Você já se apaixonou? Sabe aquele tipo de amor que parece transcender tudo? Que não importa quantos altos e baixos aconteça, basta você avistar ele que tudo parece valer a pena?
Eu já! Minha grande paixão é cozinhar. Aprendi desde cedo a fazer o básico observando minha vó, dona Nice, ela me deixava lá no cantinho da cozinha onde eu não poderia atrapalhar e às vezes me deixava mexer uma coisa ou outra. O tempo foi passando, eu fui crescendo e cada vez mais ela ia me delegando tarefas, até que qualquer almoço, comemoração em família estávamos nós duas na cozinha trabalhando juntas.
Mas meu pai nunca aceitou que cozinhar fosse uma profissão boa.
— Faça uma carreira ele! — sempre dizia.
E foi por esse motivo que me formei em contabilidade, com o peito apertado querendo estar em uma cozinha me dediquei aos livros e os estudos que o deixariam orgulhoso.
Conquistei meu espaço, uma trabalho bom onde poderia crescer, mas nada me tirava o gostinho de aos finais de semana correr pra casa deles e cozinhar com minha vó.
Um ótimo hobbie era o que ele pensava, mal sabia que era tudo o que me fazia feliz.
Então em um belo dia vovó se foi, uma morte tranquila, sempre acreditei que ela sabia que estava chegando sua hora. Sabe por que penso isso? Uma semana antes, no meu aniversário e assim que cheguei em casa pronta pra curtir a cozinha com ela eu tive uma surpresa.
Vovó me entregou uma caixa de presente e assim que abri estava lá seu velho caderno de receitas e seu avental preferido. Meus olhos encheram de lágrimas sem eu entender o motivo para ela me dar aquilo.
— É seu presente de aniversário, de agora em diante eles e essa cozinha são seus!
Ela tinha feito meu dia, na verdade minha vida, com aquelas palavras, mesmo que uma semana depois eu tivesse que estar me despedindo dela.
O tempo passou e eu usava as receitas dela apenas em ocasiões especiais, o avental permanecia pendurado no meu quarto como um lembrete dela. Mas a angústia no peito era de mais, eu precisava dar um jeito naquilo, me resolver com essa parte da minha vida. Foi aí que me inscrevi no curso e fui fazer o que eu amava pela primeira vez na vida.
Intercalando os estudos com o trabalho disse para mim mesma que era só pra conseguir um diploma para pendurar na parede, sabendo que isso a deixaria orgulhosa, mas eu não consegui parar por aí.
Comecei a procurar um emprego na área e consegui, meu pai surtou e tivemos a nossa pior briga em todos os anos. Ficamos meses sem se falar e eu me mantive firme em minha decisão de largar a contabilidade para viver da culinária, pegava um cliente aqui e outro ali para compensar as contas no final do mês, mas estava transbordando de felicidade.
Meses depois ele apareceu com um pedido de desculpas e um convite para dar uma volta no centro da cidade, enquanto andávamos meu pai parou em frente a um prédio antigo, com dois andares, parecia ter sido uma loja no passado e agora estava desocupada. Nós entramos demos uma olhada no lugar e no final ele me perguntou o que eu achava do lugar, porque era meu e não tinha volta.
Ele tinha me dado o que eu tanto queria, minha própria cozinha.
Então depois de muita reforma, entre trancos e barrancos, meses de dificuldades e apenas alguns dias de glória o Cantina da Nice existia há dois anos, um restaurante calmo, aconchegante e bem apessoado, em um bairro bem movimentado no centro da cidade.
Meu xodó era rodeado de prédios e escritórios, meus clientes na maioria das vezes passavam na correria do horário de almoço e eu fazia o possível para trazer um pouco de luz para o dia deles, afinal já estive desse outro lado.
E é esse amor que estava me mantendo, ás duas da manhã de um sábado, na cozinha testando uma massa nova. O restaurante não abria aos domingos e eu aproveitava para testar novas receitas para o cardápio até tarde, geralmente estaria em casa, mas a cozinha do restaurante era bem mais espaçosa para toda aquela bagunça que eu estava fazendo.
