Minha dor oculta

Escorpião

Eu sou Leonardo Ambrosio, mas esse nome é conhecido por poucos, quem quiser me encontrar ou saber algo a meu respeito pode procurar por Escorpião. Tenho 37 anos, e o Bronx é a minha casa. Cresci nas ruas daqui, após fugir de casa aos quatorze anos de idade, logo aprendi que a sobrevivência é um aprendizado diário, e cada esquina tem uma história marcada por lutas e vitórias. A minha maior sorte na vida foi um dia ter sido encontrado pelo Zeus, mas isso fica para outra hora. A minha vida não é um conto de fadas, mas é a vida que escolhi, ou talvez a que me escolheu.

Aqui, no Bronx, controlamos muito mais do que territórios. Nós somos os responsáveis por manter o equilíbrio num ambiente onde a tensão pode explodir a qualquer momento. A produção, distribuição e venda de substâncias como cocaína, heroína e maconha são nossas principais atividades. Sim, são ilegais, mas é o que sustenta muitos de nós, o que mantém as luzes acesas e as famílias alimentadas. Não somos santos, mas também não somos ingênuos.

O respeito aqui é tudo. Não se ganha com palavras bonitas, mas com atitudes firmes. A lealdade é um valor inegociável, e a traição tem um preço alto, um preço que ninguém está disposto a pagar. Não sou de fazer ameaças vazias, mas quem pisa no meu caminho precisa entender que o perdão não é parte do jogo.

A polícia? Nós os deixamos em paz, desde que eles façam o mesmo conosco. É uma relação tensa, mas funcional. Não procuramos encrenca com eles. É mais inteligente manter a discrição, seguir com os negócios sem chamar atenção. Isso é o que nos mantém longe de celas e investigações que poderiam destruir tudo o que construímos.

Nos últimos dias, tenho percebido movimentos estranhos. Uma das gangues rivais está se mexendo demais, chamando atenção onde não deveriam. Eles parecem querer guerra, algo que não buscamos. Nossa estratégia sempre foi clara, evitar confrontos, tanto com eles quanto com as autoridades. Porém, não se enganem. Se nos provocarem, invadirem nossos territórios ou ameaçarem os nossos negócios, nós vamos retaliar. E quando isso acontecer, será rápido, decisivo e sem hesitação.

As ruas do Bronx têm suas próprias regras, e eu sou um dos que as escreve. Quem conhece meu nome, conhece minha história. E quem decide me enfrentar, esses aprendem da forma mais difícil que o Bronx não perdoa, e nem eu!

Relacionamentos? Não, obrigado. Isso é algo que nunca esteve nos meus planos. Não sou do tipo que promete o que não pode cumprir, e compromisso não é algo que eu tenha a oferecer. Mulheres são apenas para aplacar as necessidades do corpo, nada mais. Me envolver sentimentalmente? Nunca. Eu sei o que quero e, mais importante, o que não quero.

E, para ser bem honesto, elas nunca faltam. Fama, dinheiro, poder, esses são os ímãs que atraem qualquer tipo de mulher. Elas me olham como se eu fosse algo inatingível, e eu gosto disso. É um jogo que eu sempre ganho. Elas vêm até mim, e eu as levo ao limite, faço com que esqueçam do mundo. Não há promessas, apenas momentos intensos e inesquecíveis.

Eu sei como elas funcionam, sei o que querem, sei como levar cada uma delas à loucura. É quase um talento, um dom natural. Talvez porque eu não finja ser alguém que não sou. Eu sou Leonardo Ambrosio, um homem que não precisa mentir para conquistar.

Mas amor? Compromisso? Essas coisas só trazem fraqueza, distrações que eu não posso me dar ao luxo de ter. A vida que eu levo não permite isso. Amar alguém significa dar a essa pessoa uma arma carregada apontada para você. Não vou correr esse risco. Já vi isso acontecer muitas vezes, homens que se perderam, que caíram, tudo por causa de um coração mole.

Então, eu continuo assim, com as paredes erguidas ao meu redor, protegido e no controle. Amor é para os fracos. Eu sou um sobrevivente, e nesse jogo, sobreviver é o que importa.

Mas nem tudo na minha vida é controle e força. Há uma ferida, uma que eu carrego há anos, que ninguém conhece. Uma ferida aberta que sangra silenciosamente toda vez que penso nela, a minha mãe.

Falar dela é algo que eu raramente faço. É íntimo, doloroso. Mas a verdade é que eu sinto uma falta que não consigo explicar. Sinto falta do carinho dela, do amor incondicional que só uma mãe pode dar. Lembro de como ela me mimava, como tentava me proteger de tudo, especialmente do meu pai.

Ela era a única luz no meio da escuridão que foi minha infância. Sempre ali, mesmo quando as coisas ficavam feias, tentando me salvar de um mundo que parecia destinado a me engolir. Mas, no final, não sei se ela conseguiu se salvar. E isso é algo que ainda me assombra muito.

Penso nela, mais do que gostaria de admitir. Onde será que ela está? Será que ainda está viva? Será que pensa em mim tanto quanto eu penso nela? Essas perguntas me torturam, mas o trauma e a dor me impedem de buscar as respostas. Eu sei que, se começar a cavar, posso não gostar do que vou encontrar.

E então vem ele. Meu pai. Só pensar nesse homem faz meu sangue ferver. A forma como ele a tratava, como nos tratava, tudo que ele me fez Não consigo perdoá-lo. Na verdade, não quero perdoá-lo. Se ele ainda estiver respirando em algum canto desse mundo, eu juro que vai ser por pouco tempo. Isso é algo que eu prometo a mim mesmo toda vez que penso nele.

Ele é o tipo de homem que deveria ter desaparecido do mundo há muito tempo, mas se ele ainda está por aí, eu vou encontrá-lo. E quando eu encontrar, ele vai pagar. Pela minha mãe, por mim, por tudo. Não importa quanto tempo leve ou o que eu precise fazer, vou fazer questão de que ele sinta o peso de tudo o que fez.

É engraçado como o passado pode nos assombrar, mesmo quando fazemos de tudo para enterrá-lo. Eu tentei. Tentei seguir em frente, construir algo, mas o que ele fez ainda está aqui, dentro de mim. Essa ferida nunca cicatriza. E talvez nunca vá.

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