Capítulo 3
— Sra. Cardoso, o que aconteceu? Foi uma queda? Você se machucou?

De repente, me vi cercada de enfermeiras que trocavam olhares significativos, mas mantinham um silêncio compassivo, usando apenas palavras doces para me acalmar.

Elas provavelmente já sabiam. Daniel, meu marido, cometia a traição mais brutal. Arruinava minha chance de ser mãe. O pranto contido por tantos meses jorrou descontrolado enquanto meu corpo desabava na cama hospitalar, lágrimas inundando o rosto como água de represa rompida. Num misto de exaustão e dor, adormeci.

Ao despertar, me deparei com Amanda sentada à minha cabeceira, exibindo um sorriso carregado de desprezo.

— Você já deve saber de tudo, não é? Estou grávida do único herdeiro de Daniel. — Na mão afiada, uma laranja girava enquanto descascava a fruta com movimentos serenos, a outra mão acariciando propositalmente o ventre.

— Quando começou isso? — Indaguei, enquanto as unhas se fincavam nas palmas até doer, mas a ferida física não amenizava a crucificação na alma.

Amanda soltou uma risada fria e levantou três dedos na minha frente.

— Três anos. Desde meu primeiro dia como secretária no Grupo Cardoso. — Seus olhos brilhavam com o triunfo venenoso. — Daniel vivia saindo para festas sem você. Fui me oferecendo como assistente pessoal dele até conseguir. Naquela noite, cuidei para que não exagerasse na bebida. Assim começou tudo. A traição deixou ele com a consciência pesada. Ele tentou me pagar para desaparecer, mas jurei que só queria continuar amando ele como secretária, sem status. Ele aceitou, mas depois resolveu deixar toda a fortuna para você. Sua ingenuidade me enlouquecia. Tentei impedi-lo inúmeras vezes, mas ele transferiu tudo para o seu nome às minhas costas.

Fixei o rosto de Amanda, contraído pela raiva, e contive a mão que tremia de vontade de esbofeteá-la.

— O relacionamento de vocês nunca passou de uma ilusão. Ele pensou que depositando todo dinheiro em você, ficaria com a consciência tranquila para continuar nosso caso. Não fazia ideia, né? Todo dia depois do trabalho, ele veio me ver, porque moro perto ao lado. Teve noite que foi mais ousado. Ele dava comprimido para você dormir, te acomodava na cama e vinha pra sala onde ficávamos. Cheguei a fazer barulho de propósito, mas você nunca acordava!

Meu rosto desbotou por completo, enquanto o dela irradiava uma satisfação perversa.

— No dia em que você perdeu o bebê, ele repousava em sono profundo em meu quarto. Nem sequer ouviu seu desespero. Rafaela, é melhor você desaparecer. Afinal, estou esperando o verdadeiro filho do Daniel.

Nunca imaginei que minha compreensão me levaria a essa armadilha. Na época, acreditei quando ele disse que estava sobrecarregado no trabalho, por isso não atendeu minhas ligações desesperadas. No dia seguinte, apareceu no hospital de olhos inchados, cheio de remorso. Jurou que o celular tinha descarregado. Inocente, eu acreditei nele. Agora tudo faz sentido. Ele estava "ocupado" com outra mulher.

Vendo meu choque, Amanda sorriu como quem venceu uma guerra. Empurrou o celular na minha direção.

— Melhor descansar. Amanhã é o grande dia: nosso casamento no mesmo jardim onde vocês juraram amor eterno. Apareça se tiver estômago.

Seu riso ecoou pelo corredor enquanto uma onda de enjoo me dominava. Minhas pernas falharam antes mesmo de perceber. Quando recobrei os sentidos, a luz âmbar do entardecer banhava o quarto. Daniel estava ali, segurando minha mão com ar de preocupação. As memórias voltaram num turbilhão. Puxei meu braço com força bruta, esfregando a mão no lençol até ela ficar vermelha.

Daniel ficou olhando para mim com uma expressão surpresa, os olhos carregados de desilusão.

— Você ainda se lembra dos votos que fizemos no dia do nosso casamento? — Perguntei, com frieza.

Se o amor acabasse, prometeríamos nos libertar um do outro, sem quaisquer correntes. Se ele me traísse, eu desapareceria da vida dele para sempre.

Daniel acenou sem hesitar.

— Claro que me lembro! Mas o que aconteceu? Eu fiz algo para te magoar? Ou alguém andou te enchendo a cabeça com bobagens? — Num movimento abrupto, ele se levantou de repente e gritou em direção a Amanda. — Quem esteve aqui nos últimos dias? Descubra agora mesmo!

Mantendo a placidez de quem já estava habituada a tais cenas, Amanda replicou com serenidade:

— De ordinário, apenas os enfermeiros e os cuidadores entram para trocar a medicação e saem logo em seguida. Ontem, quando o senhor descansava, passei aqui por precaução à senhora. Só dei uma olhada rápida antes de ir embora.

Voltando-se para mim, um sorriso sutil se esboçou em seus lábios.

— Sra. Cardoso, não fique se preocupando à toa. Se concentre em sua recuperação. O Sr. Cardoso se importa muito com a senhora, está sempre pensando na sua saúde e bem-estar.
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