Me virei pegando um pedaço do brownie jogado na bancada escorrendo chocolate por entre os dedos quando mordi e voltei a bater a massa no mesmo ritmo que balançava os quadris com a música na rádio.
O som me distraiu por um momento, mas assim que a batida em meus fones encerrou, dando fim a música, eu escutei um barulho estranho na porta dos fundos.
Tentei apurar os ouvidos arrancando os fones e os cochichos se tornaram mais nítidos. A conversa, que parecia acontecer entre três homens mostrava que eu estava muito ferrada por estar aqui a essa hora da noite e sozinha, justo no dia em que decidiam invadir meu restaurante para roubar!
Meu medo durou um segundo até que a realidade do que estavam fazendo aqui me atingiu. Eles iam roubar meu restaurante!
Filhos de uma vaca! Me perdoe a mãe deles, mas eles iam aprender hoje que não se brinca com Maria Nascimento!
Peguei o rolo da massa e testei o peso em minha mão, não ia fazer estrago suficiente. Então troquei para uma faca enorme que estava na pia, eu não queria matar alguém a última coisa que precisava era de alguns anos na cadeia. Decidi por fim pegar uma frigideira grande, pesada o suficiente para desacordar alguém sem matar o infeliz. Perfeito!
Me posicionei ao lado do corredor que daria na cozinha e esperei que quem quer que fosse saísse da área de funcionários e viesse me enfrentar.
Assim que o ladrão colocou o pé na minha cozinha eu bati com toda a força a frigideira na sua nuca o fazendo despencar no chão como jacá podre.
— Isso é pra você aprender que com Maria não se mexe! — falei me sentindo vitoriosa por ter conseguido acabar com isso sem grandes estragos.
— Acho melhor você pensar de novo moça. — a voz rouca atrás de mim me mostrou que eu tinha me esquecido de algo.
Puta que pariu Maria, como foi se esquecer do outro. Na verdade outros. Os dois homens me encaravam com caras nada boas.
— Solta a panela ai dona. — o outro avisou apontando um pequeno revólver em minha direção.
Aquilo não estava nos meus planos, não estava mesmo. Talvez eu devesse ter ficado com a faca?
— Tá tudo bem, eu solto, solto agora. Só abaixa esse negócio ai, por favor! — murmurei apreensiva.
Pior do que passar uns dias na cadeia era passar o resto da vida morta. Entenderam alguma coisa? Nem eu.
Soltei a frigideira imediatamente no chão e, cá entre nós, se eu tivesse calculado não teria saído tão perfeito. O objeto acertou em cheio o pé do homem com a arma o fazendo gritar e apertar o gatilho em reflexo, antes de se abaixar para segurar o pé.
O problema maior veio depois, seu amigo nem um pouco feliz e totalmente burro me deu um belo soco. Minha cabeça virou para o lado oposto e eu perdi o equilíbrio. Resultado? Eu pisoteei a mão do cara machucado antes de despencar de bunda no chão.
— A moça não sabe cooperar não. — o único que permanecia intacto gritou. — Amarra ela ai!
A ameba em forma de homem se aproximou me empurrando contra a parede e eu me encolhi, dessa vez o medo se espalhando por minhas veias. Nenhum resquício da coragem diante da arma apontada para minha cabeça.
Senhor onde que eu fui me meter? Prometo que se me livrar dessa eu vou ser uma pessoa mais ajuizada. Dou um jeito de pagar essa promessa, juro que dessa vez eu falo sério! Implorei em pensamento com os olhos fechados com muita força, como se isso fosse intensificar minha oração eu torcia que algum santo, anjo, duende, qualquer coisa ouvisse minhas preces a e me tirasse dessa com vida.
Foi aí que eu senti o homem que me amarrava se afastando de mim e abri um olho só apreensiva com o que poderia ser agora, mas o que vi foi ele caindo contra meu armário de panelas. Algumas delas despencaram caindo no chão, assustando qualquer um pelo barulho ensurdecedor, mas me chamando a atenção para o meu salvador.
