DamonDeslizei os dedos suavemente pelo cabelo de Violet, sentindo a maciez dos fios entre meus dedos enquanto a observava despertar. Sua respiração já havia mudado, um indicativo claro de que estava acordada, mas ela ainda mantinha os olhos fechados, como se quisesse prolongar aquele momento de tranquilidade.Aproximei meus lábios de sua cabeça e sussurrei baixinho, o calor da minha respiração se misturando ao perfume familiar de seu cabelo.— Você vai me contar?Ela se remexeu lentamente, como se quisesse fugir da pergunta, mas acabou se virando para me encarar. Seus olhos, ainda pesados de sono, me analisaram por alguns segundos antes de ela soltar um suspiro baixinho.— O que, amor?A ponta dos seus dedos deslizou preguiçosamente pelo meu braço, mas eu sabia que era um gesto inconsciente, um reflexo da intimidade que compartilhávamos.— Aquilo que vem te incomodando — falei baixo, mantendo meu olhar fixo no dela. — E que você insiste em colocar a culpa no casamento toda vez que eu
Violet.O sofá macio da suíte parecia me engolir enquanto eu afundava nele, as pernas dobradas sob o corpo, os braços envoltos ao redor de mim mesma. O luxo ao meu redor era quase sufocante, cada detalhe daquela suíte gritava requinte e extravagância. As paredes de vidro ofereciam uma vista deslumbrante de Las Vegas, com suas luzes vibrantes piscando incessantemente contra o céu escuro. Era como se a cidade inteira estivesse viva, chamando por mim, tentando me arrancar desse torpor. Mas, por mais que tentasse me distrair com o brilho lá fora, minha mente continuava presa na conversa com Damon.Eu não conseguia afastar o peso daquela discussão, nem as perguntas que ela havia despertado em mim. Pela primeira vez em muito tempo, me permiti questionar algo que sempre aceitei como certo: quem eu realmente era?Minhas mãos deslizaram pela seda do meu robe, sentindo a suavidade do tecido contra a pele. Foi Damon quem escolheu. Assim como escolheu os restaurantes onde jantamos nos últimos dia
DamonFiquei ali, sentado no sofá da nossa suíte, observando Violet sair pela porta sem olhar para trás. Algo dentro de mim se contraiu ao vê-la atravessar o corredor do hotel, como se, de alguma forma, ela estivesse escapando por entre meus dedos.Ela queria sair sozinha. Experimentar estar por conta própria. E eu tinha concordado.Eu precisava concordar.Apoiei os cotovelos nos joelhos, passando as mãos pelo rosto, sentindo a tensão se acumulando nos meus músculos. Não era sobre um simples passeio. Não era apenas um momento de independência passageira. Era sobre algo muito maior.Violet estava se afastando.Sutilmente, sim. Mas estava.Pela primeira vez, ela estava tomando decisões sem me incluir nelas, e por mais que eu soubesse que isso era algo saudável, algo que ela precisava, não conseguia impedir a insegurança de se infiltrar dentro de mim como uma maldita sombra.E se essa busca por independência a fizesse perceber que não queria mais isso? Que não queria mais nós?Me levante
Violet.O ronco suave do motor do carro se silenciou assim que Damon estacionou na frente de casa. Suspirei, ainda perdida nas lembranças dos últimos dias. A lua de mel em Vegas foi intensa, reveladora, e, de certa forma, libertadora. Não só porque me permiti questionar quem eu era fora das expectativas alheias, mas porque Damon, com toda a sua paciência, me deu o espaço para isso sem jamais soltar minha mão.— De volta à realidade — ele murmurou, virando-se para mim com um sorriso cansado, mas sincero.— É — concordei, deslizando os dedos sobre a aliança reluzente na minha mão esquerda. Por mais que eu estivesse descobrindo partes de mim que antes ignorava, essa era a única certeza que não precisava ser questionada: eu queria estar com ele.Destranquei o cinto e estava prestes a abrir a porta quando avistei três figuras paradas na calçada, duas delas com braços cruzados, expressões carregadas. Edgar e Megan.À terceira estava tirando um cochilo de barriga para cima no gramado. Pulga.
