Há tanto tempo que não provava aquilo, às vezes pensava que havia esquecido como eram as sensações. Depois de semanas enclausurada em uma enxurrada de provas e trabalho maçante na biblioteca, finalmente encontrou um tempo para espairecer. Era extremamente necessário para o seu corpo um pouco de descanso ou relaxamento, geralmente procurava isso em bares ou festas, mas, dessa vez, Amélia faria algo diferente.
Claro, o local escolhido não era o mais indicado para isso, com todos os problemas e confusões que o cercavam. Uma aura completamente caótica e energética. Era disso que precisava, um pouco de energia. Sabia que não poderia encontrar um melhor, não para ela, pelo menos.
Um palco de luta clandestina.
Era uma das partes proibidas da cidade mais desejadas por Amélia, a verdadeira representação de aventura e adre
Amélia e o tal "Lobo Mau esbarraram naquela mesma noite. A química entre os dois era palpável, como a clássica tensão sexual dos livros. Carnal e sedenta. De uma forma ou outra, se encontrariam profundamente. E, foi exatamente o que aconteceu, perdendo-se um no outro. Se de longe ele era fenomenal, de perto era um espetáculo. Toda a áurea confiante e dominadora só tornara tudo ainda mais excitante. Sabia bem o que fazer, seus atos deixavam claro toda experiência que possuía. E Amélia não negava, havia sido incrível. Perdera as contas de quantas vezes repetiram o mesmo processo, de modos diferentes. Estavam tão esgotados que, no final, só se embolaram nos lençóis macios e dormiram profundamente. Não houvera diálogos ou papos rasos. Não era necessário. Conheciam as necessidades do outro e sabiam como saciá-las, satisfazê-las. Não houve troca de números, expectativas ou qualquer outra coisa que pudesse planejar um outro esbarrão futuro. A
Jamais em sua vida tinha visto as coisas da forma como estavam no momento. A cor escarlate tingia tudo em sua frente, tornando o cenário macabro e horripilante. Era como um show de horrores, o próprio inferno terrestre. Luzes piscavam e cegavam sua visão, era como se demônios possuíssem seu corpo e ordenassem seus atos. Não comandava seus movimentos, perdera completamente o poder e controle, era como se não soubesse absorver o que estava em sua frente, acontecendo nesse exato momento. Só sentia uma explosão prestes a acontecer dentro de si. Chegara tão perto do mais novo casal que nem havia percebido tal ato. Sua respiração ofegante esvoaçava levemente os cabelos castanhos de Jade, o mesmo ar sendo compartilhado pelos três, uma distância mínima havia ali. As expressões que tomavam conta dos seus rostos eram de pu
Há exatos três semanas, dois dias, dezesseis horas, quarenta minutos e cinco segundos estava sem falar com Jade. Era tão dependente de sua relação que não conseguia ficar sem contar todos os míseros segundos que passavam distantes, sem contato. Não ousaram se olhar, permanecer no mesmo cômodo e tentar uma reconciliação. A mínima comunicação possível era escassa, quase inexistente. Como duas estranhas que esbarram na rua. Sem importância ou relevância. Todo o tempo da relação fora descartado como nada em míseros segundos, em um mísero pronunciamento. Nunca havia sentido aquilo. Um verdadeiro vazio, como um buraco negro sugando todo e qualquer sentimento do seu corpo. Ou um furacão, destruindo qualquer simples sinal de alegria ou vida em seu corpo. Se sentia prestes a ser levada pelo mais temido dos terremotos. Ter
Num estado profundo e solitário de amargor, Amélia sentia que precisava de alguma emoção em sua vida, necessitava sentir algo diferente de toda aquela dor e sofrimento. Para ela, toda a confusão que sua vida havia se tornado precisava normalizar, organizar tudo em seu devido lugar. Porém, antes de qualquer coisa, tentaria encontrar uma forma de extravasar toda aquela mágoa, ira e raiva. Não podia carregar esses sentimentos consigo, traria apenas malefícios para si. Deveria extravasa-los e jogá-los fora do seu sistema, para bem longe de si. Portanto, procurou por algum método que fosse eficaz o suficiente para o que precisava. O sexo, antes seu grande parceiro nesse tipo de problema, não ajudava mais. O vazio após o ato era pior que antes, como se apenas contribuísse para o buraco negro que era o seu coração. O se
Aquela luta era diferente das outras, não que possuísse grande conhecimento prático. Apenas continha informações teóricas, tudo que já havia assistido e lido também. Era diferente de subir em um palco e lutar de verdade, cara a cara com o oponente. Não conhecia sua adversária. Aparentemente, era nova na área. Talvez causasse um certo temor, mas estava amargurada demais para se importar. Conhecia bem a teoria de toda a coisa, os movimentos, os momentos certos de agir e confrontar.
Amélia estava estranha, distante e distraída. Não conversava mais comigo ou fazia nossos passatempos de sempre; maratonar novas séries, passear pela cidade, conhecer novos lugares ou sair para festas. Ela poderia até pensar que conseguia disfarçar seus sentimentos e sensações, mas eu a conhecia, sabia quando algo estava errado ou fora do lugar. Era bem óbvio a mudança drástica. Somos melhores amigas a tanto tempo, nem sequer conseguiria definir. Desde pequenas estamos juntas em todos os momentos importantes que já ocorreram em nossas vidas ou até mesmo os péssimos. Não importava a situação. Estávamos sempre uma ao lado da outra, conhecendo tão bem nossas particularidades e desejos; compartilhando nossas experiências; vivendo juntas. Era assim desde o nosso pequeno vilarejo, que possuía tantos traumas para nós duas. Estar em um vazio constante é cansativo, você tenta, de todas as formas, mudar ou reverter a situação. Busca por todos os tipos de alternativas, nem sempre se importando com as consequências do seus atos. É exatamente assim que me sinto, ultimamente. Cheguei ao ponto de não me importar com as consequências, com o que pode acontecer comigo caso meu plano não ocorra conforme eu pensei. É angustiante e exaustivo procurar por algo que não é possível encontrar ou comprar em uma loja, como se fosse um objeto, um artigo de decoração. A solidão é como um grande universo, vasto e devastador. Eu, um pequeno grão de areia, perdido no espaço, sem saber como voltar para o meu ponto inicial. Na verdade, não há começo, meio ou fim. Há apenas um único ponto transformado e multiplicado para diversos minúsculos pontos, mas, mesmo com tantas, eu não consigo encontrar o meu. Eu Capítulo 11
Após alguns segundos, Amélia recobrou seus sentidos, acordando verdadeiramente Correu seus olhos ao seu redor, percebendo o local onde se encontrava, no camarim do clube, destinado apenas para os lutadores. Não houve um grande deslocamento, mas, mesmo assim, o seu corpo doeu, reclamando pelo esforço. Conseguiu sentir a força de cada soco espalhada pela sua pele, como pequenas agulhas profundas, estava tão pesada quanto uma rocha. Os lábios machucados ardiam, o gosto metálico do sangue estava presente em sua boca, trazendo uma sensação ruim para si. Tinha certeza de que seus olhos estavam inchados, assim como todos os músculos do seu corpo, completamente feridos e sensíveis. Com atenção, ouviu vozes ao fundo, entretanto não pôde distinguir quem eram seus respectivos donos, o seu ouvido também doía, talvez tivesse afetado sua audição. O branco do teto ainda inc