Algumas pessoas podem dizer que quando conheceram o cara da sua vida ouviram sinos tocar, eu ouvi panelas bater. Talvez fosse um sinal de vovó Nice.
O homem, alto e aparentemente forte de mais, se abaixou no chão puxando pelo colarinho o ladrão que carregava a arma, e que já se atrapalhava para levantar do chão, com mais um soco ele o largou inconsciente ali mesmo.
Na próxima ele aprende a ficar na frente e levar a panelada pra não sofrer tanto!
Então quando meu salvador se virou eu vi que já o conhecia. Não havia sido enviado por vovó coisa nenhuma, tinha vindo era do outro lado da rua, do bar de motoqueiros.
O cabelo grande e loiro, caindo nos ombros de forma sempre desordenada, a barba cheia e chamativa, eram a marca registrada do dono do estabelecimento em frente ao meu. Isso sem contar os braços e pescoço repletos de tatuagens, e se eu ousar imaginar sei que todo o corpo dele, até a bunda branca estão cobertos de desenhos também. E não me deixem esquecer o colete de couro apertado sobre o corpo, com o que parecia ser uma logo ou Patch como chamam.
Já tínhamos nos visto várias vezes, mas nunca falamos nada além de bom dia, isso quando acontecia o milagre de nos vermos, já que nossos horários não eram em nada parecidos.
— Você está bem? — a voz forte me atingiu do outro lado da cozinha me fazendo voltar para terra de foguete.
Como podia uma pessoa ter uma voz tão grave assim? Não parecia ser possível, o timbre do homem retumbou dentro de mim. Isso... isso... estava prestes a pedir que ele falasse de novo só para testar se aconteceria de novo, mas o olhar que ele me deu foi como se eu estivesse morrendo agachada no chão.
— Eu estou... Quer dizer acho que estou. — resmunguei tentando focar na pergunta dele. — Pensei que podia lidar com eles, mas não esperava três deles.
— Não sei se você é maluca ou corajosa de mais. — o ouvi resmungar se abaixando e passando um cinto em volta das mãos dos homens os mantendo algemados. Não me passou despercebido o insulto, mas eu estava concentrada de mais em sua desenvoltura em imobilizar os homens com o cinto para retrucar. — Aqui, liga pra polícia.
Antes mesmo que eu pudesse responder ele jogou um celular na minha direção, eu o encarei confusa ainda sentada no chão, sei que parecia uma criança perdida, mas não confiaria nas minhas próprias pernas, depois de hoje não deveria confiar no meu julgamento também.
Deslizei o dedo sobre tela que se desbloqueou sem precisar de mais. Confusa ergui meus olhos para ele, que seguia concentrado amarrando os homens. Que tipo de homem não usa senha Brasil?
Sacudi a cabeça e foquei em falar com a atendente.
— Já estão a caminho. — murmurei quando o homem tatuado se aproximou me puxando pelos braços.
— Te acertaram feio. — a voz parecia ainda mais grossa assim de perto, mas seus dedos tocaram meu rosto com delicadeza, o virando de um lado para o outro analisando o machucado do soco.
Ele me manteve apoiada contra seu corpo e tão perto do jeito que estávamos eu era capaz de reparar melhor em todas as tatuagens e nos pelos espalhados pelo rosto. Era uma confusão de cabelos grandes, sobrancelhas grossas e a barba grotesca.
Não que ele não fosse bonito, ele era e dava para ver de longe, mas o meu tipo de homem era algo bem mais delicado do que aquele homem das cavernas a minha frente.
A comoção do outro lado da rua foi grande, quando a polícia chegou, conseguimos atrair a atenção do bar inteiro.
— Vem, vamos lá dentro tomar alguma coisa pra você se acalmar. — meu salvador tatuado falou e só então eu me dei conta que ainda estava sobre seus cuidados.
