Violet.Eu sabia que ele estava chateado. Damon nunca foi do tipo que esconde bem o que sente. O jeito como seus ombros estavam um pouco mais tensos, como evitou meu olhar ao abrir o armário para pegar uma caneca assim que voltou de sua corrida matinal… Tudo gritava que algo estava fora do lugar. E eu sabia exatamente o que era.— Bom dia, querida — ele disse, a voz baixa, quase automática.Tentei sorrir, mas saiu fraco. Observei enquanto ele enchia a caneca, sem a pressa habitual de quem sempre tomava o primeiro gole antes mesmo de o café parar de escaldar. Ele estava se segurando. Se afastando.E doía.Porque eu entendia. Desde aquela conversa em Vegas, algo entre nós mudou. Damon fez exatamente o que prometeu: me deu espaço, não pressionou, respeitou cada silêncio meu. Mas, ao fazer isso, ele também começou a erguer seus próprios muros. E eu não podia culpá-lo.— Dormiu bem? — perguntei, quebrando o silêncio que se estendia entre nós.Ele assentiu, virando-se para me encarar finalm
DamonEdgar entrou na sala com passos despreocupados, as mãos nos bolsos do jeans e um sorriso debochado no rosto. Ele olhou ao redor da sala comercial, analisando o espaço vazio, as paredes brancas e o chão de cimento polido, sem móveis, sem quadros, sem vida. Então, soltou uma risada curta.— Gostei da decoração minimalista. Bem moderno.Revirei os olhos, cruzando os braços.— Engraçado. Eu te chamei aqui para falar de negócios, não para criticar meu gosto decorativo.— Que gosto? — ele rebateu, jogando-se em uma das cadeiras dobráveis que eu havia trazido apenas para não parecer que estávamos conversando no meio de um galpão abandonado.Ignorei. Não porque ele não tinha razão, mas porque eu sabia que se deixasse, ele me enrolaria até o final do dia sem que eu dissesse o que realmente queria.Respirei fundo, apoiando as mãos no tampo da mesa improvisada entre nós.— Eu quero abrir um negócio com você.Edgar arqueou uma sobrancelha, finalmente prestando atenção de verdade.— Você que
Violet.Eu não esperava encontrar ninguém conhecido no caminho para casa, muito menos alguém do trabalho.Estava distraída, olhando as vitrines das lojas sem realmente enxergar nada, quando esbarrei em alguém. Dei um passo para trás, pronta para me desculpar, mas parei ao reconhecer a figura à minha frente.— Diretora Helena! — sorri, ajeitando a bolsa no ombro.Ela retribuiu o sorriso, com aquele ar sempre elegante e profissional, mas com um toque de simpatia que tornava difícil não gostar dela.— Violet! Que coincidência. Como estão as férias?— Estão indo bem — respondi, sem saber muito bem o que dizer. — Tenho focado em algumas coisas pessoais.A diretora arqueou as sobrancelhas levemente, como se registrasse a informação.— Fico feliz em ouvir isso. Eu ia esperar as aulas voltarem para falar com você, mas já que nos encontramos… que tal um café?Franzi a testa, intrigada.— Um café?Ela assentiu.— Tenho uma proposta para te fazer e acho que pode te interessar.Minha curiosidade
DamonSegurei Violet pela cintura assim que ela cruzou a porta, puxando-a contra mim. Ela soltou um gritinho surpreso antes de rir, as mãos instintivamente pousando no meu peito.— Você me assustou! — ela protestou, mas o brilho nos olhos a denunciava.Aproveitei a deixa e a beijei, um beijo rápido, mas cheio de saudade, mesmo que tivéssemos passado apenas algumas horas separados. Quando me afastei, ela ainda sorria.— Eu tenho uma novidade — anunciei.Seus olhos brilharam.— Eu também!Levantei uma sobrancelha, curioso.— Então me conta primeiro.Ela cruzou os braços, inclinando a cabeça de lado com uma expressão desafiadora.— Não, você primeiro.Puxei Violet pela mão até o sofá e me sentei ao seu lado, ainda segurando seus dedos entre os meus. Meu peito estava acelerado, e eu mal conseguia conter a empolgação.— Você já sabe que eu estava frustrado com o trabalho há um bom tempo — comecei, respirando fundo. — Mas agora eu finalmente decidi o que fazer.Os olhos de Violet se arregal
