Violet.Quando Edgar me deixa em casa, finalmente me permito cair no sofá, exausta de ser arrastada entre lojas de roupas o dia inteiro. A sensação de alívio ao finalmente estar em casa é indescritível. Eu só queria um pouco de paz, mas, ao mesmo tempo, uma parte de mim sente que estou sempre correndo atrás de algo, de uma expectativa que nunca parece ser minha.Pulga, a pequena Chihuahua que Damon me deu de presente no meu aniversário, começa a choramingar ao meu lado, como se soubesse exatamente o quanto o dia foi pesado para mim. Estendo a mão e a puxo para cima do sofá comigo. Ela, com toda sua energia fofa e inconfundível, vem direto e, com sua alegria característica, dá duas lambidas rápidas na minha bochecha, como se estivesse me cumprimentando após uma longa jornada.Logo, ela se aninha na minha barriga, procurando o cantinho perfeito para se acomodar e, em segundos, já está dormindo tranquilamente. E, de algum modo, sua calma me contagia. Sinto a respiração dela se acalmando,
DamonA manhã acordou tranquila. O tipo de silêncio confortável que eu aprendi a valorizar nos últimos meses.Dei três voltas correndo no quarteirão antes da padaria abrir para comprar pão fresquinho. O cheiro quente e amanteigado tomou conta do ar no caminho de volta, e por um segundo, me peguei sorrindo ao imaginar a cara sonolenta de Violet ao acordar com o aroma do café da manhã.Ao entrar em casa, vi Pulga se espreguiçando no meio da sala, pronta para ir cumprir sua missão matinal: infernizar Violet.Peguei a bolinha de pelos no colo antes que ela pudesse sair correndo escada acima.— Não antes do café, miniatura de cachorro. — Murmurei, coçando sua cabeça enquanto ela soltava um latido baixinho, claramente contrariada.Se eu conhecia Violet, ela ainda estaria esparramada na cama, encolhida em meio aos cobertores, com o cabelo bagunçado e um resmungo pronto para ser dito assim que eu a chamasse.E, sinceramente, não havia maneira melhor de começar o dia.Desde que comecei a traba
Violet.Ficamos na cama a manhã inteira, aproveitando o raro momento de paz. Megan e Edgar não deram mais sinal de vida, nem ao menos para justificar a visita inesperada. Tenho quase certeza de que só usaram nossa casa como desculpa para se encontrarem. No fundo, sabiam que seriam expulsos — domingo era sagrado para mim e Damon, um dia que reservamos apenas para nós.Encolhi-me um pouco mais contra ele, sentindo seu calor e ouvindo sua respiração tranquila. Momentos como esse me faziam perceber o quanto eu precisava desacelerar, simplesmente existir ao lado dele, sem o peso das preocupações diárias.Damon desenhava círculos preguiçosos nas minhas costas, sua mão quente deslizando de forma distraída. Suspirei, sentindo um conforto que poucas coisas no mundo podiam me proporcionar.— Você está muito quieta — ele murmurou contra meu cabelo.— Só estou aproveitando — respondi, fechando os olhos por um instante.— Tem certeza? Porque essa sua cabecinha vive trabalhando demais — ele apertou
DamonViolet topou jogarmos tudo para o alto e fugirmos. Ela ficou responsável por arrumar nossas roupas e eu... por todo o resto. E é exatamente por isso que, neste momento, estou com uma amostra de cachorro com a cara enfiada para fora da janela do meu carro, enquanto envio uma mensagem pedindo, de forma nada carinhosa, a minha demissão.— Damon, você tem certeza? — Violet me perguntou mais cedo, com a mala quase pronta.Claro que eu tinha. Por mais que a ideia de mandar tudo para o espaço me parecesse um tanto impulsiva, algo dentro de mim gritava que era a única saída. Estava cansado da vida que eu levava, dos compromissos que nunca pareciam ser meus, de uma rotina que eu não escolhera. Então, quando sugeri que fugíssemos, que abandonássemos o que o mundo espera de nós, não precisei de mais nada além do sorriso dela para decidir.Demissão enviada. Pronto. Minha vida agora estava oficialmente fora de controle. Mas, ao mesmo tempo, eu não me sentia mais preso.Pulga, que parecia est