A polícia já havia colhido nossos depoimentos e levado os homens, as câmeras do restaurante ajudariam com tudo, não ia ser nada difícil provar o que aconteceu aqui, mesmo que eu tenha certeza que todos que verem aquelas imagens iriam ter um grande show de stand up.Peguei minhas coisas dentro do restaurante, pronta para partir pra casa, mas aceitei seu convite, talvez um pouco de álcool me fizesse bem depois de toda essa loucura.Assim que adentramos o bar a gritaria e calor humano nos atingiu. Havias pessoas levantando suas bebidas em nossa direção e outras dando tapinhas nas nossas costas e rindo alto.— Garota você é corajosa viu. Bate aqui! — disse uma mulher erguendo a mão, onde eu bati sem nem mesmo a conhecer.— Eu sempre digo, nunca mexa com as baixinhas! — um homem passou ao meu lado me jogando uma piscadela com um sorriso enorme.— Ei, eu não sou tão baixinha. — reclamei, mas ele já tinha se afastado.Sim eu era baixinha, um e cinquenta e seis em uma terra de mulheres de um
O que tinha acabado de acontecer ali? Eu estava sentado na minha moto de frente a pequena casa amarela chamativa, atordoado sem saber o que tinha acabado de acontecer.A mulher tinha acabado de me beijar e correu como o diabo fugindo da cruz sem mais nem menos.Eu não tinha feito nada além de retribuir o ataque sedutor dela.Havia pensado em beijá-la quando estávamos no escritório, ela gargalhando descontraída, eu segurando seu rosto delicado, e foi só olhar aqueles olhos castanhos e penetrantes para querer atacar seus lábios.Ela tinha um gosto, agora eu sabia, de chocolate e whisky, é o sabor que tinha deixado em minha boca.Encarei a casa por mais um tempo, às luzes ainda apagadas, nem sinal dela. Então coloquei minha Harley em movimento, atravessando as ruas de volta ao bar ainda sem entender o surto dela.Maria Nascimento, uma mistura de menina e mulher como nunca tinha visto antes.O seu tamanho não atrapalhou que ela derrubasse um dos assaltantes com uma frigideira como me diss
Ressaca. Era a única palavra que rodou minha cabeça durante o domingo, enquanto eu acordava tomando um café preto e sem açúcar, já mandando para longe o enjoou.Passava da uma da tarde e eu tinha perdido o almoço na casa da tia Nena, não que a essa altura eu me importasse, preferia ficar em casa do que lidar com toda gritaria enquanto minha cabeça latejava a cada segundo.Mas foi graças a perder o almoço que eu consegui pensar melhor na noite passada. As imagens de tudo o que aconteceu voltaram como um flashback, tudo pareceu tão corrido no sábado que mal tive tempo de raciocinar o perigo que corri.A cena em que eu estupidamente atacava um dos assaltantes esquecendo os outros, então o herói tatuado entrando em ação, para me ajudar, e toda a bebedeira no bar depois. Porque eu tinha misturado tanta coisa? Mas então a cena do beijo voltou a minha mente, para coroar a noite eu tinha atacado o homem. E mesmo que só estivesse relembrando a noite, senti seus lábios macios contra o meu em co
O horário avançou e eu me ocupei em preparar alguns pratos e ajudar em outros. Fizemos frango assado em pequenas trouxinhas de massa de lasanha, massa que eu mesmo fazia; cupim assado no forno regado ao molho madeira; macarrão ao molho branco e colocamos os pratos mais comuns como arroz e feijão; muita gente não deixava passar uma refeição sem esses dois. Tinha ainda dois tipos de salada e alguns aperitivos.Quando me permiti sair da cozinha foi para encontrar a morena de cabelos curtíssimos e sorriso enorme na porta.Ela acenava pra mim através das portas de vidro em seus saltos, como se a altura dela não fosse suficiente, os shorts pretos deixando a mostra os metros de perna.— A porta está sempre aberta. — murmurei sorrindo para ela quando abri.— É por isso que te roubaram. — ela brincou me fazendo gargalhar com ela.Débora sem dúvida era o tipo de pessoa que deixava qualquer clima alegre, bastava ela chegar no lugar que ninguém ficaria muito tempo sem um sorriso.— Vem entra!— E
