Capítulo 2
Eu estava prestes a falar quando a porta do quarto se abriu de repente. Da porta adentrou Amanda, que trazia nas mãos um buquê de rosas vermelhas e uma caixa de vitaminas, caminhando com aquela ginga característica.

— Sr. Cardoso, Sra. Cardoso, peço desculpas pela hora imprópria. A equipe inteira mandou lembranças e eu me ofereci para representar. — Disse ela, com uma voz doce.

Já fazia três anos que Amanda estava sob a liderança de Daniel, e ele não poupava elogios calorosos à sua competência. Com seu porte esguio, Amanda possuía não apenas uma inteligência aguçada, mas também um dom extraordinário para decifrar as entrelinhas dos gestos e intenções alheias. Um montão de parcerias importantes da empresa só aconteceram por causa dela. Daniel sempre teve um olhar especial para aqueles que traziam resultados para o negócio. E eu, como os outros, também me dava bem nesse sistema.

Assim que Amanda terminou de falar, Daniel respondeu com um aceno seco, mas os olhos dele continuavam colados em mim. Conhecia aquela encenação de trás para frente. Tudo aquilo não passava de uma cena cuidadosamente ensaiada.

— Obrigada, mas estou me sentindo meio fraca agora. Gostaria de descansar um pouco. — Disse, virando o rosto pra parede.

Acreditava que o silêncio seria resposta suficiente, mas eis que a audaciosa puxou uma cadeira e se instalou ao lado do meu marido, como se pertencesse àquele lugar.

Enquanto Daniel fingia massagear minhas costas com dedos leves, Amanda resolveu retribuir o gesto. Suas mãos subiram pelos ombros dele com determinação, fazendo com que as enfermeiras que passavam pelo corredor diminuíssem o passo, escondendo sorrisos maliciosos atrás das máscaras.

Ele não só permitiu como pareceu incentivar a aproximação. As funcionárias do hospital, percebendo o constrangimento no ar, foram se esgueirando para fora do quarto. Dava para ouvir o zumbido das fofocas se espalhando pelos corredores, já que hospital sempre foi terreno fértil para esse tipo de coisa.

Quanto mais Daniel fingia desinteresse, mais Amanda avançava. As mãos dela desceram em movimentos circulares, explorando primeiro os ombros, depois escorregando pelo peito até pousar na região do abdômen. Com a testa franzida, Daniel lançou um olhar severo para Amanda. No entanto, longe de se intimidar, ela pareceu entender aquilo como um incentivo e, em vez de parar, suas ações se tornaram ainda mais ousadas, como se estivesse sendo encorajada a continuar.

Com habilidade, seus dedos deslizaram pelos botões da camisa dele, roçando na pele exposta. Daniel, por sua vez, apertou suas mãos contra minhas costas, aumentando a pressão da massagem.

Mantive os olhos fechados, segurando a respiração, sem me atrever a mexer um músculo. Daniel devia ter pensado que eu já estava dormindo, porque não demorou a tirar as mãos de mim e, logo em seguida, deu um aperto rápido na cintura de Amanda.

Ela se inclinou e o beijou. Daniel não perdeu tempo em responder. Pelo reflexo no vidro, consegui ver tudo nitidamente. As lágrimas escorreram sem fazer barulho, encharcando o travesseiro.

Aquele olhar de Daniel estava cheio de desejo. Ele parou o beijo de repente, olhou para mim de relance, e agarrou Amanda pela mão, saindo do quarto.

Sem pensar duas vezes, segurei a respiração e fui atrás deles. Cheguei até a porta meio aberta do outro quarto e, quando vi o que estava acontecendo lá dentro, parecia que meu mundo tinha virado pó. O mesmo homem que todo dia murmurava palavras de amor no meu ouvido agora se revelava um canalha mentiroso.

Daniel jogou Amanda contra a cama, agarrando ela pelo pescoço.

— Já falei mil vezes para você ter mais cuidado na frente da Rafaela! — A voz dele estava baixa, mas dava para sentir o peso de quem mandava.

Amanda soltou uma risadinha provocante e deslizou os dedos com languidez pelo peito dele.

— Você está passando tempo demais ela. — Ela murmurou no ouvido de Daniel, trazendo suas mãos até o próprio ventre. — Eu e o bebê sentimos sua falta. Daniel, não quer aproveitar que estamos sozinhos? Toda essa ala está sob nosso controle. Ninguém vai nos ver.

Ele manteve o silêncio, mas não recuou. Aproveitando a hesitação, Amanda guiou a mão que repousava em seu pescoço até os seios. O arrepio do contato fez Daniel enterrar o rosto no colo dela.

— Vai devagar... — Amanda fingiu timidez. — O bebê ainda está frágil, não vai aguentar.

— Cala a boca! Estou sabendo cuidar! — Cortou Daniel com frieza, mantendo os movimentos.

Não consegui acompanhar mais nenhum segundo. Dei meia-volta correndo, mas os gemidos roucos e o rangido da cama continuavam martelando meus ouvidos

Até quando achavam que conseguiriam esconder? Que ousadia fazer isso a poucos metros de mim, como se eu fosse incapaz de perceber?

A realidade me acertou como um tiro de canhão. Meus joelhos dobraram antes que eu percebesse, e lá fui eu desabar no chão gelado do corredor, uma pilha de nervos e lágrimas, tão patética quanto previsível.
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