Violet.A novidade de Damon apagou qualquer intenção que eu tinha de contar sobre a proposta da diretora. Enquanto ele falava, animado, sobre a nova fase de sua carreira, sobre como finalmente sentia que estava fazendo algo próprio, eu só conseguia pensar em como aquilo mudava tudo.Eu deveria estar feliz. E eu estava. Era impossível não sorrir ao ver o brilho nos olhos dele, ao ouvir a empolgação em sua voz enquanto descrevia a sala comercial que comprou, o espaço que construiria ao lado de Edgar. Mas, ao mesmo tempo, uma onda de ansiedade tomou conta de mim, pesada e esmagadora.Minha oportunidade em Washington não se encaixava mais.Respirei fundo, forçando um sorriso. Quando ele perguntou sobre minha novidade, desviei o olhar, inventei uma desculpa qualquer e insisti para sairmos e comemorarmos. Ele me estudou por um momento, como se tentasse enxergar através de mim, mas no fim apenas assentiu e seguiu meu plano.Enquanto caminhávamos de mãos dadas até o carro, o nó na minha garga
DamonO som da água correndo no banheiro preenchia o quarto, um ruído abafado que normalmente eu ignoraria. Mas agora, tudo parecia diferente. Estava jogado na cama, o notebook de Violet equilibrado nas minhas pernas, enquanto navegava sem muito interesse em busca de um restaurante para jantarmos. Meu plano era simples: sair, conversar, aproveitar a noite sem o peso das últimas semanas.Então, um pop-up no canto da tela chamou minha atenção. Um novo e-mail. O nome da diretora da escola onde Violet lecionava apareceu em negrito. Não deveria abrir, eu sabia disso, mas antes que pudesse racionalizar, o cursor já estava sobre a notificação. Cliquei.O e-mail se expandiu diante dos meus olhos, as palavras saltando da tela. “Segue a proposta formal para discutirmos melhor sobre sua possível transferência para Washington…” Meu estômago revirou. A mensagem continuava detalhando o projeto, falando sobre como o trabalho de Violet havia sido reconhecido e o impacto que ela poderia ter em um novo
Violet.Eu sabia que precisava contar. Cada dia que passava, cada olhar que Damon me lançava sem saber do peso que eu carregava, fazia com que meu peito se apertasse mais. Não era justo com ele. Não era justo comigo. Nos últimos dias Damon estava distante, sempre preso em seus próprios pensamentos, me dando o espaço que eu mesma pedi, mas aquilo só me deixava mais aflita ainda em contar, as palavras se prendiam na minha garganta.Mas naquela noite, eu não poderia mais adiar.Damon estava sentado no sofá da sala, mexendo no celular, parecendo distraído. Mas eu sabia que, no momento que eu falasse, ele me daria toda a atenção do mundo. Sempre foi assim com ele. E era por isso que meu coração doía tanto.Respirei fundo e tomei coragem.— Preciso te contar uma coisa. — Minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia.Damon ergueu os olhos imediatamente, franzindo a testa.— O que foi? — Ele colocou o celular ao lado e se inclinou para frente, o olhar atento em mim.Meu estômago revirou. Dr
DamonO ar frio da noite cortava meu rosto enquanto eu corria sem destino certo. Minhas pernas se moviam automaticamente, os passos ritmados contra o asfalto molhado, mas minha mente estava em completo caos.Eu precisava sair de casa. Precisava respirar. Precisava me afastar antes que dissesse algo que não pudesse ser retirado depois.As palavras de Violet ecoavam na minha cabeça como um disco arranhado. "Talvez eu precise ir para saber quem eu sou de verdade sem ninguém por perto." Cada vez que repetia aquilo na minha mente, sentia o peito apertar, como se o ar simplesmente não conseguisse alcançar meus pulmões.Ela precisava ir.Ela queria ir.E o que isso significava para nós? O que isso significava para mim?A cada passada, sentia a adrenalina queimando no meu corpo, tentando substituir a dor sufocante que não dava trégua. A cidade passava por mim em borrões de luzes e sombras, mas eu não via nada de verdade. Meu peito subia e descia com força, não pelo esforço da corrida, mas pel