— Eu gostei dela. — foi a primeira coisa que minha mãe falou assim que desceu do carro.Tínhamos chegado em casa depois de passar a tarde no restaurante. Will já estava capotado no banco de trás do carro, cansado de correr, pular e rodopiar pelo salão.Mas eu suspeitava que isso tinha algo a ver com o leite especial que Maria tinha preparado para ele. Os dois juraram segredo, ela ainda acrescentou que só quem tivesse uma identidade secreta poderia saber.Will adorou toda a bajulação, como se não tivesse isso em grande escala. Fazer o que se o garoto tinha herdado a lábia do pai?Apesar da bagunça que fizemos no seu restaurante, delicado e aconchegante, ela manteve o sorriso no rosto a tarde toda. Se não gostou de algo sabia esconder muito bem. Não se importou com o rock quase estrondando as paredes do restaurante, e sim gritou, riu, puxou minha mãe para a bagunça. Enquanto eu assistia tudo do meu canto.Não voltamos no assunto do beijo, mas eu podia ver seus olhares furtivos vez ou ou
Ela falou com toda a confiança que eu adorava, me ignorando cinicamente e mantendo os olhos no bar, com certeza já tinha avaliado a mercadoria e gostado do que viu, do contrário não teria feito sua jogada.— O que te faz pensar que eu preciso de companhia? — diante de minha fala a mulher se virou para mim, batendo os cílios longos com um sorriso preguiçoso crescendo em seus lábios.— Um homem com essa aparência de macho alfa, bebendo sozinho em plena segunda, só pode estar procurando uma companhia. — ela era boa, muito boa. O elogio de macho alfa não me passou despercebido e eu me perguntei até onde ela estaria disposta a ir essa noite. — Agora pode pedir para o seu amigo me servir uma dose daquele uísque caro ali. — disse exalando determinação.Uma unha vermelha deslizou sobre os lábios finos antes de apontar para garrafa exposta na parede ao fundo. Bruno se aproximou esquadrinhando a mulher de cima a baixo, se detendo tempo de mais em seu decote, o vestido preto justo deixava bem ev
Fazia quatro dias desde o almoço, já era quinta-feira e espantem-se eu tinha visto Miguel a grande quantia de nenhuma vez! Isso mesmo nenhuma vez! Quer dizer, a gente trabalha de frente um pro outro, quais as chances universo? Eu já deveria ter visto o homem pelo menos uma vez por acidente!Nossos horários malucos eram os responsáveis por esse desencontro medonho.Eu fazia a linha egípcia, mas no dia que Deb pediu comida no restaurante eu mesma fui até lá levar, com a maior desculpa do mundo que era só para vê-la e tentei inutilmente esquadrinhar o lugar em busca do homem, mas aparentemente ele não estava ali.Não sabia exatamente o porquê queria ver o bendito homem, mas todo dia eu me via olhando para o outro lado da rua a procura dele.— Você vai continuar aí até quando? — Denise me assustou chegando de supetão por trás de mim.Eu estava novamente distraída no balcão olhando para o bar e fui pega no pulo pela minha outra cozinheira.— O que aconteceu? — me fiz de desentendida.— O q
Eu tinha tido um verdadeiro dia de cão, brigando com médicos no hospital, irritado com toda a demora em tirar um raio-x, minha mãe com dor e precisando ser atendida. Tudo havia sido um borrão a partir do momento que recebi a ligação, dizendo que ela havia caído e se machucado, não consegui nem reparar em nada, só sabia que precisava de alguém para ficar com Will.A ideia de deixar Maria cuidar do meu filho não tinha me passado pela cabeça de primeira, só depois que todas as minhas opções se esgotaram foi que eu vi a fachada do restaurante ainda acesa e corri até lá com esperança, mas aparentemente tinha sido a melhor coisa que já fiz em anos. Meu garoto até mesmo dormiu com ela.E então ali estava Maria, na minha frente, usando um vestido azul soltinho e cheio de flores, ela estava descalça, os cabelos cacheados soltos emoldurando seu rosto, os olhos brilhantes em minha direção, assim como o sorriso largo, que aparentemente estava sempre grudado em seus lábios.Ah, aqueles lábios! Não