DamonO barulho da porta se fechando atrás de Megan e Edgar ecoou pela casa silenciosa. Violet soltou um suspiro cansado, como se finalmente pudesse relaxar depois de um longo dia. Eu entendi o sentimento. Por mais que gostasse da companhia dos dois, minha cabeça estava em outro lugar — mais especificamente, na mulher ao meu lado.— Enfim sós — brinquei, puxando-a pela cintura enquanto caminhávamos para a sala.Ela sorriu, mas foi aquele tipo de sorriso automático, como quem responde por reflexo, sem realmente sentir.— Enfim sós — repetiu, com a voz baixa.Nos jogamos no sofá como dois soldados voltando da guerra. Pulga, sempre atenta ao menor sinal de sossego, pulou entre nós, rodopiou três vezes e se acomodou no colo de Violet. O silêncio que se instalou foi confortável por alguns instantes, até que comecei a perceber as pequenas coisas.Violet estava ali, fisicamente presente, mas mentalmente em outro lugar. Seus dedos acariciavam o pelo de Pulga de forma distraída, os olhos fixos
Violet.Eu sabia que ele estava chateado. Damon nunca foi do tipo que esconde bem o que sente. O jeito como seus ombros estavam um pouco mais tensos, como evitou meu olhar ao abrir o armário para pegar uma caneca assim que voltou de sua corrida matinal… Tudo gritava que algo estava fora do lugar. E eu sabia exatamente o que era.— Bom dia, querida — ele disse, a voz baixa, quase automática.Tentei sorrir, mas saiu fraco. Observei enquanto ele enchia a caneca, sem a pressa habitual de quem sempre tomava o primeiro gole antes mesmo de o café parar de escaldar. Ele estava se segurando. Se afastando.E doía.Porque eu entendia. Desde aquela conversa em Vegas, algo entre nós mudou. Damon fez exatamente o que prometeu: me deu espaço, não pressionou, respeitou cada silêncio meu. Mas, ao fazer isso, ele também começou a erguer seus próprios muros. E eu não podia culpá-lo.— Dormiu bem? — perguntei, quebrando o silêncio que se estendia entre nós.Ele assentiu, virando-se para me encarar finalm
DamonEdgar entrou na sala com passos despreocupados, as mãos nos bolsos do jeans e um sorriso debochado no rosto. Ele olhou ao redor da sala comercial, analisando o espaço vazio, as paredes brancas e o chão de cimento polido, sem móveis, sem quadros, sem vida. Então, soltou uma risada curta.— Gostei da decoração minimalista. Bem moderno.Revirei os olhos, cruzando os braços.— Engraçado. Eu te chamei aqui para falar de negócios, não para criticar meu gosto decorativo.— Que gosto? — ele rebateu, jogando-se em uma das cadeiras dobráveis que eu havia trazido apenas para não parecer que estávamos conversando no meio de um galpão abandonado.Ignorei. Não porque ele não tinha razão, mas porque eu sabia que se deixasse, ele me enrolaria até o final do dia sem que eu dissesse o que realmente queria.Respirei fundo, apoiando as mãos no tampo da mesa improvisada entre nós.— Eu quero abrir um negócio com você.Edgar arqueou uma sobrancelha, finalmente prestando atenção de verdade.— Você que
Violet.Eu não esperava encontrar ninguém conhecido no caminho para casa, muito menos alguém do trabalho.Estava distraída, olhando as vitrines das lojas sem realmente enxergar nada, quando esbarrei em alguém. Dei um passo para trás, pronta para me desculpar, mas parei ao reconhecer a figura à minha frente.— Diretora Helena! — sorri, ajeitando a bolsa no ombro.Ela retribuiu o sorriso, com aquele ar sempre elegante e profissional, mas com um toque de simpatia que tornava difícil não gostar dela.— Violet! Que coincidência. Como estão as férias?— Estão indo bem — respondi, sem saber muito bem o que dizer. — Tenho focado em algumas coisas pessoais.A diretora arqueou as sobrancelhas levemente, como se registrasse a informação.— Fico feliz em ouvir isso. Eu ia esperar as aulas voltarem para falar com você, mas já que nos encontramos… que tal um café?Franzi a testa, intrigada.— Um café?Ela assentiu.— Tenho uma proposta para te fazer e acho que pode te interessar.Minha curiosidade