenas um bom amigo de seu curso, mas, duvidava muito que o rapaz visse tudo aquilo como uma simples amizade.

Não podia mentir, o rapaz era bonito, de porte atlético e olhos verdes marcantes. Mas, não era o suficiente para sua garota.

Ninguém era, na verdade. E quem era, não poderia ser.

— Oi, meu bem. — Sua doce voz infiltrou-se pelos poros do corpo de Amélia e, como um maldito clique, trazendo consigo a enxurrada de sentimentos que apenas ela era capaz de carregar.

— Oi, flor. Veio atrás de livros para suas provas? — Tentava não dar atenção ao rapaz, ao lado da mais nova. Quem sabe assim ele percebesse que era indesejado e partisse para bem longe dali.

Amélia não veria problema algum nisso.

— Sim, eu e o Jack precisamos revisar alguns assuntos importantes. Achei que seria perfeito fazermos isso aqui, já que além de ter umas maiores variedades de obras, ainda veríamos você. Então, decidimos juntar o útil ao agradável. — A jovem proferiu tudo em uma rajada só. Parecia estar empolgada e Amélia sabia bem o porquê de toda aquela agitação, mas preferiu ignorar, por enquanto.

— Claro. Venham, mostrarei o local e vocês poderão ficar à vontade para procurar o que acham necessário.

O trio seguiu pelos corredores aconchegantes da biblioteca. Amava todo aquele ar dramático que o lugar carregava. Achava isso perfeito para poder lamentar-se pelo azar da sua vida.

Não sabia que ficava aliviada ou mais agoniada. Ao mesmo tempo que preferia Jade ali com o colega indesejado, pois assim saberia tudo o que aconteceria e poderia arranjar alguma desculpa para atrapalhar qualquer avanço do rapaz, tinha o fato de que veria toda aquela palhaçada de camarote.

Não poderia aguentaria passar por tudo aquilo novamente, mas não havia muitas opções, por isso, colocou um falso sorriso no rosto e deixou o jovem casal a sós.

Se antes estava desgastada, depois daquele dia infernal na biblioteca, achava que não existia mais salvação para sua situação.

Fora obrigada a observar todo aquele circo durante o seu dia. Aparentemente, havia muitos assuntos para serem estudados pelo tal casal. Passaram todo o expediente de Amélia na biblioteca, conversando sobre coisas que não estavam no radar da mais velha.

Remexia-se desgostosa com a visão que tinha. Não suportava ver aquele pedaço de gente investir tão descaradamente em cima de sua garota. Ele não via que estava apenas passando vergonha? Incomodando Jade e atiçando o monstro ciumento que existia em Amélia.

O garoto parecia saber do segredo profundo da mais velha, fazendo toda aquela cena de forma mais provocativa possível. Quase lançou cadeiras em cima daquela criatura. Fora insuportável.

Ainda teve que presenciar os dois pombinhos se despedindo como um maldito casal apaixonado, com abraços e beijinhos carinhosos no pacote. A vida realmente não gostava muito dela.

Mas, felizmente, logo mais o príncipe de merda foi embora, deixando as almas gêmeas sozinhas. Trataram de partir para casa o mais rápido possível, estavam esgotadas e isso era claro para todos que as vissem.

Amélia estava decidida. Precisava de uma festa e, aquele final de semana, seria perfeito para isso. Iria beber até não lembrar de seu nome, nem de uma tal paixão avassaladora e proibida que sentia.

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