Violet.Eu não sabia se ria ou se ficava irritada com o tanto de mensagens que recebemos. Edgar, com todo o seu drama, não parava de bombardear nossos celulares. Ele realmente não entendia que estávamos longe de tudo aquilo de propósito. Cada vez que olhava para a tela, parecia que a quantidade de mensagens só aumentava, como se ele tivesse se tornado obcecado em tentar encontrar uma explicação para nossa fuga.Foram 79 mensagens de texto e 24 áudios, sendo que nenhum de nós teve a menor paciência para ouvir. Eu mal consegui evitar um sorriso irônico ao ver a quantidade. Eles estavam, sem dúvida, tentando entender o que havia acontecido, mas nossa decisão já estava tomada.— Isso é ridículo — eu falei, jogando o celular na cama com uma leve risada nervosa. — Parece até que eles pensam que vamos voltar correndo para casa.Damon, sem tirar os olhos da estrada, apenas deu de ombros, ainda com aquele sorriso irreverente que eu adorava.— Deixe-os se preocupar. A gente já deu a nossa expli
DamonDeslizei os dedos suavemente pelo cabelo de Violet, sentindo a maciez dos fios entre meus dedos enquanto a observava despertar. Sua respiração já havia mudado, um indicativo claro de que estava acordada, mas ela ainda mantinha os olhos fechados, como se quisesse prolongar aquele momento de tranquilidade.Aproximei meus lábios de sua cabeça e sussurrei baixinho, o calor da minha respiração se misturando ao perfume familiar de seu cabelo.— Você vai me contar?Ela se remexeu lentamente, como se quisesse fugir da pergunta, mas acabou se virando para me encarar. Seus olhos, ainda pesados de sono, me analisaram por alguns segundos antes de ela soltar um suspiro baixinho.— O que, amor?A ponta dos seus dedos deslizou preguiçosamente pelo meu braço, mas eu sabia que era um gesto inconsciente, um reflexo da intimidade que compartilhávamos.— Aquilo que vem te incomodando — falei baixo, mantendo meu olhar fixo no dela. — E que você insiste em colocar a culpa no casamento toda vez que eu
Violet.O sofá macio da suíte parecia me engolir enquanto eu afundava nele, as pernas dobradas sob o corpo, os braços envoltos ao redor de mim mesma. O luxo ao meu redor era quase sufocante, cada detalhe daquela suíte gritava requinte e extravagância. As paredes de vidro ofereciam uma vista deslumbrante de Las Vegas, com suas luzes vibrantes piscando incessantemente contra o céu escuro. Era como se a cidade inteira estivesse viva, chamando por mim, tentando me arrancar desse torpor. Mas, por mais que tentasse me distrair com o brilho lá fora, minha mente continuava presa na conversa com Damon.Eu não conseguia afastar o peso daquela discussão, nem as perguntas que ela havia despertado em mim. Pela primeira vez em muito tempo, me permiti questionar algo que sempre aceitei como certo: quem eu realmente era?Minhas mãos deslizaram pela seda do meu robe, sentindo a suavidade do tecido contra a pele. Foi Damon quem escolheu. Assim como escolheu os restaurantes onde jantamos nos últimos dia
DamonFiquei ali, sentado no sofá da nossa suíte, observando Violet sair pela porta sem olhar para trás. Algo dentro de mim se contraiu ao vê-la atravessar o corredor do hotel, como se, de alguma forma, ela estivesse escapando por entre meus dedos.Ela queria sair sozinha. Experimentar estar por conta própria. E eu tinha concordado.Eu precisava concordar.Apoiei os cotovelos nos joelhos, passando as mãos pelo rosto, sentindo a tensão se acumulando nos meus músculos. Não era sobre um simples passeio. Não era apenas um momento de independência passageira. Era sobre algo muito maior.Violet estava se afastando.Sutilmente, sim. Mas estava.Pela primeira vez, ela estava tomando decisões sem me incluir nelas, e por mais que eu soubesse que isso era algo saudável, algo que ela precisava, não conseguia impedir a insegurança de se infiltrar dentro de mim como uma maldita sombra.E se essa busca por independência a fizesse perceber que não queria mais isso? Que não queria mais nós?Me levante